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4.22.2013

A medida da dor

Cientistas desenvolvem o primeiro método capaz de registrar a intensidade da sensação em cada indivíduo, o que permite aliviar de forma mais eficaz esse sofrimento

Cilene Pereira

Uma das maiores dificuldades do tratamento da dor – aguda ou crônica – é saber o quanto dói. Por se tratar de uma sensação, portanto algo subjetivo, sempre foi um desafio para os profissionais de saúde aferir o grau de sofrimento do paciente. No máximo, o doente aponta sua intensidade em uma escala ou simplesmente diz ao enfermeiro, de um a dez, como está a sua dor. Uma novidade descrita em um artigo publicado na última edição da prestigiada revista científica “The New England Journal of Medicine” ultrapassa essa barreira e inaugura um caminho pelo qual a medicina poderá finalmente começar a medir com mais precisão a dor de cada um.
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INDICAÇÃO
Hoje, o paciente indica em uma escala seu nível de sofrimento
Cientistas de quatro universidades americanas (Colorado, Nova York, Michigan e Johns Hopkins) desenvolveram um método capaz de indicar quando uma pessoa está sentindo dor física e qual o patamar desse sofrimento. É a primeira vez que a ciência obtém algo do gênero – e com uma eficácia que variou de 90% a 100%. A técnica se baseia no que os pesquisadores batizaram de “assinatura neurológica da dor”. Trata-se de um padrão de reações cerebrais manifestadas como resposta a estímulos dolorosos e captadas por exames de imagens aplicados em parte dos 114 voluntários que participaram da pesquisa (leia mais no quadro). A existência de um padrão único de respostas – todos as apresentaram da mesma forma e nos mesmos locais – surpreendeu os pesquisadores. “Achávamos que haveria diferenças individuais nas manifestações”, disse à ISTOÉ Tor Wager, coordenador da experiência.
O modelo foi posteriormente aplicado aos outros participantes e, novamente, mostrou-se instrumento eficaz para revelar a intensidade da dor que cada um apresentava. Uma das provas de que ele capta realmente a sensação foi o fato de que, quando os indivíduos receberam analgésicos, não houve registro de dor. A mesma coisa aconteceu quando voluntários que haviam encerrado relacionamentos amorosos meses antes viram fotos de seus ex-parceiros. A ausência da resposta, segundo os cientistas, é a comprovação de que o método registra a dor física, e não a emocional. “E a técnica mediu com acurácia a intensidade da dor mesmo quando o estímulo variava um grau de temperatura, mas não quando ele era apenas quente e não causava dor”, disse Wager.
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PROVA
Ribamar acredita que exames precisos darão credibilidade a relato dos doentes
Os cientistas acreditam que a “assinatura” da dor que encontraram possa ser usada principalmente para confirmar a sensação em pessoas que não conseguem reportá-la com mais propriedade, caso de idosos e crianças, e possibilite o alívio do sofrimento de forma mais eficaz. “Mas não pode ser usado como um detector de mentira de dor”, ressalva Wager. “Algumas pessoas podem realmente senti-la e ela não estar sendo capturada pelo padrão que encontramos.”
No Brasil, o médico José Ribamar Moreno, coordenador do Centro de Tratamento Intensivo da Dor, do Rio de Janeiro, acredita que descobertas como essa abrem uma perspectiva importante. “Talvez a divulgação da existência de exames pelos quais se pode ver a imagem do corpo junto com a função microscópica do que ocorre no cérebro dê mais credibilidade ao sintoma de dor e faça com que os médicos acreditem no sofrimento do paciente”, afirma. Os pesquisadores americanos já iniciaram os estudos para traçar padrões que identifiquem outros tipos de dor, como as geradas pelo frio e processos inflamatórios.
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Fotos: Orestes Locatel

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