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1.22.2015

Por que as mulheres têm mais dificuldade em engravidar depois dos 40?



A cada dia, mais mulheres têm adiado a decisão de ter filhos, e isto se relaciona ao processo de mudança nos padrões familiares, que vem ocorrendo no mundo em todas as esferas da vida cotidiana, inclusive no contexto sócio-familiar brasileiro. Nas últimas décadas, foram registradas importantes mudanças sócio-culturais que influenciaram as características da natalidade, com diminuição progressiva de suas taxas globais e o adiamento da gravidez planejada. A incorporação da mulher ao mercado de trabalho, a maior importância para o desenvolvimento de sua escolaridade, as novas técnicas de controle da fertilidade, são fatores que atualmente influenciam a tomada de decisão acerca do momento mais oportuno para a mulher tornar-se mãe. Nos Estados Unidos, estima-se que uma em cada cinco mulheres tem o seu primeiro filho após os 35 anos. Já no Brasil, não existem estatísticas oficiais.

A idade materna mais elevada é hoje uma preocupação obstétrica quanto aos resultados maternos e peri-natal. Não está estabelecido, entre os autores, o limite de idade a partir do qual os riscos maternos e peri-natal se elevam. Alguns autores utilizam o limite de 35 anos de idade e outros utilizam 40 anos ou ainda 45 anos.

Considerando-se apenas a saúde da mulher, a época mais propícia para a gravidez é dos 20 aos 30 anos. A partir dos 35, já se observa um leve declínio na fertilidade feminina, que tende a piorar com o passar dos anos e mais da metade das mulheres acima dos 40 anos é infértil, segundo alguns ginecologistas.
Ao contrário dos homens, que produzem espermatozóides durante toda a vida, a mulher já nasce com todos os óvulos “prontos”. Com o tempo, os óvulos e os próprios ovários envelhecem. Por isso, a taxa de fertilidade das mulheres cai após os 30 anos de idade.
Segundo ginecologistas, há mulheres que menstruam e ovulam até os 58 anos, mas a qualidade do óvulo diminui, o que reduz as chances.
Dos 45 aos 49 anos, a probabilidade de a mulher engravidar naturalmente é de 3% a 4%, e apartir daí, a chance cai para 1%.
Além destes fatores, quanto mais avançada a idade feminina, maior a exposição a fatores que podem comprometer a fertilidade, como Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), inflamação nas trompas, aparecimento de miomas ou endometriose. Sendo esta última a causa mais comum de infertilidade feminina e acomete cerca de 30% das mulheres inférteis.
Riscos e cuidados especiais na gravidez depois dos 40
A gravidez tardia tem riscos altos como aborto, hipertensão, diabetes, parto prematuro e riscos do feto ter síndrome de Down. Quando a mãe tem 20 anos, apenas um bebê em cada 1.500 tem Síndrome de Down, aos 35 anos, há um caso de Down por 300 nascimentos e aos 45 anos, há um em 20 nascimentos.
Algumas doenças crônicas ocorrem em grupos populacionais com maior idade, observando-se, com certa freqüência, a presença de hipertensão arterial e diabetes mellitus nas gestantes com idade avançada. Encontramos também maior incidência de abortamentos do primeiro trimestre de gestação, anomalias gênicas, mortalidade materna, gestação múltipla, diabetes gestacional e pré-eclampsia complicada com HELLP síndrome.
Talvez a mais estudada, discutida e conhecida associação entre a idade materna avançada e resultados peri-natais, seja o aparecimento de malformações congênitas. É praticamente unânime entre os autores, a opinião de que tais anomalias, sobretudo as decorrentes de aberrações cromossômicas, apresentam freqüência que se eleva com a idade materna. É fundamental reconhecer que existe maior risco para aneuploidias tais como trissomias 13, 18 e 21 nas pacientes com idade superior a 35 anos. Com freqüência, os médicos pensam apenas na síndrome de Down, que incide em somente 1% da população, enquanto as trissomias incidem em 2,86% dos casos.
A hemorragia durante o período puerperal é outra complicação obstétrica comumente referida pelos autores como tendo maior incidência em gestantes com idade igual ou superior a 35 anos. Freqüentemente está associada à inércia uterina puerperal. Os óbitos maternos nos Estados Unidos foram analisados e referem a hemorragia puerperal como a primeira causa de óbito em mulheres com idade igual ou superior a 35 anos.
A incidência do diabetes mellitus, em alguma de suas formas, é duas a três vezes mais comum em gestantes com idade acima de 35 anos, do que naquelas com idade entre 20 e 25 anos.
A maior prevalência de intercorrências médicas e obstétricas no ciclo grávido-puerperal da gestante acima de 40 anos, impõe assistência pré-natal específica, sendo o caráter preventivo fundamental para essas gestantes.
Devemos lembrar que a gestação não é contra-indicada se a mulher estiver bem de saúde, se não tiver problemas metabólicos e for acompanhada adequadamente, tem grandes chances de levar uma boa gravidez.
E que também já existem exames, feitos na criança ainda no útero da mãe, capazes de detectar alterações genéticas. Porém, não é possível corrigi-las. Por isso, as mulheres que desejam engravidar devem estar conscientes do risco. E, acima de tudo, fazer um bom pré-natal.
Técnicas mais comuns de concepção assistida
Indução da ovulação. É o procedimento mais comum. Pode ser usado de forma isolada como tratamento para infertilidade ou integrar métodos mais complexos. Consiste no uso de medicamentos, sob a forma de comprimidos ou injeções, para estimular a ovulação. A fecundação (encontro do óvulo com o espermatozóide) pode acontecer dentro ou fora do organismo feminino. Estima-se que 60% das mulheres conseguem engravidar com esse tratamento. As chances diminuem com o passar dos anos.
Inseminação artificial. Consiste em facilitar o encontro entre óvulo e espermatozóides, evitando que estes precisem percorrer todo o caminho entre o fundo da vagina (onde são depositados) e a parte final da trompa. Vale lembrar que milhões de espermatozóides são expelidos durante a ejaculação e, normalmente, apenas um único espermatozóide fecunda o óvulo.
O sêmen é colhido e preparado em laboratório. O objetivo é fortificar os espermatozóides, selecionar os mais rápidos e colocá-los dentro do útero. O procedimento é feito através de um exame ginecológico comum, indolor, em que o médico usa um cateter de plástico para colocar os espermatozóides o mais próximo possível das trompas. Antes da inseminação, a mulher geralmente se submete a três exames de ultra-som transvaginal, que possibilitam ao especialista descobrir o momento certo para facilitar a fecundação. Não é aconselhável para mulheres que têm algum problema nas trompas.
Segundo alguns especialistas, mulheres de até 35 anos têm entre 15 e 20% de chances de engravidar através de inseminação artificial, em cada tentativa. Quando são feitas de três a cinco tentativas, as chances aumentam para 50%. “Para as mulheres de 40 anos, as chances são menores, entre 5 a 10%.
Fertilização in vitro. Também conhecida como bebê de proveta. Consiste em reproduzir em laboratório as condições necessárias para que ocorram a fecundação e as primeiras etapas do desenvolvimento embrionário. A fertilização in vitro representa a etapa mais avançada no tratamento do casal infértil e, muitas vezes, a única forma de se alcançar a gravidez.
A mulher toma medicamentos para induzir a ovulação. Depois, o médico retira os óvulos do ovário com a ajuda de uma agulha guiada por ultrassom transvaginal. Esse procedimento, chamado punção, é feito sob anestesia. A paciente tem alta no mesmo dia. O parceiro colhe o sêmen. Podem ser usados óvulos e sêmen de doadores anônimos.
Cientistas promovem a fertilização no laboratório. Os embriões são cultivados por dois a seis dias. Depois, até quatro embriões são transferidos para o útero através de um exame ginecológico normal, com o auxílio de um cateter. Das gestações obtidas, 75% são únicas, 25% de gêmeos e 5% são triplas ou quádruplas.
A fertilização in vitro resulta em gravidez em 30% dos casos em mulheres de até 35 anos. Acima dos 40, esse índice cai para 10%, por tentativa. Os casais devem estar preparados para se submeter à pelo menos três tentativas.
O fator psicológico
A Ciência já sabe, mas ainda não foi capaz de quantificar, que o estado emocional da mulher tem influência direta no sistema reprodutivo: pode alterar a produção de hormônios e a ovulação. Qual mulher não teve sua menstruação atrasada em fases difíceis da vida ou após um grande susto?
O estresse, por exemplo, é um fator que provoca queda na fertilidade. Em alguns casos, o componente psicológico pode explicar até mesmo casos de aparente infertilidade. “Existem mulheres que adotam crianças e conseguem engravidar logo depois e ainda aquelas que engravidam após a consulta com um especialista em infertilidade”.
Quando o casal, no entanto, opta por fazer um tratamento e tentar uma gravidez com um “empurrãozinho” médico, é preciso estar preparado emocionalmente para enfrentar angústia e frustração. Quanto mais avançado o tratamento, maior a exigência financeira e emocional.
Quando procurar ajuda de um especialista?
Cerca de 90% das mulheres com vida sexual ativa e que não fazem uso de métodos anticoncepcionais engravidam em, no máximo, um ano. De modo geral, deve procurar um especialista o casal que não consegue gerar um filho após um ano de tentativas. É importante lembrar que a infertilidade pode estar relacionada à mulher, ao homem ou aos dois.
Atualmente, a mulher que opta por engravidar após os 40 anos necessita conhecer plenamente os fatores associados aos maiores riscos, de modo que possa buscar assistência médica adequada e planejar o nascimento.
Dra. Eveline Skaf Kalaf

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