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7.24.2013

SBPC: legalizar droga não é uma boa

Pesquisadores acreditam que ideal é país criar políticas consistentes.
Mesa sobre o assunto foi realizada na tarde desta segunda (22), na UFPE.

Luna Markman Do G1 PE

Ronaldo Laranjeira apresentou o mais recente Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Foto: Luna Markman / G1) 
Ronaldo Laranjeira apresentou o mais recente
Levantamento Nacional de Álcool e Drogas
(Foto: Luna Markman / G1)
A legalização das drogas não é o melhor caminho para enfrentar a dependência química na opinião de especialistas convidados para participar de uma mesa sobre o assunto, na tarde desta segunda (22), dentro da programação da 65° Reunião Anual da SPBC, realizada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Recife. Para os pesquisadores, o ideal é criar políticas consistentes, baseadas em evidências científicas, rejeitando o princípio de guerra às drogas e a solução da legalização, vista como "derrotismo".

O professor titular de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ronaldo Laranjeira, mostrou o mais recente Levantamento Nacional de Álcool e Drogas. O estudo indica que os brasileiros estão bebendo mais álcool e consumindo mais drogas. Questionado pelo público, não apresentou dados científicos que diferenciam dependentes dos usuários recreativos. Ele pontuou que o caminho é prevenir o início da experimentação, principalmente com público abaixo dos 18 anos. "Legalizar só vai deixar a droga mais barata [para ser comprada]. A dependência transforma-se numa doença do cérebro e pode ser prevenida, tratada e deve-se estimular a recuperação", disse.

Ele citou as ações necessárias para operacionalizar essa política. "Colocar o foco da prevenção na comunidade, controlar o mercado de drogas (produção e distribuição), facilitar o diagnóstico e acesso rápido ao tratamento, expandir as possibilidades de recuperação, alternativas à relação de uso de drogas e prisão, como uma justiça terapêutica, e melhorar o treinamento profissional e o sistema de informação para melhorar tomada de decisão."
Laranjeira ainda apontou como exemplo positivo políticas públicas que usam como princípio básico intervenções no meio ambiente para inibir o consumo. "Não vamos convencer alguém a parar de fumar, mas criar constrangimentos sociais para evitar que ele fume, como leis que restringem locais para fumantes. Atuar também no preço e promoção do produto", argumentou.
Amadeu Rosseli afirmou que o Brasil nunca teve uma política consistente nem sistêmica de prevenção às drogas (Foto: Luna Markman / G1)Amadeu Rosseli afirmou que o Brasil nunca teve uma
política consistente nem sistêmica de prevenção às drogas
(Foto: Luna Markman / G1)
'Políticas autistas'
Tanto Laranjeira quanto Amadeu Roselli, professor de psicofarmacologia e drogas de abuso da Universidade Federal de Minas Gerais, acreditam que o Brasil nunca teve uma política consistente nem sistêmica de prevenção às drogas. "Faltam projetos bem planejados, com metodologias adequadas, e sobra marketing, por isso não dão resultados. Também não há local para tratar todos os dependentes que precisam de atendimento e não há vagas para todos os que dele necessitam", complementou Roselli.

O docente da UFMG classificou as políticas públicas brasileiras de "autistas". "Uma não conversa com a outra por falta de planejamento e gestão. Políticas sobre drogas do Brasil são coerentes ao não funcionar, pois seguem a forma como outras políticas são feitas no País, imediatas, ao remendo, nunca levadas ao final", explicou.
O especialista emocionou a plateia mostrando um lado do crack que está apenas no começo: a perda da guarda familiar pelo consumo da droga. O efeito são crianças órfãs e o medo das pessoas em adotar os "filhos do crack". "Existe esse preconceito, mas eu adotei, legalmente, duas 'filhas do crack'. São lindas e saudáveis", comentou.
Araci Asinelli falou sobre a experiência do Núcleo Interdisciplinar de Enfrentamento à Drogadição (Foto: Luna Markman / G1)Araci Asinelli falou sobre a experiência do Núcleo
Interdisciplinar de Enfrentamento à Drogadição
(Foto: Luna Markman / G1)
Mediadora da mesa, a professora da Universidade Federal do Paraná, Araci Asinelli, mostrou a experiência do Núcleo Interdisciplinar de Enfrentamento à Drogadição, criado em 2012, que usa como lema a prevenção como princípio para o enfrentamento. Ela ressaltou a importância da prevenção, com ênfase à prevenção primária, junto à criança e ao adolescente, e apontou como necessário potencializar a atuação da universidade na demanda por políticas públicas no enfrentamento da problemática da prevenção, tratamento, redução de danos e repressão do abuso de drogas junto à sociedade brasileira.
A SBPC segue na Universidade Federal de Pernambuco até 26 de julho. A programação completa pode ser conferida no site do evento.

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