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7.17.2013

Um grave e representativo alerta para a Comissão Nacional da Verdade



Familiares de mortos e desaparecidos políticos na ditadura militar divulgaram uma carta aberta à Comissão Nacional da Verdade (CNV) mostrando indignação com acontecimentos recentes no órgão. Também assinam ex-prisioneiros políticos, entidades, movimentos de luta pela Verdade e Justiça e militantes dos direitos humanos.

A carta é bastante grave e representativa. Um sinal vermelho para a CNV.

Os signatários apontam “preocupação com a opacidade, falta de unidade e morosidade  com que tem funcionado a CNV”. A carta acrescenta que um eventual fracasso dos trabalhos teria consequências “funestas não só para as gerações presentes, mas para o futuro de nossa nação”.

Os familiares se queixam da falta de apresentação de um plano mínimo de trabalho, com objetivos e metodologia definidos. E enfatizam a necessidade de priorizar a investigação sobre os mortos e desaparecidos políticos e sobre a estrutura de repressão.
“Expressamos a necessidade e importância de convocar os agentes do estado responsáveis pelos crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados.”


Eles também pedem divulgação dos trabalhos e o fim das divergências internas e “ataques pessoais e públicos”.
Além disso, a carta afirma que o relatório parcial divulgado até agora demonstra desconhecimento das informações acumuladas ao longo de mais de 40 anos.


“Neste momento em que tantas vozes se erguem pelo Brasil exigindo mais seriedade, respeito  e presteza na consecução de políticas publicas, apelamos para a consciência cidadã de cada um dos membros dessa Comissão, para que coloquem os princípios dos direitos à Memória, Verdade e Justiça do nosso povo e, principalmente dos familiares dos mortos e desaparecidos, acima de quaisquer desentendimentos ou divergências”.

A carta propõe alguns pontos importantes: a volta de Cláudio Fonteles, a substituição de Gilson Dipp (afastado por motivo de saúde); mais audiências públicas com acusados, familiares e sobreviventes; foco no esclarecimento dos casos dos mortos e desaparecidos; fortalecimento da CNV para garantir a abertura total dos arquivos da repressão.

Após receber a carta, a atual coordenadora do colegiado, a advogada Rosa Cardoso, que foi elogiada pelos signatários, disse que a “CNV está sensível aos reclamos da sociedade civil” e que concorda com o pedido das entidades e familiares por mais audiências públicas para ouvir agentes públicos e testemunhas.

A carta é assinada por dezenas de pessoas e entidades. Veja abaixo a íntegra do conteúdo e quem são os signatários:


CARTA ABERTA À COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE

Senhores Comissários,

                Nós, familiares de mortos e desaparecidos políticos, ex-prisioneiros políticos, entidades, movimentos de luta pela Verdade e Justiça, militantes dos direitos humanos e lutadores sociais, vimos externar nossa indignação com os graves acontecimentos que envolvem a Comissão Nacional da Verdade e nossa preocupação com a opacidade, falta de unidade e morosidade  com que tem funcionado a CNV.

                Consideramos de extrema gravidade um eventual fracasso da Comissão Nacional da Verdade na consecução de seus objetivos principais. As conseqüências de tal fato serão funestas não só para as gerações presentes, mas para o futuro de nossa nação.

                Desde o inicio dos trabalhos da CNV, cobramos a apresentação de um plano mínimo de trabalho, com objetivos e metodologia definidos; enfatizamos a necessidade de priorizar a investigação sobre os mortos e desaparecidos políticos e sobre a estrutura de repressão.

                Expressamos a necessidade e importância de convocar os agentes do estado responsáveis pelos crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados.

                Da mesma forma, consideramos fundamentais as audiências públicas, amplamente divulgadas pelo sistema público de comunicação social, com os testemunhos das vitimas, familiares e sobreviventes.

                Houve momentos de entusiasmo de nossa parte, com os textos publicados por Cláudio Fonteles no site da CNV, comprometidos com a busca da verdade em torno dos mortos e desaparecidos políticos. Qual não foi nossa surpresa, quando vimos que essa postura era duramente questionada por outros integrantes da CNV!

                A partir de então, temos assistido as divergências internas se transformarem em ataques pessoais e públicos, numa triste demonstração de descompromisso com a verdade e a história, refletindo na falta de clareza do papel histórico da CNV.

                A divulgação do relatório parcial da CNV demonstrou desconhecimento das informações acumuladas, ao longo de mais de 40 anos, pelos envolvidos na luta pelo resgate da memória e da verdade histórica.

                A existência da CNV, fruto da luta dos familiares de mortos e desaparecidos políticos, ex-prisioneiros e militantes dos direitos humanos, significa mais do que uma necessidade, é um momento impar da história de nosso país, quando ainda é possível construir a verdade com a participação dos últimos sobreviventes - testemunhos oculares dos fatos.

                Neste momento em que tantas vozes se erguem pelo Brasil exigindo mais seriedade, respeito  e presteza na consecução de políticas publicas, apelamos para a consciência cidadã de cada um dos membros dessa Comissão, para que coloquem os princípios dos direitos à Memória, Verdade e Justiça do nosso povo e, principalmente dos familiares dos mortos e desaparecidos, acima de quaisquer desentendimentos ou divergências, e propomos:

      1. A imediata recomposição dessa Comissão, com a volta de Cláudio Fonteles, a substituição de Gilson Dipp e a garantia de que todos os integrantes estejam voltados prioritária e realmente para os trabalhos da CNV, e que estejam ainda comprometidos não apenas com o Direito à Verdade, Memória e Justiça, mas também com a concepção de Comissão que trabalhe com e para a sociedade, entendendo que o processo é tão importante quanto o relatório final;

      2. Que a CNV intensifique as audiências públicas, devidamente organizadas, convocando agentes do Estado envolvidos nas graves violações aos direitos humanos, bem como as testemunhas - vítimas, familiares, sobreviventes;

      3. Que o foco das investigações da CNV seja o esclarecimento dos casos dos mortos e desaparecidos políticos, motivo esse que levou à criação e constituição da CNV;

       4. Que a CNV se transforme num coletivo, forte o suficiente para garantir a abertura total dos arquivos dos órgãos de repressão e informação da ditadura, tanto a nível federal como estadual.

                Por fim, entendemos que o  resgate da verdade não se restringe à elaboração de um relatório final pela Comissão Nacional da Verdade, mas sim, é o produto de trabalho coletivo que depende de interação com as diversas formas de organização e expressão da sociedade civil. Por isso, os signatários desta carta apresentam propostas e se solidarizam com o Dr. Claudio Fonteles, que, no seu período à frente da Comissão Nacional da Verdade, sinalizou o caminho a ser trilhado. Manifestamos também nossa total solidariedade à atual coordenadora Rosa Cardoso, que se identifica com nossas propostas e tem buscado o diálogo e a participação da sociedade.

“A única luta que se perde é a que se abandona.”
São Paulo, 15 de julho de 2013.

In memoriam aos familiares

Agrícola Maranhão do Vale
Alice Pereira Fortes
Alzira Grabois
Anita Lima Piahuy Dourado
Ariston Lucena
Arnaldo Xavier Cardoso Rocha
Benigno Girão Barroso
Berel Reicher
Blima Reicher
Carlos Alberto De Ré
Clélia Tejera Lisbôa
Consueto Ferreira Callado
Cristovam Sanches Massa
Cyrene Moroni Barroso
Davi Capistrano Filho
Dilma Alves
Edgar Corrêa
Edmundo Dias de Oliveira
Edwin Costa
Elza Joana dos Santos
Ermelinda Mazzafero Bronca
Eunice Santos Delgado
Euthália Rezende de Souza Nazareth
Fanny Akselrud de Seixas
Felícia Mardini de Oliveira
Guilhermina Bezerra da Rocha
Helena Pereira dos Santos
Ilma Linck Haas
Iracema Merlino
Irene Guedes Corrêa
Izabel Gomes da Silva
James Wright
João Baptista Xavier Pereira
João Luiz de Moraes
Julieta Petit da Silva
Lais Maria Botelho Massa
Luiza Monteiro
Lulita Silveira e Silva
Majer Kucinski
Manoel Porfírio de Souza
Márcia Santa Cruz
Márcio Araújo
Maria de Lourdes Oliveira
Maria Helena Carvalho Molina
Maria Madalena Cunha
Maria Mendes Freire
Odete Afonso Costa
Paulina da Silva
Rosalvo Cypriano Souza
Walter Pinto Ribas
Zuleika Angel Jones


Adilson Oliveira Lucena
Alberto Henrique Becker
Alessandra Gasparotto
Alípio Freire
Aluizio Palmar
Ana Maria Muller
Ângela Mendes de Almeida
Ângela Telma Oliveira Lucena
Antônio Pinheiro Salles
Aton Fon Filho
Bernardo Kucinski
Carlos Alberto Lobão Cunha
Carlos Gilberto Pereira
Carlos Lichtsztejn
Caroline Silva Bauer
Celso Carvalho Molina
César Augusto Teles
Cesar Cavalcanti 
Clarice Herzog
Claudio Antonio Weyne Gutierrez
Claudio Carvalho Molina
Clélia de Mello
Clóvis Petit de Oliveira
Criméia Alice Schmidt de Almeida
Damaris Oliveira Lucena
Darcy Miyaki
Denise Oliveira Lucena
Derlei Catarina De Luca
Dulce Maia de Souza
Edson Luis de Almeida Teles
Edgardo Binstock   
Edival Nunes Cajá
Eliete Ferrer
Elio Cabral 
Elma Dutra 
Elza Ferreira Lobo
Elzira Vilela
Enzo Luiz Nico Jr.
Francisco Celso Calmon
Gilberto Carvalho Molina
Gilney Amorim Viana
Helenalda Resende de Souza Nazareth
Hugo Albuquerque
Iara Xavier Pereira
Ivan Seixas                           
Janaína de Almeida Teles
João Carlos Bona Garcia
João Carlos Schmidt de Almeida Grabois
Laura Petit da Silva
Laurenice Noleto Alves
Lilian Celiberti
Lilian Ruggia
Lorena Moroni Girão Barroso
Marcelo Santa Cruz
Maria Amélia de Almeida Teles
Maria Cristina Vannucchi Leme
Maria Eliana de Castro Pinheiro
Maria Lygia Quartim de Moraes
Maria Madalena Prata Soares
Maria Regina Jacob Pilla
Maria Socorro de Castro
Marilda Toledo de Oliveira
Marta Nehring
Maurice Politi
Nei Tejera Lisboa
Nilce Azevedo Cardoso
Noeli Tejera Lisboa
Orlando Bomfim Netto
Pedro Laurentino
Pedro Pomar
Pedro Rocha Filho
Pedro Serrano
Rafael Freire
Renan Honório Quinalha
Romildo Maranhão do Valle
Sérgio Ferreira
Suzana Keniger Lisbôa
Tatiana Merlino
Terezinha Souza Amorim
Thais Barreto 
Togo Meirelles 
Valter Pomar
Vera Cortês
Vivian Mendes
Walderes Nunes Loureiro 
Yuri de Carvalho
Zilda de Paula Xavier Pereira



-As. dos Amigos do Memorial da Anistia Política do Brasil
-Casa Latino Americana - CASLA de Curitiba
-Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguacu
-Centro Cultural Manoel Lisboa
-Coletivo Catarinense Memória Verdade e Justiça
-Comissão da Verdade Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás
-Centro de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte
-Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos
-Comitê Carlos De Ré da Verdade e da Justiça
-Comitê Catarinense Pró-Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos
-Comitê Goiano da Verdade, Memória e Justiça
-Comitê pela Verdade Memória e Justiça do DF
-Comitê pela Verdade Memória e Justiça – BA
-Comitê Memória Verdade e Justiça Campinas
-Comitê Memória Verdade e Justiça Ceará
-Comitê Memória Verdade e Justiça de Pelotas e região
-Comitê Memória Verdade e Justiça - Espírito Santo
-Comitê Direito Memória Verdade – Imperatriz/Ma
-Comitê Direito Memória Verdade – Paraíba
-Comitê Memória Verdade e Justiça – Pernambuco
-Comitê Memória Verdade e Justiça – Terezina/PI
-Comitê Paulista pela Memória Verdade e Justiça
-Fórum de Reparação e Memória do Rio de Janeiro
-Instituto de Estudos Políticos Mário Alves - Pelotas - RS
-Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
-Sindicato dos Jornalistas da Paraíba

JOSÉ DIRCEU

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