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10.05.2013

Os riscos de um Brasil cada vez mais quente


Relatório sobre impacto do efeito estufa indica sumiço de ecossistemas e biodiversidade, dificuldades na agricultura e falta d’água


O Dia
Rio - A Amazônia vai virar savana e a Caatinga, deserto. Nas regiões Sul e Sudeste, enchentes castigarão periferias das grandes cidades. Estes são alguns dos cenários para o Brasil do ano de 2100, segundo o primeiro estudo que analisa os efeitos do aquecimento global no país, divulgado este mês. O relatório, apresentado no Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), foi elaborado por 345 pesquisadores de grupo criado pelo governo federal.


Foto:  Arte: O Dia

Em todo o Brasil, a temperatura média subirá 6 graus. A queda nas chuvas na Amazônia chegará a 45%. Somadas aos efeitos do desmatamento, as mudanças climáticas vão contribuir para a savanização.
Se não houver uma rápida redução dos gases do efeito estufa — os maiores vilões do aquecimento global —, a região da América do Sul deve ser uma das mais afetadas do mundo. A grande biodiversidade, principalmente da Amazônia, corre sério risco. “Até 40% das espécies podem não conseguir sobreviver”, afirma Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
Os cenários climáticos apontam o aumento das secas não só na Amazônia, mas também no Cerrado e na Caatinga, o que, junto com a elevação da temperatura, causará alterações nos ecossistemas. Para a Caatinga, é esperada elevação de até 4,5 graus e redução de até 50% da precipitação. “Essas mudanças podem desencadear o processo de desertificação”, conclui o relatório. Outro problema, diz Nobre, é a possibilidade de carência de água disponível na região semiárida do Nordeste. “Vai faltar água para o abastecimento humano. E a agricultura vai se tornar menos provável”, conclui.
Nas regiões Sul e Sudeste, a temperatura também vai subir. Mas ocorrerá aumento nas chuvas. “Já observamos o aumento das frequências de eventos climáticos extremos, como chuvas e inundações”, afirma Paulo Artaxo, coordenador do programa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, que também participou do relatório. Nas grandes cidades, o impacto maior é nas periferias. “O processo desordenado de ocupação gera vulnerabilidade”, afirma Carlos Nobre.
País precisa se preparar para os desafios
As maiores fontes de gases do efeito estufa no Brasil são o desmatamento da Amazônia, o setor agropecuário, a indústria e o setor de transporte com a queima de combustíveis fósseis. Segundo Carlos Nobre, secretário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o Brasil precisa se preparar para mudanças inevitáveis no clima e suas consequências.
“O país avançou muito na redução nas emissões. Houve queda no desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Mas precisamos avançar mais no conhecimento para políticas públicas de adaptação em cada setor — agricultura, zona costeira, agricultura, recursos hídricos, cidades, saúde”, diz.
Para o coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF Brasil, Carlos Rittl, o país ainda não tem política integrada para o tema. “Apesar de algum progresso nos últimos anos, a agenda climática ainda não é integrada aos grandes planos de desenvolvimento do país,” afirma. A organização ambiental critica a destinação dos investimentos do setor de energia: 70% (R$ 700 bilhões) vão para combustíveis fósseis. Outro problema é o aporte de mais de R$ 107 bilhões para agricultura e expansão agropecuária.

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