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6.07.2013

Estreia quarta adaptação de "O Grande Gatsby"

Filme é estrelado por Leonardo DiCaprio, que, durante o lançamento em Cannes, perguntou se a obra honra o livro clássico de F. Scott

AE

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Em Cannes, na coletiva após a exibição do filme de abertura - "O Grande Gatsby" - para a imprensa, o diretor Baz Luhrmann disse que o astro Leonardo DiCaprio passou boa parte do filme lhe perguntando, com alguma ansiedade - "Estamos honrando o livro?". O livro em questão é o clássico de F. Scott Fitzgerald sobre a obsessão de um certo Jay Gatsby por reencontrar e seduzir a mulher que amou na juventude, e que virou o farol a guiá-lo na travessia das dificuldades da vida. Mais que uma personagem, Daisy Buchanan é um ideal, um sonho do homem. E, por isso, nem chega a ser curioso que, em todas as adaptações do romance - a de Luhrmann é a quarta -, 'Jay' tenha sido sempre interpretado por um astro, um galã, e Daisy por uma atriz insossa, sem grande brilho pessoal.
O Gatsby de Luhrmann, no filme que estreia nesta sexta-feira, 07, é DiCaprio e sua Daisy, Carey Mulligan, talentosa, por certo, mas não dotada de magnetismo. Daisy existe pelo olhar de Gatsby. Luhrmann lembrou, em Cannes, que Fitzgerald colocou o ponto final de seu romance enquanto Zelda, seu grande amor, o traía na praia com um amante de ocasião, não muito distante do local onde hoje se localiza o palais do Festival de Cannes. Estava escrito: "Este filme tinha de estar na Côte d?Azur", vaticinou o diretor.
Críticos sempre lamentaram que um livro tão grande - um romance emblemático - tivesse resultado em filmes tão anêmicos, para não dizer medíocres. Mas os Gatsbys da tela foram gloriosos - Alan Ladd, na versão de 1949; Robert Redford, na de Jack Clayton, de 1974, que acaba de sair em Blu-Ray no País; e agora DiCaprio. Já as Daisys, ou melhor, Daisies... Betty Field, Mia Farrow e agora Carey Mulligan, nenhuma é marcante no papel e talvez seja esse o segredo, uma atriz opaca para criar uma figura que só é incandescente no imaginário do herói.
O australiano Baz Luhrmann é um diretor que costuma dividir os críticos. Não são muitos os que reconhecem a excelência de sua trilogia da cortina vermelha, formada por "Vem Dançar Comigo", "Romeu + Julieta" (já com DiCaprio) e o melhor de todos, "Moulin Rouge", embora seja justamente o musical com Nicole Kidman o objeto de todas as divergências. Luhrmann cultiva um cinema do artifício, aqui realçado pelo 3D. A primeira parte de Gatsby chega a ser excessiva - fogos, plumas, paetês saltam da tela. Mas ela é só preparação para a segunda, dura como aço, e crítica, quando as coisas realmente acontecem.
Pode-se viajar na imaginação. No fim da vida, Luchino Visconti tinha dois projetos que não conseguiu concretizar. Uma adaptação de "Em Busca do Tempo Perdido", e o Marcel Proust de Visconti, privilegiando o volume "Sodoma e Gomorra", teria 'um perfume de Balzac', segundo o grande diretor, e uma ficcionalização da tumultuada relação de Fitzgerald com a mulher, Zelda, projeto para o qual o cineasta tinha o elenco que considerava perfeito - Warren Beatty e Julie Christie, que viviam juntos, na época. O tempo perdido nunca foi reencontrado porque a concorrência de Joseph Losey, que tinha um projeto similar, inviabilizou o de Visconti.
Zelda, com sua loucura - terminou internada -, acirrou os fantasmas autodestrutivos do marido, mas é possível que, sem ela, Fitzgerald não tivesse se transformado no grande escritor que foi. Belos e malditos - Visconti queria contar essa história. Baz Luhrmann a conta um pouco através de Gatsby e Daisy Buchanan, embora exista um autor dentro do filme (Toby Maguire), como do livro, que funciona, duplamente, como alter ego do escritor (e do cineasta). Essa associação de Luhrmann, o mestre do artifício, com Visconti, o realista antropomórfico de "Rocco e Seus Irmãos" não é descabida porque Ewan McGregor, o Nature Boy de "Moulin Rouge", era inspirado em Rocco e a morte de Satine (Nicole) chegava a repetir o diálogo de Renato Salvatori e Annie Girardot na obra-prima de Visconti.

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