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9.09.2013

Aniversário de 40 anos do golpe militar no Chile divide forças políticas do país

Presidente Piñera condenou o ato, na época apoiado por muitos simpatizantes e integrantes de seu governo

Agência Brasil

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Quarenta anos depois do golpe militar e em plena campanha para as eleições presidenciais de novembro, o Chile continua dividido. Dois atos, hoje (9), marcaram o aniversário de 40 anos da derrubada do governo eleito de Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, em movimento militar liderado pelo general Augusto Pinochet – que governou o país com mão de ferro durante 17 anos.
Um dos eventos, convocado pelo presidente Sebastián Piñera, o primeiro eleito pela centro-direita desde o retorno do país à democracia há mais de duas décadas, ocorreu no palácio presidencial. Outro, no Museu da Memória e dos Direitos Humanos, encabeçado pela ex-presidenta Michelle Bachelet – candidata pela coalização de centro-esquerda Nova Maioria e grande favorita nas pesquisas de opinião.

Na cerimônia no Palácio La Moneda, Piñera condenou o sangrento golpe (na época apoiado por muitos simpatizantes e integrantes de seu governo), que resultou na queda e no suicídio de Salvador Allende – primeiro socialista eleito na América Latina, em meio à Guerra Fria. Durante o golpe de 1973, o próprio palácio presidencial foi bombardeado.

Piñera criticou o silêncio daqueles que sabiam das atrocidades sendo cometidas e que até hoje não se manifestaram. Mas, apesar de considerar as violações aos direitos humanos “injustificáveis”, ele disse que as responsabilidades pelos acontecimentos do passado precisam ser compartilhadas. “O governo da Unidade Popular [de Allende] reiteradamente rompeu a legalidade e o Estado de Direito no Chile”, disse Piñera, justificando a intervenção militar.

Horas antes, em ato no Museu da Memória e dos Direitos Humanos, Michelle Bachelet descartou qualquer possibilidade de reconciliação sem que o Chile termine de investigar os crimes do passado e punir os culpados. “Não existe reconciliação que se construa diante da ausência da verdade, da justiça e do luto”, disse ela.

Segundo Bachelet – cuja família foi vítima da ditadura – “injustificáveis” são os argumentos da direita, de que os militares atuaram para colocar um fim à crise econômica e política que dividia o país. “Para dar continuidadeà democracia, era necessário ter mais democracia, não um golpe de Estado”.

A polarização, acentuada pelo aniversário do golpe e pela campanha presidencial, tornou-se evidente nos dois atos. Nenhum dos outros quatro ex-presidentes que governaram o Chile desde 1990 aceitou o convite de Piñera para a cerimônia em La Moneda. Todos são da chamada Concertação – uma aliança de centro-esquerda que ficou no poder durante duas décadas consecutivas, e que este ano mudou de nome para Nova Maioria e incluiu, pela primeira vez, o Partido Comunista.

Os ex-presidentes Eduardo Frei e Ricardo Lagos optaram pelo ato convocado por Bachelet, no museu que ela inaugurou durante seu mandato presidencial.

Apenas três dos nove candidatos às eleições presidenciais estiveram presentes em La Moneda. Entre eles, a candidata de Piñera, Evelyn Matthei, da Aliança, formada pelos partidos conservadores Renovação Nacional (RN) e União Democrática Independente (UDI). Não é a primeira vez que os caminhos de Evelyn e Michelle se cruzam. Ambas são filhas de generais (a mais alta patente) da Forca Aérea chilena que eram amigos até o golpe de 1973.

Alberto Bachelet, pai de Michelle, foi assessor de Allende. Foi detido e torturado depois do golpe e morreu na cadeia. A mulher e a filha também foram levadas a campos de concentração, mas conseguiram sair do país como exiladas. Na época do golpe e da morte de Alberto Bachelet, Fernando Matthei estava em Londres com a família. Voltou para o Chile quando Michelle e a mãe ja estavam na Europa e tornou-se membro da junta de governo de Pinochet, que ficou no poder até 1990.

No domingo (8), milhares de chilenos saíram às ruas (como fazem todos os anos) para protestar contra o golpe, em marcha que foi reprimida pela polícia. “Existem ainda 1.300 processos abertos durante 40 anos, sem que saibamos onde estão os desaparecidos e mortos”, disse Alicia Lira, presidente da organização de familiares de políticos executados na ditadura.

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