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11.04.2013

Gente submissa

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Quem apaga a própria personalidade comete alguma espécie escandalosa de suicídio

IVAN MARTINS
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Falávamos, eu e o amigo, de uma mulher que ambos conhecemos. Moderna, inteligente, bonita. Disponível, além de tudo. Pergunto por que ele nunca tentou namorá-la. “Ao conviver com ela, perdi o interesse”, ele responde. “Toda vez que namora, ela vira uma sombra obediente do sujeito com quem está. Parece que não tem personalidade própria. Para mim, perdeu a graça.”

Suponho que vocês conhecem gente assim, submissa. Acontece com homens e mulheres. A pessoa passa a vida esperando por gente que mande nela. Quando um alguém aparece, (e pode ser qualquer um), ela se anula, se submete e se torna, para quem a conheceu, mais ou menos irreconhecível. Quer dizer: é a mesmíssima pessoa, mas dá impressão de ter pendurado suas opiniões e sentimentos num cabide. Apaixonada – ou apaixonado - age como bichinho obediente e temeroso. O mais importante passa a ser a aprovação do Fulano ou a Sicrana.

Homens legais não gostam desse tipo de alma apagada. Suponho que mulheres também não. Alguma deferência aos desejos e às ansiedades do parceiro está na conta (seria estranho, aliás, estar com alguém e portar-se como se os sentimentos da pessoa não importassem). Mas quem deleta a sua personalidade em nome do outro comete alguma espécie escandalosa de suicídio. No longo prazo, o resultado é broxante. Nada mais inevitável do que enjoar de gente sem luz própria, que está no mundo apenas para nos servir. Exceto, talvez, no universo peculiar do sexo.
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Outro dia, li um texto feminino que descrevia, minuciosamente, os prazeres da submissão sexual. Não era sadomasoquismo. Parecia uma moça normal, contando como lhe dava prazer curvar-se aos desejos do parceiro, portar-se como gueixa, ser usada pelo seu homem. Não havia violência, apenas irrestrita e libidinosa devoção. Mesmo não sendo minha praia, achei tocante. Talvez nesse caso, se o parceiro curtir a mesma viagem, a submissão não seja enjoativa. Até o contrário.

Mas sexo, apesar das ilusões conservadoras, não tem a ver com caráter. A mesma moça que rasteja por prazer pode ser um mulherão altivo e resoluto fora do quarto. Na intimidade vicejam fantasias frequentemente opostas ao que se é no dia-a-dia: a personalidade dominante encontra prazer em ser submissa; a tímida explode de excitação ao assumir o comando do sexo. Ou tudo ao contrário e misturado. Lá no fundo, onde se engendra o desejo, somos criaturas cheias de mistério.

Na vida em pé e vestida, haverá quem prefira uma pessoa servil para servir-se, mas assumo que sejam as exceções. Relacionamentos costumam ser melhor com duas personalidades envolvidas. É pelo menos mais rico. As diferenças de tom e de andamento nos divertem. As discrepâncias de estilo, de idade, de renda, de gosto e cultura formam uma colcha de retalhos sob a qual dormimos enlaçados e nus. Nós e nossos sonhos separados. Nós e nossas lindas personalidades fraturadas. Duas pessoas que se tornam uma apenas no mais fugaz e elusivo dos momentos. Não parece muito, mas é tudo que temos.

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