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12.28.2014

Algas tóxicas tingem de verde as águas das lagoas e praia da Barra

Segundo o biólogo Mário Moscatelli, o calor aliado a poluição são os principais causadores do efeito

Stefano Grossi *
A menos de 600 dias para o início das Olimpíadas, as lagoas situadas nos bairros da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, que margeiam o Parque Olímpico e a Vila dos Atletas, apareceram com um aspecto preocupante, causado principalmente pela poluição. A grande vilã do momento são as cianobactérias, uma espécie de microalgas tóxicas, que deixaram as águas das lagoas literalmente tingidas de verde.
As microalgas são levadas pela corrente, e estão avançando pelo Quebra-mar e quase chegando à Praia da Barra.
Segundo o biólogo Mário Moscatelli, todo verão isso acontece devido ao forte calor. Ele destacou ainda que os esgotos despejados servem como alimentos para os micro-organismos se fortalecerem.
Imagem aérea feita por Moscatelli mostra o contraste entre as cores da água na Praia da Barra
Imagem aérea feita por Moscatelli mostra o contraste entre as cores da água na Praia da Barra
“Durante o verão, com alta intensidade luminosa e calor elevado, criam-se as condições para a 'tempestade ambiental perfeita'. Todos os rios da baixada de Jacarepaguá estão mortos e foram transformados em valões de lixo e esgoto pelo crescimento urbano sem infra-estrutura sanitária. Toda essa carga de esgoto lança nas águas do sistema lagunar uma gigantesca quantidade de nutrientes que funciona como um adubo e que, por sua vez, fornece 'alimento' abundante e permanente para os micro-organismos”, comentou o biólogo.
De acordo com Moscatelli, o esgoto e as microalgas estão chegando de maneira muito acelerada ao mar da Barra, e o biólogo alerta sobre os riscos de se banhar nas proximidades.
“Eu diria que nadar ali entre os trechos do Quebra-Mar e do Pepê, na praia da Barra, é muito arriscado. A única maneira de mudar essa situação é parando de despejar esgoto nos rios e lagoas”, alertou.
O biólogo falou ainda que a espécie de bactéria que foi encontrada, chamada de Microcistys Aeruginosa, é altamente nociva ao fígado e pode causar até câncer nos integrantes da fauna local.
Imagem mostra a mancha chegando na Praia do Pepê, na Barra da Tijuca
Imagem mostra a mancha chegando na Praia do Pepê, na Barra da Tijuca
“Entre as diversas cianobactérias, foi identificada a espécie Microcistys aeruginosa que é uma espécie hepatotóxica, isto é, a fauna que vive no sistema lagunar em contato com as cianobactérias tem fortíssima probabilidade de ter danos no fígado e até câncer, o que explica a morte de cerca de meia tonelada de peixes”, avisou Moscatelli.
Mário Moscatelli lamentou o fato de, em julho de 2014, o Ministério Público ter barrado um projeto de recuperação lagunar da Secretaria de Ambiente do Estado. Segundo o biólogo, o MP barrou ações que já haviam sido iniciadas, e proibiu o início das que estavam programadas.
“Um grave problema foi a suspensão no meio do ano de 2014 do projeto de recuperação do sistema lagunar da Secretaria de Ambiente do Estado que iria dragar 5.500.000 metros cúbicos de lama e lixo das lagoas da região. No entanto, o MP resolveu questionar o projeto depois de seu início, solicitando a suspensão das ações que ainda iriam ser iniciadas”, comentou, antes de lembrar que os Jogos Olímpicos terão início a um pouco mais de 16 meses.
Outro fato levantado por Moscatelli é que quando a maré está baixa, a sujeira acaba indo para a Praia da Barra, o que afeta as condições de balneabilidade nos trechos do Quebra-mar e do Pepê. / 11
“Um detalhe perverso dessa situação toda é que, durante o período de maré baixa, toda a podridão lançada nas lagoas acaba sendo extravasada na Praia da Barra, comprometendo a balneabilidade do trecho do Quebra-Mar e do Pepê durante quase todo o ano”, encerrou o biólogo.
Segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a presença das microalgas é monitorada mensalmente pelo instituto, e as lagoas da baía de Jacarepaguá frequentemente apresentam floração de cianobactérias, principalmente durante o verão. O instituto lembrou ainda que monitora a presença das cianobactérias na Praia da Barra duas vezes por semana, e divulga o boletim de balneabilidade para que o banhista não frequente os trechos considerados impróprios.

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