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12.27.2013

Exemplo britânico contra o câncer



  • Reino Unido reduz em 20% mortes pela doença em duas décadas, num movimento oposto ao do Brasil
Flávia Milhorance 

Célula do câncer de pulmão, um dos mais prevalentes
Foto: Latinstock
Célula do câncer de pulmão, um dos mais prevalentes Latinstock
RIO - O Reino Unido tem conseguido diminuir as mortes ocasionadas por câncer, mesmo com o número de casos aumentando. Dados mostraram uma redução em torno de 20% na taxa de mortalidade nas últimas duas décadas, um número inédito entre estatísticas da doença no mundo, já que a tendência em boa parte dos países, incluindo o Brasil, é o de crescimento alarmante tanto da incidência quanto de óbitos. Segundo especialistas, os britânicos não descobriram a roda, apenas ampliaram as estratégias já bastante conhecidas de diagnóstico precoce, tratamento e prevenção.
Segundo a análise do Instituto de Pesquisa do Câncer do Reino Unido, a taxa de mortalidade caiu 20% entre mulheres (de 185 para 147 casos por 100 mil habitantes) no período de 1990 a 2011. Entre os homens, a redução foi ainda mais expressiva: de 27% (de 277 para 203 por 100 mil). Os dados foram publicados no periódico “British Medical Journal”.
O país europeu tem um sistema universal e gratuito de saúde. A redução de mortes é atribuída pelo instituto ao aumento do conhecimento sobre prevenção; à melhoria das técnicas cirúrgicas, principalmente a radioterapia; e a drogas mais eficientes. Lá, inclusive, segundo dados da mesma pesquisa, 519 mil vidas foram salvas devido aos avanços científicos, que apostam em técnicas cada vez mais personalizadas para combater uma das principais causas de morte no mundo.
- A notícia é muito boa. Os Estados Unidos também estão diminuindo sua mortalidade, mas não nesta magnitude. Há mais pacientes diagnosticados, porém mais conseguem ser curados por causa das estratégias empregadas. Acontece que é o oposto da realidade brasileira - comentou o oncologista Maurou Zukin, diretor técnico do Grupo COI.
A proporção de pessoas morrendo de câncer diminuiu mesmo com o aumento dos casos. Taxas gerais de diagnóstico cresceram 12% entre as décadas de 90 e 2000. Este aumento é em grande parte devido ao envelhecimento da população, já que a doença é mais comum entre os mais velhos.
Quatro tipos de câncer - pulmão, intestino, mama e próstata - representam quase a metade (46%) das mortes por câncer no Reino Unido, sendo que o de pulmão é responsável por 22%. O de intestino é o segundo mais comum (10%), seguido pelo de mama (7%).
- O câncer de intestino teve redução de mais de 40% pelo método que obviamente é o diagnóstico precoce, a colonoscopia, uma política implantada lá há muitos anos. Aqui no Brasil ainda é o terceiro caso mais prevalente. Por outro lado, a exemplo dos britânicos, reduzimos o de câncer de pulmão devido às políticas contra o tabaco - explicou o oncologista Daniel Tabak, membro da Academia Nacional de Medicina.
Ainda assim, o câncer é a principal causa de morte no Reino Unido e deve continuar prioridade.
- Eu vi pessoalmente nas minhas clínicas incríveis avanços na cura para cânceres como leucemia e melhorias nas opções de tratamento para câncer de próstata. Mas nenhum médico, nenhum pesquisador e nenhum paciente será feliz até que consigamos abaixar a taxa de mortalidade ainda mais por meio de pesquisa - comentou o médico-chefe do Instituto de Pesquisa do Câncer, Peter Johnson.
Número de casos crescente no Brasil
No Brasil, a taxa de mortalidade é separada por sexo. Entre 1979 e 2011, houve um aumento de cerca de 15% para mulheres (de 55 para 62,99 por 100 mil) e de 20% para homens (de 73,16 para 87,75 por 100 mil). Em números absolutos, o aumento de mortes foi de 80% entre 1996 e 2011, segundo levantamento com base no Datasus (subindo de 103.408 para 184.384).
Mas os investimentos não estão à altura do problema. Um levantamento da “Lancet Oncology” mostra que o gasto por indivíduo com câncer, em 2009, no Brasil, foi de US$ 8, abaixo de países como Argentina (US$ 12), Chile (US$ 15) e Reino Unido (US$ 182). E quanto maior o orçamento em saúde, maior chance de cura de pacientes com a doença, segundo trabalho apresentado no Congresso Europeu de Câncer este ano.
- Não adianta diagnosticar precocemente sem acesso a tratamento - critica Tabak. - Determina-se o prazo de 60 dias para tratar o tumor depois de diagnosticado, mas isso não acontece. E geralmente o diagnóstico aqui é feito já em estágio avançado da doença.
Os casos de câncer devem subir 38,1% no Brasil ao longo desta década (de 366 mil em 2009 para mais de 500 mil novos em 2020), segundo a “Lancet Oncology”. O número é similar ao esperado em China (34,6%) e Índia (33,8%), mas superior a Estados Unidos (26,2%), Grã-Bretanha (15,5%) ou Japão (15,4%).
Países em desenvolvimento como o Brasil têm visto um aumento de sua expectativa de vida, além da mudança de hábitos de vida que influenciam na ocorrência de câncer: sedentarismo, obesidade, abuso de álcool e tabagismo. Enquanto isto, são os países mais desenvolvidos, a exemplo do Reino Unido, que têm conseguido, apesar do aumento de casos, reduzir as mortes a partir de estratégias de tratamento.
- Os britânicos fizeram o dever de casa e estão também mudando o estilo de vida para um mais saudável. O Brasil ainda tem um longo caminho pela frente - afirmou Zukin.

Foto: Exemplo britânico contra o câncer. O Reino Unido tem conseguido diminuir as mortes ocasionadas por câncer, mesmo com o número de casos aumentando. Dados mostraram uma redução em torno de 20% na taxa de mortalidade nas últimas duas décadas, um número inédito entre estatísticas da doença no mundo, já que a tendência em boa parte dos países, incluindo o Brasil, é o de crescimento alarmante tanto da incidência quanto de óbitos. Segundo especialistas, os britânicos não descobriram a roda, apenas ampliaram as estratégias já bastante conhecidas de diagnóstico precoce, tratamento e prevenção.

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