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4.16.2013

Suspeito de matar taxistas no RS não tem perfil de criminoso, diz delegado


Jovem de 21 anos é descrito como "alegre" e "calmo" por conhecidos.
Mas para a polícia, ele se mostrou "frio" e "calculista" ao confessar crimes.

Márcio Luiz* Do G1 RS
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Luan Barcelos da Silva, assassino confesso de seis taxistas, prestou novo depoimento  (Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS)Assassino confesso de seis taxistas está preso em Santana do Livramento (Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS)
Um jovem de 21 anos, de classe média e sem antecedentes criminais. Aparentemente acima de qualquer suspeita, esse é o perfil do homem preso no último sábado (13) após confessar o assassinato de seis taxistas no Rio Grande do Sul. Para pessoas que conheceram o rapaz, é difícil acreditar que ele seja o criminoso “frio” e “calculista” descrito pela polícia.
O jovem é natural de Santana do Livramento, cidade na fronteira com o Uruguai, a 497 quilômetros de Porto Alegre. Lá, fez suas primeiras três vítimas, na madrugada de 28 de março. Viajou de volta para Porto Alegre e, dois dias depois, repetiu a série de crimes, quase sempre com o mesmo ritual, segundo aponta a Polícia Civil.
Após 16 dias de investigações, os agentes confirmaram a localização dele e efetuaram a prisão no sábado (13). O jovem foi abordado no momento em que saía de casa. Segundo o chefe da Polícia Civil, delegado Ranolfo Vieira Júnior, vestia calça social, camisa e sapato. “É um rapaz bem apessoado, que não condiz com o perfil de criminoso”, avalia. “Não fosse a grande quantidade de provas, seria difícil de acreditar”, acrescenta o delegado Cristiano Reschke, que coordenou as investigações na capital.
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Dentro do apartamento que dividia com um amigo, também santanense, o jovem não se mostrou surpreso e permaneceu tranquilo, mesmo com a presença dos policiais. Chegou a deitar no sofá, conta Reschke. Só demonstrou nervosismo quando os agentes começaram a achar provas dos crimes, como celulares das vítimas e as roupas usadas por ele no dia das mortes.
O trajeto do apartamento até a delegacia, onde o jovem prestou depoimento durante três horas e meia na noite de sábado, foi feito no mesmo carro do delegado Ranolfo. Em um primeiro momento, o suspeito  negou ser o autor das mortes. Só confessou mais tarde, no depoimento formal. “Ele friamente, pormenorizadamente, detalhou toda a sua ação, contando detalhes”, diz Ranolfo.
Chamou a atenção da polícia o fato de o jovem escolher as vítimas de forma aleatória. E também a frieza com que as matava. “Ele sentava no banco de trás, mandava parar o carro em um determinado lugar e, então, desferia dois tiros na cabeça da vítima. Ele sequer anunciava o assalto”, conta a delegada Melina Bueno Corrêa, responsável pelo depoimento.
Conforme o chefe da Polícia Civil, o jovem permaneceu “tranquilo” durante todo o interrogatório e praticamente não demonstrou remorso. “Ele disse para mim que não conseguiu dormir depois dos fatos em Santana do Livramento. Mas depoisguiu matando. Não mostrou arrependimento e em nenhum momento chorou”, diz Ranolfo.
'Ele estava sempre brincando', diz gerente que ia contratar o jovem
A motivação dos crimes foi financeira. O jovem contou a polícia que precisava pagar uma dívida de R$ 1.250, do aluguel e condomínio onde morava, no bairro Santa Cecília, de classe média. “O apartamento dele é bem localizado, bem mobiliado, com televisão de LCD, refrigerador de inox”, conta Ranolfo. Com os crimes, o jovem obteve R$ 870 em dinheiro.
No momento em que praticou os homicídios, o suspeito estava desempregado. Já havia trabalhado como motoboy e corretor de imóveis nos cerca de dois anos que viveu em Porto Alegre. No perfil do Facebook, anunciava que era estudante de Gestão Imobiliária da Ulbra, fato desmentido pela universidade. Ele fez a inscrição para o curso à distância, mas não pagou o boleto e não fez a prova seletiva, em 10 de janeiro.
Menos de uma semana antes de ser preso, o suspeito arrumou emprego em uma escola de informática na Zona Norte de Porto Alegre. Desde a segunda-feira (8), ele passava por um processo seletivo e de treinamento. Segundo o gerente comercial da unidade, que prefere não se identificar, o jovem era postulante a um cargo de vendedor de cursos e não de instrutor de informática para crianças, como foi divulgado pela polícia.
Nos cinco dias que trabalhou no local, o jovem mostrou competência, dinamismo e bom relacionamento com as pessoas. Foi descrito pelo gerente como um rapaz “alegre” e com um futuro promissor. “Ele se mostrou muito interessado. Sempre solícito, muito educado, conversava com todo mundo. Chamei a atenção dele algumas vezes e ele nunca respondeu, nunca demostrou agressividade”, lembra o gerente.
Falante e proativo, o autor de uma série de crimes que chocou o estado e provocou revolta e protestos de taxistas na capital estava conquistando a simpatia e a amizade dos novos colegas de trabalho com brincadeiras. “Ele estava sempre fazendo piadas, era motivo de risada, de alegria. Era bastante sociável, queria conquistar o grupo. Talvez tenha sido dissimulado. Ou é muito bom ator”, opina o gerente.
Indicado por um funcionário, o jovem declarou na entrevista que precisava do emprego, pois morava sozinho e tinha que pagar as contas. De acordo com o relato do gerente, se mostrou “muito agradecido” pela oportunidade. E em nenhum momento levantou suspeitas de que tinha algo a esconder. Nesta semana, ele passaria por um treinamento prático de atendimento a clientes e, conforme o seu desempenho, provavelmente seria contratado.
Quando o rapaz não apareceu para trabalhar no sábado, o responsável pela escola queria saber o que havia ocorrido e ligou para ele, pela manhã. O jovem disse que o amigo com quem dividia o apartamento estava com problemas e que não sabia se poderia ir trabalhar. Depois, desligou o telefone. O gerente só soube o que aconteceu no domingo (14), pela televisão. “Foi uma grande surpresa para todos. Fui conferir o nome dele no currículo e custei a acreditar que ele tinha feito aquilo”, lembra.
Na cidade natal, perplexidade e histórico de pequenos problemas
Perplexos também ficaram algumas pessoas que conheceram o jovem em Santana do Livramento, onde ele nasceu e morou até os 19 anos. “Acho que todos nós da cidade estamos chocados. A gente tem dificuldade de entender como uma pessoa pode matar três taxistas santanenses e depois repetir isso em outro local”, questiona uma vizinha da família, que mora no bairro Cohab Armour.
Irmã de um dos taxistas assassinados na cidade, a vendedora Neida Rolim Lencina, de 59 anos, era vizinha de uma antiga namorada do rapaz na cidade, antes de ele se mudar para a capital. “O conheci da esquina, como vizinho. Faz um ano que ele se foi. Ele ia e vinha. Parecia tão calmo, não me entra na cabeça ele ter feito isso com essas famílias. Por fora isso, mas por dentro ele é um assassino frio”, desabafa a irmã de Ênio Rolim Lencina, de 55 anos, a terceira vítima do jovem.
Durante os nos em que viveu em Livramento, o jovem se envolveu em algumas brigas noturnas, segundo o relato de conhecidos. Aos 18 anos, uma delas foi registrada na polícia e resultou na assinatura de um termo circunstanciado. Cerca de um ano antes, ele já havia sido flagrado por dirigir sem habilitação, outra ocorrência de menor gravidade.
O amigo com quem o jovem dividia o apartamento em Porto Alegre confirmou à polícia essa tendência de envolvimento em brigas, com estranhos e também com conhecidos. “O relato do amigo foi no sentido de que, muitas vezes, ele acabava se envolvendo em brigas em festas e com pessoas dentro do seu círculo de amizades”, atesta o delegado Ranolfo.
Pequenos problemas comportamentais e disciplinares também levaram o jovem a ser expulso do Exército, em 2010. Ele servia na 2ª Bateria de Artilharia Antiaérea da cidade. “Foram faltas leves, como chegar atrasado, não se barbear direito, não vestir a farda corretamente. O somatório levou à expulsão. Fora o aspecto disciplinar, ele não apresentava nenhuma outra particularidade”, explicou o capitão Allan Dias Mercês. O jovem deu baixa depois de oito meses de serviço militar.
Mapa mostra como foram os assassinatos dos taxistas no RS; morte dos taxistas; Porto Alegre; Livramento (Foto: Arte/G1)
Jovem foi criado pela avó e pelo avô, que foi taxista durante décadas
Filho de pais separados, o suspeito foi criado pela avó paterna. Ainda conforme o relato de pessoas próximas a família, os pais sempre foram distantes e ausentes – a mãe teria entregue a criança ainda bebê e formou outra família, enquanto o pai teria uma relação complicada com o rapaz e os dois pouco se falavam.
Ironicamente, o avô do jovem exerceu a profissão de taxista em Santana do Livramento por mais de 30 anos. Seu tio-avô também era motorista de táxi na cidade. Fato que provocou especulações de que ele poderia ter executado os taxistas antes de roubá-los em função de um trauma de infância ou para satisfazer algum desejo de vingança. Mas, até o momento, nada aponta para essa direção.
A crueldade dos homicídios – todos os motoristas foram executados pelas costas, sem chances de defesa – e a forma sequencial como que foram cometidos levou o delegado Ranolfo a caracterizar o jovem como um “serial killer”. Em uma entrevista, o governador Tarso Genro o definiu como um “psicopata”.
Para o ex-diretor do Instituto Psiquiátrico Forense (IPF) de Porto Alegre, no entanto, não é possível atestar qualquer distúrbio mental no suspeito sem antes fazer uma avaliação individual completa. “Todos querem encontrar uma explicação para a ação violenta desse rapaz. Mas esse diagnóstico é feito após um extensa e minuciosa avaliação, que envolve longas entrevistas”, explica o psiquiatra Gabriel Neves Camargo.
O psicanalista e também perito forense do IPF Paulo Oscar Teitelbaum  diz que o termo é frequentemente usado de maneira equivocada. “É preciso fazer uma distinção entre o uso leigo e o diagnóstico dessa condição. Comportamento criminal é uma coisa e psicopatia é outra. É temerário fazer qualquer avaliação precipitada”, resume ele.
Segundo os dois médicos, a psicopatia consiste em um conjunto de traços de personalidade, como pouco apreço pela vida dos outros e dificuldades de se envolver emocionalmente, entre outros. A grande maioria dos indivíduos diagnosticados com essa doença mental não comete crimes ou têm comportamento violento. Do mesmo modo, a grande maioria de homicidas não são psicopatas, garantem eles.
À polícia, o jovem contou que a motivação era puramente financeira: matar para roubar. Ele  afirmou que optou por assaltar taxistas porque eram vítimas mais “fáceis” e que executou todos eles porque queria se certificar de que não seria reconhecido. “Ele disse que saiu para matar, tanto que a primeira coisa que fazia era disparar e só depois ver o que as vítimas tinham para ser roubado”, diz a delegada Melina.
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