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8.27.2013

Doença rara transmitida por mosquito ameaça rebanhos

Vírus da Língua Azul contaminou criação do maior produtor de ovino leiteiro do estado

Francisco Edson Alves
Rio - Produtores de ovelhas do estado estão em alerta: uma doença rara, conhecida como Vírus da Língua Azul (VLA), incomum no Brasil, está atacando animais no Sul Fluminense. O mal atacou o rebanho do maior produtor comercial de ovino leiteiro da região, em Vassouras, o pecuarista Pedro Porto. Dos 150 exemplares dele, 112 foram contaminados e 28 já morreram. Nas redondezas da fazenda há dezenas de pequenos criadores de ovinos. A doença tem 26 diferentes sorotipos espalhados no mundo e a transmissão é através do mosquito conhecido como maruim ou pólvora.
“Minhas instalações estão interditadas pela Defesa Sanitária Animal (da Secretaria de Estado de Agricultura). Meu prejuízo é astronômico. As autoridades estaduais e federais, porém, fazem vista grossa para um problema sério. O Ministério da Saúde não autoriza a importação da vacina, fabricada na Espanha”, lamenta Pedro. Ele alega ter perdido mais de R$ 500 mil com a morte dos animais e com os prejuízos com investimentos em equipamentos e instalações.
Paulo Henrique Moraes, superintendente estadual de Defesa Agropecuária, diz que não há motivo para alarme. “Seis propriedades estão sendo monitoradas e não há risco de surto”, garante Moraes.
Diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura (Mapa), Guilherme Marques, por sua vez, assinou nota técnica no dia 8 deste mês, argumentando que o problema em Vassouras é um caso isolado, e que a importação da vacina reivindicada por pecuaristas foi vetada porque “ainda é preciso pesquisas para saber a real eficácia e segurança dela”.
Mas pesquisadores da Universidade Federal Fluminense dizem que é preciso adotar medidas para se evitar a propagação da doença.
O rebanho de uma fazenda em Vassouras já foi atingida: criador diz que prejuízos chegam a R$ 500 mil
Foto:  Divulgação
UFF pede mais atenção
Especialistas e veterinários da Universidade Federal Fluminense que detectaram o vírus em fevereiro em Vassouras, discordam das autoridades do estado e da União. O pesquisador Mário Balaro, do Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Caprinos e Ovinos da UFF , e um dos responsáveis pelo diagnóstico, ressalta que só a interdição da propriedade de Pedro Porto não é suficiente para se evitar um surto.
“É primordial a adoção de diversas medidas para o controle epidemiológico. Apresentamos um plano de contingência baseado em modelos internacionais às autoridades”, diz. Ele acredita que a VLA é endêmica em grande parte do país desde 1978, mas é subnotificada, já que os sintomas são facilmente confundidos com outras doenças. Pedro Porto concorda: “Não podem tratar uma enfermidade transmitida por mosquito como caso isolado. Só se eu colocar telas ao redor e sobre toda minha propriedade”. Outro pólo de produção de leite de ovelha fica em Miguel Pereira, a apenas 20 quilômetros de Vassouras.
Pesquisadores vão mapear áreas de risco
No verão, quando há incidência maior de mosquitos, veterinários da UFF, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pretendem fazer levantamento sorológico no estado e mapear zonas de risco.
Pesquisas indicam que não há risco de a doença ser transmitida para os seres humanos. Houve apenas um registro de um homem que teria tido células do pulmão atacadas pelo VLA, quando manipulava o vírus em laboratório.
EUA e Europa têm vacinação
O nome Língua Azul foi atribuído à doença devido à um dos sintomas: a língua apresenta inchaço e ganha uma coloração azulada. As causas de morte são os edemas pulmonares provocados pela replicação do vírus e as pneumonias secundárias, o que ocorre se o animal não for devidamente tratado. Na Europa e nos EUA Unidos, só a vacinação é considera segura para se evitar grandes perdas.

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