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5.07.2014

Dilma bate papo com a imprensa

A presidente reuniu dez jornalistas para o encontro, com direito a tour pelo Palácio da Alvorada. Entre os assuntos abordados, CPI, inflação e protestos
Denise Rothenburg
Publicação: 07/05/2014 07:17
De CPI da Petrobras, “não temo nada”, a inflação “está sob controle, mas não está tudo bem”, e cenários otimistas de “o Brasil vai bombar em 2015”, a presidente Dilma Rousseff falou de tudo um pouco ontem à noite, quando reuniu dez jornalistas mulheres para jantar no Palácio da Alvorada. Foram pelo menos quatro horas de conversa com direito a um tour por todo o andar térreo do Palácio e uma visita à capela, parada que Dilma incluiu no roteiro para mostrar a restauração. “Eu gosto da capela. Antes da reforma, tinha cheiro de mofo. Não dava para ficar”, comentou a presidente, devota de Nossa Senhora, a única imagem no interior da capela.

Ainda dentro da capela, alguém solta: “É bom estar com a capela restaurada nesse momento difícil, presidente?” Eis que Dilma, já caminhando para voltar ao Palácio, em meio a perguntas complementares sobre como se sentia em relação a essa baixa nas pesquisas, responde: “Saiba você que a única pessoa que te derrota é você mesma. Em qualquer circunstância. Eu não me deixo abater”, afirma.

Foto com jornalistas: temas espinhosos foram respondidos de forma firme pela presidente, inclusive a CPI da Petrobras (Ricardo Moraes/Reuters - 2/4/14)
Foto com jornalistas: temas espinhosos foram respondidos de forma firme pela presidente, inclusive a CPI da Petrobras

Feitas as fotos na sala de reuniões ao lado da Biblioteca __ muitos selfies e conversas a respeito de amenidades, maquiagens, perfumes e tinturas de cabelo __, o cerimonial avisa que o jantar estava servido. Entre as colegas, a preocupação, “pronto, agora vamos comer e ela vai nos mandar embora sem notícia”. Que nada. A noite estava apenas começando.

Na sala de banquetes, com todos à mesa __ além das jornalistas estavam ainda a senadora Gleisi Hoffmann (ex-ministra da Casa Civil) e o ministro da Secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência da República, Thomas Trauman __ alguém saca o caderninho de anotações e os temas polêmicos se sucedem. Dilma só se recusa a falar de campanha: “Estou na fase pré-candidata e falar sobre campanha agora é crime eleitoral”, e de troca de ministro: “ (Alexandre) Tombini (presidente do Banco Central) na Fazenda?”, quis saber uma das convidadas. “Não cogito nada”, disse. Ela, no entanto, ao longo da conversa, deixou exposta uma divergência com o ministro Guido Mantega que esta semana mencionou a perspectiva de aumento de imposto: “Não terá aumento de imposto”, afirmou. “Não sei em que contexto ele falou sobre isso”.

A CPI e a “tolice meridiana”

Os demais temas espinhosos são respondidos de forma firme, inclusive a CPI da Petrobras. “Não temo nada de CPI. Não devo nada. Não tenho temor nenhum. O governo é de absoluta transparência. Não tenho dúvida de que tem um componente político nessa CPI”, disse ela, que considerou normal a troca que fez de Sérgio Gabrielli por Graça Foster no comando da empresa. “Troquei até ministro, não é loura?”, comentou, virando-se para Gleisi. Diante das insistentes perguntas sobre se CPI atingiria Lula ou ela, Dilma não titubeia: “Sou eu, é? Então, o Gabrieli era do governo Lula e eu não? Eu sou governo Lula. Eu representava o controlador”, diz ela, referindo-se ao período em que se decidiu pela compra da refinaria de Pasadena.
A presidente deixa exposta, entretanto sua divergência em relação ao ex-diretor Nestor Cerveró, um dos responsáveis pela compra de Pasadena e chama de “tolice meridiana”, dizer que as cláusulas Put Option (a chamada cláusula de saída) são padrões, como mencionou Cerveró: “A Put Option é como se fosse um casamento. Cada um tem o seu, alguns tem clausulas de saída do casamento, outros não e nem todos são iguais”, explica. “Até onde eu sei não houve má fé, pode ter havido um equívoco”, diz ela, concluindo que fria tudo de novo, em relação à nota que soltou reclamando da ausência dessas cláusula no resumo técnico sobre Pasadena.

A inflação e o “também quero fazer política”

Em todas as áreas possíveis, a presidente compara seu governo com o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e rebate as críticas feitas pelo tucano Aécio Neves e também pelo socialista, Eduardo Campos. NO quesito inflação, ela foi direta: “Está sob controle, mas não está tudo bem. O efeito inflação não explica o mal estar. Tem uma coisa que explica o mau-humor: a taxa de crescimento de bens e de serviços”, afirma. “NO setor de serviços, não tenho condição de, ao fazer o investimento, resultar em benefício imediato. Quem me critica esqueceu, mas o estoque de serviços (a executar) é um acúmulo do passado”, diz ela, afirmando categoricamente que o governo FHC investiu R$ 1 bilhão em saneamento, enquanto o governo dela aplicou R$ 37,8 bilhões, “e é pouco para o déficit, teria que triplicar para zerar”. “Não estou comparando com FHC para fazer política, mas quero fazer política também”, diz a presidente.

Se os dados de saneamento servem para alfinetar os tucanos, a perspectiva de desemprego para a meta de inflação de 3%, prevista por Eduardo Campos, do PSB, é repisada em comparação com a economia dos Estados Unidos: “Lá, o crescimento foi de 0,025%. NO ano, 0,1%. Se alguém perguntar, dirão que foi de franca recuperação. Ninguém dirá que é o caos e que o mundo caiu. Aqui, n Brasil, se isso acontecer, o céu estará caindo sobre minha cabeça”, comenta, emendando com uma crítica direta à proposta de Campos, de 3% de inflação. “Sabe o que isso significa? Desemprego de 8,2%. Quero ver manter o investimento público em logística”.

São Paulo e a “má fé”

A seca que provoca o desabastecimento de água em regiões da Grande São Paulo também não ficou de fora, quando o assunto da conversa vira para a energia elétrica. “A seca este ano é 100 vezes pior do que foi em 2001. E água e energia, só segura se investir. (No caso da água) Não sei quanto São Paulo investiu. Não temos nada a ver com a operação dele (Geraldo Alckmin). A água é tratada pelos estados. Qualquer tentativa de repartir (essa crise d) a água com governo federal é má fé”.

Base aliada & tempestade perfeita

Pouco se falou dos partidos aliados ao governo, mas a presidente deixou claro que não dispensará o contato com eles, a partir de 2015, caso receba mais quatro anos de mandato. “Vocês acreditam que alguém, só por não ser mais candidato à reeleição, pode prescindir das instituições?”, diz, respondendo ainda àqueles que mencionam um conjunto de fatores (tempestade perfeita) eu pode agravar os problemas econômicos do Brasil no ano que vem. “Passei seis meses esperando a tempestade perfeita. Ela não veio. Agora, vocês me perguntam se o Brasil vai explodir em 2015. Vocês acreditam em história da Carochinha?”

Ação da oposição contra o pronunciamento do 1º de maio e “meiguíssima”

O Bolsa Família vão falar que é eleitoreiro, mas melhoramos em vários anos e não íamos deixar de melhorar. “O Bolsa Família é visto como eleitoreiro. Quem não tem compromisso com os mais pobres acha uma besteira colocar dinheiro no Bolsa Família. A troco de quê não vou reiterar meus compromissos com aqueles que são a base do governo? Não é possível que eu não possa defender o que eu penso. A oposição pode falar o que quiser e eu não posso?”, diz.

“Acho que o PT tem mais vantagens, tem seus méritos e características positivas. Se tem um partido que conviveu com a disputa interna é o PT. E vai conviver pelo resto da vida. (Quanto ao Lula), quem viveu junto, intensamente, todas as horas e dificuldades, tem uma relação política e pessoal que não é passível de ruptura”. Quanto ao ex-presidente e o movimento para fazer ele candidato: “Nunca falamos sobre isso. Respeito muito o Lula. Tenho certeza (do apoio) dele. Ele está acima dessas questões.Tenho certeza de que o Lula me apóia nesse exato instante”.

Imprensa e o “couro de jacaré”

Lá para o final da conversa, em meio às amenidades, a presidente mencionou, respondendo a uma pergunta, que a “a imprensa brasileira é bastante oposicionista” atualmente. “A gente vai ficando um couro grosso de jacaré ou de tartaruga”, afirmou.

A Copa, os holligans, Neymar e a greve da PF

A menos de 40 dias do mundial, obviamente, o tema não ficaria de fora. A presidente contou que seu governo e a Fifa preparam duas ações relativas à segurança e ao combate o racismo. Em relação à segurança, a ordem é evitar o embarque de torcedores violentos para o Brasil. Aqueles que conseguirem, entretanto, escapar a esse filtro, podem ser barrados na entrada. A outra iniciativa, essa e fácil execução,são as falas antirrascistas em todo

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