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1.16.2014

Papa retira Dom Odilo Scherer e mais três cardeais de comissão que supervisiona Banco do Vaticano

  • O grupo anterior, nomeado há menos de um ano, deveria permanecer no cargo até o fim de 2018
O GLOBO (Email)
Com agências internacionais
Papa acena ao fim da audiência na Praça São Pedro Foto: Andrew Medichini / AP
Papa acena ao fim da audiência na Praça São Pedro Andrew Medichini / AP
CIDADE DO VATICANO - O Papa Francisco deu ontem mais um passo rumo a uma remodelação do funcionamento da Igreja Católica ao trocar quatro dos cinco nomes da comissão de cardeais que supervisiona o Instituto para Obras de Religião (IOR), mais conhecido como Banco do Vaticano e foco de diversas denúncias que abalaram o papado de Bento XVI. Um dos afastados é o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer. Outro nome de peso retirado da comissão é o cardeal italiano Tarcisio Bertone, secretário de Estado de Bento XVI e cuja gestão foi marcada por alguns dos maiores escândalos da História recente da Santa Sé.
Com a mudança, Francisco afasta prelados associados a polêmicas na Igreja e ao status quo da Cúria Romana, frequentemente criticada pelo Pontífice. Os novos membros da comissão, por sua vez, são homens cujas trajetórias parecem estar em linha com a proposta de Francisco de uma Igreja menos dada a intrigas. Entre eles estão o arcebispo de Viena, Christian Schönborn, o espanhol Santos Abril y Castelló, e o secretário de Estado da Santa Sé, o italiano Pietro Parolin - que passará a ser cardeal no consistório de 22 de fevereiro. O arcebispo de Toronto, Thomas Christopher Collins, completa o novo time ao lado do único remanescente da equipe anterior, o francês Jean-Louis Tauran. A comissão tem mandato de cinco anos.

Além de dom Odilo e Bertone, deixam a supervisão do IOR o indiano Telesphore Toppo, arcebispo de Ranchi; e o italiano Domenico Calcagno, também presidente da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (Apsa), órgão responsável pela gestão dos bens da Santa Sé e por alocar fundos para a Cúria Romana. Todos foram nomeados por Bento XVI para mandatos de cinco anos pelo ainda Papa em fevereiro passado, dias após anunciar sua renúncia.

O fim da era bertone

A devassa no Banco do Vaticano é uma das bandeiras de Francisco, e a dança das cadeiras é mais uma prova de que o Papa não tem hesitado em colocar aliados em postos cruciais da Igreja no lugar de prelados aparentemente com outras visões sobre o Vaticano. Seria o caso, por exemplo, de dom Odilo Scherer. No ano passado, o jornal italiano “La Repubblica” noticiou que o arcebispo de São Paulo defendeu a Cúria Romana num discurso no encontro preparatório para o conclave que elegeu Francisco. Na época, o conteúdo foi desmentido por fontes ligadas ao brasileiro. A assessoria de comunicação da Arquidiocese de São Paulo informou que dom Odilo Scherer está de férias e não havia sido localizado ontem para comentar sua saída da supervisão do IOR.

No entanto, o principal alvo de Francisco foi Tarcisio Bertone, símbolo de boa parte das polêmicas recentes da Igreja. De estilo autoritário, o cardeal foi acusado de envolvimento com a corrupção na Igreja e visto como pivô de intrigas entre grupos do clero. Em última instância, dizem muitos vaticanistas, seu comportamento teria sido o grande culpado pelo estouro dos escândalos do papado de Bento XVI e sua consequente renúncia.

Além de perder a secretaria de Estado e agora o cargo no IOR, Bertone viu cair também Calcagno, seu aliado - cujo comando na Apsa foi abalado pela prisão em 2013 do monsenhor Nunzio Scarano, contador do órgão por mais de 20 anos, sob acusação de tentar levar € 20 milhões ilegalmente para a Suíça. Calcagno também é acusado de ter acobertado casos de pedofilia quando era bispo no Norte da Itália, e é possível que também seja retirado do comando da Apsa. Antes, Francisco já havia atacado o círculo de Bertone ao rebaixar o cardeal Mauro Piacenza do comando da influente Congregação para o Clero rumo à chefia da Penitenciária Apostólica, um tribunal voltado para causas internas do Vaticano.

Os novos integrantes da comissão cardinalícia do Banco do Vaticano foram escolhidos a dedo. Santos Abril y Castelló é amigo de Francisco há tempos e atuou como diplomata da Santa Sé em países de África, Leste Europeu e América Latina - inclusive a Argentina quando o Papa ainda era arcebispo de Buenos Aires. Parolin é seu homem de confiança. Schönborn tem perfil evangelizador e conciliador, e assim como Collins comanda uma arquidiocese rica, habituada a trâmites financeiros.

O esforço do Vaticano para regularizar as práticas de seu banco começou ainda no fim do papado de Bento XVI, quando novos administradores começaram a submeter o IOR a normas financeiras internacionais. Em dezembro, a autoridade antilavagem de dinheiro da União Europeia elogiou os avanços do Vaticano, mas ressaltou que mais mudanças são necessárias. Segundo o vaticanista Carlo Marroni, do jornal italiano “Il Sole 24 Ore”, Francisco pode mudar também a diretoria do banco.

- É um movimento surpreendente às vésperas do consistório e um forte sinal de mudança no gerenciamento das finanças pontifícias - disse.

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