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2.25.2014

Pra tudo (não) se acabar na quarta-feira

  • Durante o ano, outras atividades podem acontecer na Sapucaí. Por que não se faz um lançamento popular do CD das escolas de samba na Apoteose?
Leonardo Bruno
Daqui a poucos dias, novamente o Sambódromo vai receber os foliões para o maior espetáculo da Terra. Serão quase 400 mil pessoas assistindo a seis dias de desfiles na Marquês de Sapucaí. Nesse período, a ocupação é plena, e a Passarela mostra sua utilidade em nossa maior festa popular. Mas e depois do carnaval? Que uso se faz desse equipamento cultural entre o reinado de Momo e o início do próximo ano? O Rio de Janeiro, terra do samba, deixa seu principal palco às moscas.
Excetuando-se um ou outro show que ocupa a Praça da Apoteose, a Passarela do Samba é inutilizada durante quase três quartos do ano. É como se o Moulin Rouge abrisse só no verão, já imaginaram? É triste ver a quantidade de turistas que se espreme nas grades da Rua Benedito Hipólito para tirar fotos dos arcos de Oscar Niemeyer. Ao lado, muitas vezes jogados no chão, alguns pedaços de fantasias, que tentam “compor o clima”. Mas em volta há tudo, menos clima de carnaval. O local é perigoso e não há estrutura alguma de atendimento aos visitantes.
No Rio de Janeiro que queremos, uma cidade turística que explora suas potencialidades, o Sambódromo teria uso frequente. Não só para saciar a vontade dos visitantes, ávidos por pisar naquele templo dos deuses do samba, mas também como fonte de lazer para a própria população.
As ideias são inúmeras para a ocupação do espaço. Em primeiro lugar, é preciso aumentar a temporada de ensaios técnicos. A deste ano durou pouco mais de um mês e deixou o público com gosto de “quero mais”, com apenas uma apresentação de cada escola do Grupo Especial. A temporada de testes das agremiações na Sapucaí deve começar em dezembro, estendendo-se até o carnaval.
Durante o ano, outras atividades podem acontecer lá. Por que não se faz um lançamento popular do CD das escolas de samba na Apoteose? Atualmente, acontece apenas uma elitista festa na Cidade do Samba, para poucos, muito aquém de seu potencial. O sorteio da ordem dos desfiles, outro momento aguardado pelos sambistas, também poderia ter lugar na Marquês. E o Dia Nacional do Samba? Como explicar que o maior palco do carnaval fica às escuras no dia 2 de dezembro?
Poderíamos ainda criar uma disputa entre as baterias do Rio, no período de entressafra, no meio do ano — nos anos 60, um evento desse tipo lotou o Maracanãzinho. As baterias dariam seu show e um júri escolheria a melhor. Outra possibilidade é um concurso entre os passistas, ou entre os casais de mestre-sala e porta-bandeira. Que lindo seria ver a arte do samba povoar aquele espaço durante o ano inteiro! Sem falar em exposições abertas que poderiam acontecer no local. E hoje, com o avanço da holografia, já imaginaram o dia em que poderíamos ir para a arquibancada rever a passagem pela Sapucaí de “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia”, de Joãosinho Trinta?
As ideias são infinitas, das mais simples às mais elaboradas. O que é premente é a ocupação deste cartão-postal do Rio. Uma cidade que se diz berço do samba não pode manter seu templo maior ao léu durante o ano. Além de frustrar turistas, ainda deixa órfãos os próprios cariocas. Que a comemoração dos 30 anos do Sambódromo jogue as luzes sobre este palco, para que possamos aproveitá-lo melhor nas próximas três décadas.

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