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10.10.2013

Projeto cria ‘bebês digitais’ para evitar gestação de crianças doentes

O Globo

Holly Sloan participou do programa que seleciona os melhores doadores de espermata para dar à luz a Amélia
Foto: Molly Riley/AP
Holly Sloan participou do programa que seleciona os melhores doadores de espermata para dar à luz a Amélia Molly Riley/AP
RIO - Uma fábrica de “bebês digitais” será inaugurada em dezembro pela GenePeeks. A empresa, fundada em Nova York, promete analisar os códigos genéticos dos pais de uma criança antes da gestação e simular, em computador, as potenciais combinações do DNA do casal, num total de até 10 mil “bebês”. A proposta seria descartar as associações em que a criança poderia desenvolver uma doença ainda no período pré-natal.
Inicialmente, a empresa vai trabalhar com foco em mulheres que buscam uma produção independente. A partir de um banco de espermatozoides, ela fará a combinação deste material com o código genético da receptora.
Segundo o geneticista Lee Silver, cofundador da GenePeeks, em até 15% dos casos a combinação entre os genes recessivos do doador e da mulher receptora podem gerar uma doença rara. Uma vez detectadas tais associações, os nomes dos portadores são excluídos da lista de doadores em potencial que é entregue para a mulher.
— Nós pegamos a sequência de DNA dos dois futuros pais. Fazemos uma simulação do processo de reprodução, formando espermatozoides e úteros digitais. Depois eles são unidos para formar o hipotético código genético de uma criança — descreveu. — A partir daí, é possível estimar o risco do genoma do bebê ter uma mutação rara que cause uma doença.
Silver revela que a empresa buscará, em cada pessoa, as cerca de 600 condições recessivas do DNA causadas por um único gene. Se o homem e a mulher tiverem este gene recessivo, há um grande risco de que o bebê desenvolva uma mutação rara.
Morte precoce
Cofundadora da GenePeeks, Anne Morriss resolveu criar a empresa a partir de uma experiência pessoal. Seu filho foi concebido com um doador de esperma que, assim como Anna, tinha um gene recessivo para uma doença chamada MCADD, uma deficiência que impede a conversão de gorduras em açúcar. A MCADD pode ser fatal se não for diagnosticada em seu estágio inicial. Felizmente, Anne soube da doença de seu filho ainda durante o período pré-natal.
— Meu filho tem uma vida normal, mas apenas 30% das crianças com raras doenças genéticas não passam dos cinco anos de idade — alertou. — Com nosso projeto, queremos dar às mães, receptoras do espermatozoide, um catálogo filtrado da probabilidade de seus filhos terem uma mutação rara. A combinação de dois genes recessivos pode resultar em um alto risco de transmissão de doenças. Nosso trabalho resultaria em uma lista, em que constaria apenas o melhor potencial de associação genética entre o doador e a receptora.
A GenePeeks, porém, já é questionada por especialistas em biogenética. Um deles, que preferiu não ser identificado, disse à BBC News:
— Devemos compreender que existe uma incerteza na associação do DNA de pai e mãe. É difícil, mesmo para os cientistas, descobrir exatamente que risco uma predisposição genética particular significaria para uma família.

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