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8.31.2014

A cabeça da cultura do funk


Central vira palco de passinho e corte de cabelo coletivo, que esculpiu de paisagem a juras de amor


Gabriel Sabóia
Rio - Eles carregam a arte ‘nas veias’ e mantêm viva a chama de uma tradição secular. Embalados pela moda funk na era das batalhas de passinho, cresce uma nova geração de barbeiros nas comunidades cariocas. Com as navalhas em punho e a criatividade sem limites, jovens fazem das cabeças dos dançarinos verdadeiras obras de arte e começam a faturar alto. Afinal, especialistas garantem: para um funkeiro que se preze, tão importante quanto a performance coreográfica durante as competições é o estilo com que se apresenta.

Apresentação para divulgar o Rio Parada Funk, que acontece em setembro, reuniu na Central do Brasil 50 bailarinos do passinho, que evoluiram ao som de ‘O Barbeiro
Foto:  Fabio Gonçalves / Agência O Dia

“Os cabelos desenhados e pintados compõem a ideologia do funk. O cabelo reflete a personalidade do dançarino, ajuda no julgamento das batalhas de passinho e enche os olhos da mulherada nos bailes”, afirma o barbeiro Eric Silva, de 21 anos, no ramo desde os 17. Morador da Cidade de Deus, ele foi um dos 20 designers (como gostam de ser chamados) que “expuseram sua arte” gratuitamente, ontem, na Central do Brasil, em evento de divulgação para o Rio Parada Funk, que acontece dia 14, na Praça da Apoetose.
“Sou apaixonado pelo ritmo. Quando percebi que não levava jeito para a dança, corri para outro caminho”, explicou Eric, que aprendeu o ofício em um projeto social e hoje se orgulha de fazer a cabeça de funkeiros famosos.

E aproveitando a ‘febre’ que se tornaram nas comunidades, os rapazes têm enchido seus cofres. “Como é feito com navalha, um corte tem validade média de 10 dias. Depois disso é necessário retoque. Tenho clientes que voltam ao salão três vezes por mês, ao custo de R$ 20 a cada ida”, explica Johnatan Salgado, dono de um salão no Complexo do Alemão, que diz já ter ‘esculpido’ declarações de amor e até paisagens e ostenta troféus de batalhas de barbeiros, em que um júri elege o melhor corte de um baile.

Para o produtor musical especializado em funk Pedro Croata, o modismo reflete a característica do funk como manifestação cultural. “A ideologia que envolve vestimenta, dança e comportamento. Somos todos profissionais do mesmo ramo”, salienta.


Performance feita na navalha e ao som de ‘O Barbeiro de Sevilha’


Barbeiro há 54 anos, Sérgio Esgarbe, 82, dono de um salão na Lapa, vê com simpatia as técnicas, pelas quais temeu a extinção, serem perpetuadas pela nova geração. “Pensei que era um ofício com os dias contados. Por que não inovar?”, disse ele, que ressalta a importância da higiene e da troca de lâminas a cada corte.

No fio da navalha: cabelo ajuda no julgamento das batalhas de passinho e atrai os olhares femininos
Foto:  Fabio Gonçalves / Agência O Dia

“O ideal é juntar todas em uma garrafa PET vazia para então descartá-las. Assim evita que o lixeiro se fira”, ensina.
Em sua quarta edição, esta será a primeira vez que a Rio Parada Funk fará parte do Calendário Oficial Cultural do Rio de Janeiro. No ano passado, o prefeito Eduardo Paes sancionou a lei 5.625, que decreta todo segundo domingo de setembro como a data oficial do funk na cidade. Das 40 mil pessoas esperadas para o evento, 15 mil já retiraram seus convites, gratuitamente, no site www.rioparadafunk.com.br/blog.
Além do corte coletivo de cabelos, na tarde de ontem, a Central do Brasil foi palco de uma apresentação atípica de passinho. O ritmo marcado pelo improviso e pela influência de passos de vários estilos musicais ganhou uma coreografia fixa, montada pelas bailarinas Débora e Raquel Polistchuck.
A apresentação de cinco minutos, contou com 50 dançarinos que dançaram ao som de uma adaptação da ópera ‘O Barbeiro de Sevilha’ (a escolha do nome foi intencional, sim) e reuniu uma multidão de curiosos.

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