Musicoterapia estimula áreas do cérebro bloqueadas por doenças, traz de volta boas lembranças e recupera a alegria
Rio - A alma é mesmo a primeira a
sentir os benefícios da música. Depois dela, no ritmo da melodia, o
cérebro e todo o resto do corpo passam por importantes transformações. A
musicoterapia realizada com idosos, além de encantá-los, atinge áreas
cerebrais bloqueadas por doenças como o Mal de Alzheimer e melhora a
autoestima, o humor e as funções cognitivas, segundo médicos.
Todas as terças-feiras, a musicista
Sula Kossats busca resgatar memórias que emocionem e tragam ânimo para
quem aparentemente já conquistou tudo o que podia na vida. Na Ararate,
residência assistida para terceira idade, em Camboinhas, Niterói, os
idosos reaprendem a usar o corpo e a mente. Para isso, Sula usa uma
caixa de som e abusa de carinho. “Trago músicas clássicas e populares de
várias partes do mundo. Brinco que são bailarinos. É perceptível como o
humor muda.” Entre eles, o relacionamento melhorou. Conversam mais
entre si e brigam menos, revela a especialista. Bolas, pesinhos de areia
e elásticos também ajudam a fortalecer os músculos.
E não é só a pianista que notou a diferença. O
geriatra Heider Scudieri garante que a música influencia o cotidiano dos
pacientes. “Desde que o trabalho começou, há dois meses, eles se
alimentam e dormem melhor, e também estão mais dispostos ”, afirma. A
atividade, segundo ele, previne o estresse, as crises de ansiedade e
pressão alta, a depressão e o próprio Mal de Alzheimer.
Os resultados são muito rápidos. Em menos de dois meses eles já têm alguns avanços
Heider Scudieri, geriatra
O médico explica que isso acontece
porque a música é capaz de ‘estimular’ a produção de neurotransmissores,
como a serotonina, que regula o sono e o apetite, e a endorfina, que
melhora o humor e a disposição. “Baseado em estudos recentes, a terapia
musical com os mais velhos é uma das terapias complementares mais
importantes. Ela traz boas lembranças, boas perspectivas”, defende.
Ao som de ‘Brasil/ Meu Brasil
brasileiro/ Meu mulato inzoneiro / Vou cantar-te nos meus versos,’
trechos da eternizada ‘Aquarela do Brasil’, composta por Ary Barroso em
1939, Dalila Cidade, prestes a comemorar seus 103 anos, faz os
exercícios enquanto busca na memória algumas saudades. “Sambas são meus
favoritos. Quando era jovem e trabalhava como secretária de políticos
importantes, adorava dançar nos cassinos”, relembra a centenária, com
sorriso nos lábios pintados de batom.
Sem mau humor
Diagnosticado com Alzheimer, Antônio Carlos Atarian, 76 anos, quase não falava com ninguém e dizia que queria morrer. Os funcionários da casa e Sula já perceberam que depois das sessões, o discurso mudou. Hoje ele diz literalmente que quer viver, sempre aceita participar das atividades e conversa com todos.
Nem a presença da equipe do DIA ou a ‘aula’ no jardim, em vez de dentro da casa, incomodou Antônio, que antes era sisudo. Ao ser questionado se aceitava participar da atividade na parte externa, concordou de cara. “Por mim, tudo bem.”
A professora aposentada de História e Sociologia Hebe Araújo, 90, é apaixonada por livros e valsas. “Gosto muito quando ela vem. A música traz recordações prazerosas. A valsa e o samba, quando têm letras bonitas, me emocionam muito,” conta.
Reportagem de Isabela Borges
Considero esse trabalho vital para a saúde física e mental dos residentes.
ResponderExcluirA alegria e a memória sempre são ativadas nesses encontros, melhorando o convívio entre os residentes, assim, como concorre para o bem estar dos participantes.
Simplesmente maravilhoso!