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5.15.2014

'Vai muito além da sexualidade', diz Wagner Moura sobre 'Praia do Futuro'


Ator fala sobre complexidade de personagem em filme de Karim Aïnouz.
Ao G1, ele comenta série de TV com José Padilha e experiência nos EUA.

Fabiana de Carvalho Do G1, em São Paulo
Wagner Moura em cena de 'Praia do Futuro' (Foto: Divulgação) 
Wagner Moura em cena de 'Praia do Futuro' (Foto: Divulgação)
A maratona de eventos e entrevistas no lançamento de "Praia do Futuro" não parecem cansar o sempre atencioso Wagner Moura. Após uma entrevista coletiva, da qual também participaram o diretor Karim Aïnouz, os atores Jesuíta Barbosa e Clemens Schick e a produtora Georgia Costa Araújo, e entrevistas individuais com diversos jornalistas, o ator garante que ainda gosta de participar da promoção do filme. "Essa hora é engraçada, né? Porque a gente aprende a falar do filme. As pessoas te perguntam alguma coisa e você pensa 'é, não tinha pensado nisso'. É legal pra refletir também", justifica ao G1.
Em "Praia do Futuro", que estreia nesta quinta (15), Moura faz o papel de Donato, um salva-vidas na praia que dá nome ao filme. Após conhecer Konrad (Schick), a quem salva de um afogamento, ele deixa tudo para trás e vai viver em Berlim. Oito anos depois, é confrontado pelo irmão mais novo, Ayrton (Barbosa), que vai à Alemanha cobrar respostas pelo abandono.

Para o ator, o trabalho é a concretização de um desejo antigo, o de ser dirigido por Aïnouz, roteirista de dois filmes em que atuou. “Eu perseguia o Karim, sou louco por ele”, conta, antes de confirmar que tem planos para repetir a parceria.

Difícil, porém, pode ser encontrar tempo. Ainda este ano Wagner Moura será visto em mais dois filmes, “Trash”, de Stephen Daldry, e “Rio, eu te amo”, em um segmento dirigido por José Padilha. E é também com o diretor de “Tropa de elite” que ele volta à TV em 2015, em uma série sobre o traficante colombiano Pablo Escobar, com gravações marcadas para julho. Além disso, a dupla ainda pretende fazer um filme sobre a tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. A lista de projetos do ator inclui ainda um filme sobre o palhaço Bozo e sua estreia como diretor em um projeto ambicioso, um filme “grande e caro” sobre Carlos Marighella, uma das figuras centrais na luta contra a ditadura militar.

Leia a seguir a entrevista do ator ao G1.
Jesuita Barbosa, Wagner Moura e Clemens Schick em cena de 'Praia do Futuro' (Foto: Divulgação/Alexandre Ermel) 
Clemens Schick, Wagner Moura e Jesuíta Barboba
em cena de 'Praia do Futuro' (Foto: Divulgação
/Alexandre Ermel)
G1 – Donato é um personagem complexo, mas você mesmo diz que, por ser um ator popular, sabe que muita gente vai se prender ao fato de você interpretar um homossexual. Essa interpretação simplista te incomoda?
Wagner Moura -
É que é muito mais do que isso, né? Acho uma pena se for assim, ‘ah, o filme do cara que foi ser gay em paz’. A sexualidade é uma coisa importante no filme, ele ser um cara que se apaixona por outro e tal. Mas é muito além disso. Poderia, inclusive, ser por uma mulher. O ponto é ele largar tudo e, especialmente, largar o menino (o irmão). Mas é que agora virou uma moda, né? Fico ouvindo as perguntas assim: ‘e agora, e o beijo gay das meninas na novela? E o beijo gay que teve e não sei o que lá...’. Beleza, cara, mas pô, não é meio chato tudo isso?
G1 – Você diz também que deixar o irmão para trás foi o mais difícil pra você, em termos de entender o Donato. E que, na verdade, ainda hoje não o entende completamente.
Wagner Moura -
O ator fica achando que tem que entender o personagem. Completamente. E saber tudo, todas as motivações. Mas a gente faz coisas que não sabe porque faz. E quando eu me dei conta disso pensei ‘cara, que burrice! Acho que eu sou um ator antigo’. O Donato não tem clareza das coisas, você o entende muito mais pelo que ele faz do que pelo que ele diz. Ele não consegue explicar, tanto que quando briga com o Konrad diz aquilo de ‘você acha que é só você aqui e aqui’, batendo no peito e na cabeça. São discursos que não são claros. Mas aí ele vai nadar, vai dançar...as ações dizem muito mais.
G1 – Você tinha vontade de fazer um filme do Karim há muito tempo. Por que?
Wagner Moura -
Ah, o Karim é foda, cara! Ele é muito bom. É muito bom diretor e é uma pessoa muito vibrante. Ele escreveu “Abril despedaçado” e “Cidade baixa”, em que eu atuei, e dirigiu o Lázaro em “Madame Satã”, então a gente era meio próximo...mas como diretor não tinha rolado ainda. Aí eu vi “O céu de Sueli”, depois eu vi “Viajo porque preciso, volto porque te amo” – você viu? E eu falei ‘que porra é essa? Eu tenho que trabalhar com esse cara!’. Aquele filme é muito lindo, né?
No fundo é tudo igual. É tudo cinema. Uns com mais dinheiro...mas, na hora do vamos ver, é ligar a câmera e botar os atores pra falar."
Wagner Moura
G1 – E se ambos queriam essa parceria, por que ela demorou anos para ser concretizada? Vocês estavam à espera do personagem certo?
Wagner Moura -
Ah, não sei se ele tá sendo muito generoso. Não sei se ele queria trabalhar comigo (risos). Eu tinha muita vontade de trabalhar com ele. Mas, quando eu comecei a assediá-lo, a gente começou a falar de outros projetos. Ele deu uma segurada no ‘Praia’. Ele não sabia se eu era o cara pro ‘Praia’, eu acho. Acho que ele ficou me sacando...aí eu fui pra Berlim com o ‘Tropa de elite’ e a gente se encontrou, ele me apresentou o Clemens lá. Só aí ele decidiu me chamar. Mas eu adoro ele, olha como ele é louco, olha (aponta Karim, que está sendo entrevistado por uma equipe de TV).
G1 – Sua última novela (“Paraíso tropical”) foi em 2007, desde então você tem feito só cinema. Ainda há espaço para TV na sua carreira?
Wagner Moura -
Eu vou fazer televisão! É uma série, mas é TV, né? Vou fazer agora a série do José Padilha pra Netflix, chamada ‘Narcos’. As duas primeiras temporadas serão sobre Pablo Escobar e o papel é meu. Então eu vou fazer essas duas, que serão na Colômbia. As gravações começam em julho.
G1 – Em ‘Praia do Futuro’ você fala um pouco de alemão. Em ‘Elysium’ atuou em inglês. Qual a principal dificuldade ao ter que se expressar em outras línguas?
Wagner Moura –
O ‘Praia’ foi bem mais complicado. Eu só conseguia dizer o que tava no texto mesmo, não conseguia improvisar em alemão. Mas não tinha muitas cenas em que eu falava alemão. E as que eu tinha o Karim cortou (risos). No ‘Elysium’ foi mais fácil por ser inglês. Mas eu vou fazer a série agora em espanhol e eu sei menos espanhol do que inglês (risos). Estou aprendendo ainda.
G1 – Você já fez filmes totalmente brasileiros, um filme em Hollywood, um aqui com atores estrangeiros (o inédito ‘Trash’) e agora um filme brasileiro na Alemanha. Como você compara as experiências?
Wagner Moura -
Olha, fora do Brasil eu tive duas experiências só. E muito diferentes. O ‘Elysium’, que era um blockbuster gigantesco, e o ‘Praia’ que é um filme pequeno, feito na Alemanha. No fundo...é tudo igual. É tudo cinema. Uns com mais dinheiro...mas, na hora do vamos ver, é ligar a câmera e botar os atores pra falar.
Wagner Moura e Matt Damon em cena de 'Elysium' (Foto: Divulgação)Wagner Moura e Matt Damon em cena de 'Elysium'
(Foto: Divulgação)
G1 – E como você foi recebido em Hollywood quando foi fazer o ‘Elysium’?
Wagner Moura –
Acho assim, se esses caras me chamaram, me cataram aqui no Brasil pra eu ir fazer, sendo que tem 50 bilhões de atores latinos em Hollywood querendo trabalhar... Se o cara veio ao Brasil me buscar então é comigo mesmo, né? Alguma coisa ele quer aí, que eu não seja simplesmente mais um. Mas, nessa história de Hollywood, acho que o Rodrigo Santoro ajudou muito. Ele tem uma coisa muito legal, é o pioneiro entre atores jovens latino americanos. O Rodrigo, o Gael (Garcia Bernal), o Diego (Luna), acho que o Edgar Ramirez também. E eu conversei com o Rodrigo um tempo atrás.  Ele não tem essa dificuldade que eu tenho de fazer um filme em outra língua. Ele não tem mais. Acho, inclusive, que já filmou mais em inglês do que em português. A Alice (Braga) também. E a cada filme ele bota ali mais um tijolo na carreira internacional.

G1 – E qual deve ser seu próximo filme? As gravações da série vão interferir nos seus planos para cinema?
Wagner Moura –
Não sei...o Zé (Padilha) tem um projeto, entre as duas temporadas de ‘Narcos’ ele quer fazer um filme chamado ‘Tríplice fronteira’. A Kathryn Bigelow (de ‘Guerra ao terror’) também quer, mas acho que o Zé vai chegar na frente. E o Dani Rezende tem o projeto do filme do Bozo. Eu tenho que ver qual deles vou conseguir encaixar entre uma temporada e outra da série. Quero fazer os dois, mas nesses seis meses não vai dar. Um deles vai ter que ficar pra sei lá quando.
G1 – E o filme sobre Carlos Marighella que você pretende dirigir, há alguma previsão?
Wagner Moura –
‘Marighella’ é um projeto meu mesmo. Só que é um filme muito grande, muito caro. O Felipe Braga tá escrevendo o roteiro, devemos ter um primeiro tratamento agora em maio. A O2 tá produzindo. Mas é um processo...ainda não tem nada de elenco nem nada. Vou filmar em 2016, não posso pensar nisso agora. E eu tenho que fazer com muita calma, afinal é meu primeiro filme.

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