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4.05.2014

QUANDO PROCURAR UM GERIATRA?

Qual o momento certo para procurar um geriatra?

Quem disse que geriatra é médico apenas de idoso? O correto é buscar esta especialidade para você envelhecer bem. Confira!


Até certo tempo o geriatra era visto como médico de "velhos" e por isso mesmo as pessoas resistiam a procurá-lo, parecendo que assim conseguiriam evitar a velhice. Hoje, essa concepção mudou e as consultas a geriatras estão cada vez mais comuns.
O mais importante é entender o papel do geriatra como médico. Esse especialista avalia a saúde além do aspecto tradicional, orientado principalmente para tratamento de doenças. Sua avaliação integra diversos aspectos que impactam diretamente no bem-estar psicossocial, como cognição, afetividade, status funcional, social e espiritual.
Ele é capaz de prevenir, avaliar e tratar doenças dos mais diferentes aparelhos do nosso corpo, pois tem conhecimento geral de cada área da medicina, trabalhando em conjunto e encaminhando os pacientes para os especialistas quando necessário. Preocupa-se, portanto, com todos os aspectos da saúde do idoso, mas de acordo com as particularidades da saúde diante do processo de envelhecimento.
Portanto, todo indivíduo que desejar ter um médico responsável pela sua saúde como um todo e que deseja envelhecer com saúde deve procurar um geriatra independentemente de sua idade.
Qual a função do geriatra?
A função do geriatra é avaliar o paciente sistematicamente abrangendo os aspectos clínico, cognitivo, afetivo, ambiental, social, econômico, espiritual e funcional; identificando problemas já existentes; levando em consideração a integração de todos esses aspectos, a partir dos quais ele vai estabelecer um plano de tratamento e reabilitação para o paciente, bem como uma estratégia para prevenção de complicações futuras.
Ao avaliar o paciente de forma global, é possível promover mudanças visando a melhora da funcionalidade, independência, saúde física e mental, através de modificações no estilo de vida, tratamento específico para doenças orgânicas e recuperação de perdas ou limitações que acarretam em grande impacto na qualidade de vida dos pacientes.
A frequência de visitas a um geriatra varia individualmente, sendo determinada de acordo com a avaliação inicial do paciente, e pode ser alterada no decorrer do acompanhamento.

PESQUISA REVELA QUE APENAS 22% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA TÊM ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

Pesquisa revela que apenas 22% da população brasileira têm alimentação saudável

Mesmo com tanta campanha e tanto esclarecimento, a maioria da população brasileira não consegue ter uma alimentação saudável.

Uma pesquisa divulgada anualmente pelo Ministério da Saúde apontou, em 2013, que apenas 22,7% da população brasileira consomem a quantidade diária de frutas, legumes e verduras recomendada pela Organização Mundial de Saúde: cinco porções ou 400 gramas.
Esse dado, aliado às facilidades do dia a dia e ao crescimento do sedentarismo, tem contribuído para o aumento da obesidade, transformando-a em epidemia mundial. 
A doença já é reconhecida como sério problema de saúde pública, pois afeta, em todo o mundo, um número crescente de pessoas, acarretando graves problemas sociais e de saúde. 
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade já atinge mais de 400 milhões de pessoas em todo o mundo. Dados do Ministério da Saúde mostram que a obesidade atinge 17% da população brasileira. Em 2006, esse dado era de 11%.
Segundo o cirurgião do Núcleo de Gastroenterologia do Hospital Samaritano de São Paulo, Sizenando Ernesto Lima, a obesidade está ligada a um desequilíbrio na alimentação e no consumo excessivo de comida. 
“Além do fator genético, existe o comportamental. Sempre que as pessoas aumentam a ingestão de alimentos e diminuem a atividade física, engordam. O correto é fazer as três principais refeições do dia – café da manhã, almoço e jantar –, intercaladas com pequenas porções de frutas”, orienta.
O médico explica que a obesidade pode ser classificada como leve (IMC entre 30 e 35 kg/m²), moderada (entre 35 e 40kg/m²) e mórbida (acima de 40 kg/m²). Mais perigosa, a mórbida está, na maioria das vezes, associada à hipertensão arterial, diabetes e doenças respiratórias.
Cirurgia bariátrica 
Para esses pacientes, que atingiram o grau de obesidade mórbida, a única alternativa para não correr riscos de morte e voltar a ter uma qualidade de vida é a cirurgia. Atualmente, são realizados no Brasil 80 mil procedimentos por ano.
O preparo para a intervenção leva de dois a seis meses. O especialista explica que devido à alta complexidade, diversos profissionais devem atuar em conjunto antes, durante e depois do procedimento.
O nível de glicemia tem de estar regulado, em caso de diabetes, e muitos pacientes precisam perder 10% do peso antes da cirurgia. A recuperação da cirurgia passa por um período de total aprendizagem. No primeiro mês, o paciente se alimenta exclusivamente de líquidos – água, sucos, gelatina, chá e isotônicos.
Depois, entra a alimentação pastosa que evolui gradativamente para uma consistência cada vez mais próxima do normal. Em cerca de 90 dias o paciente poderá comer praticamente de tudo, devagar e em pequenas porções. Alimentos doces devem ser suprimidos porque provocam dumping – mal-estar acompanhado de náuseas, suor frio e tremedeira – e para evitar ganho de peso.
Mesmo recuperado e se alimentando normalmente, o paciente precisa de acompanhamento para não ter recaídas, com recuperação do peso – além das visitas ao cirurgião, deve participar de reuniões periódicas de apoio com equipe multiprofissional. 
O objetivo é buscar o bem-estar físico e emocional, através da seleção dos alimentos que contenham os nutrientes mais saudáveis e adequados às necessidades de cada indivíduo, para que a rápida perda de peso não leve à desnutrição. Diariamente, e para sempre, o operado tem de tomar um complexo vitamínico e ingerir 100 gramas de carne, para evitar anemia.

Ebola já matou mais de 90 no oeste da África

No Mali, três pessoas estão com suspeitas da doença e foram postas em quarentena

Reuters


Bamaco - Autoridades do Mali disseram ter identificado os primeiros possíveis casos de ebola em seu território desde o início de um surto que já matou mais de 90 pessoas na vizinha Guiné e na Libéria, gerando temores de que a doença pode estar se espalhando pelo oeste da África.
A entidade Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta para o risco de uma epidemia sem precedentes na região, onde há carência de serviços sanitários.

Mineradoras estrangeiras paralisaram suas operações e retiraram parte dos seus funcionários da Guiné. Autoridades sanitárias francesas colocaram médicos e hospitais em alerta para detectar possíveis casos entre pessoas que viajam às ex-colônias.

Hospital Donka, onde vítimas de ebola estão sendo tratadas, em Conakry, na Guiné
Foto:  Reuters

No Mali, três pessoas foram postas em quarentena e tiveram amostras enviadas para exames nos EUA, disse a TV estatal na noite de quinta-feira. Os pacientes sob suspeita já estão se recuperando, e uma equipe de intervenção rápida acompanha a evolução da situação no terreno, segundo a nota das autoridades.
O surto de ebola começou há dois meses na Guiné e já se espalhou para as vizinhas Serra Leoa e Libéria. Gâmbia colocou duas pessoas em quarentena, mas depois anunciou resultados negativos nos exames.
O ministério de Saúde da Guiné disse que mais duas supostas vítimas do vírus morreram, elevando a 86 o total de vítimas no país. A Libéria também relatou mais três mortes entre 14 casos suspeitos, elevando a 7 o total de mortos.
O ebola foi detectado pela primeira vez em 1976 no Zaire (atual República Democrática do Congo), e desde então já matou cerca de 1.500 pessoas. Seu índice de fatalidade é de até 90 por cento, com sintomas que incluem vômitos, diarreia e hemorragias externas.

Casal de sapos faz sexo, ignora o perigo e não vê crocodilo à espreita

Fotógrafo Fahmi Bhs registrou a cena em Jacarta, na Indonésia.
Crocodilo 'xereta' só observou a dupla e não a devorou.

Do G1, em São Paulo
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Durante um passeio fotográfico em Jacarta, na Indonésia, o fotógrafo Fahmi Bhs, de 39 anos, flagrou uma cena espetacular envolvendo uma dupla de sapos "amorosos" que não percebeu que durante o acasalamento, logo atrás, havia um crocodilo à espreita dos dois.
Casal 'apaixonado' de sapos não percebeu crocodilo à espreita logo atrás (Foto: Fahmi Bhs/Solent News)Casal 'apaixonado' de sapos não percebeu crocodilo à espreita logo atrás (Foto: Fahmi Bhs/Solent News)
Bhs contou ao site do jornal britânico "Daily Mail" que havia passado 4 horas fotografando animais na região, quando se deparou com esse momento curioso.
No entanto, o fotógrafo indonésio afirmou que o réptil "xereta" chegou a abrir a boca, como se fosse dar o bote, mas "desistiu" de devorar os anfíbios, deitando próximo deles apenas para descansar.
Além disso, segundo Bhs, um dos motivos para o crocodilo ter ficado com a boca aberta foi para auxiliar na regulação de sua temperatura corporal, depois de ter passado toda a manhã exposto ao sol.

USP quer usar DNA de verme em planta para torná-la resistente à seca

Anidrobiose é a propriedade em que alguns vegetais sobrevivem sem água.
Estudo sugere desenvolver lavouras resistentes a períodos críticos de seca.

Adriano Oliveira e Analídia Ferri Do G1 Ribeirão e Franca
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Cláudia Carolina Silva Evangelista ficou em 2º lugar no Prêmio Jovem Cientista de 2013 (Foto: Analídia Ferri/G1)Cláudia explica que 35 genes da anidrobiose em vermes já foram identificados (Foto: Analídia Ferri/G1)
Desenvolver plantas capazes de resistir a longos e críticos períodos de seca, ou mesmo com baixo volume de irrigação. Esse é o objetivo de uma pesquisa do Departamento de Biologia da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (SP), que estuda o DNA de vermes anidrobióticos - capacidade de sobreviver sem água. A proposta dos pesquisadores é identificar os genes responsáveis por desencadear a anidrobiose e, por meio de engenharia genética, criar plantas transgênicas super resistentes ao calor e ao tempo seco.
O projeto é desenvolvido há quatro anos em parceria com a Universidade Nacional da Irlanda e a Universidade de Cambridge, na Inglaterra. A pesquisadora Cláudia Carolina Evangelista, de 24 anos, explica que cada verme possui cerca de 20 mil genes e, pelo menos, uma centena deles é responsável pela sobrevivência sem água. Até agora, 35 já foram identificados pelo grupo brasileiro.
“Se expostos a ambientes muito secos, esses organismos iniciam uma resposta molecular e ficam como se fossem cristalizados, ou seja, eles perdem a água do corpo e começam a acumular açucares, proteínas que formam uma espécie de vidro e que servem de proteção. Parece que está morto, mas não está, sobrevivem por muito tempo na seca”, afirma Cláudia.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que, em 2013, o Brasil enfrentou a pior seca registrada nos últimos 50 anos, superando até 2012, que também já havia batido seu recorde. O primeiro trimestre de 2014 sinaliza que a falta de chuvas deve continuar em boa parte do país: o último verão em São Paulo foi o mais quente desde 1943, quando começaram as medições.
Além disso, ainda segundo a ONU, 72% de toda a água disponível no país é utilizada na irrigação de lavouras - a área irrigável é de aproximadamente 29,6 milhões de hectares. Neste aspecto, Cláudia explica que seria possível, por meio da anidrobiose, redirecionar os recursos hídricos destinados às lavouras comerciais, para o uso humano ou para a geração de energia. “As plantas ficariam estáveis por tempo indeterminado."
USP estuda código genético de vermes para identificar genes da anidrobiose (Foto: Analídia Ferri/G1)Pesquisadores da USP estudam código genético de
vermes para identificar genes da anidrobiose
(Foto: Analídia Ferri/G1)
Aplicação prática
O orientador da pesquisa no Brasil, o biólogo Tiago Campos Pereira, afirma que, uma vez descobertos todos os genes responsáveis pela anidrobiose, o método pode ser transferido para plantas por meio de engenharia genética, aplicando em culturas como milho, feijão, café e cana-de-açúcar, por exemplo. As plantas transgênicas sobreviveriam por longos períodos, até mesmo décadas, sem chuvas ou irrigação. “Só não funcionaria em plantas que têm muita água, como a melancia. Nesse caso, é inviável.”
Outra possibilidade de criação das plantas transgênicas, fora dos laboratórios, é a criação de um composto mineral, uma solução que seria pulverizada nas plantações e, penetrando nas plantas, permitiria a cristalização. “Mas essa opção é mais especulativa, porque exige uma pesquisa mais avançada”, afirma o pesquisador, destacando que o estudo deve ser finalizado em cinco anos.
Segundo Pereira, já existem empresas europeias aplicando esse princípio em vacinas. O medicamento é desidratado em uma matriz cristalizada, semelhante a um papel, sem necessidade de refrigeração. Quando chega ao destino, essas membranas são acopladas a uma seringa, recebem soro fisiológico e podem ser utilizadas normalmente.
José Ricardo Cunha estima prejuízo no cafezal em Ribeirão Corrente, SP (Foto: Márcio Meireles/EPTV)Cunha contabiliza prejuízo no cafezal: perda com a
seca foi de 60% (Foto: Márcio Meireles/EPTV)
“É possível ir além: identificados todos os genes conseguiremos, através da engenharia anidrobiótica, preservar órgãos humanos, cristalizá-los e mantê-los em estado de suspensão, possibilitando mais tempo para encontrar doadores, em caso de transplantes. Seria um avanço na medicina”, afirma Pereira.
Solução no campo
Apesar de a aplicação prática da tecnologia anidrobiótica ainda parecer tema de literatura de ficção científica, o cafeicultor José Ricardo Cunha, de 41 anos, não descarta que a técnica possa ajudar a "salvar" a lavoura. Terceira geração da família na cafeicultura, Cunha afirma nunca ter vivido um período de escassez de chuva tão prolongado nos primeiros meses do ano, como em 2014.
As altas temperaturas e o clima seco prejudicaram os 200 mil hectares da propriedade, em Ribeirão Corrente (SP), fazendo com que a expectativa de colheita fosse reduzida em até 60%. “Afetou até a próxima safra, porque os pés de café não cresceram. Agora, não tem o que ser feito”, afirma Cunha, dizendo-se surpreso com a técnica proposta pelos pesquisadores da USP.
"Os produtores tem medo de apostar. A gente diz que a melhor variedade é aquela que se constrói dentro da fazenda. Eu tenho a mente mais aberta, mas confesso que nunca pensei nessa possibilidade. É interessante."
Cláudia demorou quase dois anos, entre a iniciação científica e a conclusão do mestrado, período em que identificou os genes da anidrobiose (Foto: Analídia Ferri/G1)Vermes têm cerca de 20 mil genes e cada um é testado individualmente, diz Cláudia (Foto: Analídia Ferri/G1)

Suplementos suspensos têm até 10 vezes mais carboidrato que prometido


Anvisa analisou suplementos proteicos após uma série de denúncias.
Produtos também usavam fontes de proteína diferentes da anunciada.

Mariana Lenharo Do G1, em São Paulo
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Apesar de ser destinado a atletas, suplementos são comumente usados por quem frequenta academias. (Foto: Reprodução/TV Globo)Apesar de ser destinado a atletas, suplementos proteicos são comumente usados por quem frequenta academia e quer ganhar massa muscular. (Foto: Reprodução/TV Globo)
Desde o fim de fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já suspendeu 23 lotes de suplementos proteicos por irregularidades em sua composição (confira aqui, aqui e aqui quais foram suspensos). A infração mais comum foi a presença de uma quantidade maior de carboidrato do que o descrito no rótulo. A análise de 26 marcas de suplemento faz parte de uma ação especial da Anvisa, que tem recebido diversas denúncias sobre esse tipo de produto.
De acordo com a gerente de Inspeção e Controle de Risco de Alimentos da Anvisa, Thalita Antony de Souza Lima, as denúncias aumentaram em julho do ano passado, quando foram divulgados na internet laudos sobre a composição desses produtos realizados por um laboratório particular. “Para responder a essa demanda da sociedade e avaliar se as denúncias eram procedentes, iniciamos um monitoramento e encaminhamos os produtos para análise em um laboratório oficial”.
Voltado para atletas, o suplemento proteico é comumente consumido por frequentadores de academia sem a orientação adequada de médico ou nutricionista. De 26 marcas analisadas, 17 continham mais carboidrato do que o descrito no rótulo, tendo a diferença atingido até 1003% em uma das marcas, e seis continham menos proteína do que o anunciado, tendo a diferença chegado a 79,5%.
“Essas irregularidades geram uma preocupação, já que são produtos muito específicos, em que faz diferença se a gramatura anunciada de carboidrato é 0 e ele contém 10 gramas. Trata-se de um engano muito grave”, diz Thalita.
Apesar de ser destinado a atletas, suplementos são comumente usados por quem frequenta academias. (Foto: Reprodução/TV Globo) 
Suplementos geralmente são vendidos no formato
em pó para serem batidos com água, leite ou suco
(Foto: Reprodução/TV Globo)
Os suplementos proteicos são destinados a atletas de alto rendimento que, durante o treino, são submetidos a um grande desgaste físico e correm o risco de, devido a esse desgaste, perderem parte da massa muscular. A proteína, nesses casos, protege contra a perda dos músculos ou possibilita o crescimento muscular.
“Esse indivíduo tem que ingerir uma quantidade de proteína acima do comum e às vezes o que é ingerido nas três principais refeições do dia não é suficiente para atender à demanda. O suplemento, usado como complemento dos lanches ou da ceia, pode completar essa carga proteica”, explica o médico nutrólogo Mohamad Barakat.
A prescrição do suplemento, segundo os especialistas, deve ser feita exclusivamente por médicos ou nutricionistas especializados em exercícios físicos e a quantidade do produto deve ser calculada de acordo com o treino e o peso do atleta.
Para o médico do esporte Jomar Souza, uma diferença na quantidade de proteínas e carboidratos pode interferir em toda a programação de treinamento. “Se é um atleta que depende de uma massa muscular muito grande para praticar sua modalidade e está usando uma quantidade mais baixa de proteína, o desempenho físico fica prejudicado. Por outro lado, se ele mantém o mesmo nível de atividade física e passa a ingerir uma quantidade maior de carboidrato, ele pode ser metabolizado e transformado em gordura, aumentando a massa de gordura do indivíduo.”
Outras irregularidades
As análises da Anvisa também revelaram a presença nos produtos de ingredientes não declarados nos rótulos, como amido, milho, fécula de mandioca (como fontes de carboidrato)  e soja (como fonte de proteína). “A presença de soja é um fator de engano ao consumidor, pois o rótulo afirma que é whey protein [proteína retirada do soro do leite, bem mais cara do que a soja]. Além disso, para as pessoas alérgicas a soja, pode ser um risco”, alerta a gerente da Anvisa.
Na opinião do médico nutrólogo Euclésio Bragança, diretor Técnico da Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos para Fins Especiais (Brasnutri), o fato de a maioria dos suplementos apresentarem maior quantidade de carboidrato do que o declarado não é de grande relevância, já que isso não traria riscos para a saúde do consumidor. “A preocupação da Anvisa deveria ser se o produto tem o teor de proteína prometido. Os suplementos são destinados a atletas, que são indivíduos saudáveis, sem doenças pré-existentes. Para ele, não vai ser 1 ou 2 gramas a mais de carboidrato que vai fazer a diferença”, diz.
Para ele, o que é preocupante são os produtos que vêm com menos proteína do que o anunciado ou que apresentam fontes de proteína diferentes das prometidas, como a presença da proteína de soja nos suplementos de whey protein. Segundo Bragança, a soja também é uma boa fonte de proteína, porém seria desonesto vendê-la sob o rótulo de whey, por este ser mais caro.
Uso inadequado
Apesar do uso frequente desse tipo de suplemento entre frequentadores de academia, na opinião do fisiologista do esporte Paulo Roberto Correia, pesquisador da Unifesp, dificilmente alguém que não seja um atleta profissional teria indicação para usar suplementação de proteína. “Muitas pessoas que vão à academia julgam que treinam tanto quanto um atleta, o que é uma ilusão muito grande. A carga e o tempo de dedicação do atleta é muito maior”, diz.
Ele alerta para os riscos do consumo em excesso dos suplementos. Se, a princípio, trata-se de um produto inofensivo, já que apenas concentra as proteínas que já estão naturalmente presentes nos alimentos, o excesso pode sobrecarregar os rins. “O rim sofre com o excesso de proteína, que pode ocasionar inflamação nos ductos renais, cálculo renal e até insuficiência renal.”
Segundo Correia, para não atletas, os nutrientes ingeridos em uma dieta balanceada já seriam suficientes para suprir a demanda proteica. “Mesmo os desportistas, que são os que mais necessitariam desse tipo de suplementos, usam uma quantidade muito menor do que o pessoal costuma usar nas academias”, diz.
A Anvisa também demonstra preocupação com esse tipo de consumo “No entendimento da Anvisa, praticantes de academia não necessitariam de suplementação. No caso de suplemento proteico, não se vê um risco, desde que o uso seja feito sob prescrição de nutricionista ou médico. Mas o consumo em excesso pode trazer problemas hepáticos, renais e ganho de peso”, diz Thalita.

Casamento gay: um dia feliz para o respeito e o amor


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Internacional

Editorial do Observer


Enquanto os primeiros casais do mesmo sexo celebram sua união, saudamos a nova lei.


Carl Court / AFP

Casamento gay
Tim Jarmaine-Groves (à esq.) beija seu marido, Richard Jarmaine-Groves, após obterem seu certificado de casamento em Londres, em 29 de março

Na última sexta-feira 28, pela primeira vez bandeiras de arco-íris, as cores da comunidade gay, tremularam sobre dois edifícios do governo em Londres no que o vice-primeiro-ministro Nick Clegg chamou de "um pequeno símbolo para comemorar uma enorme conquista". Pouco depois da meia-noite, na prefeitura de Camden, em Londres, Sean Adl-Tabatabai e Sinclair Treadway foram dos primeiros casais homossexuais a ser pronunciados "marido e marido".
Independentemente das opiniões pessoais sobre a parafernália de flores de laranjeira e cerimônias, a Lei do Casamento (Casais do Mesmo Sexo) hoje em vigor na Inglaterra e em Gales – a Escócia deverá acompanhar no outono – marca uma mudança notável e incrivelmente rápida nas atitudes sociais sobre a questão da igualdade. Pesquisas mostram que dois terços das pessoas apoiam as uniões homossexuais. ["Homossexual" se refere à relação entre duas pessoas do mesmo sexo, não apenas entre dois homens.] Mas pouco mais de uma década atrás a Inglaterra ainda tinha uma lei que proibia a "promoção" da homossexualidade. "O que me surpreendeu é que grande parte da Grã-Bretanha rapidamente avançou para nos apoiar nisto", disse o ex-deputado conservador Matthew Parris à tevê Sky News.
Adl-Tabatabai disse a um repórter que a aprovação das parcerias civis em 2005 havia ajudado a superar a oposição ao casamento gay. "As percepções dos gays e de seus estilos de vida estão mudando", disse ele. "Eles estão dizendo, 'Ok, detesto dizer isso, mas talvez vocês sejam iguais a nós'." Essa profunda mudança de atitude é especialmente personificada no primeiro-ministro David Cameron, que a custo apoiou seu próprio partido. Em um texto no PinkNews, ele disse adequadamente que este é "um momento importante para nosso país", ao manter suas "orgulhosas tradições de respeito, tolerância e igualdade de valor". E acrescentou: "Colocado simplesmente, na Grã-Bretanha não importará mais se você é hétero ou gay – o Estado reconhecerá seu relacionamento como igual".
Mas em 2000 David Cameron, que ainda não havia entrado na Câmara dos Comuns, atacou diversas vezes os planos do governo trabalhista para rejeitar a Seção 28 do Ato de Governo Local 1988. Entre suas medidas, ele proibia "o ensino... da aceitabilidade da homossexualidade como pretenso relacionamento familiar". Cameron acusou o então primeiro-ministro, Tony Blair, de ser "antifamília". Nove anos depois, como líder do Partido Conservador e um aplicado modernizador, Cameron pediu desculpas pela aprovação da lei por seu partido e disse que tinha sido ofensiva aos gays.
Enquanto Cameron mudou de ideia, outros não. A oposição vem de algumas lésbicas feministas que não pretendem aderir a uma instituição que a seus olhos permanece patriarcal. Outros membros das comunidades lésbica, gay, bissexual e transgênero (LBGT) dizem que o casamento entre o mesmo sexo é uma ameaça. Eles não pretendem ser assimilados pela sociedade heterossexual por meio de uma aliança, eliminando o direito a ser diferente. O romance autobiográfico de Edward White, The Beautiful Room is Empty [O lindo quarto está vazio], passado nos anos 1950 e 60, descreve uma época em que a homofobia era apoiada por leis que criminalizavam a homossexualidade, considerando-a uma doença e uma neurose. White descreve como os autoidentificados transgressores na sociedade, boêmios, radicais de esquerda e gays enrustidos se consideravam marginais, politicamente opostos a uma sociedade que desprezavam. Essa oposição é saudável em uma democracia.
De maneira inevitável, também na campanha do casamento antigay há tradicionalistas a favor do casamento "natural". Eles afirmam, juntamente com a Igreja Católica e a Igreja Anglicana, que a Bíblia se refere ao casamento como a união entre homem e mulher para fins de procriação. Os religiosos da Igreja da Inglaterra são proibidos de se casar com parceiros do mesmo sexo. A fé e a igualdade ainda não coabitam com sucesso na igreja estabelecida.
Na última sexta-feira, o bispo de Buckingham, Alan Wilson, criticou seus superiores por hipocrisia. "Há bispos gays com parceiros que dizem a outros religiosos gays com parceiros que não devem se casar", disse ele. Colin Coward, do grupo de pressão liberal na igreja Mudando de Atitude, é otimista sobre o movimento. "Já estou recebendo perguntas de pessoas que querem saber se podem se casar em sua igreja local... A Igreja Anglicana será obrigada a enfrentar essa realidade."
O período de uma geração ilustra quão rapidamente essa "realidade" foi reconfigurada. O professor Jeffrey Weeks, autor de The World We Have Won [O mundo que ganhamos], é um sociólogo, ativista gay e historiador de nossas mudanças de atitude em relação à sexualidade. Hoje com 68 anos e membro de uma parceria civil, ele acredita que a velocidade surpreendente com que o casamento entre o mesmo sexo foi alcançado, com o apoio de todos os partidos, se deve a uma série de acontecimentos que remontam aos anos 1960 e à ascensão da militância gay. Estes incluem a luta de casais de lésbicas para manter seus filhos depois do divórcio, quando juízes se inclinavam a dar a custódia a ex-maridos que supostamente não eram manchados pelo desvio; a batalha para que casais gays possam adotar e a falta de direitos que muitos homens e mulheres gays, no início dos anos 80, enfrentaram quando seus parceiros morreram.
Elton John, o marido David Furnish e seus dois filhos parecem a um século do furor em 1983 que recebeu o livro infantil Jenny Lives With Eric and Martin [Jenny mora com Eric e Martin]. Assumir-se, diz o professor Weeks, passou de ser algo extraordinário a comum; todo mundo conhece alguém que é gay. O que também provocou a mudança é a profunda alteração do que é definido como conformidade na sociedade heterossexual. Os laços de compromisso se afrouxaram e as algemas da respeitabilidade foram retiradas.
Estatísticas publicadas na semana passada pelo Departamento Nacional de Estatísticas nos dizem que o matrimônio há muito tempo está perdendo o interesse entre heterossexuais. No entanto, para a comunidade gay, como afirmou o ativista Peter Tatchell, o casamento é um direito humano; ele permite que os gays publicamente assumam os direitos e as responsabilidades que contribuem para a sociedade civil. Isso não significa que o preconceito foi superado. Indivíduos em algumas partes do Reino Unido e em comunidades religiosas rígidas, assim como os que sofrem nova perseguição na Rússia, na África e em outros lugares, continuam enfrentando medo, discriminação e violência.
Na Grã-Bretanha, porém, a inclusão é o modelo com que a sociedade trabalha. Como observou Cameron na sexta-feira, o casamento – um compromisso de qualquer tipo – dá trabalho. "Exige paciência e compreensão", disse ele. "Dar e receber – mas o que ele retribui em termos de amor, apoio, estabilidade e felicidade é incomensurável." É por isso que, para todos os que estão se casando e esperando ser felizes para sempre, está certo oferecer nossos cumprimentos e lhes desejar uma vida em comum com muita alegria.

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Assédio de toga: humilhações e perseguições

Funcionários do Poder Judiciário de vários Estados acusam juízes de praticar humilhações e perseguições. Como servidores públicos não podem ser demitidos, as contendas viram batalhas judiciais

Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br)

Dos juízes espera-se equilíbrio, serenidade e, sobretudo, justiça nos atos e tomadas de decisão. Parte dos servidores do Poder Judiciário, porém, tem se deparado com magistrados autoritários e prepotentes, que perseguem e assediam moralmente os funcionários. Uma pesquisa inédita no País, realizada pelo Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro e obtida por ISTOÉ, é um indicador do ambiente ruim dos tribunais brasileiros. A enquete revelou que 44,5% dos servidores do Tribunal de Justiça do Estado entrevistados afirmam já ter sofrido algum tipo de assédio moral. “Começamos a perceber um número cada vez maior de servidores afastados por problemas psicológicos”, afirma Alzimar Andrade, coordenador-geral do Sind-Justiça. “Esse quadro é agravado porque os juízes assediadores se sentem em uma classe superior, repleta de poder, e têm uma espécie de garantia de não punição.” O levantamento também apontou que 45% dos funcionários ouvidos disseram que já foram ofendidos ou humilhados no atendimento a advogados ou a partes de um processo (leia abaixo).
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O assédio no serviço público tem peculiaridades. Em uma empresa privada, o chefe descontente pode demitir o trabalhador, algo que não ocorre com funcionários concursados. “O que se negocia são os benefícios e a independência interna do servidor”, afirma o professor de sociologia do direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro Fernando Fontainha. Isso permite, por exemplo, a perseguição de um profissional até que ele decida se exonerar da vida pública. Frequentemente, trava-se uma guerra judicial entre as partes, como ocorreu com a funcionária do Tribunal de Justiça de Minas Gerais Flávia Felício Silva, 42 anos. Ela afirma ter sido perseguida pelo juiz Roberto Ribeiro de Paiva Júnior enquanto trabalhou como escrivã judicial na Comarca de Uberlândia em 2007. “Além do meu trabalho, eu era obrigada a fazer despachos para o juiz, que é atribuição dos estagiários, e trabalhava das 7h às 22h”, relata. Flávia conta que engordou 30 quilos em quatro meses e, quando chegou ao limite, foi conversar com o juiz. “Ele disse que ninguém falava ‘não’ para ele e que eu veria quem mandava”, conta.
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Flávia e o juiz Roberto Ribeiro de Paiva Júnior travaram uma guerra judicial:
ele entrou com cinco processos administrativos contra ela e todos foram arquivados
Naquele momento, segundo Flávia, os maus-tratos vieram à tona. Ela foi proibida de entrar no gabinete de Paiva Júnior. “Eu ouvia dele que eu fedia e era gorda e irresponsável”, diz. Por ter cometido uma falha em um processo que resultou em prejuízo financeiro para as partes, ela tomou uma suspensão de cinco dias. Diante disso, a servidora entrou com um mandado de segurança contra o juiz e a atitude do magistrado foi considerada inconstitucional pelo TJ-MG. O caso virou uma disputa judicial. Flávia fez uma representação contra Paiva Júnior na Corregedoria-Geral do Estado e o juiz entrou com cinco processos administrativos contra ela, todos arquivados. A Corregedoria, por sua vez, determinou que o juiz a tratasse com dignidade. Em 2009, Flávia foi transferida de vara. Procurado por ISTOÉ, o Fórum de Uberlândia informou que o juiz está de férias.
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Tratamentos humilhantes repetitivos podem comprometer a identidade, as relações afetivas e a capacidade de se adequar ao ambiente de trabalho, muitas vezes sem que a pessoa tenha consciência. No Rio de Janeiro, o caso da oficial de Justiça Márcia Elisa Barroso, 38 anos, chegou ao extremo. A funcionária atirou-se do sexto andar do seu prédio, em novembro passado, após ter sido removida de local de trabalho contra a sua vontade, o ápice de uma série de problemas, segundo ela. Márcia fazia parte de um grupo de 12 servidores que, em 2011, abriu um processo administrativo para denunciar o assédio moral praticado pela chefia da Central de Mandados do Fórum de Alcântara, em São Gonçalo, e pedir remoção coletiva. “Todos sofriam com o tratamento da diretora da Central e a juíza nos acusava de fazer motim”, diz. Segundo Márcia, o tempo era restrito para cumprir o número de mandados exigidos, a diretora colocava os funcionários uns contra os outros no momento de definir plantões e quando alguém não dava conta do trabalho ela humilhava e gritava com a pessoa na frente de toda a equipe.
Em julho de 2012, Márcia passou a trabalhar em Niterói, mas em novembro passado foi novamente transferida para São Gonçalo. “Entrei em profunda depressão”, diz ela, que não se lembra direito do dia em que resolveu pular da janela. A servidora sofreu traumatismo craniano, uma série de fraturas, ainda está de licença médica e atualmente precisa de um andador para se locomover. O TJ-RJ nega que tenha havido assédio moral. A juíza Renata de Souza Vivas Pimentel, da Central de Mandados de Alcântara, afirmou que a remoção ocorreu em razão da abertura de um presídio na região, o que aumentaria a demanda de trabalho no Fórum local.
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Márcia e outros 11 servidores abriram um processo administrativo para
denunciar o assédio moral praticado no Fórum de Alcântara, em São Gonçalo (RJ)
No Poder Judiciário, a disparidade de forças parece mais evidente. “O servidor vive um embate com uma pessoa que possui muito mais poder”, diz Roberto Dias, professor de direito constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Assim, quando o funcionário vai atrás de seus direitos, ele corre o risco de ser malvisto pelos outros juízes e prejudicar a continuidade de sua carreira pública.” A chefe de cartório Nara Pereira, 52 anos, hoje trabalha em Criciúma (SC), mas ainda teme que sua carreira seja prejudicada pelo juiz Lírio Hoffmann Júnior, com quem trabalhou no Fórum de Orleans (SC). Em 2012, ela apresentou uma representação contra ele na Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Estado, alegando maus-tratos e perseguições no ambiente de trabalho.
Os desentendimentos começaram logo no início da relação profissional. “Ele começou a incitar os estagiários contra mim e a me desautorizar diante deles. Também queria que eu o ajudasse a prejudicar seus desafetos”, conta. “Percebi que se tratava de assédio moral quando fui trancada em uma sala e uma servidora falou que eu estava sendo observada.” Nara relata ainda que a funcionária lhe disse que sua função era dar andamento nos processos para acelerar a promoção do juiz. Na denúncia à Corregedoria, Nara acusou Hoffmann de ameaçar abrir uma ação administrativa contra ela, o que de fato ocorreu. De acordo com o desembargador do TJ-SC, Ricardo Roesler, a representação aberta por Nara foi “arquivada por inconsistência de provas e o processo disciplinar continua em tramitação na presidência do Tribunal de Justiça”. Hoffmann afirmou desconhecer alegações sobre assédio moral. “Nossa relação de trabalho era boa, mas não posso dar mais informações sobre o que motivou o processo administrativo”, disse o juiz.
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Numa área célebre pela morosidade e com uma demanda de maior rapidez da sociedade, as disputas tendem a se acentuar. “O índice de servidores públicos com problemas de saúde é cada vez mais elevado”, diz Paulo Blair de Oliveira, professor da Universidade de Brasília (UnB) e juiz do trabalho há 20 anos. “Por que o tema assédio se tornou tão premente agora? Porque a sociedade exige uma solução com velocidade digital para as suas solicitações e o Judiciário ainda trabalha em ritmo analógico.”
Foto: Kelsen Fernandes/Ag. Istoé; L. Adolfo

Por que o Brasil deve rever a Lei da Anistia

Em meio às manifestações pelos 50 anos do Golpe de 64, cresce no País um movimento para que agentes de Estado, civis ou militares que cometeram crimes durante a ditadura possam ser punidos. Saiba por que a revisão da norma de 1979 é necessária

Josie Jerônimo (josie@istoe.com.br)

ANISITIA-03-IE-2315.jpg No dia 1º de abril, parlamentares ergueram cartazes na Câmara com
fotos de desaparecidos políticos e militantes perseguidos, torturados
e mortos durante a ditadura. No mesmo dia, a presidenta
Dilma se emocionou ao relembrar a volta dos exilados
Na terça-feira 1º, a presidenta Dilma Rousseff convocou investidores e ministros para a cerimônia de assinatura de contrato da concessão do Aeroporto do Galeão à iniciativa privada. Mas aquele momento de rotina para qualquer governo produziu uma emoção que os brasileiros não devem esquecer tão cedo. “Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro... dentro de mais um minuto estaremos no Galeão”, disse a presidenta, cantarolando o “Samba do Avião,” para acrescentar, em seguida, com voz embargada e olhos marejados:  “É uma síntese perfeita do que é a saudade do Brasil, a lembrança do Brasil e, melhor de tudo, voltar ao Brasil chegando ao Galeão.” Obra-prima de Antônio Carlos Jobim, composta em 1962, o “Samba do Avião” transformou-se, nos anos seguintes, na avaliação de Dilma, na esperança íntima de milhares de exilados do regime militar que só puderam retornar ao País depois que, em 1979, o Congresso aprovou a Lei da Anistia. Dilma costuma sentir emoções fortes em situações que lembram os 21 anos da ditadura, o que é particularmente compreensível para quem ingressou numa organização armada e, mais tarde, enfrentou a prisão e a tortura em dependências militares, “recebendo choques elétricos em tudo quanto é lugar.”

Registrada dois dias antes da cerimônia no Galeão, a passagem de 50 anos do golpe de 64 foi marcada por uma situação nova, porém. Num movimento capilar, um contingente numeroso de brasileiros tem se mobilizado pela vontade de conhecer a fundo os segredos da ditadura, em particular aquele crime que se tornou sua marca repugnante e vergonhosa – a tortura. Opondo-se à determinação da lei de 1979, confirmada pelo Supremo Tribunal Federal em 2010, que tem impedido o julgamento de oficiais e delegados acusados de tortura e execução de adversários políticos, cidadãos e cidadãs querem levar os torturadores e demais responsáveis ao banco dos réus. Na última semana, a discussão sobre a revisão da lei, de 1979, esquentou nos meios políticos e acadêmicos. A organização da sociedade civil Anistia Internacional Brasil lançou na terça-feira 1º, mesmo dia do emocionado depoimento de Dilma, uma campanha para que agentes de Estado, civis ou militares que cometeram crimes durante a ditadura militar possam ser punidos. A iniciativa ganhou o apoio da OAB (leia entrevista ao lado). A população também se mostra a favor. Segundo o DataFolha, hoje 48% dos brasileiros são favoráveis ao julgamento de torturadores e 37% são contra. Em 2010, a situação era invertida: 45% eram contra o julgamento de torturadores e 40% eram a favor.  

Na semana passada, enquanto os candidatos melhores colocados nas pesquisas eleitorais se mantiveram em silêncio sobre o que fazer com a Lei da Anistia, Dilma Rousseff disse que reverenciava “os que lutaram pela democracia, enfrentando a truculência ilegal do Estado”, mas também afirmou: “Reconheço e valorizo os pactos políticos que nos levaram à redemocratização.” Pelo menos uma parte do PT não concorda mais com isso. Na mesma semana, o senador Humberto Costa (PT-PE), que é líder do partido, fez um discurso a favor da revisão. Nos próximos dias, quando um projeto de revisão apresentado pelo senador pelo Amapá Randolfe Rodrigues, candidato a presidente pelo PSOL, entrar em debate na Comissão de Direitos Humanos, outros integrantes da base do governo irão se colocar a favor. A petista Ana Rita (PT-ES), que é presidente da Comissão, também já disse que é favorável. Em 2011, quando Luiza Erundina (PSB-SP) apresentou um projeto semelhante na Câmara dos Deputados, a proposta foi enterrada na Comissão de Constituição e Justiça e não saiu do lugar. Hoje, o ambiente político é outro.
ANISITIA-02-IE-2315.jpg ESCRACHOS
Um grupo fez na tarde do dia 31, em Brasília, uma manifestação em frente à casa
do coronel reformado Carlos Brilhante Ustra, condenado por envolvimento em
crimes de tortura durante a ditadura. No dia seguinte, um outro escracho
expôs o ex-militar e delegado acusado de homicídios Aparecido Calandra
Em 1979, um combativo parlamentar de oposição, Alencar Furtado, do Paraná, foi à tribuna dizer que o projeto aprovado “anistia com antecedência os torturadores e marginaliza os torturados.” O que se modificou, em 25 anos, foi a visão sobre o que se fez naquele tempo. Se antes a Lei da Anistia era vista como uma ponte para a transição da ditadura à democracia, duas décadas e meia depois é enxergada como um obstáculo para a consolidação de um regime de direitos e liberdades fundamentais, num país onde a Constituição afirma que a tortura é um crime “imprescritível”. Por trás dessa mudança, encontra-se a Comissão Nacional da Verdade, criada por decreto presidencial em 2012. Organismo de caráter oficial, com acesso assegurado a todo documento público e poder de convocar toda autoridade que possa lhe prestar esclarecimentos, em menos de dois anos realizou 450 audiências pelo País. Abriu um debate que ajudou muitos brasileiros a tomar contato com uma realidade que desconheciam – e outros tinham pavor de encarar. A atividade da Comissão Nacional fermentou o nascimento, sem que ninguém tivesse planejado, de outros 75 comitês, em 21 Estados, dando origem a uma estrutura descentralizada pelo funcionamento, mas unida pela ideia de que é preciso saber mais sobre o passado político do Brasil.
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Algumas revelações obtidas pelo Comitê da Verdade têm caráter particularmente chocante, contribuindo para que o País de fato se pergunte como deve reagir a elas. Um exemplo: divulgado pela tevê e pela internet, o depoimento de Paulo Malhães, coronel da reserva do Exército que na década de 1970 participou de sessões tortura e de macabras operações para o ocultamento de cadáveres,  causou choque e indignação. “Quebrava os dentes. As mãos (eu cortava) daqui para a cima,” disse, entre risos de escárnio. Quando lhe perguntaram quantas mortes havia ocorrido no período, o coronel respondeu: “Tantas quanto foram necessárias.” Se a Lei da Anistia for revista, torturadores conhecidos como Malhães e até militantes de esquerda alvos de processo ainda em vigor poderão ser punidos.
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Autor do projeto que, em 2001, criou reparações em dinheiro para os perseguidos pela ditadura e suas famílias, Fernando Henrique Cardoso declarou-se, na última semana, assustado com o “cinismo” e cobrou uma mudança de postura por parte das Forças Armadas.  “E não vejo agora por que não as próprias Forças Armadas dizerem: ‘Erramos. Mas foi uma minoria.’ Por que essa maioria de hoje não diz: ‘Não temos nada  com isso?”’ Nos últimos dias, vieram sinais positivos dos três comandantes militares, sempre uma interrogação nesta história. Atendendo a uma solicitação da Comissão da Verdade, eles concordaram em iniciar uma investigação em sete locais, em quatro Estados brasileiros, onde ficou registrado um maior número de casos de tortura e morte. O pedido envolve o  DOI-Codi paulista, onde o jornalista Vladimir Herzog foi morto sob tortura, e também a 1ª Companhia da Polícia do Exército, no Rio de Janeiro, onde o empresário Rubens Paiva foi visto pela última vez. O objetivo é esclarecer como era a rotina e o funcionamento desses locais. Para Pedro Dallari, advogado da Comissão, o fato de o próprio Estado já ter pago indenização a vítimas de tortura que ficaram detidas nesses locais não permite dúvidas sobre que se passava ali. “O que precisamos agora é apurar o desvio de função, o delito administrativo.” E que uma revisão da Lei da Anistia possa punir quem os cometeu.
“TORTURA NÃO SE ANISTIA”
Michel Alecrim
Presidida pelo advogado Wadih Damous, da OAB-RJ, a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro obteve a confissão do coronel Paulo Malhães, da reserva, de participação na tortura, morte e ocultação de cadáveres durante a ditadura. Damous acredita que as revelações podem levar a uma mobilização pela revisão da Lei da Anistia.
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ISTOÉ – Pesquisa recente mostra que a maior parte dos brasileiros apoia a punição dos crimes da ditadura militar. A que o sr. atribui essa mudança?
Wadih Damous – A pesquisa captou uma mudança no sentimento da população. Atribuo isso ao trabalho das comissões da verdade. Além disso, este ano, como se completam 50 anos do golpe, as pessoas estão se informando melhor e ficam indignadas com o fato de esse pessoal estar solto.
ISTOÉ – Muita gente só está tomando conhecimento das atrocidades agora?
Damous – Muitos jovens começam a se identificar com os rapazes e moças torturados e mortos. Veem que foi uma violência desmedida e inaceitável.
ISTOÉ – O sr. defende a revisão da Lei da Anistia ou acredita ser possível encontrar uma interpretação do texto que possa levar à punição desses criminosos?
Damous – Acredito que a Lei da Anistia, como foi redigida, não anistia os torturadores. Foi um malabarismo de interpretação o que o Supremo Tribunal Federal fez em 2009. O ministro Eros Grau dizer que movimentos sociais foram às ruas clamar por anistia ampla, geral e irrestrita para beneficiar todo mundo foi uma distorção. Mas pode haver um novo julgamento e há um dado promissor que é o novo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, antecipar seu entendimento coincidente com o nosso, de que a lei não beneficia torturador.
ISTOÉ – Mas, em sua opinião, o que seria melhor, uma nova interpretação do Supremo ou a alteração do texto da lei?
Damous – O Congresso pode fazer isso antes. Há um ano, não via qualquer possibilidade de o projeto da (Luiza) Erundina (PSB-SP) passar. Ele exclui da anistia agentes públicos civis e militares. Hoje, sou um otimista moderado. Penso que tem de deixar a lei mais clara e não desafiar novas interpretações. Toda anistia tem o conceito de perdoar crimes políticos. Agora, tortura, estupro, desaparecimento forçado, não dá para dizer que isso é crime político. O que esses agentes fizeram são crimes contra os direitos humanos, imprescritíveis. Tortura não se anistia. É crime de lesa-humanidade.
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Cientistas propõem o uso de remédios e de outras intervenções para acabar com o sentimento quando ele traz mais sofrimento do que alegria

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)

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É difícil encontrar alguém que nunca sofreu por amor. E que no auge de sua dor não tenha imaginado como seria ótimo se existisse uma pílula, algo que pudesse ser comprado logo ali, na farmácia, para acabar com o sofrimento. Na opinião de um respeitado time de cientistas, esses remédios existem. Alguns já estão disponíveis, outros em estudo. Juntos, eles formam um arsenal capaz de curar amor – e devem começar a ser usados sempre que necessário. A proposta está sendo feita por pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, uma das mais renomadas do mundo. Por seu teor polêmico, a proposição iniciou um grande debate entre os cientistas sobre a oportunidade de se recorrer a recursos para encerrar um amor – seria mesmo adequado tratar o sentimento como se lida com uma gripe, uma gastrite? – e as consequências éticas que podem advir do uso do que os estudiosos ingleses estão chamando de biotecnologia antiamor.
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No olhar do grupo de Oxford, porém, trata-se de lidar com o tema sob uma perspectiva diferente da convencional. Existe o amor de Platão, de Shakespeare. Fala-se aqui do ideal, do sentimento arrebatador, que nasce sem muita explicação e gera histórias inesquecíveis. E existe o amor entendido pela ciência. Nesse caso, não há espaço para romantismo. A emoção seria produto de respostas fisiológicas desencadeadas no cérebro a partir de um estímulo. Sua geração faria parte do arcabouço de emoções que a espécie humana desenvolveu ao longo de sua evolução com o objetivo de garantir sua sobrevivência. O medo, por exemplo, nos ajudou a ter reações de fuga diante de predadores. O amor, por sua vez, foi o sentimento que garantiu a continuidade da reprodução da espécie. E hoje, defendem os cientistas, é possível interferir nas etapas desse processo com a finalidade de interrompê-lo. “A neurociência está nos apresentando um entendimento novo do amor”, disse à ISTOÉ o pesquisador Brian Earp, de Oxford, coordenador do grupo que estuda os tratamentos para o sentimento. “Portanto, se pensarmos que ele é algo que emerge da química cerebral, começa a fazer sentido falar em cura.”
AMOR-06-IE-2315.jpg SEM LIGAÇÃO
Em suas pesquisas com cobaias, Young conseguiu impedir a criação de laço afetivo
O consenso científico sobre o amor é o de que ele é dividido em três fases. A primeira é chamada de luxúria e caracteriza-se pelo desejo sexual. A segunda é a atração. As duas fases formam a paixão. Elas são associadas aos hormônios estrogênio e testosterona – responsáveis, respectivamente, pelas características femininas e masculinas. Também há o foco no objeto da paixão, podendo ocorrer inclusive pensamentos obsessivos a seu respeito. “Os apaixonados e os pacientes que sofrem de Transtorno Obsessivo Compulsivo dividem um mesmo tipo de pensamento. Os primeiros são focados nos parceiros, e os segundos, em suas obsessões”, disse à ISTOÉ a pesquisadora italiana Donatella Marazziti, da Universidade de Piza, na Itália. Ela é autora de um trabalho exemplar sobre esse aspecto. Primeiro, Donatella selecionou 20 voluntários em pleno estado da paixão e 20 portadores do transtorno. Ela quantificou nos dois grupos a concentração de uma proteína envolvida no transporte da serotonina, substância cerebral relacionada à regulação do humor. Tanto apaixonados quanto pacientes tinham baixa quantidade da proteína, o que significa que havia pouca disposição de serotonina. Um ano depois, seu nível já havia subido entre os amantes. E eles não manifestavam mais obsessão pelo parceiro.
AMOR-05-IE-2315.jpg CAUTELA
Marchant, da Universidade do Arizona, teme o uso abusivo das drogas antiamor
As estruturas cerebrais acionadas nessas duas fases são as que compõem o sistema de recompensa. Ele é ativado quando se vive algo que dá prazer. Ao entrar em ação, há a liberação de dopamina. O composto é a base química que está por trás da alegria que sentimos quando desfrutamos de uma situação prazerosa. Esse sistema é o mesmo acionado nos casos de dependência, como a de drogas ou de álcool. No caso do amor, a recompensa é o prazer proporcionado pelo parceiro. É por essa razão que há o entendimento de que o amor pode se tornar um vício. “Há teorias sobre adição que sugerem que qualquer substância, comportamento ou relacionamento que apresente potencial de recompensa pode desencadear dependência”, diz Earp.
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No artigo que publicaram sobre o tema na revista científica “The American Journal of Bioethics”, os pesquisadores ingleses elencaram várias categorias de remédios que poderiam ser usadas para interromper a evolução da paixão. Os antidepressivos, por exemplo, reequilibram as concentrações de serotonina, reduzem pensamentos obsessivos, interferem na liberação de dopamina – portanto, haveria menos euforia diante do amado – e têm entre seus efeitos colaterais a queda da libido. Outras opções seriam as medicações que impedem a ação da testosterona, provocando diminuição do desejo. Apontam também a naltrexona, usada para tratar a dependência de opioides (receitados contra a dor) e contra o alcoolismo.
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A terceira etapa do amor é a do vínculo. Trata-se aqui do sentimento a longo prazo, sem o impulso da paixão, marcado por sensação de segurança e de proteção ao parceiro. Nessa fase, agem duas substâncias: a ocitocina e a vasopressina. A primeira é um hormônio envolvido na formação de laços afetivos e de fidelidade. “Ele é liberado quando há contato íntimo, um toque carinhoso”, explicou à ISTOÉ o americano Larry Young, diretor da Divisão de Neurociência Comportamental do Centro de Pesquisa Yerkes, da Emory University (Eua). Já a vasopressina atua na formação de vínculos nos cérebros masculinos. “Em outras espécies, ela é responsável por um comportamento associado à proteção de território”, disse Young. “Mas em espécies monogâmicas está relacionada a vínculo, provavelmente porque o cérebro masculino considera a fêmea parte de seu território.” Nessa química, também opera uma molécula chamada CRF, que ajuda a manter a relação por longos períodos. “Quando os amantes estão separados, a CRF os faz ter sentimentos negativos, até depressão”, completou Young.
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O americano é um dos mais proeminentes estudiosos da neurofisiologia do amor. Pesquisa o tema há 20 anos, usando como cobaias um tipo de ratazana cujo comportamento familiar se assemelha ao humano, mantendo longas relações com apenas um parceiro. Nas suas experiências, porém, ele provou que é possível manipular esse comportamento simplesmente agindo sobre as substâncias associadas ao vínculo. “Podemos bloquear qualquer um desses compostos e evitar que as cobaias construam laços ou se sintam mal quando um parceiro vai embora”, afirmou Young. Em um dos experimentos, ele usou um composto para impedir a ação da ocitocina nas fêmeas. Elas não criaram ligação com um parceiro e tornaram-se polígamas. “Teoricamente, drogas semelhantes poderão ser dadas às pessoas para manipular seu amor por seus companheiros”, disse o pesquisador.
O inglês Brian Earp, de Oxford, está otimista quanto à criação de mais recursos anti-amor. “Conforme o conhecimento do mecanismo cerebral por trás do sentimento se aprofundar, a tecnologia antiamor se tornará ainda mais poderosa”, acredita. Não se descarta, inclusive, a manipulação da memória por meio do emprego de técnicas adotadas hoje no tratamento de estresse pós-traumático. Nesse caso, o que se quer é apagar as lembranças ruins associadas ao evento que levou ao trauma. Um dos recursos é o uso do anti-hipertensivo propranolol. E mais opções estão em estudo, envolvendo treinamentos específicos e outras medicações. No caso do amor, os métodos seriam usados para fazê-lo desaparecer. “Pode-se imaginar terapia similar sendo usada para apagar a memória do amor”, afirmou a antropóloga Helen Fisher, da Rutgers University (Eua), também investigadora importante da área.
AMOR-03-IE-2315.jpg MEMÓRIA
Estudiosa do amor no cérebro, Helen acha possível
apagar a lembrança do sentimento
Os pesquisadores defendem o uso de armas como essa para todos os casos nos quais a relação é claramente prejudicial e precisa ter um ponto final. “Imagine uma pessoa em um relacionamento violento. Ela sabe que precisa sair dessa situação, mas seu sentimento de vínculo é tão forte que não consegue”, disse Earp. “Se ela pudesse usar um remédio que possibilitasse uma separação emocional do parceiro, seria um uso possível.” O cientista cita outra circunstância. “Pense em alguém atraído por outra pessoa que não o seu parceiro, mas que quer continuar fiel”, exemplifica. “A tecnologia antiamor pode ajudá-lo a diminuir seus sentimentos de atração pelo outro.” Indivíduos com dificuldade para se recuperar de um rompimento e partir para outra experiência também se beneficiariam. Segundo Earp, em Israel já houve a adoção de uma das armas. Por determinação de rabinos, antidepressivos foram dados a jovens para aplacar sua libido de forma que ficasse mais fácil, no entendimento dos religiosos, seguir as normas da religião sobre o comportamento sexual.
A proposta de curar o amor desencadeou intensas reações na comunidade científica. Após a publicação do artigo do grupo inglês, pensadores de várias partes do mundo iniciaram um debate sobre as repercussões da proposta. A professora Kristina Gupta, da Universidade Georgetown (Eua), foi uma delas. Estudiosa da sexualidade humana, ela vê benefícios na aplicação de tecnologias para aplacar o sentimento. “Acho válido em alguns casos, como para alguém que quer terminar uma relação com um marido violento”, afirmou à ISTOÉ. “Mas é preciso se certificar de que os recursos não sejam usados para eliminar tipos de relacionamentos somente porque não são considerados aceitáveis pela sociedade. Um exemplo são as relações homossexuais”, completou.
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Especialista em filosofia e sexualidade, o canadense Neil McArthur, da Universidade de Manitoba, também reagiu. Ele defende que os recursos seriam úteis quando as pessoas não são aptas a se recuperar de forma sadia após um rompimento. “Como aquelas que começam a manter pensamentos suicidas ou a perseguir seus ex-parceiros”, exemplificou à ISTOÉ. E a exemplo de Kristina, prega a cautela. “Gostaria que esses remédios fossem muito bem regulados e usados em casos extremos.”
McArthur toca em um ponto central das discussões: como garantir que não haveria abuso na aplicação dos métodos antiamor. “Estamos preocupados com essa possibilidade”, afirmou à ISTOÉ o americano Gary Marchant, professor de tecnologias emergentes, lei e ética da Universidade do Arizona. Ele abordou a questão em um artigo publicado no “The American Journal of Bioethics”. “O iminente desenvolvimento de agentes antiamor nos coloca sob o sério risco de atitudes não éticas para manipular sentimentos românticos”, escreveu. Na opinião do especialista, é preciso começar a pensar em uma legislação que proteja, por exemplo, contra a manipulação involuntária do sentimento. “Mas isso será um desafio”, acredita.
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Há outra crítica importante levantada. Intervir para curar o amor embute o risco de tirar do ser humano uma oportunidade de evoluir. “Se tomarmos uma pílula a cada vez que uma relação não der certo, nunca aprenderemos a ver o que fizemos de certo ou errado e como nos tornar pessoas melhores”, afirma o canadense McArthur. “Além disso, pense em toda a maravilhosa arte, música e literatura feitas sobre o amor. Nada disso existiria se esses remédios estivessem disponíveis. A dor da perda nos torna criativos.”
Pondera-se também se a proposta não seria mais um caso de “medicalização” de um sentimento. Ou seja, de tornar um problema médico uma emoção natural. “Isso pode ser bom ou mau”, responde Brian Earp. “O alcoolismo, por exemplo, foi considerado durante muito tempo uma questão moral. Quando começou a ser tratado como um problema de saúde, houve a abertura para a criação de tratamentos. E eles melhoraram a vida das pessoas que estavam sofrendo”, defende o inglês.
Fotos: John Angerson, Divulgação, Kelsen Fernandes/Ag. Istoé