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1.30.2013

Uso de tranquilizantes no Brasil

 
A Proteste realizou uma pesquisa sobre tranquilizantes como ansiolíticos, antidepressivos e hipnóticos, com pessoas de cinco países, para analisar o uso destes medicamentos. O resultado revelou que a epidemia dos tranqüilizantes e afins no Brasil é mais grave do que nos demais pesquisados: Bélgica, Itália, Espanha e Portugal. Os brasileiros demonstraram um uso crônico significativamente mais alto, principalmente de antidepressivos. Dos entrevistados do país, 45% contaram já ter feito uso desses medicamentos e também declararam ter consumido mais de todas as categorias de remédios no último ano. E 35% dos brasileiros pesquisados apresentam sinais de dependência de ansiolíticos e hipnóticos.

O uso destes medicamentos está associado a indivíduos com estilo de vida pouco saudável, que sofrem de insônia, são fumantes, sedentários, estressados e portadores de transtornos de ansiedade ou depressão.
Dos cinco países participantes da pesquisa, o Brasil foi o que registrou os índices mais elevados de usuários que começaram a usar tranquilizantes tanto antes de completar 26 anos (35%) como antes dos 18 anos (10%).

Mulheres brasileiras na faixa etária entre 55 e 74 anos e com escolaridade baixa são mais propensas a consumir, ao longo da vida, esses psicotrópicos, cujo uso idealmente não deveria exceder quatro semanas. Além disso, 50% dos participantes admitiram consumi-los por mais de um ano. Não bastasse, um quarto dos usuários aumenta suas doses para manter a sua eficácia. Também 47% dos brasileiros pesquisados usam ansiolíticos juntamente com antidepressivos. Os principais motivos que levam a ingerir esses remédios são problemas de insônia e acontecimentos traumáticos, como morte de parente, divórcio ou desemprego.

Boa parte dos usuários, sob acompanhamento médico, relatou não ter recebido qualquer orientação ou advertência sobre os riscos de dependência, seus efeitos colaterais e o perigo em associá-los ao álcool.

O estudo foi feito a partir de 13 mil formulários respondidos por entrevistados belgas, italianos, espanhóis, portugueses e brasileiros. O objetivo da entidade foi avaliar diversos aspectos ligados ao uso de medicamentos tranquilizantes, que englobam principalmente ansiolíticos, hipnóticos e antidepressivos.

A Proteste apresentou os resultados da pesquisa à Associação Médica Brasileira (AMB), ao Conselho Federal de Medicina (CFM), à Associação Paulista de Medicina (APM) e ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) para que, por meio de ações conjuntas junto aos profissionais e ao público em geral, haja um alerta a respeito desses medicamentos e dos malefícios que podem causar à saúde.

Uma importante descoberta da pesquisa foi a declaração dos entrevistados sobre o fato de a insônia ser o principal motivo de uso dos medicamentos. Deles, 21% disseram voltar a experimentar problemas para dormir ao parar de usar os remédios, o que gera um eterno ciclo vicioso. Outras razões incluem acontecimentos traumáticos, como morte precoce de um parente, e problemas de saúde.

Confira as razões que levam ao uso destes medicamentos
50% Problemas para dormir
32% Problemas profissionais (excesso de trabalho, prazos pouco realistas)
41% Acontecimentos traumáticos (divórcio, morte de parente ou amigo, perda de emprego)
29% Problemas e conflitos familiares (discussões, problemas com filhos)
33% Doenças e problemas de saúde
28% Problemas financeiros (dívidas, despesas excessivas)


Fique atento
  • Não dirija após o uso de tranquilizantes: 49% dos brasileiros relataram que dirigem com frequência ou sempre ao fazerem uso de tranquilizantes. Trata-se de um risco, já que esses medicamentos costumam causar sedação e podem retardar a coordenação motora;
  • Não realize atividades perigosas: 28% dos entrevistados afirmou realizar, sob o efeito desses remédios, atividades consideradas perigosas, como usar furadeiras ou martelos;
  • Não consuma bebidas alcoólicas: o álcool pode intensificar alguns dos principais efeitos colaterais de ansiolíticos e antidepressivos, como sedação, tontura e problemas de memória.
Os efeitos colaterais causados por tranquilizantes
33% Sonolência
18% Problemas de memória
11% Tontura
10% Alteração de humor
10% Sensibilidade emocional

(Fonte: O Globo)

Existem medicamentos que têm a propriedade de atuar quase que exclusivamente sobre a ansiedade e tensão. Estas drogas foram chamadas de tranqüilizantes, por tranqüilizar a pessoa estressada, tensa e ansiosa. Atualmente, prefere-se designar estes tipos de medicamentos pelo nome de ansiolíticos, ou seja, que "destroem" (lise) a ansiedade. De fato, este é o principal efeito terapêutico destes medicamentos: diminuir ou abolir a ansiedade das pessoas, sem afetar em demasia as funções psíquicas e motoras.
Antigamente o principal agente ansiolítico era uma droga chamada meprobamato que praticamente desapareceu das farmácias com a descoberta de um importante grupo de substâncias: os benzodiazepínicos. De fato estes medicamentos estão entre os mais utilizados no mundo todo, inclusive no Brasil. Para se ter idéia atualmente há mais de 100 remédios no nosso país à base destes benzodiazepínicos. Estes têm nomes químicos que terminam geralmente pelo sufixo pam. Sendo assim é relativamente fácil a pessoa quando toma um remédio para acalmar-se saber o que realmente está tomando: tendo na fórmula uma palavra terminando em pam, é um benzodiazepínico. Exemplos: diazepam, bromazepam, clobazam, clorazepam, estazolam, flurazepam, flunitrazepam, lorazepam, nitrazepam, etc. A única exceç! ão é a substância chamada clordizepóxido que também é um benzodiazepínico. Por outro lado estas substâncias são comercializadas pelos laboratórios farmacêuticos com diferentes nomes de "fantasia", existindo assim dezenas de remédios com nomes diferentes: Noan®, Valium®, Aniolax®, Calmociteno®, Dienpax®, Psicosedin®, Frontal®, Frisium®, kiatrium®, Lexotan®, Lorax®, Urbanil®, Somalium® etc., são apenas alguns dos nomes.
Todos os benzodiazepínicos são capazes de estimular os mecanismos no nosso cérebro que normalmente combatem estados de tensão e ansiedade. Assim, quando, devido às tensões do dia a dia ou por causas mais sérias, determinadas áreas do nosso cérebro funcionam exageradamente resultando num estado de ansiedade, os benzodiazepínicos exercem um efeito contrário, isto é, inibem os mecanismos que estavam hiperfuncionantes e a pessoa fica mais tranqüila como que desligada do meio ambiente e dos estímulos externos.
Como conseqüência desta ação os ansiolíticos produzem uma depressão da atividade do nosso cérebro que se caracteriza por: 1) diminuição de ansiedade; 2) indução de sono; 3) relaxamento muscular; 4) redução do estado de alerta.
É importante notar que estes efeitos dos ansiolíticos benzodiazepínicos são grandemente alimentados pelo álcool, e a mistura álcool + estas drogas pode levar uma pessoa ao estado de coma. Além desses efeitos principais os ansiolíticos dificultam os processos de aprendizagem e memória, o que é, evidentemente, bastante prejudicial para as pessoas que habitualmente utilizam-se destas drogas.
Finalmente, é importante ainda lembrar que estas drogas também prejudicam em parte nossas funções psicomotoras, prejudicando atividades como dirigir automóveis, aumentando a probabilidade de acidentes.
Efeitos no resto do corpo
Os benzodiazepínicos são drogas muito específicas em seu modo de agir: têm predileção quase que exclusiva pelo cérebro. Desta maneira, nas doses terapêuticas não produzem efeitos dignos de nota sobre os nossos vários outros órgãos
Do ponto de vista orgânico ou físico os benzodiazepínicos são drogas bastante seguras, pois são necessárias grandes doses (20 a 40 vezes mais altas que as habituais) para trazer efeitos mais graves: a pessoa fica com hipotonia muscular ("mole"), dificuldade grande para ficar de pé e andar, a pressão do sangue cai bastante e pode desmaiar. Mas mesmo assim a pessoa dificilmente chega a entrar em coma e a morrer. Entretanto, a situação muda muito de figura se a pessoa, além de ter tomado o benzodiazepínico, também ingeriu bebida alcoólica. Nestes casos a intoxicação torna-se séria, pois há grande diminuição da atividade do cérebro podendo levar ao estado de coma.
Outro aspecto importante quanto aos efeitos tóxicos refere-se ao uso por mulheres grávidas. Suspeita-se que estas drogas tenham um poder teratogênico razoável, isto é, que possam produzir lesões ou defeitos físicos na criança por nascer.
Os benzodiazepínicos quando usados por alguns meses seguidos podem levar as pessoas a um estado de dependência. Como conseqüência, sem a droga o dependente passa a sentir muita irritabilidade, insônia excessiva, sudoração, dor pelo corpo todo podendo, nos casos extremos, apresentar convulsões. Se a dose tomada já é grande desde o início a dependência ocorre mais rapidamente ainda. Há também desenvolvimento de tolerância, embora esta não seja muito acentuada, isto é, a pessoa acostumada à droga não precisa aumentar a dose para obter o efeito inicial.
Conforme já foi dito existem muitas dezenas de remédios no Brasil à base dos ansiolíticos benzodiazepínicos. Até recentemente era comum os médicos chamados de obesologistas (que tratam das pessoas obesas para emagrecerem) colocarem nas receitas estes benzodiazepínicos para tirar o "nervoso" produzido pelas drogas que tiram o apetite (ver o nosso folhetim intitulado "Anfetaminas"). Atualmente a legislação não permite essa mistura.
Além disso, há um verdadeiro abuso por parte dos laboratórios, nas indicações destes medicamentos para todos os tipos de ansiedades, mesmo aquelas que são normais, isto é, causadas pelas tensões da vida cotidiana diária. Assim, certas propagandas mostram uma mulher com um largo sorriso, feliz, pois tomou certo remédio que corrigiu a ansiedade gerada pelos três bilhetes recebidos um do marido, avisando que chegará tarde para o jantar; outro do filho, que afirma que chegará com o time de basquete para um lanche; e o terceiro da empregada, que avisa que faltou pois foi ao INAMPS. Ainda existem exemplos de indicação dos benzodiazepínicos para as moças sorrirem mais (pois a tensão evita o riso), ou para evitarem as rugas, que envelhecem (pois a ansiedade faz as pessoas franzirem a testa, criando rugas! ). Não é portanto surpreendente que, em um levantamento sobre o uso não médico de drogas psicotrópicas por estudantes em dez capitais brasileiras, em 1997, os ansiolíticos estivessem em terceiro lugar na preferência geral, sendo esse uso muito mais intenso nas meninas do que nos meninos.
Os benzodiazepínicos são controlados pelo Ministério da Saúde, isto é, a farmácia só pode vendê-los mediante receita especial do médico, que fica retida para posterior controle, o que nem sempre acontece.
 

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