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12.23.2013

Construções remetem a momentos importantes da história do Rio de Janeiro

  • Heranças deixadas pelos carmelitas ainda são visíveis nos dias de hoje
O Globo

Paço imperial: prédio de 1743 abrigou grandes eventos, como a assinatura da Lei Áurea -
Foto: Marcelo Theobald/18-4-2002 / Agência O Globo
Paço imperial: prédio de 1743 abrigou grandes eventos, como a assinatura da Lei Áurea - Marcelo Theobald/18-4-2002 / Agência O Globo
RIO - A metrópole que passa por uma grande repaginação neste século XXI ainda guarda — em prédios, igrejas, monumentos e logradouros — testemunhos de outros momentos importantes de sua história, que ajudaram a construir a identidade carioca. Herança deixada pelos carmelitas que aportaram no Rio do final do século XVI, o Convento do Carmo — hoje uma universidade — foi o responsável pela existência de um dos marcos da cidade: a Praça Quinze, joia do Rio antigo e contemporâneo.
— Devemos a existência da Praça Quinze ao Convento do Carmo. Foram os frades que pediram à Coroa portuguesa que nada fosse construído em frente ao monumento. E a área acabou ficando preservada — destaca o pesquisador Carlos Eduardo Barata.
O marco da fundação da cidade e a lápide de mármore com os restos mortais do fundador Estácio de Sá repousam, desde 1931, na Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca. Ainda dos primórdios cariocas, os três altares em que os jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega rezaram missas podem ser visitados na Igreja de Nossa Senhora de Bonsucesso, na Rua Santa Luzia, no Centro.
Instrumento de proteção da cidade contra as investidas de corsários franceses no início do século XVIII, a muralha da Rua da Vala (atual Uruguaiana) estabeleceu os limites cariocas em 1718. Seus resquícios foram descobertos recentemente, durante as escavações do metrô. Permanecem enterrados até hoje. É desse período a mais importante obra de engenharia do Brasil colonial: o Aqueduto da Carioca — hoje, os Arcos da Lapa.
O historiador Nireu Cavalcanti explica que o aqueduto, cuja primeira versão foi erguida em 1723, e o chafariz do Largo da Carioca — obra complementar — foram peças-chave no desenvolvimento do Rio.
— A opção do Mem de Sá por levar a cidade para o Morro do Castelo tinha um problema: o local não contava com água de qualidade. Os morros de Santa Teresa tinham água de qualidade. Mas o bem ficava restrito aos donos das chácaras e seus amigos. Quem não possuía escravos, animais e carroças tinha que comprar dos aguadeiros, que vendiam a água captada no Rio Carioca a preços exorbitantes. Os moradores começaram a solicitar à Câmara uma solução para o problema. Como era obrigação do rei de Portugal dotar os núcleos urbanos de água, optou-se pela construção do aqueduto — diz Nireu.
Inspirado no Aqueduto das Águas Livres, que então começava a ser erguido em Lisboa, o Aqueduto da Carioca foi todo reformado em 1750, quando seus dutos passaram a ser tapados, para evitar a captação clandestina e a contaminação da água por animais. A água passou a jorrar diretamente no Largo da Carioca. Um detalhe curioso: a área do largo, nesse período, era considerada um subúrbio da cidade, por estar fora dos limites da muralha da Rua da Vala. E o perímetro urbano carioca tinha apenas 25 mil habitantes.
— O governador Gomes Freire de Andrade Bobadela chegou a pedir desculpas ao rei de Portugal por ter antecipado as obras, por causa do clamor popular. Dom João V acabou não levando a polêmica adiante: “Está bom, mas não faça mais isso” — conta Nireu.
O Paço Imperial (construído em 1743) abrigou grandes eventos históricos, como a aclamação de dois imperadores, dom Pedro I e dom Pedro II, o Dia do Fico (9 de janeiro de 1822) e a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, que aboliu a escravatura no Brasil, em 13 de maio de 1888.

O Bota-abaixo de Pereira Passos
São retratos do efervescente período da fundação da Academia Imperial de Belas Artes, de 1816, os ícones da arquitetura neoclássica da cidade: a Santa Casa da Misericórdia, o Palácio Itamaraty (hoje escritório de representação do Ministério das Relações Exteriores no Rio) e o prédio do Arquivo Nacional (antiga Casa da Moeda). Nesse período, o arquiteto francês Grandjean de Montigny marca seu nome na história como o primeiro professor oficial de arquitetura do Brasil. O pórtico que sobrou do antigo prédio da academia — grande obra de dom João VI, demolida em 1826 — pode ser visto hoje no Jardim Botânico.
No século XIX, as reformas do Palácio da Quinta da Boa Vista (em 1845) e do prédio do Automóvel Club (1860), na Rua do Passeio, ambos realizações do arquiteto Araújo Porto Alegre, merecem registro.
O bota-abaixo promovido por Pereira Passos no início do século XX mudaria definitivamente a cara do Rio. Nesse período, cerca de 1,7 mil imóveis foram desocupados e derrubados para a construção da Avenida Central (atual Rio Branco). São exemplares da arquitetura eclética desse tempo a Biblioteca Nacional e o Teatro Municipal.
— Pereira Passos foi o fundador da Avenida Beira-Mar, do Calabouço ao Morro da Viúva, no Flamengo. E os governos seguintes levaram a via até Botafogo.
Representando o nascimento da arquitetura moderna brasileira, o Palácio Capanema (entregue em 1947), no Centro, reuniu grandes criadores, como Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Burle Marx, Portinari e Le Corbusier.


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