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3.27.2014

65% dos brasileiros acham que mulher de roupa curta merece ser atacada

Resultados assustaram até autores do estudo do Ipea; retrato da vítima de violência sexual indica ainda que mais da metade das vítimas tinha menos de 13 anos e há casos de estupro coletivo

Compartilhar2Maioria dos brasileiros acha que mulher de roupa curta ‘merece’ ser atacada, diz Ipea

Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (27) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que 65,1% dos brasileiros atribuem – parcial ou totalmente –, às próprias mulheres vítimas de abusos físicos ou sexuais, a culpa pelos ataques. De acordo com o levantamento, baseado em 3,8 mil entrevistas realizadas em todos os estados do país, 42,7% da população acredita que, quando usam roupas curtas e decotadas, elas “merecem” ser violentadas. Outros 22,4% apoia, com ressalvas, a assertiva. Em meio à onda de crimes sexuais registrados no transporte público da capital paulista, o estudo aponta que 58,5% dos brasileiros concorda (35,3% totalmente e 23,2% parcialmente) que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. O diagnóstico mostra ainda parcelas de 63,8% da população que designa, aos homens, a função de “cabeça do lar” e, de 68,9%, que supõe ser o casamento o maior sonho feminino.

BRASÍLIA - Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) retrata o quanto a violência contra a mulher ainda é tolerada no País. A maioria dos brasileiros considera que merecem ser atacadas aquelas que usam roupas que revelam o corpo. Também é majoritário o grupo que acredita que, "se a mulher soubesse se comportar", as estatísticas de estupro seriam menores.
Os resultados provocaram espanto entre os próprios autores da pesquisa. A violência contra a mulher, avaliam, é vista como forma de "correção". A vítima teria responsabilidade - por usar roupas provocantes ou por não se comportar do modo "desejado". "Mais uma vez, tem-se um mecanismo de controle do comportamento e do corpo das mulheres da maneira mais violenta que possa existir", dizem os autores da pesquisa.
A tolerância à violência não está ligada a características populacionais. Mas autores do trabalho consideram que algumas condições, como morar em metrópoles, ter escolaridade mais alta e ser mais jovem podem reduzir o risco desse tipo de comportamento. Para os pesquisadores, o fator preponderante para a tolerância é a adesão a determinados valores. Pessoas que acreditam que o homem deve ser o cabeça do lar, por exemplo, estão mais propensas a achar que a violência, em muitos casos, se justifica.
"É a ideia da mulher honesta, que ainda persiste no País", afirma a secretária de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, Aparecida Gonçalves. Embora a tolerância à violência esteja muito presente, o discurso do brasileiro não é linear. Dos entrevistados, 91% concordam total ou parcialmente com a ideia de que homem que bate na mulher deve ir para a cadeia. Outros 89%, por sua vez, dizem não concordar com a afirmação de que o homem possa xingar ou gritar com a própria mulher.
A cultura machista fez a moradora da zona leste de São Paulo Maria (que pediu para não ter o sobrenome revelado) se calar sobre as agressões físicas do marido durante nove anos de casamento. "Ele quebrava tudo dentro de casa, mas demorei a falar para a polícia e a família", relata a dona de casa. "Tinha medo e não sabia se contar era certo. Até que um dia resolvi denunciar", relata. Segundo ela, a falta de autonomia, principalmente financeira, é responsável pelo silêncio da maioria.
Estupros. O Ipea traçou também um retrato da vítima de violência sexual. Conduzido por Daniel Cerqueira e Danilo Coelho, o trabalho analisou registros do sistema de agravos de notificação, que capta dados de atendimentos em serviços públicos de saúde. Foram analisados cerca de 12 mil casos, referentes a 2011. "É uma amostra. Pelas projeções do Ipea, no ano passado ocorreram no País 527 mil estupros", diz Cerqueira.
Os números analisados mostram que mais da metade das vítimas tinha menos de 13 anos de idade. "É um dado absolutamente alarmante", avalia. O trabalho identificou também que 15% dos estupros registrados foram cometidos por dois ou mais agressores. "Ficamos chocados quando ouvimos histórias de estupros coletivos na Índia. O fato é que enfrentamos o mesmo problema no nosso quintal."

 nota bpf: Lamentável saber que existem pessoas que pensam desta forma.

Veja também: link Maior parte dos brasileiros se incomoda em ver dois homens ou mulheres se beijando link 54,9% acreditam que existe 'mulher para casar', diz pesquisa  


 

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