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3.30.2015

As ilusões da direita no Brasil

Uma ilusão muito importante é a de que 
tudo vai muito bem pelo mundo, 
só no Brasil ou na América do Sul,
 “dominada pelas esquerdas”, é que não
Por Flávio Aguiar, na Carta Maior
As ilusões da direita no Brasil se dividem em dois grupos: 
o daquelas que ela quer vender para a população em geral, 
e o daquelas que ela mantém por si mesma, e para si. 
Dentre as primeiras – aquelas à venda – destaca-se a de 
uma frase atribuída ao senador Aécio Neves: “para resolver 
o problema da corrupção no Brasil basta tirar o PT do governo”, 
ou algo parecido. Simplória, simplista, não li desmentido:
 ficou o não dito pelo dito. Vai na esteira da superstição 
martelada pela mídia de que a corrupção foi fundada pelo PT,
 alimentada por comportamentos no Judiciário de juízes como Joaquim Barbosa e Sérgio Moro. 
Mas há outras no mercado. Outra muito importante é a 
de que nas aparências tudo vai muito bem pelo mundo, 
só no Brasil ou na América do Sul, “dominada pelas esquerdas”,
 é que não. A Europa não está em estado falimentar, 
os Estados Unidos não estão pressionados por uma crise 
sem precedentes, só há corrupção no Brasil e no Terceiro 
Mundo, o Japão vai muito bem, embora estagnado há 
décadas e por aí adiante. 
Outras ilusões vendidas: caso ganhe as eleições presidenciais
 algum dia, a direita não vai mexer nos direitos trabalhistas. 
Vai sim. Vai mexer nas férias remuneradas, no salário mínimo, 
na Justiça do Trabalho, nas indenizações, em suma, em tudo 
aquilo que ela vê como elevação do “custo Brasil”, quer dizer,
 as obrigações sociais que o empresariado tem de cumprir.
 Espero que quem viver não veja, mas quem ver a vitória 
da direita, verá. 
Mas as piores, as mais daninhas, são aquelas que a direita
 mantém para si mesma. Vamos começar pelas internas.
 Cada grupo, cada político da direita, alimenta a ilusão de 
que poderá livremente instrumentar os e as demais.
 Serra acha que poderá instrumentar Aécio e Alckmin, 
este que vai instrumentar os outros dois e aquele, este e 
aqueloutro. FHC acha que poderá instrumentar todos eles 
em função de seu sonho de garantir seu lugar no Panteão 
dos grandes chefes de estado nacionais, transformadores 
e consolidadores, por ora ocupado por Pedro II, Vargas e
 Lula, nesta ordem cronológica. Vã ilusão de todos. Haverá
 uma briga de foice entre eles, e FHC já está condenado 
a ser o ex-intelectual brilhante, ainda que conservador,
 que esqueceu tudo o que escreveu antes e se tornou 
um político medíocre, aprendiz de golpista nos últimos tempos. 
Além disto, os líderes da direita pensam que poderão
 instrumentar os movimentos de rua, os pró-impeachment,
 os pró-ditadura e os pró-coisa nenhuma, e estes pensam
 que poderão instrumentar aqueles e os outros movimentos.
 Esta ilusão pode sair cara a eles, mas será mais cara a nós,
 democratas pró ou contra o governo, pois se aqueles 
prevalecerem eles começarão por comer quem a eles 
se opuser mas terminarão por se comer a si mesmos, 
num processo longo, doloroso, inseguro, e cheio de 
solavancos, como aconteceu com a ditadura de 21 anos 
que engolimos décadas atrás. 
Também alimentam a ilusão de que serão recebidos como
 salvadores da pátria. A menos que tenham o apoio das
 Forças Armadas e que estas calem os movimentos 
sociais à bala, o que parece improvável, uma vitória 
do impeachment, por exemplo, mergulhará o país no 
caos, além de liberar de fato uma gandaia de corrupção,
 pois a PF perderá a autonomia, o Ministério da Justiça 
virará um bordel, o Procurador Geral da Republica voltará 
a ser o Engavetador-Mór, etc.,  o arrocho em cima dos 
trabalhadores, aposentados e estudantes seguirá o modelo 
europeu, enfim, o Brasil vai virar uma república dividida
 entre a banana e o abacaxi, além do pepino. 
Por fim, a direita alimenta a ilusão, esta para si e também
 à venda, de que será recebida de braços abertos pela
 “comunidade internacional”, aquela que para ela conta:
 a Europa Ocidental, ou circuito Helena Rubinstein, os
Estados Unidos, supermercados de Miami à frente, e 
o Japão, recessão à parte. Vã ilusão. Seremos recebidos
 – pois estaremos juntos nesta anti-aventura
 – com risotas de bastidor, finalmente reconduzidos ao
curral de onde nunca deveríamos ter saído, aquele reservado
 aos pobres que não têm remédio nem saída, governados
 pelos oligarcas de plantão. 
A outra ilusão é a de que tudo isto é possível. Não é mais. O Brasil não
 voltará ser o que era. O Brasil enveredou para o futuro. Seja lá o que seja ele.

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