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5.09.2014

Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers)

Mers: "Há potencial de difusão e mais casos globais", diz CDC

Às vésperas da Copa do Mundo, quando milhares de pessoas de diversos países dividirão mesmos espaços, nova síndrome respiratória tem colocado autoridades de saúde em alerta; sem vacina ou tratamento específico, a Mers já matou 10 pessoas somente este ano

Terra

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Mesmo ainda pouco conhecida, a Mers vem preocupando especialistas em infectologia e epidemiologia de todo o mundo. Descoberta em meados de 2012, a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês) já atingiu quase 400 pessoas ao longo de dois anos – a maioria delas na Península Arábica e Oriente Médio –, e matou cerca de 30% dos infectados (proporção considerada alta). Só este ano, dos 28 casos detectados, 10 foram fatais decorrentes do quadro agravado da síndrome – que causa sintomas semelhantes ao da gripe, adicionados a um desconforto respiratório leve ou agudo.
“Mers é um novo coronavírus, o que significa que ainda não existe uma imunidade na população humana. Estamos preocupados. A maioria das pessoas com caso confirmado de infecção pela Mers-CoV desenvolveu doença respiratória aguda grave. Elas tiveram febre, tosse, falta de ar e algumas vezes diarreia, e cerca de 30% morreram. Além disso, o vírus pode se propagar de pessoa para pessoa através do contato próximo – como cuidar ou conviver com uma pessoa infectada. Reconhecemos o potencial de o vírus se espalhar ainda mais e causar novos casos no mundo”, explica o porta-voz do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), Jason McDonald.

Apesar de nenhum caso ter sido identificado no Brasil até o momento, os profissionais de saúde do país estão sendo orientados pelo Ministério da Saúde sobre a nova doença e seus sintomas. “Estamos de olho em dois vírus importantes para a saúde mundial nesse momento, o H7N9 – um vírus influenza encontrado na China –, e o coronavírus da Mers-CoV. Há preocupação mundial para vigilância sanitária”, conta a médica infectologista e professora de Medicina na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Nancy Bellei.


Na última semana de abril, o mais recente caso da doença foi diagnosticado em um homem nos Estados Unidos, depois de ter retornado de uma viagem para a região da Arábia Saudita. De acordo com a OMS, outros países que já apresentaram casos da síndrome foram França, Alemanha, Itália, Jordânia, Qatar, Tunísia, Emirados Árabes e Reino Unido. Em todos os casos, porém, houve algum contato dos infectados (direta ou indiretamente) com pessoas provenientes de países do Oriente Médio.

Por exemplo, na França, Itália, Tunísia e Reino Unido, houve casos em que pessoas não viajaram para a região mais afetada, mas tiveram algum tipo de contato com alguém doente ou que provavelmente carregava o vírus no corpo. Em relação a este fator, o número de médicos e enfermeiros diagnosticados com a doença é bastante alto.

O porta-voz da OMS em Genebra, na Suíça, Tarik Jasarevic, disse ao Terra que "até agora,  não há nenhuma evidência de transmissão entre seres humanos, e o padrão de transmissão global manteve-se inalterado”. "Até descobrirmos como o vírus é transmitido aos seres humanos, e com viagens cada vez mais frequentes, estamos propensos a ver mais casos espalhados para outros países. (...) Apesar do recente aumento nos números a evidência atual não sugere uma mudança significativa na transmissibilidade do vírus", afirmou Jasarevic.

Ainda há poucas respostas

Por ser uma doença relativamente nova, os profissionais da saúde não têm muitas respostas importantes sobre o problema, como, por exemplo, sua origem. Alguns testes realizados deram positivos apontando os dromedários como uma suposta fonte primária do vírus. Mas ainda é cedo para afirmar se isto implica, necessariamente, que camelos estejam diretamente na cadeia de transmissão para os seres humanos. “A epidemiologia ainda não está clara, então só podemos dizer que foi encontrado o vírus em camelos. Outros animais não foram citados”, afirma a infectologista.

Apesar de ainda não haver citações na literatura médica sobre outros animais que possam encubar o vírus, Jason McDonald, explicou ao Terra que isto é “concebível”. “Coronavírus é um vírus comum que as pessoas adquirem durante a vida. Eles são divididos em alfa, beta e gama – e possivelmente, em breve, haverá uma nova categoria chamada delta –, e foram primeiramente encontrados em 1960. Há cinco tipos [de coronavírus] e parte deles é encontrada em apenas uma espécie de animal ou em um pequeno número de espécies. Mas há exceções, como a Sars – Síndrome Respiratória Aguda Grave –, que atinge humanos, macacos, gambás, cães, guaxinins, gatos e roedores”, disse. Por isso, é possível que a Mers seja identificada futuramente em outros animais – além dos camelos.

Para encontrar respostas, a OMS está trabalhando com agências parceiras, com experiência em saúde animal e segurança alimentar, incluindo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), entre oturas autoridades. Diversas equipes técnicas estão envolvidas, oferecendo conhecimentos para ajudar os ministérios responsáveis pela saúde humana, animal, de alimentos e agricultura neste caso.

Ainda de acordo com McDonald, o vírus “corona” recebe este nome por possuir superfície rugosa, cheia de picos, semelhante a uma coroa, explica o porta-voz do CDC americano.

Ausência de tratamento e prevenção específicos

Assim como outras doenças transmitidas por propagação viral, a Mers-CoV também é espalhada pelo ar. Portanto, o contato próximo a secreções de alguém doente – tais como em espirro, tosse, beijo e uso de mesmos talheres – é a causa de 60% dos casos já diagnosticados nestes dois anos. Desta forma, o risco de propagação é maior em ambientes fechados – ou que tenham aglomerações de pessoas.

Somando-se a estes fatores, a Mers ainda não possui nenhum tipo de tratamento ou prevenção eficaz, apenas o comum a outros tipos de doenças respiratórias. “A melhor forma de prevenir é mantendo a etiqueta comum de outras doenças, como a gripe”, ressalta a médica Nancy Bellei. Tal higiene, como também lembra McDonald, pode se valer de:

- lavar bem as mãos com água e sabonete por, pelo menos, 20 segundos;
- tampar o nariz e a boca ao tossir ou espirrar;
- evitar encostar as mãos nos olhos, nariz e boca com as mãos sujas;
- evitar contato com secreções de pessoas doentes;
- lavar e desinfetar superfícies onde haja bastante contato como brinquedos e maçanetas.

Preocupação com a Copa

Diante de uma doença com potencial surto global e de alta taxa de mortalidade que não possui vacinas ou medicamentos eficazes para seu tratamento, deveríamos nos preocupar com a Mers-CoV aqui no Brasil, especialmente com a chegada da Copa, mesmo sem termos registrados casos? De acordo com a porta-voz do Ministério da Saúde, Amanda Mendes, não há, no caso de Mers-CoV, uma medida específica a ser adotada.

 “O Ministério acompanha o curso da epidemia por meio de informações restritas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Especificamente sobre a Mers-CoV, o Ministério da Saúde repassa as orientações aos profissionais de saúde com as novas recomendações de tratamento dos pacientes com sintomas de coronavírus”, explica Mendes.

Ainda segundo o Ministério, desde 2011, juntamente com outros setores do Governo Federal, o órgão realiza uma série de ações visando aprimorar detecção, monitoramento e resposta a qualquer evento de saúde pública que possa ocorrer relacionado à Copa do Mundo, como reuniões, capacitações, publicações de normas técnicas e regulamentações e desenvolvimento de estratégias para o aprimoramento da comunicação e vigilância. “O Brasil possui tradição na realização de eventos de massa, como Jogos Mundiais Militares, Rio +20, Copa das Confederações e Jornada Mundial da Juventude; recebemos milhares de viajantes e nenhum evento de relevância internacional foi identificado”, completa.

A médica infectologista da Unifesp também é descrente em relação a um grande problema ligando a Mers à realização da Copa em nosso país, mas ressalta que cuidado e atenção são necessários. “É claro que, com a questão da Copa, ficamos mais preocupados, mas isso talvez tivesse um maior significado se um número muito grande de pessoas da Arábia Saudita, por exemplo, ou de outros países mais afetados, viesse para o Brasil e, ainda, que parte delas estivesse doente. Acho difícil alguém viajar estando infectado pela Mers”, argumenta Bellei. “Acho que o risco de transmissão em nosso país é bastante baixo, mas é maior durante a Copa”, completou.

Outro alerta que a médica dá é em relação aos cuidados com a saúde durante a Copa, que acontecerá em junho, período do ano em que muitas pessoas ficam doentes infectadas pelo vírus da gripe, que também causa tosse e mal-estar. “Neste caso, se tivermos um doente com quadro mais grave, ele deverá ser internado e aí os médicos seguirão um procedimento de diagnóstico e tratamento – o que pode ser feito é o isolamento (mas isso já acontece com outras síndromes respiratórias), para que não haja falha de transmissão”, afirma.

O porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, lembrou que a prevenção e controle de infecção medidas são fundamentais para evitar a propagação de Mers-CoV em instalações de cuidados de saúde. E afirmou que a organização não faz atualmente a aplicação de quaisquer viagens ou restrições comerciais, nem indicação em aeroportos e locais públicos. "Não indicamos restrições de viagens, incluindo a próxima peregrinação à Meca na Arábia Saudita", disse.

Mers não é Sars

No começo da descoberta da Mers-CoV, em 2012, – e mesmo hoje – algumas características semelhantes entre as duas síndromes confundiram não só leigos, mas também alguns profissionais de saúde.

Para começar, as duas infecções são causadas por coronavírus. Além disso, elas possuem taxa de mortalidade elevada, infectados com idade média entre 30 e 50 anos, as duas provocam problemas respiratórios, como pneumonia ou insuficiência respiratória – e necessidade de uso de aparelhos para respiração de pacientes graves.

Porém, de acordo com a infectologista, os vírus das duas síndromes não possuem proximidade genética e a Sars demonstrou ser muito mais transmissível entre humanos. A Síndrome Respiratória Aguda Grave – que se espalhou em maiores proporções – apresentou mais de 8 mil casos em seis meses; já a Mers tem um número inferior a 400 casos em menos de dois anos.

Por último, a Sars tinha origem em morcegos e vespas. No caso da Mers, foi apontado o camelo, mas ainda há estudos sobre isso.

Perspectivas

Apesar do número de casos confirmados não serem considerados grandes, a gravidade da Síndrome Respiratória do Oriente Médio é alta, principalmente, pela taxa de mortalidade. Por sua urgência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) está trabalhando junto de outras instituições internacionais de saúde para conseguir evidências científicas que possam levar ao melhor entendimento do vírus e, por sua vez, repassar as informações para os países. Para tanto, a primeira reunião global entre autoridades de saúde foi realizada em janeiro de 2013, seguida de outras em junho e julho.

A OMS trabalha especialmente nas áreas mais afetadas e com os parceiros internacionais para coordenar a resposta da saúde global, incluindo o fornecimento de informações atualizadas sobre a situação da doença no mundo, orientações para as autoridades de saúde e agências de saúde, informações técnicas sobre recomendações de vigilância, testes laboratoriais, controle de infecção e gestão de clínicas.

Para a médica Nancy Bellei, é improvável que estejam sendo feitos estudos para criação de vacina. “É algo muito longo. Porém, estudos de medicamentos sempre acontecem, são feitos de forma muito diferente. Por isso, acredito que algo neste sentido seja preparado para este coronavírus. Mas não tem nada de muito promissor neste momento”, afirma.

No entanto, apesar da gravidade do caso, o Brasil ainda tem um nível baixo de perigo em transmissões – lembrando que a OMS nem chegou a recomendar restrições como cancelamento de viagens, etc. Desta forma, mesmo sendo pouco provável que alguém seja infectado pela síndrome, o porta-voz do Centro de Prevenção americano, Jason McDonald, lembra que é caso de consultar um médico pessoas que tiverem os sintomas (tosse, mal-estar, diarreia) acompanhados de desconforto respiratório leve ou agudo. “Isto, especialmente, se viajou para a Península Arábica no prazo de 14 dias do início dos sintomas”, lembra.

Assim como outras doenças, a Mers poderá ser melhor avaliada e tratada com os devidos cuidados pelos profissionais de saúde que, basicamente, irão hidratar os pacientes e oferecer oxigenoterapia (oxigênio por aparelhos)
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