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5.03.2013

Não apressar o fim da infância


A criança precisa estar ciente sobre tarefas para ajudar na harmonia da casa, como guardar os próprios brinquedos Foto: Shutterstock
A criança precisa estar ciente sobre tarefas para ajudar na harmonia da casa, como guardar os próprios brinquedos
Foto: Shutterstock
Elas começam a se preocupar mais com beleza e garotos. Eles ainda esperneiam e passam a brigar para ajudar nas tarefas da casa. Em comum, a idade: oito anos. Nesta fase, em que os filhos ainda não chegaram à adolescência, mas também já cresceram para ser tratados como bebês, é normal que os pais se sintam em dúvida em como tratá-los. Equilíbrio, diálogo e bom senso são os principais aliados nessa etapa.

Quando eles são pequenos, o mundo detêm um vocabulário próprio. As pessoas, os animais e os objetos passam a ser chamados por onomatopeias, diminutivos e apelidos. Sem contar a dicção, que ainda está em pleno desenvolvimento. Segunda a gerente de psicologia do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, Ana Merzel, é normal e positivo que os bebês se expressem e respondam ao chamado "manhês", em que a fala é mais aguda, mais engraçadinha e o vocabulário é ainda bastante limitado. Afinal, o mais importante na primeira infância é estabelecer um vínculo com a criança. Conforme se desenvolve, necessidades e possibilidades mudam. Os adultos devem estar atentos a isso e se adaptar. Com o tempo, a linguagem vai se tornar mais complexa.

Já quando as crianças crescem, os pais podem ter dúvidas em relação ao desenvolvimento do filho, daí a importância de conhecê-lo melhor e se informar com um pediatra. Fazer comparações ou suposições não ajuda. Segundo a psicóloga do Hospital São Camilo, de São Paulo, Rita Calegari, a família precisa entender que cada criança tem um ritmo próprio de amadurecimento, assim como diferentes habilidades. Comparar com um familiar ou um colega pode ser muito negativo, pois desvaloriza o pequeno e ainda pode soar como uma acusação injusta, ainda mais porque em muitos casos não se leva em conta a idade, apenas o exemplo.

Já cobrar é um ato que não deve virar rotina na vida das crianças. Em alguns casos, isso precisará ser empregado, mas sempre de forma paciente e respeitável. Incentivar e conversar geralmente são a melhor opção. No entanto, crianças muito novas tendem a se dispersar em meio à conversa. Se um bebê de três anos costuma gaguejar, o que é comum nessa faixa etária, é errado que os pais digam toda a hora para que ele fale corretamente. A família pode corrigi-lo, às vezes, e tentar ajudar, mas é preciso ser coerente. Exigir demais, apontar e envergonhar podem causar, em casos extremos, quadros de estresse, ansiedade, depressão ou distúrbio comportamental.

Pequenas frustrações têm um saldo positivo

Da mesma forma que é errado cobrar demais, também não se deve assentir a tudo que a criança desejar. É ruim criar com mimos em excesso. Os pequenos precisam entender que não podem tudo e que os outros também têm as suas próprias vontades, que devem ser respeitadas. Afinal, lidar com a frustração faz parte da vida. Se não estiverem preparados e viverem em uma espécie de redoma, eles vão sofrer muito mais quando entrarem na escola, por exemplo. Uma criança mimada terá muito mais dificuldade para lidar com os professores e os colegas, inclusive pelo simples fato de que precisarão dividir os materiais e a atenção. Ela precisa entender que não poderão vencer em tudo e que terá que lidar e aceitar algumas derrotas.

Segundo Rita, permitir que os pequenos tenham tudo o que desejarem também impede que possam desfrutar dos prazeres das descobertas. É positivo que eles aproveitem todas as possibilidades da infância em vez de desviarem as atenções para assuntos de adulto. Afinal, trata-se de um período tão curto e tão importante da vida, que precisa ser bem usufruído. O melhor é deixar que tudo ocorra no seu devido tempo. Portanto, não há problema em se vestir de adulto, se for brincadeira. A questão é quando a criança começa a portar como se fosse gente grande, descaracterizando-se.

Da mesma forma, não há problema em tratar um criança como uma. Só há erros se houver uma infantilização ou inferiorização da mesma. O que os pais precisam deixar evidente é que há diferenças entre estar na infância, na adolescência e na idade adulta, e que cada fase tem seus direitos e deveres. Portanto, a família pode, e às vezes até deve, explicar que um menino não pode fazer alguma coisa porque é pequeno demais. No entanto, é importante ter coerência. Rita cita o exemplo de uma família que vai sair à noite no final de semana. Os pais não podem dizer durante a semana que a criança tem que dormir cedo porque ainda é muito nova, mas exigir que ela vá para cama tarde no sábado porque já é uma mocinha.

Ser criança não é, no entanto, desculpa para a estagnação. É necessário aproveitar as possibilidades da faixa etária, mas também estar aberto para aprender. Da mesma forma, o amadurecimento também requer novos desafios e tarefas, o que começa dentro de casa e desde cedo. A família pode ajudar e deve orientar, mas não entregar tudo pronto. Afinal, as crianças precisam entender que é importante colaborar com a harmonia da casa e, para isso, é necessário realizar algumas tarefas, como guardar os brinquedos e arrumar a cama.

Criar os filhos podem não ser simples, mas também não é um exercício de totalitarismo. Permitir uma certa independência e iniciativa das crianças é importante, assim como impor alguns limites. A infância é tão curta e tão relevante para o desenvolvimento humano que usufrui-la é a melhor opção.

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