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12.09.2013

Sul-africanos se revezam em frente à casa de Nelson Mandela

Moradora lembra que na época do regime segregacionista, negros não podiam andar pelas ruas depois das 19h sob pena de serem presos

Terra

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Enquanto o governo da África do Sul trata dos últimos preparativos para a cerimônia oficial em homenagem a Nelson Mandela, que será realizada na próxima terça-feira no estádio de futebol Soccer City, em Johanesburgo, a população ainda está nas ruas para homenagear o homem que mais bem representou o espírito de liberdade de seu povo.

Em frente à casa de Mandela, no bairro de Houghton, centenas de pessoas se revezam para cantar, dançar e comemorar o legado deixado por quem carinhosamente chama de Tata (papai) Madiba. É dessa forma que a família de Elizabeth Mokoena, 57 anos, tem preferido passar os últimos dias desde que soube da morte do líder sul-africano.

Elizabeth trabalha em uma organização que cuida de crianças abusadas fisicamente. Ela conhece bem a história de cada um dos 50 garotos e garotas que passam pela instituição todos os meses. “Na época do Apartheid, eu perdi as contas de quantas vezes fui agredida e estuprada por homens que nunca tinha visto na vida, apenas pelo fato de eu ser uma menina negra”, conta sem nenhum tipo de mágoa.

“Mandela nos ensinou a perdoar. Ele falava ‘forgive them, but don’t forget’ (perdoe, mas não esqueça, na tradução do inglês). Esse é o seu maior presente ao povo da África do Sul e do mundo. Mas mais do que isso, ele nos deu o direito de ir e vir, de não ter qualquer tipo de opressão. Eu posso viver como quero hoje”, diz Elizabeth, lembrando que na época do regime segregacionista, negros não podiam andar pelas ruas depois das 19h sob pena de serem presos. “São 22h e eu estou aqui”, comemora com o sorriso característico dos sul-africanos.

Os netos Ali, Lebo, Phuti e Ofentse sabem com um certo grau de superficialidade das histórias vividas pela avó. Mas têm a consciência de que não estariam ali se não fosse pela luta de Mandela. “Ele fez tudo pela gente. Ele deixou a família, foi pra prisão pela gente. Por isso estamos aqui cantando para ele”, diz Phuti, 10 anos.

Lições

No extremo oposto da história vivida por Elizabeth Mokoena está a portuguesa Yolanda Zafi, 63 anos. Em 2001, junto com a filha Kerry-Lee, ela criou o que chama de “casa para crianças”. A palavra orfanato é abominada por ela. “Algumas podem até ser órfãs, mas antes de tudo são crianças que foram abandonadas e que merecem ter um futuro digno do que Mandela fez por elas”, afirma ela, que cuida de 32 crianças atualmente.

“Eu cheguei à África do Sul com três anos de idade. Passei por quase todo o período do Apartheid e sei o que uma criança pode sofrer porque vi isso de perto. Desde que Mandela morreu, eu venho trazer minhas crianças aqui para mostrar que elas também podem fazer a diferença, que elas podem mudar pelo menos o futuro delas”, conta emocionada.

O futuro, por sinal, ainda é uma dúvida para boa parte dos sul-africanos. Com um alto índice de desemprego que beira os 25% e uma taxa de homicídios de 10,4 para cada 100 mil habitantes, os sul-africanos ainda não sabem como será o destino do país sem Mandela.

“Não que ele fosse um salvador e que, com a morte dele, isso aqui vá virar um inferno. Mas a presença dele dava um ar de ‘tudo vai ficar bem’. Ele passava isso por sua história de vida. Não dá pra dizer o que será da África do Sul sem Mandela, mas certamente não seríamos a África do Sul sem ele”, afirma Leslie Goldanski, 53 anos.

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