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8.17.2013

'Nem todos os anjos têm asas', diz mãe de bebê que nasceu sem braços

Heitor nasceu também com encurtamento das pernas.
Família realiza campanha para arrecadar doações.

Natália de Oliveira Do G1 Sorocaba e Jundiaí

Heitor nasceu sem os braços (Foto: Natália de Oliveira / G1)Heitor nasceu sem os braços (Foto: Natália de Oliveira / G1)
A escolha do nome já parecia ser um presságio: "Heitor", aquele que se mantém firme e não se abate. A alegria e o olhar, que se destaca pela cor ora esverdeada, ora azul, é contagiante. Os longos cabelos também chamam atenção, tanto que já lhe renderam o apelido de "Bebelon". Heitor Cordeiro pode ter só três meses, mas já parece driblar as dificuldades impostas pela sua condição física com um sorriso estampado no rosto: por causa de uma má-formação, ele nasceu sem os braços e com encurtamento das pernas.
“Nem todos os anjos tem asas, às vezes eles têm apenas o dom de nos fazer sorrir”, dizem os pais, Marcos Adriano Cordeiro Junior, de 22 anos, e Talitalinda Aparecida Ribeiro Cordeiro, de 21 anos. O jovem casal, que mora na Zona Norte de Sorocaba (SP), se casou em 2011. Em junho de 2012, Talita, como é conhecida, ficou grávida. Três meses depois, o casal estava ansioso para saber o sexo do bebê. Foi então que a ansiedade deu lugar ao medo e à revolta momentânea. “Fomos fazer a ultrassonografia e a médica logo disse ‘Olha o documento dele aí’, já nos dando a entender que era um menino. Porém, logo em seguida, a médica ficou calada e eu percebi que algo estranho estava acontecendo, porque ela parecia procurar, procurar...", conta a mãe.
Má-formação foi descoberta aos três meses de gestação bebe heitor (Foto: Natália de Oliveira / G1) 
Má-formação foi descoberta aos três meses de
gestação (Foto: Natália de Oliveira / G1)
Depois de alguns instantes em silêncio, a médica perguntou se havia alguém na família com má-formação de membros. “Na hora eu já comecei a ficar nervosa e respondi: ‘meu irmão, ele tem um braço maior que o outro’. Foi aí que a médica contou que não estava conseguindo identificar os membros superiores do meu bebê e que os membros inferiores eram menores do que ideal para o tempo de gestação”, diz a mãe, lembrando que, naquele momento, "perdeu o chão". “Saí do consultório com um sentimento de revolta, me perguntando o que tinha feito de errado para merecer isso", revela.
A médica orientou o jovem casal a repetir o ultrassom depois de um mês, para poder, assim, confirmar o quadro de má-formação que havia diagnosticado. Depois de um mês, Talitalinda optou por fazer o exame com outro médico, especialista em feto. Ela conta que antes da ultrassonografia não mencionou o diagnóstico da médica anterior, na esperança de que fosse um engano. “Eu não estava querendo aceitar, eu estava acreditando que poderia acontecer um milagre”. Mas o diagnóstico foi confirmado.
Marcos lembra que também demorou para acreditar na história, mas manteve-se firme e assumiu a postura de apoiar a parceira. “Eu aceitei o meu filho como ele era, então não me preocupei. Na verdade, a minha preocupação foi com a minha esposa, tive medo que ela rejeitasse meu filho, que tivesse algum tipo de depressão pós parto ou coisa do tipo”, explica. Mas, após o susto inicial, a mãe passou a curtir a gravidez como toda mãe ansiosa.
Caso raro
De acordo com o que o médico explicou para os pais do bebê, além dele ter nascido sem os braços, alguns ossos da perna esquerda não desenvolveram, como o fêmur e a fíbula, e o pé nasceu com apenas quatro dedos. Já na perna direita, o fêmur é encurtado e, ao mesmo tempo, aparenta estar quebrado. “O médico ortopedista disse que nunca tinha visto um caso como o do Heitor e nos falou que é um grau de má-formação raro. Somente quando ele atingir os dois anos de idade vamos saber quais habilidades ele irá desenvolver, que cirurgias poderão ser realizadas e qual tipo de prótese é ideal para ele”, conta Marcos.

Em outubro, o bebê será submetido a exames com um geneticista de Sorocaba para identificar o que acarretou na má-formação. “Só depois desse exame vamos saber se é um problema genético, como uma má-combinação dos nossos sangues, ou se foi um caso esporádico”, explica o pai. Talita ressalta que, caso seja comprovado um problema genético, irá optar por não ter mais filhos. “Cuidar de uma criança como o Heitor demanda muito tempo e dedicação. Por isso, se for algo genético, vamos nos concentrar apenas em dar o melhor para ele."
Bebê Heitor demanda cuidados redobrados (Foto: Natália de Oliveira / G1)Heitor demanda atenção redobrada
(Foto: Natália de Oliveira / G1)
Futuro
Como todo pai e mãe, a preocupação com o futuro do filho é constante. “Quero que ele consiga andar, que tenha o máximo de independência possível, mesmo com as suas limitações”, diz o pai. Como forma de se planejarem para as despesas com cirurgias e próteses de que Heitor vai precisar, os pais buscam doações.

Talita criou uma página no Facebook onde compartilha informações sobre o desenvolvimento do bebê. Em pouco mais de três meses, a página ganhou mais de 17 mil seguidores. “Recebemos apoio de tantas pessoas, até mesmo de gente que não conhecíamos. As palavras deles nos ajudaram a enfrentar tudo com muita fé e otimismo. Foi deles a ideia de criar uma poupança para o Heitor”, diz a mãe.
Por meio do Facebook os pais vendem camisetas com a foto do bebê e promovem rifas. Além disso, a família e os amigos organizaram uma quermesse para este sábado (17), no próprio bairro onde moram, em Sorocaba, com direito a comida, pesca, bingo, pintura facial, exposição de serpentes e até show sertanejo. “Inicialmente, íamos fazer algo entre os familiares e amigos do bairro, mas, depois que divulguei na internet, a adesão foi muito grande e recebemos diversas doações. Vamos conseguir fazer uma festa muito linda e todo o dinheiro arrecadado vai direto para a poupança, para dar mais independência para o Heitor no futuro”, explica Marcos.
Especialização em prol de Heitor
Estudante de Projetos na Fatec de Sorocaba, Marcos planeja, ainda, fazer um curso de engenharia. O motivo, de acordo com o jovem, é poder contribuir com o futuro do filho e de tantas outras crianças que, assim como ele, precisam de ferramentas para ter uma vida mais independente. “O Heitor vai depender dos outros para quase tudo e quero poder adaptar toda a nossa casa para amenizar isso. Como, por exemplo, criar formas dele abrir uma porta, a geladeira, sem precisar dos braços. Vou precisar de formação para conseguir isso", explica.

Além disso, o pai acredita que todo o aprendizado que estão tendo com o pequeno Heitor também poderá levá-los a criar uma ONG para auxiliar outras pessoas que passam pelas mesmas dificuldades que eles. “Nossas forças estão focadas no nosso filho, mas isso não significa que, depois de já termos tudo mais engatilhado para um futuro melhor para ele, não nos dediquemos também a ajudar o próximo”, finaliza Marcos.
Pai de Heitor quer fazer especialização para ajudar na deficiência do filho (Foto: Natália de Oliveira / G1) 
Pai de Heitor quer cursar engenharia para ajudar no desenvolvimento do filho (Foto: Natália de Oliveira / G1)
 

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