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6.06.2013

Um gol contra nos feriados na Copa das Confederações

Conselho Estadual de Educação determina recesso até em dia em que não haverá jogo do Brasil. Pais e professores protestam

Paloma Savedra
Rio - Apesar de ser um evento esportivo, a Copa das Confederações está colocando em jogo o calendário letivo do Rio.
Em norma deliberativa, o Conselho de Educação do Estado determinou o recesso escolar das unidades da rede estadual na capital, nos dias de abertura e encerramento do evento.
Autorizou ainda a suspensão das aulas quando houver partidas da seleção brasileira, mesmo em outros estados. Colégios particulares também aderiram à norma, e podem suspender as aulas nos dias 19 e 20. A medida irritou pais, alunos e educadores.
Marcos, com os filhos, e Isaura Barbosa, com os netos, temem feriado municipal
Foto:  José Pedro Monteiro / Agência O Dia
A prefeitura ensaia seguir o caminho: projeto de lei do prefeito Eduardo Paes — que será votado hoje — para criar feriado durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) também tenta autorizar a decretação de recesso na Copa das Confederações.
Parlamentares do PSOL criaram emenda para tentar derrubar a proposta. O primeiro jogo do evento será entre Brasil e Japão, dia 15, em Brasília. E o horário da partida, a ser realizada às 16h, foi o que mais gerou polêmica, já que até aulas do turno da manhã serão canceladas.
Aluna do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, Jéssica Gomes, 18 anos, classificou o feriado como desnecessário: “Não dá para entender, por causa de um jogo, que nem será aqui, a cidade tem que parar?”, questionou.
Jessica e Alessandro consideram o feriado desnecessário
Foto:  José Pedro Monteiro / Agência O Dia
A medida ainda pegou todos de surpresa no final de semestre, um período geralmente de provas. “Não tem motivo para cancelar aula. Não vai atrapalhar em nada”, disse o estudante Alessandro Henrique, 17, da mesma escola da Ilha do Governador.
Pais de alunos da rede municipal também temem a decretação de feriado pelo prefeito. “Trabalho o dia todo, não tenho com quem deixar meus filhos. Vou levá-los para o trabalho? É um absurdo”, criticou a manicure Cátia Maria Geralda, 40, cuja filha Maria Luísa estuda na Escola Municipal Aberto Barth.
Especialista em Educação e professora da Uerj e da Unesa, Alzira Batalha considerou a medida desrespeitosa: “O discurso de valorização da educação não se sustenta quando a gente se depara com essas atitudes. Não há respeito ao planejamento”, diz.
Rede particular começa a aderir
O Rio de Janeiro sediará três jogos da Copa das Confederações, no Maracanã, nos dias 16, 20 e 30, quando será o encerramento do evento.

Apesar de a norma 334, de 26 de março de 2013, do Conselho Estadual de Educação, determinar o recesso nos dias de abertura e encerramento do evento e nos dias das partidas do Brasil, a Secretaria Estadual de Educação afirma que só foi decretado feriado no dia 20, quando ocorrerá um jogo na cidade, entre as seleções da Espanha e Taiti.
A medida visa a facilitar o deslocamento de atletas aos locais das competições. Já a Secretaria Municipal de Educação negou ontem a intenção de suspender as aulas no mesmo dia.
Segundo prefeitura, feriados são úteis para facilitar trânsito nos arredores de locais de eventos, como Maracanã
Foto:  Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Instituições particulares também estão aderindo à norma estadual. O Colégio Liessin, em Botafogo, suspenderá as atividades no dia 20, e o Colégio Teresiano, na Gávea, nos dias 19 e 20.
No Ciep Pedro Varela, no Centro, o clima entre os pais era de protesto: “Toda hora inventam feriados e nossos filhos ficam em casa em vez de estar nas escolas”, criticou o vigilante Marcos Coelho, 27 , cujos filhos estudam no local.

“Vai ser difícil cuidar dos meus quatro netos nesses dias. A mãe trabalha o dia inteiro em hospital. Isso é absurdo”, protestou Isaura Barbosa, 50, avó de Lorena, 6 anos; Talita, 5 anos, Jenifer, 5 anos; e Gabriel, 4 anos.

O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) criticou ontem a paralisação.
Para a entidade,suspender aulas sem planejamento prévio prejudica o aprendizado dos alunos e desqualifica o trabalho dos educadores.
Votação esquenta o plenário nesta quinta-feira

A Câmara dos Vereadores vai votar nesta quinta-feira o Projeto de Lei 212/2013 do prefeito Eduardo Paes, que decreta feriado da JMJ nos dias 23 de julho, a partir das 16h; 25 e 26 de julho; e 29 de julho, até as 12h. No artigo 3º do mesmo projeto, o prefeito tenta autorizar a decretação de feriado na Copa das Confederações e Copa do Mundo.

Para barrar o pedido, o Psol criou emenda suprimindo este artigo. Segundo o vereador do partido, Paulo Pinheiro, se a lei do prefeito for aprovada dessa forma, Paes ganhará um “cheque em branco”: “Chamamos de bacalhau isso, quando colocam outra coisa no meio do projeto, para passar despercebida. O prefeito não pode ter um cheque em branco para decretar feriados sem nos dar explicação”, declarou.

A Firjan também procurou o governo e apresentou ao vereador Guaraná nova proposta, em que feriados seriam restritos às regiões administrativas, para que não haja paralisação das indústrias.
Férias na época dos eventos

União e Estado criaram leis estabelecendo mudanças no funcionamento da cidade durante os eventos esportivos. A Lei Federal 12.663, de 5 de junho de 2012, determina que, em 2014, os sistemas de ensino públicos e privados deverão ajustar calendários escolares para que as férias coincidam com o período entre a abertura e o encerramento da Copa do Mundo.
Segundo lei estadual 6363, de 19 de dezembro de 2012, esse calendário escolar visa a facilitar o deslocamento de atletas, espectadores e demais participantes durante os grandes eventos.

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