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6.23.2013

Jovens se dividem quanto ao rumo do movimento


Há quem defenda protestos mais organizados, continuação da luta e fim das passeatas

O Dia
Rio - Com as caras pintadas, os jovens foram às ruas por um País melhor. Carregando cartazes e bandeiras, eles reivindicam mais investimentos na saúde e na educação e querem o fim da corrupção. Nas manifestações que arrastaram milhões de pessoas pelo Brasil afora, protagonizaram imagens históricas e deram exemplo de cidadania.
Mas o protesto pacífico deu lugar, nos últimos dias, a atos de vandalismo e violência praticados por um pequeno grupo infiltrado nas passeatas. Agora, os jovens se dividem quanto ao rumo do movimento. Há quem defenda que as manifestações devem continuar, mas organizadas, como a estudante Luísa Studart. Já o médico Gabriel Madrid deseja que as passeatas sigam como estão, enquanto a estudante Clara Dias quer o fim das manifestações e pede reflexão.
Em momento de decisão, opinião de jovens se divide quanto ao futuro da mobilização popular
Foto:  Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Confira a diversidade de opiniões
A favor da continuação dos protestos
“Após as declarações da presidenta Dilma, tive certeza de que não podemos voltar a ‘dormir’. Já aguardamos muito tempo, abusaram demais. É preciso continuar acordado, atento, vigiando quem está no poder. Como assim o governo vai trazer médicos do exterior? Já temos bons médicos no País. O que falta é investimento na saúde pública. Na clínica onde trabalho, um paciente com uma simples gripe aguarda cerca de 5 horas para ser atendido. E fica parecendo que os culpados somos nós, os médicos de plantão.
Nos hospitais, os doentes são atendidos no chão. É vergonhoso. A demanda é enorme. Parece que os governantes não conhecem os problemas do Brasil, sinceramente.
A redução do valor da passagem de ônibus nem era o mais importante dos problemas, mas serviu para nos despertar. Após essa conquista, o foco deve ser a saúde e a educação. E não é porque o cidadão não precisa do Serviço Único de Saúde ou porque não estuda — ou não tem filhos que estudem — numa escola pública que não vai protestar. Temos que pensar no coletivo. Vou continuar protestando, pacificamente, por aquilo que eu acredito. E eu acredito — e tenho fé — na mudança do Brasil”.
GABRIEL MADRID é médico e tem 26 anos
Pelo fim das manifestações
“É preciso parar para refletir. Diante do que tenho visto, lido e ouvido minha cabeça trabalha a mil, com angústias e até medo. Sempre fui a favor de manifestações e defendi que os estudantes deveriam ser mais ativos e interessados sobre a situação política do País. Mas as manifestações não foram como eu sempre esperei.
O que começou a me preocupar de fato foi o rumo das manifestações. Como podem haver atos tão hostis a quem levanta bandeira de partido político? As gerações anteriores lutaram pela liberdade de expressão. E quer eu concorde ou não com os partidos, não posso negar que eles ajudaram a escrever a história do nosso País. Não consigo entender uma manifestação que lutava pelos direitos da população ferir tão gravemente a liberdade de expressão. Então, pergunto: o que há de errado na presença dos partidos? Será que é contra isso que devemos lutar?
Portanto, antes de manter as manifestações do jeito que estão, gostaria de fazer um convite aos jovens e a toda sociedade brasileira: vamos ampliar a discussão e desenvolver nossa capacidade de pensar, desconfiar e questionar. Temos o privilégio de viver um tempo em que as informações se propagam tão rápida e facilmente. Mas sejam críticos em relação ao que escutam, veem e leem”.
CLARA DIAS é Estudante de Farmácia e tem 23 anos
Passeatas devem continuar, desde que organizadas
“Acreditava na beleza do protesto até estar lá. Continuo acreditando na importância da população ter aberto os olhos e visto finalmente que na inércia não dava para continuar. Mas não vai ser do dia para a noite que se reivindicará a solução de todos os problemas.
Achei que estaria fazendo parte de uma massa empenhada para o bem, para fazer história e mudar alguma coisa. Me decepcionei ao perceber que, muito além do país, é preciso que mude o ser humano. Que não é mais por 20 centavos, todos sabemos, mas muita gente na rua nem sabia pelo que exatamente se levantava cartaz. Ou seria um Carnaval fora de época? Meu parecer daqueles momentos não me trouxe para casa feliz. Diferente disso, angustiada.
Não é questão só da polícia e dos vândalos, não é questão de quem governa, agora é a humanidade. Não é assim que se protesta. Não é sem organização que se atinge objetivos. Para os nossos queridos governantes, reprimir tá tranquilo. Transformar tudo no caos acontece em segundos. Não é assim que uma causa ganha força.
Pelo contrário, se enfraquece, perde a razão. Vi pessoas preparadas para a batalha e outras como se tivessem se perdido do trio do Chiclete com Banana. Cheguei a acreditar que finalmente as palavras ‘política’ e ‘democracia’ haviam entrado no vocabulário da massa. Engano o meu. A causa é justa, só falta ser feita de maneira eficiente. Com consciência e paz”.
LUÍSA STUDART é estudante e tem 18 anos
Reportagem: Alessandro Lo-Bianco, Athos Moura, Aurélio Gimenez, Marcello Víctor, Maria Luisa Barros e Víctor Correa

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