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2.24.2015

O fim dos blogs

Eles não foram derrotados pela imprensa tradicional, mas por seus sucessores na própria internet, as redes sociais

Os blogs estão acabando. Se não isso, estão descobrindo seu real tamanho. E ele é pequeno. O marco principal desta mudança que ocorre em silêncio, na internet, é a decisão tomada pelo jornalista Andrew Sullivan de encerrar as atividades, após quinze anos, de seu “Daily Dish”. O outro forte indício é o de que blogs repercutem cada vez menos.
Sullivan, de 51 anos, é um camaleão que foge a quaisquer estereótipos. Fisiculturista e um analista político sofisticado. Católico e gay. Fuma maconha abertamente, é conservador, ou não exatamente. Em 2000, quando iniciou seu blog durante a campanha de George W. Bush contra Al Gore, ele já havia sido um formidável editor para a tradicional revista política “The New Republic” e escrevia longos ensaios para a revista dominical do “New York Times”. Autor do livro “The Conservative Soul” (“A alma conservadora”), era conhecido como um dos principais colunistas da direita.
“Daily Dish”, seu blog, nasceu no site da revista “Time”. De lá, migrou para o da tradicional e sofisticada “Atlantic Monthly”. O passe foi comprado a peso de ouro, em 2011, pela revista on-line “Daily Beast”. Durante o período, Sullivan transformou-se em público. Começou com a notícia da tortura, por soldados americanos, na prisão de Abu Ghraib. Daí a constatação de que o governo Bush havia mentido sobre os motivos da guerra. Em 2004, Sullivan apoiou publicamente John Kerry. Em 2008, Barack Obama.
É raro encontrar colunistas e analistas que mudem de opinião publicamente. Mas, embora vindo de uma carreira tradicional, rapaz inglês formado em Oxford, jornalista nos EUA de revistas relevantes, abraçou o blog com alma digital. Percebeu como poucos que blogs são conversas entre autor e leitores. O post, o artigo, o raciocínio publicado marcam apenas o começo da provocação. Do resultado das caixas de comentários, discussões ricas surgem. Como é raro na imprensa, Sullivan abraçou a ideia de ser blogueiro. Mudou de ideia com base em argumentos, transformou-se. Em troca, seus leitores encontraram no “Daily Dish” um ambiente rico e inteligente para discutir a política do país.
Durante a primeira década do século, a hipótese de que blogs, profissionalizando-se, poderiam substituir a imprensa foi fortemente discutida. Sullivan era sempre o primeiro exemplo. Em 2013, ele deu o passo decisivo. Lançou-se numa aventura sem salário, apostando que a contribuição dos leitores fiéis poderia sustentá-lo e a uma equipe. Deu certo. Já no primeiro ano, a empresa autônoma “Daily Dish”, site fechado para assinantes, fazia US$ 1 milhão por ano.
Em janeiro, Sullivan anunciou que vai parar.
Está cansado, diz. São quinze anos consecutivos. Quer tempo para pensar. Blogs exigem que cada ideia seja publicada antes da devida reflexão. Quer escrever um livro. Quer escrever com tempo.
Mas há outra questão não declarada. Para fazer grandes audiências, hoje, blogs precisam curvar-se ao que é viral nas redes sociais. Viral é tudo aquilo de fácil assimilação. É o sensacional. É o que causa impacto. É a emoção rápida: pode ser indignação, pode ser um riso. Mas é inevitavelmente raso.
Blogs não foram derrotados pela imprensa tradicional. Foram derrotados por seu sucessor na própria internet. Blogs não acabaram, tampouco acabarão. Mas o esforço de torná-los uma plataforma que reunia reflexão, a possibilidade de mudar de opinião, conversas profundas, ao mesmo tempo em que alcançavam gigantescas audiências, ruiu.
A internet, afinal, ainda não está pronta. É uma pena.
Pedro Doriapor PEDRO DORIA VIDA DIGITAL

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