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10.15.2013

Os mestres da ressuscitação

Quem são os médicos que, com a ajuda de novos recursos, como o resfriamento corporal, estão fazendo subir os índices de sobrevivência de pessoas que sofreram parada cardíaca - mesmo uma hora depois de o coração ter parado de bater

Cilene Pereira

Chamada.jpg PROTEÇÃO INTEGRAL
No serviço dirigido por Timerman, no InCor (SP), o paciente também é ajudado por
equipamentos que auxiliam depois da parada cardíaca. O médico luta para que
mais desfibriladores (aparelho que aparece na foto) estejam disponíveis no País
 
Nos serviços dirigidos pelo médico inglês Sam Parnia, nos Estados Unidos, e por seu colega brasileiro Sérgio Timerman, no Brasil, a chance de morrer de uma parada cardíaca é significativamente menor do que na maioria dos outros hospitais do mundo. Parnia chefia a UTI do hospital da Stony Brook University, em Nova York. Timerman comanda o laboratório de pesquisa e treinamento em emergência do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo.
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No centro liderado por Parnia, 33% dos pacientes vitimados por uma parada cardíaca sobrevivem. Só para se ter uma ideia, a média nos outros hospitais americanos é de 16% de sobrevivência. No InCor, a taxa de indivíduos que sobrevivem é de 30%. Os dois centros reúnem o que há de mais moderno para ressuscitar pacientes mesmo após seus corações terem parado de bater por uma hora. São exemplos dos avanços obtidos pela medicina nessa área, progressos que, juntos, compõem uma espécie de ciência da ressuscitação. Usados de forma correta, seus recursos estão sendo responsáveis por trazer de volta à vida um número recorde de pessoas. No hospital vinculado à Universidade da Pensilvânia (EUA), por exemplo, em 1999 apenas 9% dos pacientes com parada cardíaca sobreviveram. Em 2010, o índice saltou para 38%.
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 Na última semana, os cardiologistas brasileiros foram informados das recomendações mais recentes sobre o tema, divulgadas durante o encontro da Sociedade Brasileira de Cardiologia, realizado no Rio de Janeiro. As diretrizes contemplam conceitos novos, como o de compressões torácicas de alta qualidade (feitas de forma que o coração volte a apresentar pelo menos 100 batimentos por minuto) e a abolição da respiração boca a boca feita por leigos – estes dois procedimentos ainda na etapa de ressuscitação cardiopulmonar. Elas também enfatizam a importância dos tratamentos a serem aplicados depois, já no hospital. “Esse cuidado pós-ressuscitação é a grande novidade atualmente”, explica o cardiologista Timerman.
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O especialista se refere à aplicação de três recursos: a oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO, em inglês), a hipotermia e o tratamento da causa que levou à parada imediatamente após a volta dos batimentos. O primeiro se baseia no uso de um aparelho que promove a oxigenação contínua do sangue do paciente, medida que assegura o fornecimento de oxigênio às células. A segunda técnica tem como objetivo preservar as células nervosas, usando para isso o resfriamento da temperatura do corpo. Somadas às manobras da ressuscitação cardiopulmonar (compressões torácicas, respiração boca a boca feita por pessoas treinadas e uso de desfibrilador), estas duas etapas compõem o que hoje é chamado de ressuscitação cardiocerebral (o foco é manter o funcionamento do coração e também do cérebro). O último passo é acabar com o que motivou o colapso cardíaco.
Os benefícios gerados a partir da aplicação de recursos como esses se estendem também às crianças. Um estudo realizado pela Universidade de Iowa (EUA) revelou que aquelas que estão hospitalizadas e que vierem a sofrer uma parada cardíaca têm hoje três vezes mais chances de sobreviver do que há três décadas, e com menos riscos de apresentarem sequelas neurológicas. Depois de analisarem casos de 1.031 crianças que sofreram parada em 12 hospitais, os cientistas constataram que, em 2009, 43% delas tiveram alta. Em 2000, apenas 14% deixaram o hospital com vida. “Vários fatores contribuem para esse avanço, como o melhor reconhecimento de uma parada cardíaca por meio da leitura de aparelhos de monitoramento, melhor qualidade das compressões torácicas e o uso de desfibrilador”, disse à ISTOÉ Saket Girotra, líder da pesquisa.
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Os especialistas querem ampliar essas vitórias. No Brasil, uma das lutas de Timerman é aumentar a disponibilidade de desfibriladores. A experiência por ele comandada no Metrô paulistano prova que isso dá bons resultados. Há cinco anos, todas as estações dispõem de um desses aparelhos. De cada dez pessoas que sofrem parada cardíaca em uma delas, quatro se salvam. No Brasil, de forma geral, de cada dez indivíduos nessa condição, somente um sobrevive.
Na Universidade da Pensilvânia, os médicos estudam formas de aumentar o uso da ECMO e da hipotermia. “A teoria por trás da ECMO é a de que o coração pode descansar e a causa da parada, revertida. E a aplicação desse recurso deve começar o mais rápido possível”, disse à ISTOÉ David Gaieski, pesquisador do assunto naquela instituição. Seu colega, Mark Mikkelsen, é autor de um levantamento no qual verificou que o resfriamento corporal vem sendo pouco utilizado. “Mas isso pode ser mudado, começando pela educação dos profissionais”, afirmou à ISTOÉ.
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Esforços como esses levam médicos como Sam Parnia a pensar que, no futuro, a definição de morte poderá ser diferente da atual. “Os avanços na ciência da ressuscitação começam a desafiar nossa percepção do que é vida e do que é morte e do que é possível”, disse à ISTOÉ. “Pode ser que dentro de alguns anos tenhamos que redefinir os critérios pelos quais consideramos as pessoas mortas.” 
foto: Kelsen Fernandes/ag. istoé

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