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1.01.2014

Democrata de Blasio toma posse como prefeito de Nova York


ISABEL FLECK
DE NOVA YORK
Ao tomar posse como prefeito de Nova York na tarde desta quarta-feira, o democrata Bill de Blasio repetiu o discurso de combate à desigualdade que garantiu sua vitória e disse que a cidade "não deve ser de domínio exclusivo de 1%" da população.
Segundo Blasio, lutar por justiça econômica e social "está no DNA" dos nova-iorquinos. Ele voltou a mencionar que seu compromisso em acabar com o "conto das duas cidades" (uma rica e uma pobre, em referência ao livro de Charles Dickens) o quanto antes, e reforçou que pretende aumentar impostos de quem ganha mais de US$ 500.000 por mês.
"Vamos pedir um pouco mais de impostos [aos mais ricos], e eu digo 'um pouco mais' porque esse aumento não representa mais do que US$ 3 por dia, o que é menos que um 'latte' no Starbucks da esquina", falou, arrancando aplausos da plateia de convidados.

Adrees Latif/Reuters
Bill de Blasio faz juramento em frente ao ex-presidente americano Bill Clinton em frente à prefeitura de Nova York
Bill de Blasio faz juramento em frente ao ex-presidente americano Bill Clinton em frente à prefeitura de Nova York
Ele não deixou de reconhecer os avanços obtidos pelo antecessor, Michael Bloomberg, que esteve presente na cerimônia.
"Você conduziu nossa cidade por tempos difíceis e somos todos gratos por isso", disse Blasio, completando que vai "dar seguimento ao grande progresso" conseguido pelo antecessor.
No entanto, ele afirmou que é hora de enfrentar uma "crise diferente". "Estamos enfrentando uma crise de desigualdade, que não está nas capas dos jornais. É uma crise silenciosa, mas não menos nociva do que pelas quais já passamos", disse.
Blasio foi empossado pelo ex-presidente Bill Clinton, que compareceu com sua mulher, Hillary, cotada como a principal candidata democrata para a Casa Branca em 2016.
Segundo Clinton, a família de Blasio –um descendente de italianos cuja mulher, Chirlane, e os filhos, Chiara e Dante, são negros– "representa a família do futuro da nossa cidade e do nosso país".
"Com todo o meu respeito ao seriado de TV, mas essa é a real 'Modern Family'", brincou.
A cerimônia, para a qual Blasio convidou "todos os nova-iorquinos", teve baixo quórum popular. Sob um frio de -2º C e poucas horas depois da imensa festa de Réveillon na Times Square, poucos se animaram a sair de casa para acompanhar o evento realizado ao ar livre, nas escadarias da prefeitura.
A panamenha Zenobia McNally, 50, que vive no Brooklyn há mais de 40 anos, foi uma das que resolveu prestigiar Blasio.
"Eu acho que ele vai ser um grande prefeito para Nova York. Eu gosto do fato de ele abraçar a diversidade, e acho que vai fazer um bom trabalho nesse sentido", disse à Folha.

Isabel Fleck/Folhapress
Zenobia McNally, panamenha que mora no brooklyn, com a mãe, Vilma, na posse do novo prefeito de Nova York
Zenobia McNally, panamenha que mora no brooklyn, com a mãe, Vilma, na posse do novo prefeito de Nova York
GUINADA À ESQUERDA
Com uma agenda progressista Blasio foi eleito no último 5 de novembro com 73% dos votos contra o ex-prefeito Bloomberg.
Durante os três mandatos do ex-republicano, a cidade se transformou: tornou-se mais segura, mais verde, ficou em melhor forma. Mas os críticos acusam Bloomberg - um magnata com raízes no mercado financeiro - de ter governado sobretudo para os ricos, numa Nova York onde a taxa de desigualdade está entre as maiores do país.
Ao mesmo tempo em que a 'Big Apple' conta com cerca de 400.000 milionários e 3.000 multimilionários, mais de 21,2% dos nova-iorquinos estão abaixo da linha da pobreza e mais de 52.000 pessoas não têm domicílio fixo, vivendo em abrigos da prefeitura.
Blasio disse ser a favor de um salário mínimo horário de 10 dólares (que passou a ser, nesta quarta-feira, de 8 dólares no estado de Nova York).
Ele também prometeu cobrar mais impostos dos nova-iorquinos que ganham mais de 500.000 dólares ao ano, para financiar jardins de infância gratuitos para todos a partir dos 4 anos de idades.
Com sua família multirracial, o novo prefeito também traz grandes esperanças para as comunidades hispânicas e negras - que representam 28,6% e 25,5% da população da cidade, respectivamente. 

POLÊMICAS
Blasio foi um jovem admirador da revolução da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) da Nicarágua em 1979 quando o grupo socialista derrubou o governo de Anastasio Somoza.
Blasio, então com 26 anos, viajou à Nicarágua em 1988 para ajudar a distribuir alimentos e medicamentos, em meio à luta da FSLN com os "Contras" financiados pelo governo americano de Ronald Reagan.
O candidato democrata também conhece Cuba, onde passou sua lua de mel com McCray.
Se seu "passado sandinista" causou certa agitação ao ser revelado pela imprensa no final de setembro, Blasio, ao contrário de negar, fez questão de defendê-lo.
"Não foi um pecado da juventude. Eu estava envolvido num movimento que achava que fazia muito sentido, e a razão pela qual estava envolvido era por causa da política externa dos Estados Unidos", assinalou à revista New Yorker, em referência às ditaduras na América Latina nas décadas de 1970 e 1980.
Em vídeo divulgado no dia 24 de dezembro Chiara de Blasio, a filha de 19 anos do prefeito reconheceu que luta contra um vício em álcool e drogas e contra a depressão há diversos anos.
A adolescente conta que seus problemas se agravaram quando ela saiu de casa para ir morar no campus da faculdade, em 2012. "Tudo ficou mais fácil. Quanto mais eu bebia e usava drogas, mais tinha em comum com as outras pessoas", disse.
Segundo a garota, ela só se livrou da dependência depois que uma terapeuta a recomendou um tratamento em uma clínica em Nova York.

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