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2.08.2014

Delegado não descarta pedido de prisão de jovem que repassou rojão que atingiu cinegrafista

  • Titular da 17ª DP afirmou que Fábio Raposo, que admitiu que é ele quem aparece de bermuda preta em fotos e vídeos feitos durante o protesto, pode pegar até 35 anos de prisão
  • Fábio foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado com uso de explosivo e por crime de explosão e já responde como coautor do crime

O GLOBO


Fábio Raposo em entrevista à TV e, à direita, ele aparece de bermuda durante protesto, após rojão ter sido lançado Foto: Reprodução GloboNews/Agência O Globo

Fábio Raposo em entrevista à TV e, à direita, ele aparece de bermuda durante protesto, após rojão ter sido lançado Reprodução GloboNews/Agência O Globo
RIO - O delegado Maurício Luciano de Almeida, da 17ª DP (São Cristóvão), afirmou nesta tarde que não descarta o pedido de prisão temporária para o jovem Fábio Raposo, que se apresentou na 16ª DP (Barra) na madrugada deste sábado admitindo ser um dos jovens acusados de ter participado do lançamento do rojão que atingiu a cabeça do cinegrafista da Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, durante protesto na Central do Brasil, quinta-feira passada. Ele aparece em imagens feitas pela imprensa usando bermuda preta, disse que encontrou o artefato no chão e repassou para o outro homem que aparece em fotografias usando calça jeans e camisa cinza suada nas costas. O suspeito está sendo procurado pela polícia, que procura imagens de câmeras de segurança da região que possam ajudar a identificação.
— Pouco importa para a lei quem efetivamente efetuou a ação. Serão as mesmas penas. Mas, se ele confessar participação no crime, haverá delação premiada. É claro que num primeiro momento ele está negando participação, mas pode ser que, ao longo das investigações, ele não tenha mais alternativas e colabore — afirmou o delegado em coletiva. — Se o crime for consumado, todos esperamos que não, ele pode pegar até 35 anos de prisão.
Fábio foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado com uso de explosivo e por crime de explosão e já responde como coautor do crime. O delegado confirmou que o jovem de 22 anos já tinha duas passagens, todas relativas a manifestações: no dia 7 de outubro de 2013, na 5ª DP (Mem de Sá), por associação para o crime, dano ao patrimônio e associação criminosa, cuja investigação ainda está em andamento. Na 14ª DP (Leblon), em 22 de novembro de 2013, por ameaça.
As imagens procuradas para tentar auxiliar a identificação do suspeito de lançar o rojão foram solicitadas pela polícia ao Comando Militar do Leste, da Supervia e da prefeitura do Rio para verificar se alguma delas mostra o rosto do homem.
Para delegado, depoimento de jovem foi orquestrado por advogado
Maurício Luciano de Almeida afirmou, na coletiva, que o depoimento do jovem Fábio Raposo foi orquestrado pelo advogado que o acompanhou. Maurício afirmou que as imagens já divulgadas até o momento não condizem com as declarações do jovem, que alegou que não conhecia o suspeito e somente repassou a ele uma bomba que viu cair no chão.
— Ficou claro que o depoimento foi orquestrado. Uma das provas é que inclusive o Fábio tirou a sua página do Facebook do ar. Estamos pedindo à Delegacia de Crimes de Informática que tente recuperar as informações — disse o delegado.
Segundo o titular da 17ª DP, a polícia viu nas imagens que ele o outro jovem agiam em conjunto, caminhando lado a lado.
— O depoimento dele sobre a não participação e sobre não conhecer o outro jovem não é verossímel — disse Maurício Luciano, em entrevista à Globonews, e acrescentou que Fábio esteve na delegacia às 4h da manhã. — Ele disse que achou o artefato e ficou carregando durante a manifestação e que o segundo elemento pediu. Disse que entregou para ele e que o outro rapaz colocou no chão e acendeu.
Fábio contou em depoimento, acompanhado por advogado, que não foi o responsável pelo lançamento, e que não conhece o outro jovem. Em entrevista à GloboNews, Fábio admite que era ele o jovem de bermuda preta, identificado nas imagens:
— Sim, era eu. As fotos que foram apresentadas nas mídia era eu sim. Eu era o de camisa, bermuda e tênis, com tatuagens. Era eu passando o artefato sim, para o outro indivíduo, mas o artefato não era meu, Quero deixar isso bem claro. O artefato não era meu.
O rapaz conta que estava na manifestação, viu uma confusão, foi lá conferir e viu um artefato cair.
— Quando cheguei houve um corre-corre, fui ver o que estava acontecendo, estava havendo confronto entre PMs e manifestantes. Como estavam jogando bombas de gás, coloquei a máscara para minha proteção. Fui até lá ver confronto e, neste momento, vi que um rapaz correndo deixou uma bomba cair, um negócio preto. Eu peguei e fiquei com ela não mão. Este outro cara disse: passa para mim que eu vou e jogo. Foi só isso - afirmou à GloboNews.
Segundo o jovem, ele não teve em nenhum momento intenção de machucar ninguém.
— Em momento algum vou para manifestações para quebrar coisas, bater em polícia, jogar pedras. Não fui eu. Não tive a intenção de machucar nenhum repórter. Estou vindo aqui porque estou assustado por minha foto ter sido divulgada em mídias internacionais. Inclusive recebi até ligações de pessoas deconhecidas, de manifetantes, de grupos, pedindo para eu assumir o caso e falar que fui eu, tentando me obrigar — contou.
Ele pediu desculpas à família do cinegrafista:
— Quero o bem do repórter que está em coma. A família dele. Não sei o que falar. Melhoras aí para ele.
Rádio pede doação de sangue para cinegrafista ferido
A rádio Bandnews FM publicou neste sábado, em sua conta no Twitter, um pedido de doação de sangue para o cinegrafista Santiago Ilídio Andrade. Ele foi ferido por um rojão durante manifestação contra o reajuste das passagens, próximo à Central do Brasil, no Centro do Rio, na última quinta-feira.
A publicação informa que o tipo sanguínio de Andrade é O+ e que as doações podem ser feitas no Hemorio, na Rua Frei Caneca, 8, no Centro.
Boletim médico divulgado neste sábado pela Secretaria municipal de Saúde informa ainda que Santiago continua internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro.
Ele está em coma induzido e passou uma neurocirurgia. O cinegrafista teve afundamento do crânio e perdeu parte da orelha esquerda. A cirurgia durou cerca de quatro horas e terminou por volta de meia-noite e meia.

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