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5.04.2013

“Cinquenta tons de cinza” e a cultura repressora dos desejos femininos.



O “sucesso” do romance erótico “Cinquenta Tons de Cinza”, da britânica Erika Leonard James, é tanto que comecei a pensar nos motivos pelos quais o livro causou tanto frisson nas mulheres. Depois de folhear as páginas do primeiro livro e de ler várias críticas e opiniões sobre ele (e as sequências da trilogia – Cinquenta tons mais escuros e Cinquenta tons de liberdade), como as de Ivan Martins, Contardo Calligaris, Nathalia Ziemkiwicz, Ruth de Aquino, ratifiquei uma antiga constatação: a de que vivemos numa sociedade provinciana e culturalmente repressora dos desejos femininos. Aquela velha história: “Meninos podem; meninas não!”.
Talvez por isso as feministas tenham odiado; por E.L. James supostamente manter o domínio masculino sobre a “fragilidade” feminina. Pura bobagem… Não precisam gostar de sadomasoquismo ou coisas do gênero, mas as mulheres ocupam altos cargos, dirigem empresas, cuidam de casa, de filhos, etc, qual o problema em admitir que depois de um dia repleto de obrigações tudo que querem é ser dominadas sexualmente e terem muito prazer através dessa entrega? Não creio que isso as tornem menos feministas. Penso inclusive que saber e se deixar “entregar” é uma arte. Mas isso é assunto para desenvolver numa outra oportunidade…
Voltando ao livro, particularmente não vi nada demais, nada que me fizesse como Anastasia tantas vezes dizer “Uau!” diante das novidades apresentadas pelo poderoso Christian Grey. Muito pelo contrário. Afinal, cresci, fui educado e convivo até hoje com mulheres livres de repressões sexuais. Então sou livre e trato, falo e faço sexo com a mesma naturalidade com que respiro. Mas adorei a possibilidade de muitas mulheres poderem abrir seus horizontes e admitirem sem medo de serem censuradas que gostam de sexo tanto quanto nós homens gostamos. E que inclusive não são necessariamente complicadas a ponto de só gostarem de sexo se ele for sutil, indireto e repleto de subentendidos e preliminares, como a Anastasia de James. Quem disse que elas não podem gostar de sexo simples e direto, que também se excitam com o corpo e o pênis do homem? Por que limitar e engessar a mente? Sexo não deve ser algo padronizado; ele é natural e singular. O segredo é encontrar o que nos é semelhante e permitir o encaixe.
Como sugeriu uma leitora, e eu concordo plenamente, o que diferencia o desejo do homem e da mulher não é essencialmente biológico. É cultural. Pensem nisso. Lembro de como fui repreendido há muitos anos atrás, ainda quando adolescente, quando sugeri publicamente a campanha “Mulheres, masturbem-se!”. Mais de quinze anos depois e de muitas experiências vividas continuo incentivando: “Mulheres, masturbem-se!”. E vou além: Falem de sexo! Façam sexo! Permitam-se! Vocês são livres para gostar de sexo e vivê-lo em toda sua intensidade.

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