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5.24.2014

Enxaqueca Dor de cabeça afeta 25 milhões de brasileiros

Conheça alimentos que podem desencadear o problema

Flávia Milhorance

Alérgica a leite e soja, Carolina Carpintero mudou radicalmente sua alimentação para evitar enxaquecas Foto: Daniela Dacorso / Daniela Dacorso
Alérgica a leite e soja, Carolina Carpintero mudou radicalmente sua alimentação para evitar enxaquecas Daniela Dacorso / Daniela Dacorso
RIO - Quem nunca ouviu que para evitar aquela enxaqueca persistente basta cortar o café, o chocolate ou os queijos? Pois especialistas explicam: essa relação não é tão simples. Se é fato que alguns alimentos podem realmente desencadear crises, a ciência hoje sabe que suas frequência e intensidade variam segundo cada indivíduo. E são muitos deles: 25 milhões de pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, ou 47% da população adulta mundial, para a Organização Mundial de Saúde (OMS).
- Não vamos ter uma epidemia de dor de cabeça no mundo, neste domingo de Páscoa, por causa do chocolate - tranquiliza, bem-humorado, o neurologista Maurice Vincent, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital Universitário da UFRJ e um dos palestrantes do evento, realizado na última quarta-feira na Casa do Saber O GLOBO.
Ele explica: a enxaqueca não é uma simples dor de cabeça. É uma doença genética que afetará suas vítimas algumas (ou muitas) vezes ao longo da vida. Fatores externos, como a alimentação, não a fazem surgir. Apenas pioram as dores.
- Causar uma doença é diferente de desencadear uma crise. Não é que não melhore (cortar o chocolate). Até melhora, em alguns casos. Mas não cura - afirma Vincent.
Cuidado com lista de alimentos
Há alguns anos, o paciente chegava ao consultório médico e, não raro, recebia uma lista de alimentos a serem evitados. Existem, de fato, opções que mais frequentemente provocam as crises. O “NHS Choices”, site do Departamento de Saúde do Reino Unido, cita alguns: trigo, chá preto, álcool e ovo, além dos já comentados queijo, café e chocolate. Segundo o órgão, é apenas um levantamento estatístico, o que significa que esses alimentos afetam alguns, e não todos os que sofrem de enxaqueca. Atualmente, há vários testes — entre eles, genéticos e alérgico e exame de intolerância alimentar (IGG específica) e à lactose - que dão um panorama mais individualizado.
A sensibilidade a certos alimentos é mais comum do que se imagina. Estima-se que mais de 20% da população de países industrializados sofram de intolerância ou alergia alimentar, segundo a revista “Deutsches Ärzteblatt International”, da Associação Médica Alemã.
Estudos de fato fortalecem a relação entre dieta e crises de enxaqueca. Um deles, da Universidade de York, no Reino Unido, mostrou que pacientes que abriram mão de alguns ingredientes melhoraram após um mês.
- Selecionamos pessoas que sofriam de enxaqueca para fazer duas dietas: a verdadeira, em que evitavam alimentos aos quais tinham sensibilidade, e a genérica. Os resultados foram positivos, mas precisamos de mais estudos - afirmou ao GLOBO David Torgerson, pesquisador da universidade.
Além da alimentação, o estresse, o cansaço, a má qualidade do sono, o uso de drogas e eventuais disfunções temporomandibulares (DTM) estão entre os fatores que provocam crises.
- A melhor forma de cuidar da enxaqueca é evitar os fatores de gatilho. Quanto aos alimentos, não são os mesmos para todas as pessoas. É necessário identificar o que agride cada um - defende o acupunturista Carlos Frederico Vieiralves, que costuma pedir testes de sensibilidade alimentar a seus pacientes. - O tratamento exige uma mudança de hábitos, e não só o uso de medicamentos.
O uso excessivo de remédios, aliás, pode agravar as crises.
- As pessoas se automedicam e usam de forma abusiva analgésicos. Isto pode criar dependência. Em vez de ajudar, perpetua as crises - alertou o cardiologista Cláudio Domênico, curador da série Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar.
Mudança de dieta reduziu crises
Com constantes de dores de cabeça e outros sintomas desagradáveis, há um ano e meio Carolina Carpinteiro, de 27 anos, procurou especialistas que acabaram lhe diagnosticaram com alergia a leite e soja, além de intolerância ao glúten, proteína presente em trigo, centeio e cevada.
Ela mudou radicalmente sua alimentação. Mas não foi fácil. Basta olhar para as prateleiras do supermercado e notar que o trigo é parte fundamental da culinária brasileira. Por isso, Carolina decidiu ir para a cozinha. Estudou, testou e, hoje, tem a confeitaria Da Dinda, voltada para os alérgicos.
- Eu me senti muito melhor depois que mudei a dieta.
Os sintomas de Carolina apareceram já quando adulta. Não é a mesma história de Álvaro Luiz Pinaud, hoje com 64 anos e com enxaqueca desde os 12 anos. Ele procurou uma quantidade incontável de especialistas, e há apenas um ano descobriu a intolerância a uma série de alimentos que dificilmente seriam vistos como deflagradores da crise: arroz, batata, trigo, cola (ingrediente da Coca Cola), cevada e laranja, entre outros:
- Sempre achei que café poderia piorar a dor de cabeça, mas no meu caso ele não afeta em nada. Enquanto isso, costumava ir para a pizzaria, tomava cerveja, e a enxaqueca começava. Tomava um caminhão de remédios, que acabavam piorando a dor.
Alguns cientistas acreditam que a relação alimento-enxaqueca tem uma razão evolutiva. Cerca de 60% da população, por exemplo, não deveriam consumir leite na fase adulta, segundo a Universidade de Cornell, nos EUA. Essas pessoas, diz o estudo, não evoluíram para produzir a lactase, enzima que digere o leite. Provavelmente porque seus ancestrais não viveram em regiões onde as vacas foram domesticadas há milhares de anos.
Além da intolerância, a avaliação genética é outra ferramenta contra a doença.
- Cada um tem sua individualidade bioquímica, e o teste nutrigenômico aponta, por exemplo, a dificuldade de algumas pessoas em metabolizar a cafeína e o álcool, o que pode provocar crises de enxaqueca - afirmou a farmacêutica Lia Back, diretora clínica do laboratório Biogenetika.
Mulheres e jovens são os que mais sofrem com o problema
Mulheres e adultos jovens são os mais afetados pela enxaqueca, doença classificada pela OMS como uma das “dez piores”. Mesmo assim, o mal é ignorado pela maioria das vítimas, que não chegarão a ter um diagnóstico durante a vida. O alerta é do neurologista Maurice Vincent, citando estatísticas internacionais, durante os Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar.
- As mulheres são três vezes mais afetadas do que os homens. Além disso, a enxaqueca geralmente aparece já na fase adulta, mas em jovens. A boa notícia é que ela melhora com o envelhecimento. Há menos relatos da doença em idosos - explicou Vincent.
Entrando em seu terceiro ano, o evento - que recebe especialistas para debater avanços da medicina em diversos temas - contou com a mediação da editora assistente de Sociedade, Viviane Nogueira, além da curadoria do médico Cláudio Domênico, membro do Colégio Europeu e Americano de Cardiologia.
- A dor de cabeça é um sintoma que pode estar relacionado a uma série de doenças - comentou Domênico. - Pode ser algo simples, mas também pode apontar para uma condição muito grave, por isso devemos ter atenção.
No caso da enxaqueca, além do óbvio sintoma da dor de cabeça, outros também costumam acometer suas vítimas: náusea, vômito, sensibilidade à luz e ao barulho estão entre eles.
Já uma dor de cabeça não associada à enxaqueca pode ser provocada por uma imensidade de fatores, de uma simples ressaca a tumores no cérebro. Um dos mais comuns é a disfunção temporomandibular (DTM).
- Há uma forte associação entre dores de cabeça e DTM. Isso é visto na clínica há bastante tempo - afirmou o cirurgião-dentista Francisco José Pereira Júnior, membro da Associação Internacional para o Estudo da Dor, que também participou do evento. - O DTM é um dos fatores de gatilho das crises. Não é a causa, mas pode desencadear os sintomas. Por isso, hoje o dentista tem que aprender a reconhecer a enxaqueca.
Também são as mulheres as mais afetadas pela DTM, mais comum da puberdade até os 50 anos. Pereira Júnior ainda alerta para outros sintomas da disfunção: dores de ouvido, estalidos, dores ao mastigar, bruxismo e zumbido.
Depois de temas como diabetes, câncer, sexo e beleza, a próxima edição do evento, prevista para 21 de maio, terá como tema depressão.

Dica de receita da confeitaria Da Dinda
Biscoito tipo amanteigado
300g farinha sem glúten
200g açúcar
100g gordura de coco ou creme vegetal
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
Preparo:
Misturar tudo com as mãos até a massa ficar homogênea. Deixar 5 minutos na geladeira e abrir a massa com um rolo e cortar com um cortador de biscoitos. Assar em forno pré aquecido a 230 graus por 15 minutos ou até começar a dourar.
Dica: saborizar com baunilha, canela, raspas de laranja ou essência de preferência.
O mix de farinha sem glúten já é vendido pronto por algumas marcas, mas pode ser feito manualmente: são 600g de farinha de arroz, 200g fécula de batata e 100g fécula de araruta.


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