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10.25.2013

Cadê o Amarildo: Bope sob suspeita

Ministério Público investiga se corpo do pedreiro foi levado por carros da tropa de elite

Adriana Cruz
Rio - O Ministério Público (MP) investiga se o corpo do pedreiro Amarildo de Souza, de 47 anos, torturado e morto na Rocinha, dia 14 de julho, foi retirado da comunidade por viaturas do Batalhão de Operações Especiais (Bope), tropa de elite da Polícia Militar. Quatro veículos da unidade foram submetidos ao exame do luminol — substância que identifica vestígios de sangue — por peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), há duas semanas.
Pelo menos 20 homens do batalhão foram convocados no dia da morte de Amarildo para ir à Rocinha sob a alegação de que a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) estaria ameaçada de ataque. O pedido, feito pelo major Edson Santos, então comandante da UPP, foi comunicado ao coronel Erir Costa Filho, à época comandante da PM.

Policiais fizeram a reconstituição do dia do desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo na Rocinha
Foto:  José Pedro Monteiro / Agência O Dia

O major e outros 12 policiais estão presos, acusados de envolvimento no crime. Ao todo 25 PMs, lotados na UPP da Rocinha, foram denunciados à Justiça pelos crimes de tortura seguida de morte, por ação direta ou omissão, ocultação de cadáver e fraude processual. Embora houvesse a informação de que a UPP da Rocinha seria invadida, Santos determinou que todos os policiais que trabalhavam na administração fossem embora. Do grupo, 11 policiais ficaram presos no contêiner P-5 durante as sessões de tortura contra Amarildo.
De acordo com o depoimento da testemunha-bomba — soldado que serviu na unidade e ajudou nas investigações —, por volta das 21h20, a tropa do administrativo recebeu ordem para sair da comunidade o mais rápido possível: “Quem não tinha veículo deveria ir a pé e descer pela Estrada da Gávea”.

Entre os indiciados está o ex-comandante da UPP, Edson Santos
Foto:  Alessandro Costa / Agência O Dia

Para fechar o cerco à possibilidade de envolvimento de homens do Bope na morte de Amarildo, o Ministério Público, que atua junto à Auditoria de Justiça Militar, pediu ainda o mapeamento do GPS das quatro viaturas. Porém apenas duas tinham o localizador instalado. As informações sobre o equipamento e o resultado do exame com o luminol devem ser enviados ao MP até o início do mês que vem.

As viaturas do Bope foram identificadas em investigação da 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM). No órgão há Inquérito Policial Militar que apura os crimes de corrupção ativa e coação de testemunha. É que durante as investigações sobre o caso Amarildo, o major Edson teria pago aluguel para uma mulher fora da Rocinha.

Em troca, ela prestou depoimento no qual acusava o tráfico de drogas de ter sido o responsável pela morte do pedreiro. Três testemunhas estão fora do Rio sob proteção.
Comandante de UPP era da tropa
Caveira do Bope, o major Edson Santos tinha relações estreitas com o batalhão. Ao ser afastado da UPP da Rocinha em função da investigação sobre o caso Amarildo, inclusive, o oficial foi lotado novamente na unidade. De acordo com relatos de testemunhas, na Rocinha, o major implantou a política do terror para conseguir informações sobre envolvidos com o tráfico de drogas. Outros casos de tortura estão sendo investigados pelo Ministério Público.
Amarildo foi detido porque teria a ‘chave do paiol do tráfico’. Mas, durante as agressões, ele teria repetido não saber de nada. O corpo do pedreiro foi envolvido em uma capa de moto e embalado com fita crepe.
Mesa com sangue no caminhão de lixo
Não está descartada a hipótese de mais um PM ser denunciado por fraude processual. O policial que trabalhou durante a operação Paz Armada, como agente infiltrado no tráfico, garantiu que havia sido ameaçado por Thiago da Silva Mendes, o Catatau. Durante trabalho de peritos do Ministério Público, porém, foi constatado que a voz não era do criminoso.
“Na instrução criminal, os depoimentos serão prestados novamente. Portanto não está descartada nova denúncia”, explicou a promotora Carmem Eliza Bastos, do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público. O depoimento mais importante é o de um PM. Nele, o policial relatou que foi chamado até de ‘frouxo’ pelos responsáveis pela tortura contra Amarildo, quando pediu para que as agressões parassem.
No relato, contou que a o soldado Dejan Marcos de Andrade ficou na escadaria da Dionéia para impedir que moradores passassem próximo a um pequeno galpão, ao lado da sede da UPP, onde Amarildo era torturado. O militar contou que jogou uma mesa branca suja de sangue do pedreiro em caminhão da Comlurb.

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