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10.19.2013

Efeito da talidomida pode ter sido mais amplo do que se supunha, diz pesquisador

Em vários países, grupos que nunca receberam indenização se mobilizam para entra com ações na Justiça.

Da BBC
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Talidomida ainda é usada hoje para o tratamento de lepra e de mieloma múltiplo, um tipo de câncer (Foto: BBC)Talidomida ainda é usada hoje para o tratamento
de lepra e de mieloma múltiplo, um tipo de câncer
(Foto: BBC)
Estudos recentes indicam que a droga talidomida pode ter causado uma gama mais ampla de más-formações do que se imaginava.
Como resultado, em vários países, indivíduos que nasceram com deficiências físicas e tiveram recusados seus pedidos de indenização estão agora exigindo que seus casos sejam reconsiderados.
Criada pela companhia farmacêutica alemã Grunenthal, a talidomida começou a ser vendida em 1957, inicialmente como um sedativo leve. Depois, passou a ser receitada a mulheres grávidas, para combater o enjoo.
Em 1961, já havia ficado claro que o remédio estava levando ao nascimento de bebês com problemas de formação graves, como o encurtamento de braços e pernas. Ainda em 1961, a droga foi retirada do mercado em vários países.
Segundo números oficiais, cerca de 10 mil pessoas em todo o mundo nasceram com más-formações provocadas pela talidomida. Acredita-se que muitas mortes ocorreram ainda no útero.
Hoje, a talidomida ainda é utilizada para tratar a hanseníase (lepra) e o mieloma múltiplo (um tipo de câncer).
No Brasil - segundo país do mundo em casos de hanseníase, superado apenas pela Índia - milhões de comprimidos da droga são consumidos por milhares de pacientes. Recentemente, um estudo brasileiro vinculou 100 casos de bebês nascidos com deformidades à ingestão de talidomida.
Nova pesquisa
Em 1973, na Grã-Bretanha, após longas batalhes em tribunais, os distribuidores britânicos da Talidomida - a empresa Distillers - concordaram em compensar financeiramente as vítimas.
O Thalidomide Trust foi criado, e mais de 400 crianças foram beneficiadas.
No entanto, os critérios para a determinação dos casos que se qualificam para receber indenizações são, na opinião de alguns, inapropriados.
Muitos indivíduos que nasceram com deformidades mas foram excluídos do grupo que recebe ajuda financeira para conviver com suas deficiências acompanham com atenção os estudos do pesquisador Neil Vergesson, da University of Aberdeen, Escócia.
Vergesson vem observando os efeitos da talidomida no desenvolvimento de embriões de pintinhos e peixes.
No passado, o especialista escreveu relatórios para advogados que representavam alguns dos pacientes excluídos da lista oficial de vítimas.
Na década de 1960, especialistas decidiram que os fetos eram afetados pela droga durante um período muito curto da gestação - entre o vigésimo e o trigésimo-sexto dia após a concepção.
Vargesson questiona essa teoria. E afirma também que a droga afeta indivíduos de maneiras diferentes.
'Esse intervalo de tempo (durante o qual o feto seria sensível à droga) foi baseado em entrevistas com pais de crianças seriamente afetadas e está relacionado a danos externos e danos internos graves', disse.
E acrescentou: 'Tendo em vista a diversidade dos danos em sobreviventes da talidomida e estudos em animais que mostram que em uma mesma ninhada cada feto é danificado de forma diferente, está claro para mim que a droga age de maneira diferente em cada indivíduo e embrião'.
Para Vergesson, é possível que a talidomida provoque uma gama mais ampla de danos do que se imaginava.
No entanto, ele admite que é difícil saber com exatidão que danos são esses.
'Jamais saberemos a gama verdadeira (de efeitos da droga), é tão difícil voltar 55 anos e dizer, bem, vamos dar uma olhada nessas pessoas, porque na maioria dos casos, nem sabemos quem são essas pessoas'.
O trabalho de Vergesson é polêmico e há especialistas que discordam de suas conclusões.
Para alguns, porém, as pesquisas do especialista oferecem alguma possibilidade de justiça.
O britânico Gary Grayson nasceu com deformidades graves nas pernas (Foto: BBC)O britânico Gary Grayson nasceu com
deformidades graves nas pernas (Foto: BBC)
Injustiça?
O britânico Gary Grayson, da cidade inglesa de Ipswich, nasceu em 1961. Suas pernas tinham deformidades graves e foram amputadas antes de ele completar dois anos de idade.
Poucos meses depois, ele passou a usar pernas artificiais.
A mãe de Grayson tomou talidomida, mas ele nunca recebeu qualquer indenização.
Médicos do Thalidomide Trust disseram que as deformidades que Grayson apresentava não eram típicas da talidomida.
Ele não deixou que a deficiência atrasasse seu desenvolvimento e se saía bem na escola. Hoje, casado e pai de família, trabalha no Ministério da Defesa britânico.
'Na minha juventude, nunca me considerei uma vítima'.
Mas agora, depois de investigar mais a fundo seu próprio histórico médico, ele acha que tem provas suficientes para brigar na Justiça por uma indenização.
Indenizações
Várias firmas de advocacia vêm cuidando do caso de Grayson e de outras supostas vítimas - muitas delas britânicas. O grupo se autodenomina Thalidomiders.
Em outros países, há mais processos estão em andamento.
Na Espanha, 185 pessoas estão levando o fabricante alemão Grunenthal para o tribunal. Elas nunca receberam qualquer indenização da empresa.
No ano passado, na Austrália, os distribuidores da droga concordaram em indenizar uma vítima, Lynette Rowe, de 50 anos. Mais casos são esperados ainda neste ano.
No Brasil, vítimas da talidomida ganharam direito a indenizações pelo governo brasileiro em 2010. O governo foi responsabilizado porque, ao contrário de outros países, que retiraram a droga de circulação em 1961, o Brasil só suspendeu o uso do medicamento quatro anos depois.
Segundo estimativas de 2010, 650 brasileiros se qualificavam para receber compensação financeira.

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