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4.29.2013

Natureza e ciência unidas por uma evolução sustentável


A estrutura microscópica dos carrapichos serviu de inspiração para a criação do velcro. Foto: Elaine Schug
Aposto que, alguma vez, você já ouviu a famosa frase do cientista francês Lavoisier: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A expressão data do século XVIII e diz respeito ao princípio de conservação da matéria. É o maior e melhor modelo de sustentabilidade e adaptabilidade que o ser humano pode seguir. Tanto é assim que existe um ramo na ciência, relativamente recente, chamado biomimética, cuja responsabilidade é aprender com a natureza pelo estudo de suas estruturas e funções e, a partir daí, aplicar as descobertas nas mais diversas áreas do conhecimento.
Um exemplo bastante conhecido é o caso do carrapicho que serviu de inspiração para a criação do velcro. Em 1941, o cientista Georges de Mestral, curioso com o fato de aquelas sementinhas verdes grudarem com tanta facilidade aos tecidos de sua roupa e ao pelo de seu cachorro, descobriu, observando o carrapicho ao microscópio, que o vegetal possuía uma estrutura semelhante a pequenos ganchos, os quais se prendiam aos emaranhados dos tecidos de sua calça e aos pelos de seu cão. A partir daí, teve a ideia de desenvolver o velcro, uma feliz adaptação do mesmo princípio do carrapicho. Ao longo dos anos, o invento sofreu inúmeras melhorias até chegar à forma conhecida atualmente.
De fato, não é de hoje que importantes invenções e descobertas se tornaram possíveis graças à observação da natureza. A ideia de superfícies de baixo atrito, por exemplo, aplicada hoje em cascos de navios e até em trajes de natação, foi desenvolvida em estudos com peixes em seu ambiente aquático. O princípio da lei da gravidade também não foge a essa ciência. Isaac Newton avançou no estudo dessa teoria depois de notar a trajetória das maçãs que caíam dos galhos no seu pomar.
Outro caso muito curioso são as torres de cupins, usadas como inspiração para construções sustentáveis. A hábil engenharia desses insetos consegue manter constante a temperatura no interior de suas moradias, por meio de um complexo sistema de túneis. Seguindo o modelo usado por eles, foi erguido o Eastgate, no Zimbábue, um prédio comercial que também funciona como um shopping. Apesar de a temperatura fora dele variar entre 3ºC e 42ºC ao longo do dia, ela se mantém estável dentro do edifício, com uma diferença de não mais de 1ºC entre a manhã e a noite. O edifício economiza, de maneira autônoma, mais de 90% de energia em relação às construções tradicionais, não só em ventilação, mas também em iluminação.
No vídeo abaixo, a bióloga Janine Benyus dá um testemunho inspirador sobre o seu trabalho e a biomimética. Fica aí mais uma prova de que a natureza é a melhor das professoras.

Biomimética e o Design

Estudar e adaptar princípios utilizados na Natureza não fará de nós menos avançados tecnologicamente, mas sim, mais conscientes das nossas falhas e com novas perspetivas de futuro
Texto de Mara Fernandes

Nos seus 3.8 biliões de anos de existência, a Natureza conseguiu desenvolver-se, adaptar-se, evoluir, sobrevivendo assim ao longo dos tempos. Faz parte dela um conjunto diversificado de formas, estruturas, sistemas, padrões e até cores, que funcionam e coexistem em harmonia, podendo-se transformar em ferramentas úteis e precisas para o Design conseguir ultrapassar os problemas que hoje em dia se depara. A isso dá-se o nome de Biomimética, uma disciplina que pretende utilizar a vida (“bios”) como fonte de imitação (“mimesis”) para desenvolver/reformular de forma sustentável os produtos e objetos em todo o seu ciclo de vida.

Contudo não confundam Biomimética com Biónica. Apesar de serem ambas terminologias que outrora significaram a mesma coisa (derivada da palavra Biotécnica), hoje em dia são disciplinas bastante diferentes cujo fundamento remete para a mesma base: a Natureza. Se na primeira tenta-se imitar a Natureza, em Biónica recria-se através da electrónica, como por exemplo a recriação de membros artificiais para os seres humanos, tais como braços, pernas, mãos, etc.

Inúmeros são os objetos biomiméticos que fazem parte do quotidiano sem nos apercebermos. Desde o mais conhecido Velcro, inspirado nas sementes de Arctium (carrapicho), bem como as barbatanas utilizadas pelos mergulhadores criadas através da observação da interação das patas dos cisnes com a água; o alicate baseado nas tenazes dos caranguejos; o paraquedas inspirado nos princípios conceptuais dos “dentes-de-leão”; as ventosas oriundas polvos; e a camuflagem dos militares inspirada na camuflagem dos animais.

Agora sejamos claros. Atualmente existe muitas poucas profissões para além do Design que tem um impacto tão significativo no meio ambiente. Não existe forma de separar o Homem da cultura material, nem essa poderá ser a solução para o problema, mas existe sim, uma maneira de tornar essa cultura material mais sustentável, incutindo no Design e no profissional de Design responsabilidade em relação ao presente e ao futuro do nosso meio ambiente. Acredito que o ser humano é capaz de coisas incríveis e de evoluções constantes como tem vindo a acontecer. Mas estudar e adaptar princípios utilizados na Natureza não fará de nós menos avançados tecnologicamente, mas sim, mais conscientes das nossas falhas e com novas perspetivas de futuro.

A autora Janine Benyus, uma das pioneiras da Biomimética, refere no seu livro “Biomimicry. Innovation inspired by Nature” (1998) que existe necessidade da mudança de um paradigma, olhando para a natureza e não pensando em “what we can extract from her” mas sim “what we can learn from her”. Mas esta será apenas parte da solução, pois a verdadeira mudança estará sempre na consciência de cada um adaptando ou não, estes princípios como seus.

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