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8.17.2013

Botox é aplicado por dentistas

Toxina pode ser usada por dentistas  para fins estéticos.

Roberta Salomone

Médico aplica toxina botulínica em paciente
Foto: MIKE SEGAR / REUTERS
Médico aplica toxina botulínica em paciente MIKE SEGAR / REUTERS
O consultório do dentista não é um lugar apenas para cuidar dos dentes. Profissionais da odontologia podem ajudar no tratamento de dificuldades de fala, de distúrbios do sono, de dores de cabeça — e, agora, também aplicar toxina botulínica (o famoso botox) nos pacientes. O procedimento é indicado como alternativa para melhoria do sorriso gengival, do ranger dos dentes e da hiperatividade muscular, mas, entre uma obturação e outra, tem dentista querendo sumir com as rugas dos pacientes. Apesar de alguns países europeus e estados americanos permitirem o uso de botox nos consultórios dentários, por aqui, o Conselho Federal de Odontologia  libera o uso terapêutico da substância, mas proíbe se o fim for apenas estético.
— É proibido, mas a fiscalização é praticamente impossível — afirma Denise Steiner, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia. — Dentistas e outros profissionais como biomédicos, fisioterapeutas e enfermeiros estão aplicando a toxina botulínica mesmo não tendo autorização. Eles sabem que este é um mercado promissor.
Brasil é grande mercado
De fato, o botox é um filão e tanto. Estudo publicado em 2012 prevê que o mercado global da substância alcance US$ 2,9 bilhões até 2018. De acordo com o segundo maior fabricante do produto, a aplicação da toxina para reduzir as rugas cresceu ao menos 20% nos últimos dois anos nos EUA.
— O uso da toxina como terapia de apoio a tratamentos odontológicos é, antes de tudo, baseado em princípios técnicos e científicos — garante Rodrigo Guerreiro Bueno de Moraes, cirurgião-dentista e consultor científico da Associação Brasileira de Odontologia. — Atacar sem embasamento é preocupante e é mais uma prova de que é necessário muito empenho dos líderes das duas áreas na redação e tratativas de temas de interesse comum.
O Brasil está entre os maiores mercados de botox do planeta. Procedimento número um nos consultórios dos dermatologistas, já representa 30% dos atendimentos. A toxina, aprovada para uso estético há 13 anos, tem se popularizado cada vez mais. O preço do tratamento caiu pela metade e, hoje, a aplicação pode ficar entre R$ 500 e R$ 1.400. As indicações de seu uso também foram ampliadas como ninguém antes poderia prever. Inicialmente, era destinada para o tratamento de espasmos involuntários da musculatura. Hoje, além de atenuar linhas de expressão do rosto, trata dores de cabeça e até suor excessivo nas axilas. O procedimento toma pouco tempo, mas o efeito dura até seis meses.
— Fui levar meu filho para tratar um canal no dentista e acabei sendo convencida a colocar botox na minha testa. Fiquei tão satisfeita que voltei seis meses depois para tirar também as rugas que ficam ao lado dos meus olhos — conta a vendedora paulista Adriana Demiciano, de 45 anos, que pagou R$ 1.500 em cada aplicação e não achou nada estranho fazer o procedimento em um consultório dentário.
Ainda que seu uso tenha sido proibido para fins exclusivamente estéticos, a toxina continua a ser aplicada sem controle nos consultórios dentários. Segundo o Conselho Federal de Odontologia, a fiscalização é feita pelas vigilâncias sanitárias estaduais e municipais e, caso o profissional ultrapasse o limite de sua atuação, será responsabilizado por seus atos.
Há nove anos, o cirurgião-dentista Wilson Carlos Mendes Junior usa a toxina para melhorar o formato dos lábios e eliminar o temido “bigode chinês” das pacientes, segundo ele com fins terapêuticos. Hoje, aplicações de botox e preenchimentos faciais representam 90% de suas consultas.
— Fiz muitos implantes e tratamentos de canal, mas a minha clientela mudou completamente. Somos os profissionais que mais conhecem a anatomia da face — diz Wilson Carlos, que tem um consultório em São Paulo e dá, em média, dois cursos mensais sobre o assunto para dentistas.
Mas a dermatologista Paula Raso, professora do setor de Cosmiatria da Santa Casa do Rio, lembra que para alcançar bons resultados é preciso fazer uma avaliação criteriosa de cada paciente. E o fato de a aplicação ser rápida e o efeito temporário não elimina possíveis excessos e riscos.

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