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3.26.2015

Alimentos viciantes



O chocolate foi apontado como o alimento mais viciante 
entre 35 itens - Picture Press / Reprodução

RIO - Gosta de pizza, chocolate ou batata frita? 






E nunca percebeu por que é tão difícil resistir a eles? 
Então não se sinta culpado. O consumo exagerado pode 
estar ligado à dependência. Isso porque pesquisadores da
Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, 
defendem que este tipo de alimento, altamente processado
 e rico em gordura e açúcar, causa efeito semelhante às drogas.
O estudo, publicado recentemente pela revista “PlosOne”, 
sugere que itens com doses concentradas de substâncias 
potencialmente aditivas, e que são rapidamente absorvidas
 pelo corpo, viciam mesmo. E quanto mais concentradas 
essas doses, mais viciante.
Segundo Ashley Gearhardt, professora-assistente de 
Psicologia do Food and Addiction Science and Treatment
 (FAST), da Universidade de Michigan, a pesquisa indica
 que esses alimentos podem ter efeitos no cérebro que são
 semelhantes aos do álcool e da nicotina. Isso porque o
 “sistema de recompensa no cérebro”, ativado por essas
 drogas, pode ser desencadeado com o consumo desse
 tipo de alimento.
A opinião é compartilhada por Amélio Godoy, do Instituto 
Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione, 
da Universidade Federal do Rio de Janeiro:
— Tanto o cigarro como a junk food ou o chocolate ativam 
áreas específicas do cérebro, e o prazer é imediato. 
Por isso o consumidor quer mais — explicou o endocrinologista,
 que defende campanhas de conscientização em relação 
aos alimentos altamente processados em âmbito mundial.
 — Como já aconteceu com o tabaco, igualmente viciante.
O chocolate lidera esse ranking, seguido por sorvete, 
batata frita, pizza, biscoito, salgadinhos e bolo. 
Da lista total, com 35 itens, os 15 mais viciantes são
 processados.
Feijão sem molho ficou em último, atrás de brócolis,
 pepino, água, arroz integral, cenoura, banana e salmão, nessa ordem.
Da lista total, 18 alimentos eram altamente processados, 
gordurosos, com farinha branca e açúcar refinado. 
E os outros 17, itens naturais como banana, cenoura e nozes.
O grupo recrutou 120 estudantes universitários e pediu 
para que preenchessem uma versão da Yale Food 
Addiction Scale, uma escala que mede os 
“comportamentos alimentares viciantes”. 
Eles tiveram de escolher aquelas comidas que estavam 
mais associadas a comportamentos aditivos. Numa 
segunda etapa, on-line, os cientistas decidiram 
confrontar voluntários, cerca de 400 participantes. 
E novamente os processados venceram.
— Como a absorção é rápida, o corpo precisa jogar 
muita insulina no sangue para dar conta do açúcar. 
Depois desse pico do hormônio, quando o sangue 
registra a queda brusca do açúcar, a pessoa fica com 
vontade de comer de novo e criar aquela mesma situação
 — explicou Thaianna Velasco, nutricionista funcional 
membro do Conselho Regional de Nutricionistas RJ/ES.
Thaianna comentou que até pessoas saudáveis, que 
não costumam exagerar nas frituras, podem ter momentos 
viciantes. E, muitas delas, desconhecem o efeito dessa “bomba”.
— A nutrição é assunto recente. A população precisa de 
mais informação sobre os processados. E acho fundamental 
que se comece uma ofensiva a indústrias e grandes marcas
 para que comecem a produzir alimentos mais saudáveis 
— declarou, ao lembrar que há vários alimentos com açúcar oculto.
Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) 
publicou novas diretrizes em relação ao consumo de 
pela população (até 10% da ração diária, o equivalente 
a um quarto de xícara). E alertou justamente para a ingestão
 de açúcares ocultos, em pães, molhos e bebidas com gás, por exemplo.
CHOCOLATE É O QUE MAIS VICIA
O psiquiatra Arthur Kaufman, docente no Hospital das
 Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
 São Paulo, responsável por uma pesquisa com um grupo
 de voluntários com compulsão por chocolate, afirmou que
o vício no doce — líder da lista de Michigan — vai além do 
açúcar e do carboidrato refinado.
— O chocolate tem tiamina, uma das vitaminas do complexo 
B que é importante na produção de energia, e feniletilamina, 
um neuromodulador de sinapses do cérebro similar à 
anfetamina. Além disso, suas características sensoriais, como 
textura, aroma, cor, sabor e o fato de derreter na boca, além da 
sua composição de nutrientes (gordura e açúcar), leva ao 
craving (desejo) — detalhou Kaufman.
Erica Schulte, doutoranda em Psicologia Química da 
Universidade de Michigan, uma das coautoras da pesquisa,
lembrou que o chocolate, apesar que conter várias outras
substâncias que dão prazer, se encaixa no grupo dos processados
que, segundo ela, “são feitos exatamente para causar essa compulsão”.
— Não temos certeza como a cafeína ou outras substâncias
 podem ter contribuído para o chocolate estar associado a 
comportamento alimentar viciante. Mas é altamente processado, 
como outros itens que causam dependência — explicou Erica, 
e-mail, ao GLOBO. — Ao mesmo tempo, os participantes 
desse estudo não informaram consumo viciante de itens
 não transformados. Na natureza, não há alimentos com 
elevados de açúcar e gordura. Ou são ricos em gordura 
(o pistache, por exemplo) ou açúcar (caso das bananas). 
Nunca juntos. Isso ressalta que o chocolate, a batata frita 
e seus semelhantes podem ser transformados exatamente
 com esse objetivo.

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