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2.04.2015

A batalha da comunicação contra a desinformação

Não basta comunicar-se mais. É preciso reorientar toda a comunicação. Nós não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre.


Antonio Lassance Arquivo

Um governo preparado para a batalha

Em sua primeira reunião ministerial (27/1), Dilma exortou seus ministros a travarem a batalha da comunicação. Falou, repetiu, insistiu. Quase perguntou se precisava desenhar.

A ordem é a seguinte:

"Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente. Nós não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre.

Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública, a posição do ministério, a posição do governo à opinião pública. Sejam claros, sejam precisos, se façam entender. Nós não podemos deixar dúvidas."

No fundo, Dilma sabe que ela não é a melhor comunicadora do governo e pede ajuda a todos de sua equipe para uma tarefa que, de qualquer forma, nenhum presidente, sozinho, é capaz de realizar: dizer ao público o que está acontecendo e o que o governo tem feito.

Até aí, tudo bem. A maioria dos governos anteriores tinha ministros mais desenvoltos para a comunicação do que o presidente. Lula foi uma das exceções. Ele era, sem sombra de dúvida, o melhor comunicador de seu próprio governo.

Com Dilma é diferente e a constatação pode ser perfeitamente administrada. Mas há uma pedra no meio do caminho.

Se o pedido da presidenta não significar uma completa reorientação na concepção, nas práticas e nas mensagens do governo, o tiro irá sair pela culatra. Vai estar aberto o caminho para uma sucessão de trapalhadas.

De todo modo, não se deve, em hipótese alguma, tentar esconder um presidente da República. Não há como tirar um assunto do colo da presidenta quando o assunto é o Brasil.

Um presidente da República jamais pode fingir que alguns grandes problemas não são seus.

Toda semana a presidenta precisa mostrar que existe, que está trabalhando, que está fazendo.

Mesmo que não queira, Dilma precisa aparecer regularmente, dar sua opinião e orientação, ainda que os detalhes e as piores partes do tratamento de algum problema fiquem por conta de outra pessoa.

Ao invés de aparecer pouco e, quando aparece, falar muito (Dilma é a primeira a se cansar de seu próprio discurso), é melhor a presidenta aparecer mais vezes e falar menos, fazendo discursos mais curtos e diretos.

Se não for pedir demais, em nome da clareza na comunicação com o público, Dilma poderia usar mais metáforas e analogias. Alguns não vão gostar, mas a maioria vai.

Fazer comunicação com o quê e com quem?

O atual governo gasta muito e gasta mal em comunicação. E conseguiu a façanha de desmontar boa parte dos bons instrumentos próprios que haviam sido construídos no primeiro mandato do governo Lula.

É bom fazer o registro: a situação já estava assim antes do atual ministro Thomas Traumann assumir o posto. O problema é que, até agora, nada mudou e Traumann não tem qualquer controle sobre a área de publicidade.

O governo faz regularmente uma pesquisa para aferir os hábitos de consumo da população.

Para quê? Não se sabe. A pesquisa mostra que o rádio é quase tão presente como fonte de informação quanto a tevê. Em seguida, vem a internet. Por último, bem atrás, a mídia impressa.

Apesar disso, o governo prefere gastar em tevê valores estratosféricos, extraordinariamente maiores do que gasta em rádio.

Ainda mais absurdo é que jornais e revistas impressos recebam bem mais que a internet e até que o rádio. Isso não é e nunca foi mídia técnica. É um escândalo de compadrio da publicidade com os grandes veículos.

O governo tem um gosto todo especial em financiar a concentração da mídia.

Sem contar que o Ibope e a vendagem de muitos veículos são alimentadas por informações de dirigentes e gestores governamentais que dão a alguns veículos um tratamento privilegiado. Esquecem-se que informação oficial é um bem público, e não um produto a ser barganhado na troca de favores do mercado da notícia.

Comunicação estatal, considerada um palavrão, foi quase reduzida a zero

A grande maioria dos ministros não sabe o que é o governo, seus números, seus planos, suas metas, suas dificuldades.

O governo já teve, mas extinguiu, um boletim informativo regular, chamado Em Questão.

O Em Questão era o principal veículo diário de informação sobre as ações, números e argumentos em defesa do governo.

Deveria ser ressuscitado pela presidenta, isso se ela quiser pautar pelo menos a fala de seus ministros.

Em 2008, o próprio gabinete pessoal do Presidente Lula começou a produzir um informativo, chamado Destaques, com dados e outras informações sobre as ações de governo.

O último caderno Destaques data de julho de 2013.

O último programa de rádio Café com a Presidenta foi ao ar em 30 de junho do ano passado.

O cargo de porta-voz está vago há mais de um ano.

Falar em comunicação estatal virou palavrão, desde que extinguiram a Radiobrás e surgiu a EBC.

A fusão da Radiobrás com a TV e rádios educativas do Rio de Janeiro gerou uma grande bagunça entre o que era a comunicação pública, feita pela Acerp (que controlava a TV e Rádio Educativa do Rio de Janeiro) e a comunicação estatal (feita pelo sistema Radiobrás, em Brasília).

A antiga e extinta Radiobras ensinou Câmara, Senado e Justiça a implantarem seus veículos. Hoje, a comunicação do Executivo está longe do padrão de excelência alcançado pela comunicação dos outros Poderes.

A comunicação governamental se resume a um canal de tevê a cabo, a NBR, para o qual o próprio governo não dá a mínima importância. A NBR já deveria ser tirada da EBC e estar sob o comando direto da Secom faz tempo.

Da forma como está, com a EBC agindo como mera empresa de prestação de serviços, é mais barato para o governo contratar a empresa da esquina que filma aniversários e casamentos.

É na rua que se anda pra frente

O governo vai realmente travar a batalha da comunicação? Para falar o quê? E com quem?

O principal alvo para uma batalha da comunicação, antes dos veículos de imprensa, é o público.

O governo vai para a rua? Se não for, não vai poder dizer que está travando a batalha da comunicação.

Ministros e suas equipes vão por o pé na estrada, visitar capitais e cidades do interior, dar entrevistas aos veículos locais e blogueiros de cada cidade?

O governo poderia gastar um pouco menos em propaganda e um pouco mais em sola de sapato, telefonemas, e-mails, interação em mensagens pelas redes sociais e vídeos no Youtube.

A principal forma de comunicação que falta ao governo chama-se conversa. É preciso pegar o telefone para ligar e conversar com prefeitos, dirigentes sindicais, entidades estudantis, movimentos agrários e de luta pela moradia e ativistas das redes sociais.

Ativistas das redes sociais? Sim, é uma categoria nova, influente na formação de opinião e, a não ser no caso dos direitosos, ainda é absolutamente desconhecida e desprezada pela maioria dos que fazem comunicação governamental.

Não custa também perguntar: quantos ministérios já estão chamando suas conferências nacionais? Quantos já implantaram conselhos e comitês para discutir políticas públicas.

Talvez muitos ministros não saibam, mas o decreto que instituiu a Política Nacional de Participação Social continua valendo.

Seria bom alguém se dedicar a informá-los.


(*) Antonio Lassance é cientista político.

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