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4.09.2014

Americana é condenada por ‘amamentação negligente’ após morte de filha de seis semanas

Enfermeira de 39 anos tomava medicamentos para dor crônica e seu bebê morreu por overdose de morfina

Filha poderia ter defeito genética que a impediria de metabolizar pequenas doses do analgésico

O GLOBO



Stephanie Greene foi condenada por dar uma dose letal de morfina para sua filha via leite materno
Foto: Spartanburg County Sheriff's Office Detention Center / REUTERS


Stephanie Greene foi condenada por dar uma dose letal de morfina para sua filha via leite materno Spartanburg County Sheriff's Office Detention Center / REUTERS

CAROLINA DO SUL (EUA) - Stephanie Greene, uma enfermeira de 39 anos de idade, foi condenada a 20 anos de prisão por matar sua filha, com apenas seis semanas de vida, por overdose de morfina no leite materno. O caso da cidade de Spartanburg, na Carolina do Sul, despertou polêmica nos Estados Unidos e na Europa. E também serve de alerta para mulheres que estão amamentando. Stephanie foi condenada por homicídio involuntário e negligência.
Um acidente em 1998 deixou sequelas na enfermeira. Ela sofreu ferimentos graves como traumatismo craniano e múltiplas fraturas na costela. Stephanie estava grávida no momento do acidente, mas perdeu o bebê. Nos meses e anos seguintes, ela sofreu com convulsões, dor crônica e transtorno de estresse pós-traumático, e em 2004, por ter seu desempenho prejudicado, teve sua licença de enfermagem suspensa.
A necessidade da medicação era clara, e Stephanie tomava os analgésicos por orientação médica. Mas, segundo a acusação, ela escondeu a gravidez de seu médico e em nenhum momento disse que estava amamentando para continuar recebendo as mesmas doses do analgésico. O júri da Carolina do Sul a condenou por conduta ilegal, alegando que ela era enfermeira e sabia o que estava fazendo. O caso abriu discussão sobre o conceito de “amamentação negligente”. Na maioria das condenações por negligência, mães são julgadas por utilizar drogas ilegais ou abandonar seus filhos.


A Academia Americana de Pediatria recomenda o uso de morfina para mulheres que estão amamentando. No entanto, de acordo com o diretor da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, Antônio Braga, é preciso tomar muito cuidado com qualquer medicamento durante o aleitamento. Remédios de classificação amarela, como a morfina, são liberados nesse período, mas apenas com o acompanhamento médico e em casos de extrema necessidade.
- O uso da morfina não é proibido, mas devemos ter cuidado com analgésicos opioides administrados para mulheres em período de amamentação. Há risco para o bebê e as mães devem ficar de olho em sintomas como demora na resposta dos estímulos e dificuldade de respiração e movimentação - alertou Braga. - Uma coisa importante é que a morfina, mesmo em pacientes com dor crônica, deve ser utilizada com cautela. Ela é viciante e outros medicamentos podem substituí-la.
Segundo Braga, se a medicação for mesmo necessária, o ideal é que seja tomada no menor período possível, para que o bebê não seja muito afetado.
Entenda o caso
Mãe de outras três crianças, Stephanie ligou para o 911 pedindo socorro pois sua filha mais nova, batizada de Alexis, estava inconsciente em sua cama. Alexis foi encontrada morta e, na autópsia, o laboratório forense da polícia encontrou uma dose quase 50 vezes maior de morfina do que seria esperado em casos de uso do analgésico pela mãe. Os especialistas afirmaram que a dose seria suficiente para matar um adulto.
Se a morfina tivesse vindo do leite, deveria haver grande concentração no estômago de Alexis. O sangue de Stephanie também deveria apresentar grande quantidade da medicação, além de seu leite materno. Mas, de acordo com o patologista forense Steven Karch, um dos peritos ouvidos no julgamento da enfermeira, nenhum desses testes foi realizado. Em artigo no jornal “Guardian“, ele acusa a Carolina do Sul de uma investigação falha e de má qualidade.
“Seu cabelo não foi testado também. A morfina é estável no cabelo por meses, e a análise do cabelo teria revelado se a Sra. Greene (Stephanie) estava tomando mais medicamentos do que havia sido prescrito. Esse teste também foi considerado desnecessário. Em suma, nenhuma investigação forense real foi realizada, apenas uma autópsia sem achados diagnósticos”, alegou Karch.
Relacionando o caso recente com um similar acontecido em 2005, em Toronto, Karch acredita que Alexis poderia ter um problema genético, o que explicaria a alta dose do analgésico encontrado em sua autópsia. A mãe de Toronto tomava codeína - uma pequena parte deste analgésico é convertido em morfina no organismo. Seu bebê morreu 12 dias após nascer e a autópsia mostrou doses de morfina parecidas com as encontradas em Alexis.
Mas no caso de Toronto, o médico legista analisou o genoma da mãe e viu que ela carregava várias enzimas conversoras de codeína. Ou seja, ela convertia tudo o que consumia em morfina e, sem saber, acabou envenenando o bebê com a medicação.
No caso de Stephanie, é possível que Alexis tivesse um problema genético que impediria a atuação de uma enzima responsável por metabolizar a morfina. No entanto, como os testes não foram realizados, não é possível determinar a causa da sobredose.
Nos Estados Unidos, essa foi a primeira morte associada com a contaminação de leite materno e a primeira condenação por uso de drogas legais no aleitamento.

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