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4.07.2013

Um novo corpo em 3D

Tecnologia que imprime moldes e próteses permite a reconstrução do organismo com uma perfeição nunca vista antes

Monique Oliveira e Juliana Tiraboschi


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RESTAURAÇÃO
Parte do crânio de Késsia foi reconstruída com auxílio do recurso 
Médicos do Reino Unido anunciaram na semana passada um feito memorável da medicina regenerativa. Um homem de 60 anos teve seu rosto completamente reconstruído com uma prótese facial feita a partir de um molde impresso por uma máquina 3D. Ele tinha uma depressão no lado do rosto causada pela retirada de um tumor maligno que o deixara deformado. O equipamento foi capaz de criar o molde do rosto e, logo depois, uma prótese foi produzida com as medidas exatas e totalmente harmonizada com sua face.
A história do paciente inglês é o exemplo mais recente da revolução que o uso da tecnologia da impressora 3D está causando nos cuidados com a saúde. A máquina é capaz de criar produtos tridimensionais por meio da adição em camadas da matéria-prima utilizada. Ela pode, assim, ler os dados de um projeto de um software e transformá-lo em produto tridimensional, adicionando “tinta” etapa por etapa. Seu grande mérito é a produção de detalhes minuciosos. Em outras palavras, de concretizar a perfeição. Na medicina, isso significa a produção de moldes, próteses, crânio, mandíbulas e até vasos sanguíneos nas mesmas formas e medidas das estruturas originais que, por motivos diversos, precisam ser repostas ou substituídas.
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FORMAS
Um molde em três dimensões ajudou a refazer o rosto
de um paciente inglês desfigurado por um tumor
Alguns dos mais expressivos avanços na área podem ser vistos no Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI). Localizado em Campinas, no interior de São Paulo, o serviço é vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Nos últimos anos, o CTI estabeleceu um setor de tecnologias tridimensionais que elevou a pesquisa 3D no Brasil a outro patamar. De lá saiu o InVesalius, um leitor de ressonância magnética em três dimensões que pode se comunicar diretamente com uma impressora 3D.
O sistema ajuda no planejamento de cirurgias complexas, transplantes e localização de tumores. Nesse último caso, por exemplo, o médico pode contatar o centro paulista gratuitamente e planejar melhor a cirurgia para extrair as células doentes. Com os dados da ressonância, os pesquisadores do CTI preparam um molde 3D no InVesalius, a impressora o imprime e o médico recebe um molde exato do órgão e do tumor do paciente para estudar a forma mais adequada de realizar o procedimento. “Com isso, o cirurgião não vê o paciente por dentro só no momento da operação”, explica o engenheiro Jorge Vicente da Silva, diretor da divisão de tecnologias tridimensionais do CTI. Usado em mais de 62 países, o software é de código aberto e gratuito – o único do tipo no mundo.
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CIÊNCIA
Em Campinas (SP), o russo Mironov (acima) quer criar vasos sanguíneos.
Seu colega Jorge Vicente coordena pesquisas para a confecção de próteses
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No serviço paulista, há seis máquinas de impressão 3D. Nelas também são produzidos moldes perfeitos para a confecção de próteses personalizadas. O neurocirurgião João Flávio Zullo, do Hospital Estadual Sumaré, administrado pela Universidade Estadual de Campinas, vale-se da técnica para refazer o crânio de pessoas vítimas de trauma ou que tiveram parte da estrutura craniana extraída para a realização de neurocirurgias, por exemplo. Entre outras indicações, ele já a usou para refazer a testa de um paciente que teve a parte frontal do crânio retirada.
O mesmo equipamento foi utilizado para fabricar um molde que serviu de base para a reconstrução da parte lateral do crânio da pedagoga Késsia Helen de Andrade Silva, 21 anos. Há dois anos, ela sofreu um acidente de moto e teve um pedaço do crânio retirado para aliviar a pressão intracraniana e permitir a retirada de um coágulo. “Fiquei impressionada com o bom resultado”, conta ela, hoje completamente recuperada. Os brasileiros chegaram a confeccionar o molde de uma prótese craniana capaz de acompanhar o crescimento de um garoto vítima de um acidente. “Ele só precisou de uma cirurgia, porque a prótese foi projetada especialmente para ele e a evolução do seu crescimento”, contou Jorge Vicente.
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MOVIMENTO
A prótese do braço da garota Emma foi totalmente feita com o aparelho
Algumas experiências vão ainda mais além. Nos Estados Unidos, a menina Emma Lavelle, 2 anos, recebeu um braço mecânico feito do início ao fim com tecnologia 3D – tanto o molde quanto a prótese em si foram construídos com a impressora. Ela nasceu com artrogripose múltipla congênita, uma síndrome rara que provoca más formações responsáveis por impedir os movimentos. E em breve haverá novidades para a região do cérebro. Em fevereiro, a empresa americana Oxford Performance Materials recebeu a liberação pelo Food and Drug Administration (FDA) para a produção do primeiro crânio que poderá ser totalmente fabricado e implantado a partir do recurso.
Com a confirmação de que a impressora 3D representa um progresso fantástico na chamada medicina regenerativa, vários grupos de pesquisa se dedicam agora a encontrar as melhores “matérias-primas” para alimentar essas máquinas. O ideal, é claro, é que sejam cada vez mais compatíveis com o organismo humano. Por isso, o que se vê hoje é uma corrida dos cientistas para produzir biomateriais. Nesse esforço, já se conseguiu imprimir células-tronco adultas (capazes de gerar determinados tecidos), mas um dos maiores feitos nesse âmbito foi anunciado em fevereiro pela Universidade Heriot-Watt, de Edimburgo, na Escócia. Pesquisadores revelaram ter usado uma impressora 3D para imprimir células-tronco embrionárias, muito mais versáteis do que as células adultas. “E elas mantiveram sua capacidade de se transformar em qualquer tecido humano”, disse à ISTOÉ o pesquisador Will Shu, autor da façanha.
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No Brasil, o cirurgião russo Vladimir Mironov coordena no CTI projetos para a confecção de biomáquinas e biomateriais. Neste momento, ele trabalha para a construção de vasos sanguíneos a partir dos recursos 3D. A pesquisa ainda está em estágio inicial, mas o cientista está animado. “Os projetos no Brasil poderão contribuir muito para a expansão do uso dessa tecnologia.”
Fotos: João Castellano/Ag. Istoé; Divulgação

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