Em São Paulo, número de estabelecimentos cresceu 159% desde o ano passado. Mas empreendedor deve ficar atento: sem direcionar o serviço a um nicho de mercado, a taxa de ocupação pode cair
Adriano Lira
Leblon Spot hostel, no Rio de Janeiro - Divulgação
Se nos Estados Unidos e na Europa os hostels são uma forma corriqueira de hospedagem, esse tipo de negócio, no Brasil, é tão novo quanto o interesse dos jovens estrangeiros em passar férias no país. No Rio de Janeiro, a cidade que mais recebe turistas, são apenas 72 hostels, de acordo com a Riotur - alguns deles, inclusive, em favelas como a Rocinha. Para se ter uma ideia do quanto o mercado poderá crescer no Brasil, em Nova York, são mais de 150 estabelecimentos. Já em Barcelona, 400.
Diante do déficit hoteleiro que não cede no país - a oferta continua escandalosamente menor que a demanda e se reflete nos preços, sobretudo em tempos de grandes eventos esportivos -, o mercado de hostels se mostra oportuno em algumas capitais turísticas. Contudo, especialistas ouvidos pelo site de VEJA fazem um alerta aos empreendedores de primeira viagem: não basta colocar um monte de camas em uma casa grande e esperar os hóspedes chegarem. É necessário planejamento e, em muitos casos, investimentos quase milionários.
Mesmo assim, o setor vem seduzindo empreendedores de todo o país, que estão largando empregos "engessados" e apostando em uma área que, além de ganhos, traz a experiência de conhecer pessoas de todo o mundo. De acordo com Laura Maia, que é proprietária do Adventure Hostel e supervisora do Ralé Chateau (na favela pacificada do Cantagalo) – ambos no Rio – e presta consultoria para interessados em entrar no setor, o investimento em um hostel fica entre 150 e 400 mil reais. No Ralé - nome que satiriza a rede de hotéis de luxo Relais & Châteaux -, as diárias estão entre 45 e 60 reais.
No entanto, há lançamentos mais vultosos - sobretudo quando o
investimento é um hostel "boutique", cujo público é formado por jovens
"descolados"que querem hospedagem com estilo, sem pagar por uma diária
de hotel. Localizado em um edifício de três andares na zona sul carioca,
o Leblon Spot foi lançado em 2010 como um design hostel:
decoração minimalista, trilha sonora de música eletrônica e serviço
comparável ao de um hotel 4 estrelas. Para tal resultado, foram
investidos 800 mil reais apenas na reforma e decoração do local.
Em São Paulo, um outro hostel foi lançado com investimentos de peso. No
mês passado, após nove meses de reformas, um casarão na região da
Avenida Paulista deu lugar ao Beew, que exigiu aporte de 700 mil reais.
“Praticamente colocamos o imóvel original abaixo. Depois, adequamos as
instalações ao que pensamos ser o melhor para o hostel”, afirma Gustavo
Dermendjian, sócio do Beew. Animado com o novo negócio e com os eventos
que a cidade recebe e vai receber, Dermendjian planeja lotação máxima no
período da Copa do Mundo. Em seu hostel, a diária é de 60 reais para
quartos compartilhados e de 250 reais para suítes particulares.
É preciso segmentar – Se, no Rio de Janeiro, o mercado de
hostels é abastecido pelos milhares de turistas estrangeiros que buscam
aproveitar as belezas da cidade, em São Paulo, a oferta precisará se
concentrar em nichos, como o Beew, para que não haja falta de hóspedes.
A capital paulista é notória pelo turismo empresarial, onde os hóspedes
mantêm a preferência por tradicionais quartos de hotéis. O aumento do
número de hostels precisará ser acompanhado por estratégia e plano de
negócios para atrair os demais turistas - sobretudo jovens. Segundo
Maria José Giaretta, presidente da Hostelling International do Brasil, a
cidade já sente os efeitos de queda na taxa de ocupação - e os
estabelecimentos terão de se destacar pela segurança de acomodações e
direcionar o foco para públicos específicos. "Agora é a hora de
organizar a casa e primar pela qualidade para conseguir crescer", afirma
a empresária.
4 dicas para quem quer abrir um hostel
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