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7.13.2013

São Paulo tarja preta

 

Circulou esta semana a informação segundo a qual um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta São Paulo como a cidade, entre 24 pesquisadas em todo o mundo, que possui mais habitantes com algum tipo de transtorno mental: exatos 29,6%
Dos males detectados, a ansiedade desponta como o mais frequente.
Os dados podem não ser novos, mas suscitam uma boa discussão.
Não costuma ser muito comum o entendimento, por parte de nós leigos, de que a ansiedade seja um problema mental, uma doença. Em geral atribuída fatores específicos, a momentos de estresse ou, como se dizia antigamente, aos desgastes da vida moderna, a ansiedade no entanto aparece descrita como moléstia nos manuais de medicina e pode se tornar algo grave e imobilizante.
Num país em que os problemas mentais são encarados como se fossem algo contagioso ou vergonhoso e no qual consumo de medicamentos de venda controlada se tornou indicativo de que aquele usuário é praticamente um cidadão de segunda classe, a tendência é minimizar, esconder ou relevar até mesmo doenças graves, como depressão ou pânico.
Imagine então algo descrito nos dicionários como agonia, aflição, impaciência, receio...
O problema é que estes sintomas, agravados por fatores diversos, como a opressão urbana característica de São Paulo, podem derivar para estados recorrentes de inquietação profunda, medo persecutório, fatalismo, fadiga, insônia, inapetência, e passar a subsistir independentemente dos contextos. Com todos os prejuízos pessoais, sociais e profissionais que sucedem a partir daí.
Ou seja, alguém começa a ficar ansioso por conta de um trabalho desgastante, deslocamentos longos no trânsito da cidade, falta de dinheiro, escassez de tempo e de lazer, mas a ansiedade instalada pode passar a sobreviver independentemente de tudo isso, tornando a vida do cidadão um inferno.
Uma das cidades mais dinâmicas e culturalmente ricas do planeta, São Paulo é cruel, cobra um preço alto de seus habitantes, quem vive aqui sabe bem disso.
Que o digam estes 30% de ansiosos crônicos detectados pela OMS que, além de tudo, têm que enfrentar o estigma de "tarja preta"...
Luiz Caversan Luiz Caversan

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