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3.02.2013

Chalita e os aloprados Tucanos

Bastidores das Denúncias contra Gabriel Chalita expõem uma ação desastrada da campanha do PSDBdurante a eleição paulistana. acusações atingem o governador Alckmin

Pedro Marcondes de Moura

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OS ALOPRADOS
O deputado Walter Feldman (à esq.) e o assessor político do PSDB
Ivo Patarra (à dir.)incentivaram as denúncias contra Chalita para ajudar José Serra
Em outubro do ano passado, às vésperas do segundo turno da eleição à Prefeitura de São Paulo, o analista de sistemas Roberto Leandro Grobman procurou integrantes da campanha de José Serra (PSDB). Dizia ele estar munido de uma denúncia bombástica contra o deputado federal Gabriel Chalita (PMDB), um dos cabos eleitorais do então candidato do PT, Fernando Haddad, e crítico ferrenho da gestão de Serra. No comitê do PSDB, Grobman foi recebido com entusiasmo. A pedido do deputado federal e coordenador da campanha de Serra, Walter Feldman, o analista dirigiu-se ao Ministério Público acompanhado pelo jornalista Ivo Patarra, assessor político do PSDB. Em depoimento aos procuradores, Grobman revelou uma série de irregularidades cometidas de 2002 a 2006 por Chalita, então secretário estadual da Educação filiado ao PSDB, para favorecer o grupo educacional COC.
Em troca, segundo o delator, Chalita teria recebido benefícios financeiros, entre os quais o pagamento de US$ 600 mil para a reforma de sua cobertura no bairro de Higienópolis.
A desastrada operação de campanha, contudo, não produziu o efeito desejado. Se viessem à tona na época, aquelas acusações colocariam nas cordas um dos mais importantes aliados de Haddad e poderiam ter sido decisivas para alterar o resultado da eleição, desfavorável aos tucanos. A prudência dos promotores, porém, em aguardar o desfecho das eleições e só na semana passada dar publicidade ao caso acabou se transformando num tiro no pé do próprio PSDB. A denúncia expôs uma vulnerabilidade já conhecida do governo do tucano Geraldo Alckmin: a área da Educação. Além do governador ter sido o responsável por nomear Chalita, e as denúncias compreenderem o período em que ele era filiado ao PSDB e secretário da Educação de Alckmin, não é a primeira vez que o governador de São Paulo é alvejado por acusações nesse setor. Em agosto do ano passado, ISTOÉ revelou casos de superfaturamento e pagamento de propina na compra de uniformes pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE). Na ocasião, o governador preferiu calar-se sobre a denúncia. Agora, como tudo leva a crer que a corrupção no FDE é sistêmica, não restou alternativa a Alckmin senão a de se pronunciar. Na semana passada, o tucano saiu em defesa do antigo aliado. “Tenho absoluta confiança (em Chalita), é uma pessoa correta, séria, tem espírito público”, declarou Alckmin. “Acho estranho denúncia dez anos depois. Por que dez anos depois?”, complementou.]
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De acordo com as informações prestadas pelo delator, Chalita montou um esquema de arrecadação pessoal na secretaria da Educação. Exigia comissão em contratos e tinha contas pagas por fornecedores, como o grupo educacional COC. A companhia, vendida em 2010 pelo empresário Chaim Zaher ao conglomerado britânico Pearson, teria inclusive indicado funcionários a cargos para setores estratégicos do seu ramo de atividade. Por meio desse suposto esquema, a empresa Interactive, ligada ao grupo COC e que tinha como sócio o próprio denunciante, comercializou 2,5 milhões em softwares educativos com a Secretaria da Educação paulista. Em troca, o grupo de Zaher oferecia uma série de benefícios a Chalita. Pagou US$ 600 mil na reforma do seu apartamento de alto-padrão em Higienópolis, bairro nobre da capital paulista, custeou viagens internacionais e comprou 34 mil exemplares de um livro do deputado. Íntimo de Chalita, Grobman acusou-o de usar duas funcionárias durante o expediente da secretaria para escreverem best-sellers que depois publicaria em seu nome. Afirmou ainda ter visto malas de dinheiro na casa e no escritório do então secretário da Educação de Alckmin.
Antes de serem levadas ao MP, as acusações já eram de conhecimento do staff tucano. O deputado Walter Feldman, um dos coordenadores da campanha, admite que orientou Ivo Patarra a acompanhar Grobman. “Essa informação nos chegou na campanha. O Chalita candidato, nós na campanha do Serra... Nós colocamos que eram denúncias que nos pareciam que deveriam ser investigadas, então eu sugeri, juntamente com o Ivo, que fizesse o encaminhamento ao MP”, admitiu Feldman ao jornal “O Estado de S. Paulo”. O parlamentar se defendeu, no entanto, dizendo que as informações não foram repassadas para o comando da campanha e nem teria havido o intuito de usá-las durante a disputa municipal. “Não queríamos entrar nessa linha de fazer denúncias. Não cabe isso em campanha, como o PT fez contra nós, com os chamados aloprados”, declarou.
No entanto, a versão pretensamente antialoprada de Feldman de que o PSDB não se interessou em usar politicamente as denúncias contra Chalita, em meio à campanha eleitoral de 2012, acabou derrubada na quarta-feira 27. Ex-diretor da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) de São Paulo no período em que Chalita era secretário estadual, o empresário Milton Leme disse ter recebido oferta de dinheiro para confirmar as acusações contra o deputado federal do PMDB e um dos principais apoiadores de Fernando Haddad. Em outubro, ele teria participado de um encontro, a convite de Grobman, num shopping na capital paulista. Lá, segundo Leme, estava presente também Walter Feldman. Durante a conversa, o empresário disse que foi surpreendido inclusive por um aceno a distância do então candidato à Prefeitura e ex-governador de São Paulo, José Serra. Milton Leme também relatou ter recebido dias depois um telefonema de Roberto Leandro Grobman com uma oferta de R$ 500 mil a serem pagos pela campanha tucana em troca da confirmação das denúncias contra Gabriel Chalita.
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O encontro ocorrido no shopping na capital paulista foi confirmado tanto por Grobman como pelo deputado Feldman. Mas o parlamentar insiste ter agido de acordo com princípios éticos. “Essa prática não corresponde nem à minha história pessoal nem à intransigente postura do PSDB de compromisso com a ética”, complementou refutando a acusação de ter ofertado dinheiro. Já o autor das denúncias contra Chalita diz que não recebeu nenhuma vantagem financeira e acusa o empresário Milton Leme de ter recebido valores do antigo proprietário do grupo COC para ficar em silêncio. Além de gerar um efeito bumerangue para o PSDB, as graves denúncias contra Chalita tiveram outra consequência política. Na semana passada, o governo federal descartou o nome do deputado para comandar um ministério na cota do PMDB. Chalita estava cotado para assumir a Ciência e Tecnologia. Agora, o peemedebista, isolado até por setores do seu próprio partido, terá de se preocupar com sua sobrevivência política.

A disfunção erétil é apenas um dos efeitos colaterais possíveis com o uso de anabolizantes

A disfunção erétil é apenas um dos efeitos colaterais possíveis com o uso de anabolizantes

O uso de hormônios esteroides, usados inadequadamente para ganhar músculos, podem prejudicar o desempenho sexual. Em resposta a dúvida de internauta, o colunista Jairo Bouer explica que anabolizantes só podem ser usados em casos específicos de saúde, e com orientação médica.
O internauta conta que usou anabolizante veterinário durante um mês e, nesse período, tinha ereções até ao andar de moto. Depois de abandonar o produto, passou a ter problemas de ereção.
"A testosterona injetada interfere no metabolismo dos testículos e eles deixam de funcionar como deveriam", explica Bouer, justificando o efeito colateral. Segundo o colunista, usar anabolizante para melhorar a vida sexual não funciona, e os médicos também não indicam o uso do produto para ganhar músculos.

 

Alimentos açucarados e leite provocam espinhas


Leite e alimentos com alto índice glicêmico (como doces, batatas e arroz branco) podem agravar ou mesmo deflagrar espinhas, concluiu o trabalho
  • Leite e alimentos com alto índice glicêmico (como doces, batatas e arroz branco) podem agravar ou mesmo deflagrar espinhas, concluiu o trabalho
A ligação entre dieta e incidência de acne é um tema que gera polêmica há anos. Mas uma revisão de pesquisas feitas nos últimos 50 anos indica que, sim, a associação existe. A conclusão é que alimentos com muito açúcar, além de leite, podem deflagrar ou agravar as espinhas.
Os autores do trabalho, publicado nesta quarta-feira (20) no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, sugerem que dermatologistas devem trabalhar em parceria com nutricionistas ou nutrólogos para ajudar os pacientes que sofrem de acne.
A popular espinha é provocada pela produção excessiva de sebo e também pelo acúmulo de células mortas nos poros, que causam obstrução e levam ao surgimento de pontos inflamados.
A produção de sebo tem relação com flutuações hormonais, segundo os pesquisadores. Isso explicaria por que cerca de 80% dos adolescentes sofrem com o problema, que pode deixar cicatrizes e abalar a autoestima.
Desde o século 19, pesquisas têm associado a acne ao consumo de certos alimentos - chocolate, açúcar e gordura sempre foram os vilões mais citados.
Mas estudos realizados por volta de 1960 refutaram a associação entre acne e dieta. Pelo menos dois deles, mais importantes, foram repetidamente citados em pesquisas futuras, o que mudou a visão dos especialistas sobre o assunto, explicou a principal autora da revisão, a pesquisadora Jennifer Burris, do departamento de nutrição e saúde pública da Universidade de Nova York.
Ela conta que, no entanto, muitos dermatologistas e nutricionistas voltaram a testar tratamentos baseados em dieta no tratamento da acne.
Segundo esses especialistas, alimentos com alto índice glicêmico (cujo açúcar é absorvido rapidamente pela corrente sanguínea) podem ter influência sobre a pele por causa das flutuações hormonais que deflagram. Eles geram um pico de insulina no organismo, o que pode estimular a produção de sebo. Chocolate, bolos, doces, batatas e arroz branco são exemplos desse tipo de alimento.
Em 2007, um estudo australiano mostrou que jovens do sexo masculino que seguiram uma dieta com baixo índice glicêmico apresentaram melhora significativa na acne.
Já o leite é suspeito por causa de certos hormônios presentes na bebida. Outro estudo de 2007, este conduzido pela Escola de Saúde Pública de Harvard, nos EUA, demonstrou uma associação clara entre o consumo regular de leite e as espinhas.
Curiosamente, o leite desnatado foi o que mais prejudicou a pele dos voluntários que participaram da pesquisa. A explicação mais aceita é que o processamento do leite aumentaria o nível de hormônios na bebida.
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Conheça alguns mitos e verdades sobre a acne22 fotos

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Se lavar o rosto várias vezes por dia, não terei acne. MITO: higienizar o rosto em excesso, inclusive, pode desencadear o efeito rebote: a pele reage à tentativa de ressecá-la e produz mais sebo ainda. "O exagero em lavar altera o equilíbrio hídrico", diz o dermatologista Adilson Costa, que enumera os cuidados básicos: limpar com produtos específicos para pele com acne, evitar exposição prolongada ao sol e passar sempre filtro solar adequado Leia mais Thinkstock

VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES

Mulheres sob ataque

A ONU alerta: em todo o mundo, sete em cada dez mulheres serão vítimas de agressões ao longo da vida. O Brasil, apesar de leis avançadas, é um dos países com maior índice de violência

Laura Daudén

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C.M. tinha apenas 4 anos quando começou a cozinhar para os seis irmãos. Precisava subir em um caixote para mexer no fogão à lenha que dividia o espaço do pequeno cômodo com uma cama e um berço. Toda a tarefa da casa era feita com o máximo de cuidado: qualquer ruído poderia interromper o sono do pai, que trabalhava de madrugada e descansava durante o dia. “Eu morria de medo. Se ele acordasse, vinha atrás de mim”, afirma ela, hoje com 45 anos. C.M. sofreu uma década de abusos quase diários e guardou as duras memórias desse período até o ano passado, quando decidiu revelar sua história à família. Uma de suas filhas também foi vítima de um estupro por parte de um primo, aos 15 anos. “Parece que a coisa continua, como em um ciclo”, diz. Ela não está errada. Em uma mensagem de suporte aos protestos contra a violência de gênero que aconteceram no dia 14 de fevereiro em mais de 200 países – uma campanha que ficou conhecida como “1 Bilhão Que Se Ergue” –, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, qualificou o problema como uma “pandemia”. Segundo a ONU, sete em cada dez mulheres no mundo passarão por algum tipo de violência física ou sexual ao longo da vida. Na segunda-feira 4, a organização se reúne em sua sede em Nova York numa conferência de dez dias sobre o tema. Essa situação alarmante e vergonhosa mostra como é difícil mudar as relações de poder que há séculos organizam as sociedades ao redor do mundo.
“A violência contra a mulher deriva da ideologia patriarcal”, afirma Maria Amélia Teles, fundadora da União de Mulheres de São Paulo. “Aprendemos que os homens têm direito sobre a vida e a morte. Esse é um dos pilares mais cruciais da sociedade e dá origem a todas as outras violências.” Parece uma afirmação antiquada, diante das nem tão recentes conquistas da mulher, mas que revela uma desconcertante contemporaneidade, como a declaração da procuradora aposentada do Ministério Público de São Paulo, Luiza Eluf: “Isso faz parte de um sistema de dominação violentíssimo. É o tipo de escravidão mais perverso que já existiu na humanidade.” Por estar tão arraigado e disseminado, irrestrito a fronteiras, raças ou classes sociais, governos e organizações têm encontrado dificuldade para lidar com o problema. “Nós estamos tentando reverter essa tendência, mas é muito difícil porque não se trata apenas de leis, mas de práticas, do funcionamento das famílias”, afirma Rebecca Tavares, representante da ONU Mulheres no Brasil. Sem sucumbir ao pessimismo, ela lembra que os países escandinavos conseguiram melhorar seus índices de violência apostando na inclusão das mulheres nas instâncias de poder, na participação dos homens nas tarefas domésticas e na garantia da independência financeira feminina.
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Isso mostra que, apesar de todas as conquistas ao longo do século XX, ainda faz muito sentido sair às ruas e empunhar as velhas bandeiras dos movimentos feministas – e é o que muitas mulheres têm feito. Em dezembro de 2012, multidões tomaram cidades da Índia para protestar contra o estupro coletivo que resultou na morte de uma jovem estudante e reivindicar penas mais duras para os agressores. Protestos da mesma ordem se repetiram na África do Sul depois do estupro coletivo de Anene Booysen, de 17 anos. Lá, há três semanas, manifestações em frente ao Tribunal de Pretória marcaram as primeiras audiências do processo a que o atleta Oscar Pistorius responde por assassinato premeditado de sua namorada. Aqui no Brasil, no começo de fevereiro, organizações como a Marcha Mundial das Mulheres se postaram diante do Fórum Edgar Mendes Quintela, na cidade de Ruy Barbosa, na Bahia, para pedir justiça a duas meninas de 16 anos que acusam de estupro nove membros da banda de pagode New Hit (as audiências de instrução foram suspensas até o início de setembro). Para Melissa de Miranda, uma das organizadoras da campanha “1 Bilhão Que Se Ergue” no Brasil, essas manifestações espontâneas mostram que “há uma demanda por movimentos mais abertos” de defesa dos direitos das mulheres – as redes virtuais são um exemplo.
Além das mobilizações coletivas, mulheres vítimas de violência estão abrindo, sozinhas, novas frentes de debate a partir de suas experiências. É o caso da gaúcha Paula Berlowitz, 34 anos, que idealizou o blog Marchadasvadias.org e o site Cromossomo X, com notícias relacionadas aos direitos das mulheres. Ela foi vítima de violência doméstica por 12 anos. “É irônico porque eu sempre fui muito consciente, achava que nunca aconteceria comigo”, diz. O estalo que fez Paula buscar ajuda veio depois de muitas agressões físicas e sexuais do então marido. Ela saiu de casa com os três filhos e denunciou o ex, que foi preso em flagrante, mas pagou fiança e foi liberado no dia seguinte, em mais um caso que mostra a dificuldade em punir o agressor e proteger a vítima.
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Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de dezembro de 2011, mais de 26 mil prisões em flagrante e quatro mil prisões preventivas já foram feitas a partir da execução da Lei Maria da Penha, que é referência no mundo no combate à violência contra a mulher (leia mais na pág. 51). Apesar de expressivos, os números não refletem a percepção de muitas mulheres de que a Justiça é um dos principais gargalos para o fim da violência. “Em alguns lugares do País, a Defensoria não funciona e o Ministério Público não tem versão atualizada da legislação e dá prioridade à conciliação, não à denúncia. Em outros, as delegacias não funcionam e não possuem pessoal qualificado”, afirma a senadora Ana Rita (PT-ES), relatora da CPMI da Violência Contra as Mulheres. Ela tenta entender por que o Brasil, apesar da legislação avançada, ainda tem índices tão altos de violência. O relatório da comissão será publicado daqui a duas semanas, pouco depois do lançamento, em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, do pacote de medidas para as mulheres da presidenta Dilma Rousseff.
Outra falha na aplicação da Lei Maria da Penha foi identificada pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Estado que lidera o ranking de homicídios femininos. Percebendo o aumento no número de agressores que violavam as medidas protetivas, o tribunal criou um dispositivo que funciona como um “botão do pânico” para as mulheres que se sentirem ameaçadas. O projeto-piloto, inédito no mundo, começa agora. Um aparelho assim teria sido de grande utilidade para a vendedora Deise Brito Cornélio, 33 anos, que chegou a fazer oito boletins de ocorrência denunciando as agressões, os estupros, o cárcere privado e as ameaças que sofria do ex-marido, com quem viveu por seis anos. Apesar da gravidade das acusações, ela só conseguiu a prisão do agressor depois de ludibriá-lo e convencê-lo a ir com ela até o Fórum de Justiça, onde provou seu desrespeito às medidas protetivas.
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Hoje, apesar de seguir escondida do ex-marido (ele deixou a prisão há quatro semanas), Deise tenta reconstruir a vida. Ela permaneceu quatro meses no abrigo Bianca Consoli, de endereço sigiloso, mantido pela recém-criada Secretaria Especial de Políticas Para as Mulheres (SEPPM), da Prefeitura de São Paulo. Na casa, que tem espaço para cinco mulheres com seus filhos, ela recebeu atendimento psicológico, orientação jurídica e foi incluída nos programas assistenciais do governo. Segundo a secretária Denise Motta Dau, da SEPPM, a cidade já tem dois centros de referência além da casa, mas a demanda exige que mais um abrigo seja construído. Ela entende, no entanto, que, se os demais recursos e programas forem aplicados corretamente, a institucionalização da mulher vítima de violência só acontecerá em último caso. “Ajuda bastante se tivermos uma política de Estado”, afirma, ressaltando a importância de integrar os serviços de assistência social, justiça e saúde.
A opinião é compartilhada por Branca Paperetti, que coordena o centro de referência Eliane de Grammont, na capital paulista. “Não é uma resposta única que vai devolver à mulher as pontes que ela tinha com o mundo. Por isso é necessário que haja um processo, não uma ação isolada.” A assistência, no entanto, ainda está longe de grande parte das vítimas, em especial daquelas que passaram por violência sexual na infância e só depois de muitos anos conseguiram buscar ajuda. Foi o que aconteceu com Bya Albuquerque, 45 anos, fundadora do grupo “Filhas do Silêncio” em Ribeirão Preto, São Paulo. Ela foi violentada pelo pai entre os 2 e os 26 anos e hoje sofre de insônia, crises de depressão e distúrbio alimentar. “Todas nós que sofremos violência na infância estamos agora enfrentando uma violência emocional sem encontrar nenhum tipo de ajuda”, diz. “As mulheres que estavam ameaçadas no momento das agressões e não revelaram o problema antes – e poucas coisas são tão difíceis de revelar como o abuso sexual – precisam ter a oportunidade de falar agora”, afirma Jefferson Drezett, coordenador do projeto “Bem Me Quer” do hospital Pérola Byington, em São Paulo, criado em 1996 para atender mulheres e crianças vítimas de violência sexual e garantir o direito de aborto previsto na Constituição. “É obrigação do País oferecer políticas públicas para essas mulheres que falhamos em proteger.” Entre 2000 e 2012, o número de pacientes atendidas pelo projeto cresceu 137%, chegando a 2.875.
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“Todo mundo me pergunta por que eu não falei nada”, diz a escritora cearense Helena Damasceno, 39 anos, que foi abusada pelo tio dos 5 aos 20 anos. “Eu passava uma semana inteira sem tomar banho, sem trocar de roupa. Essa era minha forma de gritar para a minha família, de conectar o que estava dentro e o que estava fora. Eu falava com o corpo, mas ninguém entendia.” Hoje, depois de transformar sua história no livro “Pele de Cristal”, Helena ministra cursos e palestras sobre o assunto por todo o Nordeste. A professora Márcia Longo, 45 anos, que vive na cidade paulista de Araras, passou por situação semelhante. Ela foi abusada pelo pai entre os 4 e os 11 anos e também pelo irmão mais velho entre os 10 e os 11. Depois de assumir a história de abuso, Márcia transformou o sofrimento em ação: como educadora, verificou a necessidade de informar professores, diretores, pais e alunos sobre como lidar com a violência sexual e criou o projeto “Nem Com Uma Flor”, que visa a promover debates sobre o assunto na rede municipal de ensino. O trabalho começará a ser implantado em março. “A criança precisa saber que a culpa não é dela. Se aos meus 10 anos tivesse ouvido isso, minha vida teria sido totalmente diferente”, diz.
Iniciativas como essas, que tentam derrubar a ideia de que a vítima é responsável pela agressão, têm sido fundamentais para romper o ciclo de violência e dominação. Para Sônia Coelho, da organização feminista Sempre Viva, o preconceito faz com que a vida, o corpo e o modo de pensar das mulheres sejam controlados o tempo todo. “Estamos condicionadas a pensar na roupa que vestimos, por onde caminhamos, se o ônibus vai estar cheio. Isso sustenta nossa subordinação.” Foi justamente para tornar esse problema visível que a britânica Laura Bates criou o projeto “Every Day Sexism” (o sexismo de todos os dias), em que estimula as vítimas a denunciar através da internet os assédios que sofrem na rua, em casa e no trabalho. “Estamos acostumadas a achar que o assédio é intrínseco à condição de mulher”, diz. Em apenas dez meses, mais de 20 mil pessoas usaram o site para contar suas histórias no Reino Unido (o projeto será ampliado para outros países dentro de algumas semanas).
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SOLIDÁRIO
Cauã Reymond posa para uma campanha do Banco Mundial que
desfaz a ideia de que a Lei Maria da Penha é contra os homens
Esse aumento expressivo no número de vítimas que denunciam seus agressores tem sido fundamental para identificar a extensão da epidemia e, consequentemente, criar políticas adequadas para combatê-la. Aqui no Brasil não é diferente: entre 2011 e 2012 houve um crescimento de 13% nas ligações ao Disque 180 da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, que repassou mais de R$ 40 milhões para os Estados e municípios no ano passado. “A Lei Maria da Penha mostra para as mulheres que o Estado as acolhe, que elas podem denunciar. Assim, essa lamentável violência passa a ser visível”, afirma a ministra Eleonora Menecucci.
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Colômbia propõe descriminalizar dose mínima de drogas sintéticas

O governo colombiano apresentará ao Congresso um projeto de lei para descriminalizar a posse de uma dose mínima de drogas sintéticas, anunciou  a ministra da Justiça, Ruth Stella Correa.
Policial colombiano analisa pacotes de cocaína em Cartagena em 17 de dezembro de 2012. Foto: ©afp.com / --
Policial colombiano analisa pacotes de cocaína em Cartagena
“Devemos aceitar que a Colômbia é um país consumidor, esta também é nossa realidade, e que não podemos colocar na prisão os consumidores, mas devemos atendê-los”, disse a ministra à rádio local Blu.
A proposta “busca homologar a quantidade de drogas já permitida, com uma quantidade equivalente em drogas sintéticas”, explicou.
Esta iniciativa, que envolveria drogas como o êxtase, será entregue em março ao Parlamento no âmbito de um novo estatuto antidrogas nacional preparado pelo ministério da Justiça.
Na Colômbia, o principal produtor de cocaína do mundo, a posse de doses pessoais de maconha (20 gramas) e de cocaína (um grama) foi descriminalizada em 1994.
Em julho de 2012, uma lei estabeleceu que o vício em drogas deve ser considerado um problema de saúde pública, e os consumidores tratados como pacientes, e não como delinquentes.
“Não podemos continuar colocando o consumidor na prisão, temos que atendê-lo, ressocializá-lo e dar a eles as oportunidades correspondentes”, afirmou Correa, que antecipou que também será proposta a criação de centros de reabilitação e desintoxicação regulados pelo Estado.
A ministra esclareceu que as políticas proibitivas e carcerárias continuarão operando contra os produtores, traficantes e distribuidores de entorpecentes.
 AFP

O crack e a dependência: A vida em primeiro lugar


Sou a favor da internação compulsória dos usuários de crack que perambulam pelas ruas feito zumbis. Por defender a adoção dessa medida extrema para casos graves já fui chamado de autoritário e fascista, mas não me importo.
A você que considera essa solução higienista e antidemocrática, comparável àquela dos manicômios medievais, pergunto: se sua filha estivesse maltrapilha e sem banho numa sarjeta da Cracolândia, você a deixaria lá em nome do respeito à cidadania, até que ela decidisse pedir ajuda?
"A literatura é, por excelência, o reino da ambiguidade", Mario Vargas Llosa. Foto: Regina Assis
De minha parte, posso adiantar que fosse minha a filha, eu a retiraria dali nem que atada a uma camisa de força.
Para lidar com dependentes de crack, é preciso conhecer a natureza da enfermidade que os aflige. Crack é droga de uso compulsivo causadora de uma doença crônica caracterizada pelo risco de recaídas.
É de uso compulsivo, porque vai dos pulmões ao cérebro em menos de dez segundos. Toda droga psicoativa com intervalo tão curto entre a administração e a sensação de prazer provocada por ela causa dependência de instalação rápida e duradoura – como a que sentem na carne os dependentes de nicotina.
As recaídas fazem parte do quadro, porque os circuitos de neurônios envolvidos nas compulsões são ativados toda vez que o usuário se vê numa situação capaz de evocar a memória do prazer que a droga lhe traz.
Quando os críticos afirmam que internação forçada não cura a dependência, estão cobertos de razão: dependência química é patologia incurável. Existem ex-usuários, ex-dependentes não. Parei de fumar há 34 anos e ainda sonho com o cigarro.
Tenho alguma experiência com internações compulsórias de usuários de crack. Infelizmente, não são internações preventivas em clínicas especializadas, mas em presídios, onde trancamos os que roubam para conseguir acesso à droga que os escravizou.
Na Penitenciária Feminina atendo meninas presas na Cracolândia. Por interferência da facção que impõe suas leis na maior parte das cadeias paulistas, é proibido fumar crack. Emagrecidas e exaustas, ao chegarem, elas passam dois ou três dias dormindo, as companheiras precisam acordá-las para as refeições. Depois desse período, ficam agitadas por alguns dias e voltam à normalidade.
Desde que o usuário não entre em contato com a droga, com alguém sob o efeito dela ou com os ambientes em que a consumia, é muito mais fácil ficar livre do crack do que do cigarro. A crise de abstinência insuportável que a cocaína provocaria é um mito.
Perdi a conta de quantas vezes as vi dar graças a Deus por terem vindo para a cadeia, porque se continuassem na vida que levavam estariam mortas. Jamais ouvi delas os argumentos usados pelos defensores do direito de fumar pedra até morrer, em nome do livre-arbítrio.
Todas as experiências mundiais com a liberação de espaços públicos para o uso de drogas foram abandonadas, porque houve aumento da mortalidade.
A verdade é que ninguém conhece o melhor método para tratar a dependência de crack. Muito menos eu, apesar da convivência com dependentes dessa praga há mais de 20 anos.
A internação compulsória acabará com o problema? É evidente que não. Especialmente, se vier sem a criação de serviços ambulatoriais que ofereçam suporte psicológico e social para reintegrar o ex-usuário.
Se esperarmos avaliar a eficácia das internações pelo número dos que ficaram livres da droga para sempre, ficaremos frustrados: é preciso entender que as recaídas fazem parte intrínseca da enfermidade.
Em cancerologia, vivemos situações semelhantes. Em certos casos de câncer avançado, procuramos induzir remissões, às vezes com tratamentos agressivos. Não deixamos de medicar pacientes com o argumento de que sofrerão recidivas.
Está mais do que na hora de pararmos com discussões estéreis e paralisantes sobre a abordagem ideal, para um problema tão urgente e dramático como a epidemia de crack.
Se a decisão de internar pessoas com a sobrevivência ameaçada pelo consumo da droga amadureceu a ponto de ser implantada, vamos nessa direção. É pouco, mas é um primeiro passo.

Por Drauzio Varella


Os riscos da deficiência de B12

Alimentação e Saúde

Deficiência de vitamina B12 é a causa de anemia acompanhada ou não de dificuldade para andar e parestesias ou formigamentos de distribuição simétrica, principalmente nas pernas, pés e mãos. Pode haver ainda palidez, inchaço, hiperpigmentação da pele, icterícia e fraqueza muscular. Inflamações na língua, má absorção de nutrientes, infertilidade e tromboses são menos frequentes.
A vitamina B12 é essencial para a formação, integridade e maturação das hemácias. Em sua ausência, elas aumentam de volume e o tamanho do núcleo fica desproporcional ao do citoplasma. Na medula óssea – local onde são produzidas – o número de células chega a aumentar tanto que o aspecto simula o das leucemias.
"Só de ouro falso, os meus olhos se douram", por Mario de Sá-Carneiro. Foto: IstockPhoto
“Só de ouro falso, os meus olhos se douram”, por Mario de Sá-Carneiro. Foto: IstockPhoto
É uma vitamina necessária para o desenvolvimento e a manutenção das funções do sistema nervoso. Sem ela, a mielina que recobre os nervos (como a capa de proteção faz com os fios elétricos) sofre um desgaste que recebe o nome de desmielinização, processo que ocorre tanto em neurônios de nervos periféricos quanto naqueles da substância branca do cérebro.
A principal fonte de B12 está nos alimentos de origem animal. Mas, para absorvê-la, o tubo digestivo depende de fatores intrínsecos presentes num grupo especial de células do estômago (células parietais) e de receptores localizados no íleo.
Anemia perniciosa
A causa mais frequente da deficiência de B12 é a perda desse fator intrínseco produzido pelas células parietais, associada a um tipo de gastrite (gastrite atrófica). A anemia resultante é denominada anemia perniciosa, nome inadequado porque não leva em consideração as manifestações neurológicas.

A anemia perniciosa resulta de um mecanismo autoimune, em que a própria resposta imunológica destrói as células parietais do estômago. Como consequência, ocorre perda do fator intrínseco necessário para a ligação com a vitamina B12 ingerida.
Doenças autoimunes como diabetes do tipo 1, vitiligo e as que afetam a tireoide aumentam o risco de anemia perniciosa.
A prevalência é de 50 a 4 mil casos em cada 100 mil habitantes. É mais comum em descendentes de africanos e europeus do que em asiáticos. É preciso estar atento às formas leves de gastrite atrófica que ocorrem em até 20% das pessoas mais velhas. Se alimentados exclusivamente com leite materno, filhos de mães portadoras de deficiência de B12 podem apresentar a partir dos 4 meses de idade: anemia, hipotrofia cerebral, retardo de desenvolvimento, hipotonia muscular, perda de apetite, irritabilidade, tremores, letargia e coma.
A reposição de B12 provoca regressão rápida do quadro. Quanto mais prolongada é a deficiência, mais lenta e incompleta é a recuperação.
Outras causas da deficiência:
1. Cirurgias que reduzem as dimensões do estômago, como as gastrectomias totais ou parciais e as cirurgias bariátricas.

2. Doenças inflamatórias do intestino e as que provocam má absorção.
3. Uso crônico de medicamentos para reduzir a concentração de ácido no suco gástrico (omeprazol, ranitidina etc.).
4. Uso de metformina no diabetes.
5. Dietas vegetarianas ou pobres em alimentos de origem animal.
Diagnóstico e tratamento
Embora níveis sanguíneos de B12 muito baixos estejam associados à deficiência, é raro encontrá-los. Resultados na faixa de normalidade não excluem a possibilidade de haver déficit. Exames falso-negativos e falso-positivos são frequentes.

O diagnóstico é feito com base nas dosagens sanguíneas de ácido metilmalônico e homocisteína, que se encontram elevadas em 98% dos casos. Como a reposição vitamínica provoca diminuição progressiva dessas concentrações, a primeira dosagem deve ser pedida antes de iniciar o tratamento.
A reposição começa com uma dose de ataque de oito a dez ampolas de 1.000 microgramas, via intramuscular, seguidas de uma ampola por mês. A dose via oral é de 1.000 a 2.000 microgramas diárias.
A anemia geralmente é corrigida em dois meses. O quadro neurológico regride parcial ou completamente em seis meses. O tratamento é mantido por períodos longos ou pela vida toda.
 Por Drauzio Varella

“Mercadores do pessimismo”

Dilma critica “mercadores do pessimismo” e diz que país voltará a crescer este ano

Por Ivan Richard
Dilma entre os vários líderes do PMDB em convenção neste sábado 2. Foto: Elza Fiuza/ABr
Presidenta Dilma entre os vários líderes do PMDB econvenção neste sábado
Um dia após o anúncio do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012, que ficou em 0,9%, abaixo das expectativas do governo, a presidenta Dilma Rousseff disse neste sábado 2, durante a Convenção Nacional do PMDB, que o Brasil voltará a crescer este ano. Ela criticou os “mercadores do pessimismo”, que apostam no fracasso do país.
Ao lado das principais lideranças peemedebistas, como o vice-presidente da República, Michel Temer, e os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), Dilma frisou que vão errar aqueles que apostam no fracasso econômico do Brasil.
“Mais um vez, os mercadores do pessimismo vão perder. Vão perder como perderam quando previram o racionamento de energia em janeiro e fevereiro e, mais uma vez agora, quando apostam todas as fichas no fracasso do país. Eles vão se equivocar. Tenho certeza que todos vocês sabem que torcer contra é o único recurso daqueles que não sabem agir a favor do Brasil”, discursou a presidenta para militantes do PMDB.
Dilma acrescentou que, com o apoio do PMDB, o governo petista realizou feitos importantes para o país, como a saída de 22 milhões de brasileiros da extrema pobreza. “Juntos [PT e PMDB] fizemos muito, o que parecia impossível e o que os nossos adversário políticos, quando puderam, não fizeram ou não quiseram fazer.”
Em um discurso preparado e lido em cerca de 40 minutos, Dilma defendeu a aliança com o PMDB e ressaltou a importância do partido para a governabilidade do país. “Muito do que conseguimos alcançar no meu governo deve-se à presença do meu companheiro e vice-presidente Michel Temer e ao apoio dos parlamentares do PMDB”, acrescentou.
“É uma grande honra participar da Convenção Nacional do partido, que é o maior parceiro do meu governo. O convite do PMDB para estar aqui ofereceu uma oportunidade extraordinária para que possamos, juntos, celebrar essa parceria sólida, produtiva e que, sem dúvida, terá longa vida”.

A presidenta ainda defendeu a política de coalizão e ressaltou que, desde a redemocratização, todos os presidentes, exceto Fernando Collor de Mello, foram eleitos com aliança entre partidos. “Desde que começamos a eleger presidentes, apenas um governo não teve amplo apoio e apenas um não concluiu seu mandato. Em meu governo, a ampla coalizão que conseguimos formar tem obtido resultados e isso é um passo fundamental para a superação da miséria extrema no Brasil.”
“Temos que ressaltar a indispensabilidade dessa aliança”, disse o vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer. “O PMDB tem uma honra extraordinária de participar desse governo”, acrescentou. Segundo o senador José Sarney (PMDB-AP), a aliança entre os dois partidos é programática. “Temos lealdade recíproca e objetivo comum”.
Reportagem publicada originalmente na Agência Brasil

Procura-se um amigo

"Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando
chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de
grandes chuvas e das recordações da infância.
Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste
durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo.
Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo"
Vinícius de Moraes

VEJA: Mentiras, calúnias difamações

Reportagem da Revista Veja  tenta ridicularizar o Petista Andre Guimarães que ela diz fazer exatamente o que a revista Veja faz ; Mentiras, calúnias difamações contra o seu inimigo  no caso da Veja o alvo predileto é  O GOVERNO E O PT.

LEIA A VEJA QUE ELA DIZ:

"São muitas  histórias de anônimos que alcançaram a fama por meio da internet. O petista André Guimarães tem planos ambiciosos nessa direção. Criador da RedePT13, uma organização virtual formada por perfis falsos e blogs apócrifos usados para atacar aqueles que são considerados inimigos do partido, ele já é uma celebridade entre seus pares. Se é preciso espalhar uma mentira para difamar alguém, Guimarães é acionado. Se for apenas para ridicularizar um oponente, o rapaz conhece todos os caminhos. Na visita da blogueira Yoani Sánchez, ele trabalhou como nunca. A rede postou montagens fotográficas, incentivou os protestos e difundiu um  dossiê produzido contra ela pela embaixada cubana."

Interditado a ampicilina do Labratório Teuto

Anvisa suspende venda de lote de antibiótico

Brasília -  A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu nesta sexta-feira a distribuição e o comércio do Lote 2.864.017 do medicamento ampicilina sódica 500 miligramas, pó injetável DPC/50+50, ampola diluente de 2 mililitros. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União.
De acordo com a Anvisa, um lote do remédio, fabricado pelo Laboratório Teuto Brasileiro Ltda, foi interditado cautelarmente em novembro do ano passado por suspeita de desvio de qualidade. A interdição cautelar é a primeira medida que a agência reguladora adota quando há suspeita de desvio.
“O laudo de análise de contraprova confirmou que o lote, com data de fabricação 3/2011 e validade até 3/2013, apresentou resultado insatisfatório no ensaio de teor de ampicilina sódica”, informou a agência em nota.
Segundo a Anvisa, a empresa responsável pelo medicamento deve recolher todo o estoque do antibiótico existente no mercado. A suspensão é definitiva e vale em todo o país.
A orientação para as pessoas que já compraram o medicamento do lote suspenso é interromper o uso do remédio.

As informações são da Agência Brasil

Presidente da Fiocruz toma posse


Rio -  O presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Paulo Gadelha, tomou posse na manhã desta sexta-feira para mais cinco anos de mandato à frente da instituição. Depois de assinar o termo de posse, Gadelha discursou por mais de 30 minutos e destacou a expansão da Fiocruz, que vai ampliar sua presença para 11 estados brasileiros nos próximos anos. A ampliação terá início no Ceará, no Piauí, em Rondônia e Mato Grosso do Sul. A fundação está presente no Paraná, no Amazonas, na Bahia, no Distrito Federal, em Pernambuco e em Minas Gerais, além do Rio de Janeiro.
A expansão está mais avançada no Ceará, que receberá em breve um polo de ciência e tecnologia em saúde, em uma parceria entre a fundação e empresas privadas. Em Rondônia e Mato Grosso do Sul, as estruturas estão em fase inicial: "Nossa ideia é que tenhamos consolidado todas as unidades ao longo deste mandato. Com isso, a gente preenche lacunas regionais onde a presença da Fiocruz tem efeito muito significativo”, disse. O presidente explicou que isso ocorre em função da “interação com competências regionais, dando visibilidade ao que é feito nessas regiões e aprendendo muito com elas. Depois, novos temas surgem em função da nova realidade, como a saúde nas fronteiras e a saúde indígena".  
Gadelha  enfatizou a importância da instituição em programas do SUS, como o Programa Nacional de Imunizações, que tem seis de suas 13 vacinas produzidas pela Fiocruz, e no tratamento da aids, em que sete dos 20 medicamentos que beneficiam mais de 200 mil pessoas também são feitos pela fundação. Paulo Gadelha disse que, nos próximos anos, será preciso se reposicionar para que a instituição dê mais atenção a doenças crônicas: "em 2030, vamos ter população adulta maior do que a de jovens, e as doenças crônicas passam a ser dominantes na demanda de saúde. Temos que nos mover nesse campo para que a Fiocruz atualize seu projeto de acordo com a demanda de saúde no país.
A posse ocorreu em evento organizado na praça ao lado do Castelo Mourisco, símbolo da Fiocruz. Paulo Gadelha, que teve sua nomeação publicada no Diário Oficial da União de 18 de janeiro, recebeu, entre outras autoridades, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o secretário executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luiz Antonio Elias, e o secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Hans Dohamnn, que passou em um concurso público para integrar o quadro de servidores da instituição como pesquisador, e está cedido à prefeitura do Rio.
Ao tomar a palavra, o ministro da Saúde deu destaque à importância da Fiocruz nas políticas realizadas nos últimos dez anos de governo federal, em conquistas como a redução da mortalidade infantil pela metade e a ampliação em cinco vezes da oferta de tratamentos oncológicos no Sistema Único de Saúde: "Todos nós da área médica sabemos que a Fiocruz teve papel histórico ao longo do século 20, mas muitos não sabem de sua importância nos últimos dez anos de governo". Alexandre Padilha disse que a Fiocruz é peça fundamental no desafio de melhorar o único sistema público de saúde que atende a mais de 100 milhões de habitantes, por fortalecer a produção nacional de medicamentos, ao lado de outros institutos como o Butantan.

Nota boaspraticasfarmaceuticas:
Paulo Gadelha disputou a reeleição para Fiocruz  com a  pesquisadora Tania de Araujo Jorge, onde o presidente  ganhou a eleição com um pequequena margem  de votos, mostrando nítida divisão dos servidores da Fiocruz em relação ao seu nome.

 

INCLUSÃO COM AMOR

Inclusão de alunos com deficiência intelectual cresce e desafia escolas

Alunos com síndrome de Down e autismo exigem professores capacitados.
Fã de Sean Penn, ator de 'Colegas' estudou em escola especial.

Ana Carolina Moreno e Vanessa Fajardo Do G1, em São Paulo
O ator Ariel Goldenberg, de 32 anos, espera que o premiado “Colegas”, que estreou nesta sexta-feira (1º) no cinema, contando as aventuras de três jovens com síndrome de Down que fogem de uma instituição assistencial (veja a crítica do filme), chame a atenção para a inclusão das pessoas com deficiência intelectual na sociedade, a começar pela escola. “Queremos que as pessoas olhem para os deficientes com outros olhos”, diz Ariel, que ficou famoso nas redes sociais após a divulgação do sonho de receber uma visita do ator norte-americano Sean Penn.
A presença cada vez maior de alunos com deficiência intelectual no sistema educacional convencional está obrigando as escolas a adaptarem seus conceitos pedagógicos.
Lettícia da Silva Santos Azevedo, de 7 anos, tem sindrome de Down e estuda na Escola Municipal Celso Leite Ribeiro Filho, em São Paulo (Foto: Raul Zito/G1)Lettícia da Silva Santos Azevedo, de 7 anos, tem síndrome de Down e estuda na Escola Municipal Celso Leite Ribeiro Filho, em São Paulo (Foto: Raul Zito/G1)
Segundo o Censo Escolar, entre 2005 e 2011, as matrículas de crianças e jovens com algum tipo de necessidade especial (intelectual, visual, motora e auditiva) em escolas regulares cresceu 112% e chegou a 558 mil. O Censo Escolar não diz quantas destas matrículas são de alunos com síndrome de Down, outra deficiência intelectual ou autismo. O Censo do IBGE, porém, aponta que, em 2010, 37% das crianças com deficiência intelectual na idade escolar obrigatória por lei (5 a 14 anos) estavam foram da escola, número muito superior à média nacional, de 4,2%.
Outro indicador do aumento da inclusão: as matriculas das crianças com deficiência em escolas especializadas e as classes exclusivas nas escolas comuns caiu 48% de 2005 para 2011, quando foram registradas 193 mil matrículas.
A escola é a instituição responsável por introduzir a criança na vida pública. E você não pode dizer que esse aqui vai ser introduzido na vida pública e esse não"
Maria Teresa Eglér Mantoan,
coordenadora do Leped-Unicamp
Apesar de a inclusão de crianças e jovens com algum tipo de deficiência nas escolas regulares ter aumentado nos últimos anos, são grandes os desafios de preparar os professores para mantê-las na sala de aula com os demais colegas, e de receber as crianças que ainda estão excluídas.
O modelo de só transmitir o conhecimento do currículo básico já não é mais suficiente. Segundo a professora Maria Teresa Eglér Mantoan, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade (Leped) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a inclusão aparece para mostrar que todas as pessoas são diferentes, algo que a escola não quer conceber. “O senso comum nos faz pensar muito mais na identidade do que na diferença, porque é muito mais fácil. Mas a diferença se apresenta, e você tem que lidar.”
O ator Ariel Goldenberg e a mulher dele, Rita Pokk, protagonistas do filme 'Colegas' (Foto: Raul Zito/G1)O ator Ariel Goldenberg e a mulher dele, Rita Pokk,
protagonistas do filme 'Colegas' (Foto: Raul Zito/G1)
Segundo ela, o mais importante para uma criança com deficiência não é aprender o mesmo conteúdo que as outras, mas ter a possibilidade de aprender a colaborar, ter autonomia, governar a si próprio, ter livre expressão de ideias e ver o esforço pelo que consegue criar ser recompensado e reconhecido. “A escola é a instituição responsável por introduzir a criança na vida pública. E você não pode dizer que esse aqui vai ser introduzido na vida pública e esse não”, diz a educadora.
Escola regular ou especial?
Na década de 1980, quando o ator Ariel era menino, prevalecia o conceito de que crianças como ele deveriam estar em instituições exclusivas para dar assistência à suas necessidades, e não em uma escola regular. Ariel chegou a fazer o maternal em uma escola comum, mas foi matriculado aos cinco anos na Associação para o Desenvolvimento Integral do Down (Adid), onde seus “colegas” também tinham a mesma síndrome que ele.
ENTENDA A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
O que é?
Na Deficiência Intelectual a pessoa apresenta um atraso no seu desenvolvimento, dificuldades para aprender e realizar tarefas do dia a dia e interagir com o meio em que vive.
Como acontece?
É resultado, quase sempre, de uma alteração no desempenho cerebral, provocada por fatores genéticos, distúrbios na gestação, problemas no parto ou na vida após o nascimento.
Principais tipos
Alterações cromossômicas e gênicas, desordens do desenvolvimento embrionário ou outros distúrbios estruturais e funcionais que reduzem a capacidade do cérebro.
O que é Síndrome de Down?
É uma alteração genética que ocorre na formação do bebê, no início da gravidez. O grau de deficiência intelectual provocado pela síndrome é variável. A linguagem fica mais comprometida, mas a visão é relativamente preservada. As interações sociais podem se desenvolver bem, no entanto, podem aparecer distúrbios como hiperatividade e depressão.
Quais são outras deficiências intelectuais?
Síndrome do X-Frágil, índrome de Prader-Willi, Síndrome de Angelman, Síndrome Williams, entre outras.
O que é autismo?
O que caracteriza o autismo são aspectos observáveis que indicam déficits na comunicação e na interação social, além de comportamentos repetitivos e áreas restritas de interesse.
Fontes: Apae-SP e Associação de Amigos do Autista
“Apesar de ser politicamente correta a inclusão, acho que às vezes os pais focam tanto na inclusão que esquecem o incluído. Achei que era melhor ele estudar em uma escola que estivesse no ritmo dele”, explica a artista plástica Corinne Goldenberg, mãe de Ariel, que se preocupava com o possível sofrimento de ver o filho ficar para trás em relação aos demais alunos. “O que o Ariel aprendeu, ele aprendeu na escola especial.”
Naquela época, era comum que as escolas recusassem a matrícula de alunos especiais. Foi o que aconteceu com Rita Pokk, “colega” de Ariel no filme e esposa do ator na vida real. “Bateram a porta na cara da minha mãe um monte de vezes”, relembra Rita, hoje com 32 anos. Ela conseguiu ser matriculada em uma escola particular aos 12 anos, depois de muito esforço da mãe. Para que a filha, já maior de idade, pudesse frequentar a quinta série no supletivo, a mãe precisou se matricular, fazer as provas e assistir às provas com a filha. Na sétima série, Rita percebeu que o currículo estava avançado demais para ela, e trocou a escola regular pela Adid para fazer amigos. Lá, ela fez teatro e conheceu Ariel.
Hoje, a ONU e o governo brasileiro defendem que o lugar de todas as crianças é a escola convencional. O modelo aplicado pela rede pública de ensino é estruturado de forma a manter os alunos especiais na sala comum, mas com atividades de apoio individualizadas no contraturno, já que o aluno com deficiência intelectual tem outro ritmo de aprendizado, que em geral não corresponde ao que a escola está acostumada a esperar. Edna dos Santos Azevedo, mãe da aluna Lettícia, de 7 anos, diz que a filha matriculada na Emef Celso Leite Ribeiro Filho, na região central de São Paulo, exige mais atenção e paciência para aprender.
Lettícia da Silva Santos Azevedo, de 7 anos, tem sindrome de Down e estuda na Escola Municipal Celso Leite Ribeiro Filho, em São Paulo (Foto: Raul Zito/G1)Lettícia está integrada aos outros colegas e tem as
mesmas exigências que eles (Foto: Raul Zito/G1)
'Tem de se sentir igual'
Edna, no entanto, nunca cogitou matricular a menina em uma escola especial. “A evolução da Lettícia [em uma instituição só para alunos especiais] teria sido mínima, ela é muito esperta.” Para a mãe, a convivência com as outras crianças só traz vantagens. Ela diz que a filha nunca sofreu preconceito ou bullying por parte dos colegas. Pelo contrário, é querida pelos amigos, que se oferecem para ajudá-la em várias situações e se preocupam quando ela falta à escola.
A garota reconhece todas as letras do alfabeto, lê e escreve algumas palavras e aprendeu a falar as cores em inglês. Na aula, a professora Maria Luiza de Oliveira Marques diz que Lettícia participa das atividades e interage na hora da leitura. “Ela é bem resolvida e independente”, diz a professora. A deficiência não é motivo para que Lettícia seja poupada de alguma regra na escola. “Lettícia tem de se sentir igual, se a cobrança não for igual, não há inclusão”, diz a vice-diretora da Celso Leite Ribeiro, Leni Aparecida Villa.
Além da escola, Lettícia faz atividades na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de São Paulo para estimular raciocínio e coordenação motora. Com anos de experiência no trato com crianças e jovens com deficiência intelectual, Valquíria Barbosa, gerente de serviço sócio-assistencial da Apae de São Paulo, afirma que a criança com deficiência exige aulas mais lúdicas, repetições e um currículo flexível. Na ausência desses itens, a verdadeira inclusão fica comprometida.
Crianças não têm preconceito, elas aceitam os colegas. O adulto, sim, precisa saber lidar com isso"
Valquíria Barbosa,
gerente da Apae-SP
Para Valquíria, a escola especial teve sentido em uma época em que não havia informação e não se sabia quais caminhos seguir, agora não mais. “A pedagogia evoluiu, novos caminhos foram descobertos”, diz a especialista, reafirmando que, para ela, a escola regular é a melhor alternativa.
“É claro que a família tem receio de como a criança vai ser recebida no ambiente, da preocupação de quem serão seus amigos, de como vai se relacionar. Mas crianças não têm preconceito, elas aceitam os colegas. O adulto, sim, precisa saber lidar com isso.”
Lenin dos Santos, de cinco anos, tem autismo; depois de uma experiência pouco proveitosa em uma escolinha de bairro, ele agora estuda em um centro especializado de manhã e na rede pública à tarde (Foto: Raul Zito/G1)Lenin dos Santos, de cinco anos, tem autismo; depois de uma experiência pouco proveitosa em uma escolinha de bairro, ele agora estuda em um centro especializado de manhã e na rede pública à tarde
(Foto: Raul Zito/G1)
‘Aprendeu mais com o iPad do que na escola’
O preparo dos adultos, no caso, os professores, no entanto, ainda não chegou a todas as escolas, como já prevê a legislação. Adriana Moral Ramos, coordenadora do Centro Terapêutico Educacional Lumi, especializado em pessoas com autismo e localizado no bairro do Butantã, Zona Oeste da capital paulista, afirma que a maior parte dos alunos que chegam até ela vem justamente de más experiências em escolas regulares. “Os pais escolhem a escola convencional para se aproveitarem do currículo regular, mas depois optam pela especializada para [a criança] não sofrer bullying. No caso do autismo, ainda existe muito preconceito, as escolas acham que, com os problemas de comportamento, o aluno vai desestruturar a sala de aula.”
Depois de ver o filho Lenin retido com crianças mais novas em uma escolinha particular no bairro onde mora, e nas mãos de professores sem formação para atender às suas necessidades, o designer Eduardo Ferreira dos Santos, de 30 anos, decidiu colocá-lo em mãos mais experientes. “Ele aprendeu muito mais sozinho com o iPad em casa do que na escola”, afirmou Santos.
Neste ano, o designer matriculou o filho de cinco anos no Centro Lumi. Para pagar a mensalidade de R$ 1.485, Santos publicou um pedido na internet para receber doações de amigos. Em algumas semanas, conseguiu levantar cerca de R$ 8 mil, mas vai necessitar de R$ 19 mil para manter o filho na escola especial durante um ano. Agora, o designer tenta encontrar uma empresa disposta a pagar a mensalidade do menino e deduzir o gasto do imposto de renda.
Lenin vai ao Lumi pela manhã, e à tarde tem aula em uma escola municipal que conta com uma Sala de Apoio e Acompanhamento à Inclusão (Saai) e uma professora especializada. Durante o período de adaptação, ela permanece na sala de aula com 29 alunos, três deles com necessidades especiais.
Hércules Ribeiro Antunes foi diagnosticado com autismo aos quatro anos. Hoje, tem 12 anos e estuda na Escola Municipal Pedro Navas (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)Hércules Ribeiro Antunes foi diagnosticado com autismo aos quatro anos. Hoje, tem 12 anos e estuda na Escola Municipal Pedro Nava (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Orçamento apertado
Nem toda família, no entanto, consegue pagar um atendimento especial para o filho. “Já corri atrás, mas dizem que [a mensalidade da escola especial] é acima de R$ 800”, diz Maria Lenice Ribeiro dos Santos, mãe do menino Hércules, de 12 anos, diagnosticado com autismo. Ela não trabalha para cuidar dos três filhos, com quem mora em um apartamento de dois quartos em um conjunto habitacional no Rio Pequeno, na Zona Oeste de São Paulo. A família recebe um salário mínimo do governo como benefício garantido por lei à pessoa com deficiência.
Hércules está no sexto ano da Emef Pedro Nava, perto de onde mora. Ele chegou à escola no meio do ano passado, depois que a família mudou de bairro. O menino sabe reconhecer as letras e copiar palavras, mas não consegue ler. Na última segunda-feira (25), sua primeira aula foi de português e, enquanto a professora explicava um exercício sobre substantivos aos demais alunos, Hércules fazia uma tarefa de alfabetização acompanhado de uma professora exclusiva.
“Ele faz atividades de acordo com a habilidade dele, mas dentro do tema trabalhado na sala de aula, para ele se sentir incluído”, explica a professora especializada em inclusão da escola, Márcia Aparecida dos Santos de Oliveira Fausto. Hércules faz atividades na sala especial da escola das 9h às 10h e estuda na sala regular das 13h30 às 15h. “A ideia é que ele vá aumentando o tempo em que fica na escola”, afirmou a mãe.
A dificuldade de Hércules na aula de português reflete outro dado do IBGE: 47,1% da população com algum tipo de deficiência intelectual acima de cinco anos de idade era analfabeta em 2010. Nos casos de pessoas com deficiência visual, auditiva e motora, o índice de analfabetismo caiu para 16,8%, 24,2% e 28,3% respectivamente. A média brasileira, porém, foi de 10,5%, segundo o Censo de 2010.

Como mudar hábitos ruins

Saiba como se livrar deles. É mais fácil do que parece

THAIS LAZZERI
 
Renata Ceribelli apresentadora do Fantástico, da TV Globo (Foto: Tomás Rangel/ÉPOCA)
 
A apresentadora Astrid Fontenelle, do programa Chegadas e partidas, do GNT, é uma apaixonada por TV. A TV não faz parte da vida dela só porque é seu meio de trabalho. Por anos, Astrid só dormia com o aparelho ligado. “Ficava louca no controle remoto. Sabia que isso me deixava mais tempo acordada do que deveria, mas não conseguia mudar”, diz. Em janeiro, Astrid descobriu que tem lúpus, uma doença autoimune que leva o organismo a destruir as células do próprio corpo. Com o diagnóstico, decidiu promover várias mudanças em sua vida. Reduziu a jornada de trabalho de quatro para duas gravações na semana. Perdeu 14 quilos. Postergou os planos de dar um irmão para seu filho, Gabriel, de 3 anos. E encontrou na doença a coragem que faltava para mexer na rotina e não ligar a televisão na hora de dormir. Em vez de ligar o televisor, ela diz que agora entra no quarto, faz suas orações e lê um livro. Conta que passou a dormir melhor e ganhou três horas de sono. “Além de mais tranquila, fico mais culta”, afirma Astrid, em tom de brincadeira. 
Hábitos como ler, assistir à TV ou escovar os dentes fazem parte de nossa vida. Quase metade de nosso dia é composta deles – mais precisamente 40%, como mostra uma pesquisa da Universidade Duke, dos Estados Unidos. É como se voássemos no piloto automático por mais de nove horas do dia. Boa parte de nossas virtudes e defeitos está calcada em hábitos. Para nossa sorte, os hábitos são decisões conscientes, que podem ser mudados, por mais arraigados que estejam. Não é à toa que a filosofia, a psicologia, a neurolinguística e, mais recentemente, a neurociência estudam formas de adquirir ou de se livrar de hábitos. Não faltam estudos sobre hábitos alimentares, do sono, de boa forma e até de como mudar o humor ou a dinâmica de uma empresa. 
Talmai Terra (Foto: Rodrigo Schmidit/ÉPOCA)
Um novo livro promete revolucionar a forma de lidar com eles em todas essas áreas. Em The power of habit (O poder do hábito), com previsão de lançamento no Brasil em outubro, o jornalista americano Charles Duhigg, repórter do jornal The New York Times, afirma que existe um jeito simples e eficiente de mudar hábitos. No primeiro mês do lançamento, chegou à lista de mais vendidos do próprio Times e recebeu resenhas positivas de veículos de prestígio. Para escrevê-lo, Duhigg reuniu centenas de pesquisas de centros de excelência de países como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Alemanha e entrevistou mais de 300 pessoas, entre pesquisadores e executivos, de empresas como Google ou Microsoft. O objetivo era entender como os hábitos se formam e como podem ser mudados. Foi no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um centro de referência no estudo de tecnologias avançadas, que Duhigg encontrou a tese que sustenta seu livro. A melhor forma de mudar um hábito, diz ele, é substituí-lo por outro. “As pesquisas com maior sucesso na mudança de hábitos usaram esse método”, diz Duhigg. “Transformar um hábito não é necessariamente fácil ou rápido. Mas é possível. Agora entendemos como.” 
Astrid Fontenelle  (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA)
O primeiro passo para mudar um hábito é compreendê-lo. Cada hábito, segundo os pesquisadores, é uma sequência com três etapas. A primeira é o sinal, ou o gatilho que desencadeia o hábito. A segunda é a rotina, ou o hábito propriamente dito. A terceira, a recompensa, ou aquilo que buscamos ao repetir o hábito. Quando iniciou as pesquisas s para o livro, Duhigg resolveu aplicar o método para mudar um hábito que tinha lhe dado 3 quilos a mais: comer cookies toda tarde. Passou a anotar o que fazia antes e depois de sair para a cafeteria. Foi identificando padrões. Entendeu que a vontade ocorria quando estava entediado. O tédio era o gatilho para o cookie. Sempre acontecia por volta das 15 horas, depois de responder a e-mails após o almoço. Era a rotina. Em seguida, percebeu as recompensas: além de saborear o biscoito, batia papo com conhecidos no café e dava uma volta no quarteirão. O próximo passo foi planejar uma maneira de mudar a rotina, sem perder de vista a recompensa. Nos dias seguintes, Duhigg tentou outras ações quando o alarme do tédio soava. Primeiro, saiu para dar uma volta. Em outro dia, comeu outro doce. Noutro, só tomou café e bateu papo. Por fim, descobriu que sua verdadeira recompensa não era o biscoito em si, mas o momento de descontração no meio da tarde com conhecidos. Duhigg trocou os cookies pelo bate-papo sem doces. Isso o ajudou a perder 5 quilos. Inconscientemente, foi o que Astrid fez, ao trocar a TV por um livro. Ela reconheceu que o gatilho para seu hábito era a hora de ir dormir, trocou a TV pelo livro e estabeleceu uma recompensa: mais horas de sono e, de quebra, tempo para ler. 
Cerca de 40% de nossa rotina é feita de hábitos. É como se estivéssemos no piloto automático por mais de nove horas do dia
“Quando temos consciência do hábito, o superamos mais facilmente”, diz Duhigg. As universidades Colúmbia, nos EUA, e de Alberta, no Canadá, realizaram estudos para rastrear como o hábito se consolida. Tomaram como foco de seu estudo os exercícios. Num dos projetos, 256 pessoas foram convidadas a assistir a uma apresentação sobre a importância da atividade física. Metade do grupo recebeu uma aula extra sobre a formação e a estrutura do hábito. Os pesquisadores pediram que essas pessoas tentassem identificar o gatilho e a recompensa naquela atividade. Nos quatro meses seguintes, quem conseguira reconhecer o padrão de seus hábitos praticou atividades físicas duas vezes mais que os demais. 
Hábito, mania ou dependência?  (Foto: Fonte: Aderbal Vieira Júnior, psiquiatra, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo)
Hábitos são ações que repetimos com frequência, conscientemente ou não, como lavar as mãos ou comer um doce depois do almoço. É um comportamento aprendido, bom ou ruim, que mantemos de forma automática, sem pensar nele. É impossível viver sem hábitos. Eles facilitam nosso dia a dia e liberam nossa mente para que possamos aprender coisas novas. Poupam nossos neurônios de trabalhar para atividades simples, como lavar as mãos. Imagine se você tivesse de pensar na coordenação dos pés nos pedais de freio, acelerador e embreagem o tempo todo. Aquela sensação (terrível) de motorista inexperiente toda vez que fosse dirigir. O escocês David Hume foi um dos filósofos mais importantes a estudar a fundo essa questão. Por volta de 1700, publicou uma série de ensaios sobre o tema. Para Hume, o simples ato de reconhecer os objetos familiares acontece porque estamos habituados a eles. Segundo ele, se recebermos à mesa um objeto de cor e consistência parecidas com um pão, comeremos sem parar para tentar analisar o que temos em mãos. Hume vai além do cotidiano. Diz que a soma de hábitos de nossa vida define nossa identidade. “Somos constituídos por uma multiplicidade de hábitos que faz a trama de nosso viver”, afirmava. Antes, o grego Aristóteles pregava a importância do hábito. “Somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito”, disse ele. 
Embora pareçam sinônimos, hábitos são diferentes de vícios e manias. Hábitos são atos conscientes ou não, que podem estar sujeitos a nossa vontade. Podemos deixar de fazê-los quando quisermos. Você pode ter o hábito de ligar o rádio sempre que entra no carro. Se, por alguma razão seu mecânico o aconselhar a não fazer isso, você consegue interromper esse costume sem sofrimento. Com as manias, é mais difícil. Elas envolvem uma ideia fixa além do controle do indivíduo. É como se você fosse incapaz de engatar a primeira marcha sem ligar o rádio. No caso do vício, a situação é ainda pior. O indivíduo é dependente daquele ato ou substância, mesmo que cause prejuízos (leia o quadro acima)
A fisioterapeuta Talmai Terra pensou na recompensa para largar um pouco o automóvel. Mãe de Clara, de 1 ano e 4 meses, moradora de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, Talmai depende do carro para atravessar os 22 quilômetros até chegar ao trabalho, na capital. A necessidade criou um hábito, e ela passou a dirigir até para ir à padaria, a duas quadras de casa. Talmai tentou atividades a pé, como pegar dinheiro no caixa eletrônico do bairro. Mas desistia por causa da pressa ou por preguiça. Decidiu, então, se organizar para caminhar nos fins de semana, sem precisar correr contra o relógio. O marido, André Terra, veterinário, ajudou no planejamento – e foi junto. “Quando encontrava uma calçada esburacada com o carrinho da bebê, lembrava a comodidade do carro”, afirma Talmai. Ela perseverou ao descobrir que andar a pé era um jeito de passar mais tempo com a família. “As caminhadas viraram uma curtição.”
6 passos para  a mudança de  hábito dar certo  (Foto: Fontes: Ricardo Franco de Lima, neuropsicólogo, membro da Sociedade Brasileira  de Neuropsicologia; Suely Sales Guimarães, psicóloga, professora da Universidade de Brasília )
Mesmo com uma fórmula testada, acabar com um hábito (ou substituí-lo) demanda tempo e disposição. “A construção de hábitos é complexa, envolve inúmeros fatores, mas a mudança é ainda mais desafiadora”, afirma Sueli Damergian, professora de psicologia das relações humanas da Universidade de São Paulo (USP). Quando fazemos a troca, reprogramamos nosso cérebro. Mais especificamente, uma região próxima à nuca, entre o córtex motor e os núcleos da base, onde os hábitos estão arraigados. Ao substituir um hábito antigo por um novo, são criadas conexões dos neurônios. Pode demorar dias, meses e até anos para que o novo hábito fique automático.  “Essa reprogramação cerebral não é simples, porque envolve esforço”, afirma Marta Pires Relvas, neurobióloga e psicopedagoga, da Faculdade Integrada AVM, no Rio de Janeiro. 
Uma forma de estimular a mudança é contar com uma rede de apoio, para incentivar e cobrar resultados. Foi o que fez Renata Ceribelli, quando concordou em participar do “Medida certa”, um quadro para reeducação alimentar e atividades físicas do Fantástico, da TV Globo. “Tinha 1,2 milhão de vigias”, diz ela, ao lembrar a audiência do programa. Durante três meses, Renata e o apresentador Zeca Camargo foram acompanhados pelo educador físico Marcio Atalla, colunista de ÉPOCA, e por um time de profissionais. Ela perdeu 9,5 quilos, mas diz que esse não foi o feito mais significativo. O melhor foi abandonar o sedentarismo. “O efeito ansiolítico da atividade física regrada em minha vida foi revolucionário”, afirma. “A ansiedade sempre me atrapalhou bastante. Chegava a ser incapacitante.”
Quem não é apresentador de uma grande emissora, como Renata, pode recorrer às redes sociais ou ao círculo de amigos. Receber uma ligação toda semana para acompanhar o progresso ou uma mensagem de texto diária para saber como foi a corrida ajuda a manter o estímulo. Para tirar o melhor proveito dessas redes, é importante que as pessoas saibam o que você espera delas, e vice-versa. Senão, a cobrança pode se tornar excessiva ou pode faltar estímulo. 
Usar o padrão proposto pelos pesquisadores pode ajudar também a criar novos hábitos. Foi o que fez o treinador Larri Passos, ex-técnico do tenista Gustavo Kuerten. Ele sofria de um mau humor matinal incontrolável, capaz de atrapalhar o rendimento e o relacionamento com as pessoas. Sentia-se ansioso e agitado. Por consequência, era reservado e, muitas vezes, ríspido. Em 1994, levou uma equipe de tenistas a Portugal. Em sua primeira manhã no país, acordou com a cabeça latejando com um ataque de sinusite. “Sabia que era tensão. Naquele momento, decidi que não queria mais viver daquela forma.” Larri adotou algumas das técnicas propostas nos livros do neurolinguista americano Anthony Robbins. Descobriu que a tensão da manhã era efeito de sua cobrança excessiva por resultados. Decidiu que planejaria seu dia na noite anterior. Passou a dedicar no mínimo 15 minutos tentando enxergar as atividades do próximo dia “como num filme”. Planejava mentalmente seu dia antes de ir dormir. O objetivo era formar uma imagem mental da rotina. O ritual não deu resultado no início. Mas Larri insistiu. Com o tempo, passou a acordar mais tranquilo. “Já cheguei a ouvir de mais de uma pessoa que estou sempre de bom humor pela manhã.”
Mesmo cercando-se de centenas de cientistas e pesquisas, Duhigg não escapou das críticas. O pesquisador americano Timothy Wilson, professor de psicologia da Universidade de Virgínia, nos EUA, afirma que Duhigg pecou ao subestimar a história particular de cada um, que não pode ser dissociada da formação dos hábitos. Para Wilson, a teoria do livro é superficial ao sugerir que dá para reduzir todos os casos ao esquema gatilho-rotina-recompensa. Em Redirect: the surprising new science of psychological change (Redirecione: a surpreendente mudança da ciência psicológica), ele sugere que a pessoa perceba que todos temos histórias pessoais sobre quem somos. Muitas não são conscientes. “A maioria nos ajuda a ser otimistas. Às vezes ficamos presos a experiências que nos induzem a uma visão derrotista”, diz Wilson. Antes de mudar os hábitos, é preciso investigar essas narrativas e, se for o caso, reeditá-las. “Em casos graves, isso pode exigir psicoterapia”, afirma. 
Wilson fez um teste com universitários que enfrentavam dificuldades acadêmicas. Os alunos foram divididos em dois grupos. Um deles assistiu a vídeos sobre o desenvolvimento acadêmico. Tinham mensagens positivas, lembrando que mesmo estudantes com dificuldades no início podem virar bons alunos e conseguir uma carreira frutífera. O objetivo era ajudar os alunos a relativizar a experiência passada e a entender que, mesmo tendo ido mal até então, não estavam condenados a continuar assim. No semestre seguinte, todos desse grupo alcançaram notas melhores. No outro grupo, que não viu o vídeo, alguns melhoraram e outros não, como numa turma comum. Enquanto Duhigg defende a substituição de uma atitude por outra, Wilson é a favor da reprogramação. As propostas não são contraditórias. Para quem quer mudar um hábito, elas podem ser usadas de forma complementar.
Um ponto não abordado por Duhigg é a importância dos primeiros anos na formação de bons hábitos. Nascemos sem hábito algum. A criança os adquire em sua criação. “Depende do tipo de estímulo, dos valores que pais e demais pessoas que cuidam dela oferecem”, afirma a psicanalista Silvana Rabello, professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Ensinar bons hábitos é tão importante quanto tê-los. Se os pais não gostam de ler, em quem o filho vai se inspirar? Vários estudos comprovam o efeito do exemplo dos pais para a aquisição dos hábitos da leitura, do sono e da alimentação. Um levantamento da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo mostrou que muitas crianças tinham os mesmos maus hábitos alimentares dos pais.
A designer gráfica Alessandra Oliveira, de Sobradinho, no Distrito Federal, tinha o hábito de cutucar a pele em volta das unhas das mãos. Acontecia à noite, quando ela começava a pensar nos afazeres do dia seguinte. “Era um momento de ansiedade. Não conseguia relaxar”, afirma. Sem perceber, levava os dedos à boca. O marido chamou a sua atenção para algo que acontecia ao lado dela. A filha, Sofia, de 2 anos, imitava a mãe. “Fiquei em choque”, diz Alessandra. No mesmo dia, Sofia mostrou uma pele que insistia em não sair. Alessandra fez com a filha o que não fazia com ela mesma. Foi buscar um alicate, cortou a pele e disse que ela não deveria puxar peles ou comer unha. Desde então, mãe e filha não cutucam mais os dedos. Em vez de esperar a ansiedade chegar, Alessandra aproveita para se ocupar com projetos que lhe dão prazer. “Mando orçamentos, busco ideias e aprendo coisas novas. Agora, minhas noites são proveitosas.”
Mudar não é simples. Em qualquer contexto exige esforço, estratégia e persistência, mas é possível. “Basta entender como funcionam e aceitar o trabalho duro”, diz Charles Duhigg.  “Hábitos não são destino.”