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1.24.2014

Policia civil bate em viciados de crack

Prefeitura foi surpreendida e informou em nota que repudia o tipo de intervenção realizada no local

Quatro traficantes foram presos, segundo a polícia civil


Leonardo GuandelinePoliciais civis fizeram uma operação na cracolândia, região central de São Paulo, com bombas e balas borracha Foto: J.F. Diório/Estadão
Policiais civis fizeram uma operação na cracolândia, região central de São Paulo, com bombas e balas borracha J.F. Diório/Estadão
SÃO PAULO – A diretora do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) de São Paulo, Elaine Biasolli, classificou de "certíssima" a ação de policiais civis na tarde desta quinta-feira na região da Cracolândia, no Centro de São Paulo. Ela negou o uso de balas de borracha pelo Denarc, mas admitiu que seus subordinados usaram bombas de efeito moral para conter algumas pessoas que teriam reagido à prisão de um traficante por agentes do departamento. Moradores da região da Cracolândia e a prefeitura de São Paulo disseram que os policiais civis dispararam tiros de balas de borracha e bombas de efeito moral.
— Foi certíssima! — disse ela, enfática, quando questionada sobre a ação dos policiais.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo classificou a ação de “legítima” e acrescentou que “o Denarc não possui e não usou bala de borracha na ação”. Já o prefeito Fernando Haddad classificou a ação de “lamentável”.
A delegada Elaine Biasolli disse ainda que, após uma ação de inteligência com o objetivo de identificar um traficante, policiais foram para a região em viaturas descaracterizadas e acabaram recebidos com pedradas. Três policiais ficaram feridos e três viaturas foram depredadas, segundo a SSP. Moradores da região também ficaram feridos. A delegada disse, também, que foi chamado reforço para conter a represália.
Quatro traficantes, segundo Elaine, foram presos. Além desses, cerca de 30 pessoas que estavam na região foram detidas para averiguação.
— O Denarc não possui balas de borracha. Inclusive, desde que assumi, em dezembro, tenho feito pedidos ao departamento responsável. Nós temos, sim, munição antimotim (de efeito moral). É uma aglomeração. Ninguém deu tiro. Os policiais estavam sem munição — garantiu a delegada.
Segundo o Denarc, em ações desse tipo - eles negaram que tenha havido uma operação -, a Prefeitura de São Paulo não precisa ser avisada. A operação não foi comunicada ao governo municipal, que disse ter sido surpreendido, nem à Polícia Militar (PM).
— Aonde houver tráfico, nós vamos identificar e vamos prender. Independentemente de ser ou não na Cracolândia — disse.
Desde dezembro, o Denarc disse ter prendido na região da Cracolândia 65 pessoas por tráfico, 33 delas somente este mês.
A ação dos policiais civis desta quinta-feira acabou em corre-corre e bombas de gás no meio da tarde. No local, a prefeitura realiza desde a semana passada um programa de requalificação profissional destinado a moradores do entorno, a maioria dependentes químicos.
A administração municipal informou, em nota, que repudia o tipo de intervenção realizada na cracolândia. “A Operação de Braços Abertos é uma política pública municipal pactuada com o governo estadual, que preconiza a não-violência e na qual a prisão de traficantes deve ser feita sem uso desproporcional de força”, diz o texto.
Segundo a prefeitura, funcionários municipais “trabalham há seis meses para conquistar a confiança e obter a colaboração” dos usuários de drogas. A gestão de Fernando Haddad (PT) reafirmou que está empenhada na solução da cracolândia e que incidentes como os desta quinta-feira podem comprometer a continuidade do programa.
O secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto Porto, que acompanhava os trabalhos da prefeitura no local, disse ter sido surpreendido, juntamente com a PM, que tem uma base e faz patrulhamento ostensivo no local.
Segundo um missionário que trabalha com dependentes químicos, os policiais chegaram pouco depois das 15h30m, em mais de dez viaturas. E jogaram bombas contra a multidão que estava nas ruas. Houve correria, de acordo com o missionário.
- Eles já chegaram atirando bombas. Prenderam uma pessoa, o agrediram. Vi o pessoal correndo. Foi uma ação exagerada – disse.
Moradores da região entrevistados  há duas semanas, antes do início do programa da prefeitura e da retirada de barracas de madeira das calçadas da Alameda Dino Bueno, relataram diversos abusos cometidos por policiais civis na região, entre eles agressões e prisões arbitrárias por tráfico.

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