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11.03.2014

Diagnóstico errado atrasa tratamento TDAH

Alguns sintomas que indicam TDAH na criança podem, na verdade, ser de outras doenças

Beatriz Salomão


Rio - A existência do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) não é novidade. E o comportamento de crianças com o mal também é conhecido. Mas especialistas alertam que nem todos os pequenos ‘diagnosticados’ têm realmente TDAH. 

É preciso identificar a real necessidade que os pacientes têm de tomar remédios
Foto:  Divulgação



De acordo com o psiquiatra infantil Fábio Barbirato, da Associação Brasileira de Psiquiatria, desatenção, hiperatividade e impulsividade podem estar presentes também em depressão, ansiedade, doenças neurológicas, Transtorno do Espectro Autista, retardo mental, Transtorno do Humor Bipolar e dislexia.

Barbirato alerta que cabe ao psiquiatra fazer a diferenciação. Por exemplo, crianças com dislexia podem ter falta de atenção pela dificuldade em interpretar o que leem. No TDAH, diz, atividades de leitura não se alteram enquanto houver possibilidade de manter a atenção. “Na dislexia, a criança não precisa de remédio, mas de um fonoaudiólogo”, explica.

Ainda segundo ele, crianças autistas têm dificuldade em lidar com mudanças e, por isso, podem ter irritabilidade. No TDAH, a impulsividade se dá pela dificuldade de autocontrole, que leva a comportamentos irritáveis.
Em alguns casos, falta de atenção pode ser depressão. “A criança deprimida não tem interesse nem para brincar, por isso fica dispersa na aula”, explica.
Segundo Barbirato, o maior dano do erro no diagnóstico não é a medicação desnecessária, mas o tratamento que será errado e adiado. “Criança com autismo não tratada pode ter problema de sociabilização. Na dislexia sem tratamento, o risco de evasão escolar é maior”, afirma.

Pais têm como tirar dúvidas
O TDAH será um dos assuntos abordados no 2º Congresso Brasileiro de Psiquiatria da Infância e Adolescência, que acontece nos dias 5 e 6 de dezembro. Além do debate de temas relevantes para profissionais de saúde, o evento terá atividades para os responsáveis. Eles assistirão a palestras e poderão tirar dúvidas com especialistas em psiquiatria infantil. São 150 vagas e o preço para os dois dias de oficinas é R$ 80.

Com o tema ‘Modernidade, Ciência e Mitos em Psiquiatria da Infância e Adolescência’, o congresso será no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, em Botafogo. Informações: simposiocomportamento@gmail.com. 

O que é TDAH?

O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um problema de desatenção, hiperatividade, impulsividade ou uma combinação destes. Para que esses problemas recebam um diagnóstico de TDAH, eles devem se apresentar fora de um limite normal para a idade e o desenvolvimento da criança.
tdah - Foto: Getty Images
Cérebro de uma pessoa com TDAH pode ser diferente do normal

Sinônimos

Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, TDA, Hipercinesia infantil

Causas

O TDAH é o transtorno comportamental infantil mais frequentemente diagnosticado. Ele afeta aproximadamente de 3 a 5% de crianças em idade escolar. O TDAH é diagnosticado muito mais frequentemente em meninos do que em meninas.

O TDAH pode ser herdado geneticamente, mas sua causa não é clara. Independentemente da causa, ele parece se estabelecer cedo na vida da criança, enquanto o cérebro está se desenvolvendo. Estudos de imagem sugerem que o cérebro de uma criança com TDAH é diferente do de uma criança normal.
Depressão, falta de sono, incapacidade de aprender, transtornos de tique e problemas comportamentais podem ser confundidos com TDAH. Todas as crianças com suspeita de sofrerem de TDAH devem ser examinadas com cuidado por um médico para verificar se há outros problemas ou motivos para o comportamento.
A maioria das crianças com TDAH também sofre de pelo menos um outro problema de comportamento ou de desenvolvimento. Ainda podem apresentar um problema psiquiátrico, como depressão ou transtorno bipolar.
TDAH: falta de atenção e hiperatividade prejudicam capacidade de aprendizado de pacientes

Exames

Com muita frequência, crianças difíceis são incorretamente rotuladas com TDAH. Por outro lado, muitas crianças que sofrem do TDAH permanecem sem o diagnóstico. Em ambos os casos, problemas de aprendizado e de humor são ignorados com frequência. A American Academy of Pediatrics (AAP) traçou diretrizes para trazer mais luz a esse assunto.
O diagnóstico é baseado em sintomas muito específicos, que devem estar presentes em mais de um ambiente.

  • As crianças devem apresentar pelo menos seis sintomas de desatenção ou seis sintomas de hiperatividade/impulsividade antes dos 7 anos.
  • Os sintomas devem estar presentes pelo menos há seis meses, ocorridos em dois ou mais ambientes e não serem provocados por outro motivo.
  • Os sintomas devem ser graves o suficiente para resultar em dificuldades significativas em muitos ambientes, inclusive em casa, na escola e no relacionamento com os demais.
Em crianças mais velhas, o TDAH encontra-se em remissão parcial quando elas ainda têm os sintomas, mas não se enquadram mais totalmente na definição do transtorno.
Se houver suspeita de TDAH, a criança deve passar por uma avaliação médica. A avaliação pode consistir em:

  • Questionários para pais e professores
  • Avaliação psicológica da criança E da família, incluindo testes de QI e psicológicos
  • Exames completos mentais, nutricionais, físicos, psicossociais e de desenvolvimento

Sintomas

Sintomas de TDAH

Os sintomas de TDAH se dividem em três grupos:

  • Falta de atenção (desatenção)
  • Hiperatividade
  • Comportamento impulsivo (impulsividade)
Algumas crianças com TDAH são primariamente do tipo desatento. Outras podem ter uma combinação de tipos. As que sofrem do tipo desatento são menos perturbadas e muitas vezes não recebem o diagnóstico de TDAH.

Sintomas de desatentos

  • Não consegue prestar atenção em detalhes ou comete erros resultantes de descuidos no trabalho escolar
  • Tem dificuldade de manter a atenção nas tarefas ou em jogos
  • Parece não escutar quando falamos diretamente com ela
  • Não segue as instruções completamente e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres
  • Tem dificuldade de organizar tarefas e atividades
  • Evita ou não gosta de tarefas que demandem manter esforço mental (como trabalhos escolares)
  • Seguidamente perde brinquedos, trabalhos, lápis, livros ou ferramentas necessárias para tarefas ou atividades
  • Distrai-se facilmente
  • Frequentemente, tem problemas de memória em atividades cotidianas
Sintomas de hiperatividade:

  • Mexe as mãos e o pés o tempo todo e se retorce na cadeira
  • Levanta-se quando deve permanecer sentado
  • Corre ou sobe em móveis em situações inapropriadas
  • Tem dificuldade de brincar em silêncio
  • Parece frequentemente estar "ligada na tomada" e fala excessivamente
Sintomas de impulsividade:

  • Fala antes que as perguntas sejam completadas
  • Tem dificuldade de aguardar a vez
  • Interrompe ou se intromete entre os outros (se mete em conversas e jogos)

Buscando ajuda médica

Procure seu médico caso você ou a escola do seu filho suspeitem que ele sofra de TDAH. Informe seu médico sobre quaisquer:
  • Dificuldades em casa, na escola ou no relacionamento com os colegas
  • Efeitos colaterais da medicação
  • Sinais de depressão

Tratamento de TDAH

O tratamento para TDAH é uma parceria entre médico, pais ou responsáveis e a criança. Para a terapia ter sucesso, é importante:

  • Definir objetivos específicos e apropriados para guiar a terapia.
  • Começar com os medicamentos e a terapia comportamental.
  • Fazer acompanhamento regular com o médico para verificar objetivos, resultados e quaisquer efeitos colaterais dos medicamentos. Durante esses check-ups, devem ser coletados dados de pais, professores e da criança.
Se o tratamento parecer não funcionar, o médico deverá:

  • Certificarse de que a criança tem, de fato, TDAH
  • Verificar se não há outro problema médico possível que possa causar sintomas similares
  • Certificar-se de que o plano de tratamento esteja sendo seguido

Medicamentos

Uma combinação de medicamentos e tratamento comportamental funciona melhor. Existem diversos tipos de medicamentos para TDAH que podem ser usados sozinhos ou em conjunto. Os psicoestimulantes (também conhecidos como estimulantes) são as drogas mais comuns usadas no tratamento do TDAH. Apesar do nome, essas drogas na verdade têm um efeito calmante nos portadores de TDAH.
Essas drogas incluem:

  • Anfetaminadextroanfetamina (Adderall)
  • Dexmetilfenidato (Focalin)
  • Dextroanfetamina (Dexedrine, Dextrostat)
  • Lisdexanfetamina (Vyvanse)
  • Metilfenidato (Ritalina, Concerta, Metadate, Daytrana)
Uma droga não estimulante denominada atomoxetina (Strattera) pode ser tão eficaz quanto os estimulantes, e o risco de uso incorreto é menos provável.
Alguns medicamentos para TDAH têm sido associados à ocorrência rara de morte súbita em crianças com problemas cardíacos. Converse com seu médico sobre o melhor medicamento para seu filho.

Terapia comportamental

Psicoterapia para a criança e a família pode ajudar todos a entender e ter controle sobre sentimentos estressantes relacionados ao TDAH. Os pais devem usar um sistema de recompensa e consequência para ajudar a guiar o comportamento do filho. É importante aprender a lidar com comportamentos desruptivos. Os grupos de apoio podem auxiliar a encontrar outros com problemas parecidos.
Outras dicas para ajudar seu filho com TDAH:

  • Comuniquese regularmente com o professor do seu filho.
  • Mantenha uma programação diária consistente, com hora certa para o tema de casa, para as refeições e para atividades externas. Faça as alterações nessa programação antecipadamente e não em cima da hora
  • Restrinja as distrações no ambiente do seu filho.
  • Cuide para que seu filho siga uma dieta saudável e variada, com muitas fibras e nutrientes básicos.
  • Certifique-se de que seu filho durma o suficiente.
  • Elogie e recompense o bom comportamento.
  • Dê regras claras e consistentes para seu filho.
Tratamentos alternativos para TDAH têm se tornado popular, incluindo ervas, suplementos e manipulação quiroprática. Ainda assim, há pouca ou nenhuma evidência sólida de que funcionam.

Prevenção
Embora não haja maneira comprovada de prevenir o TDAH, quanto mais cedo ele for identificado e tratado, mais problemas associados ao transtorno poderão ser evitados.

Convivendo (prognóstico)

Expectativas

O TDAH é uma doença crônica de longa duração. Se não tratado adequadamente, o TDAH pode provocar:

  • Abuso de álcool e de drogas
  • Fracasso escolar
  • Problemas para manter o emprego
  • Problemas com a lei
Cerca de metade das crianças com TDAH seguirão tendo sintomas problemáticos de desatenção ou impulsividade na idade adulta. Entretanto, os adultos costumam ser mais capazes de controlar o comportamento e mascarar as dificuldades.

Fontes e referências

  • Pliszka S; AACAP Work Group on Quality Issues. Practice parameter for the assessment and treatment of children and adolescents with attention-deficit/hyperactivity disorder. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2007 Jul;46(7):894-921.
  • Prince JB, Spencer TJ, Wilens TE, Biederman J. Pharmacotherapy of attention-deficit/hyperactivity disorder across the life span. In: Stern TA, Rosenbaum JF, Fava M, Biederman J, Rauch SL, eds. Massachusetts General Hospital Comprehensive Clinical Psychiatry. 1st ed. Philadelphia, Pa: Mosby Elsevier; 2008:chap 49.

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