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3.02.2015

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS

          Fonte Ebah  
O bom acompanhamento do paciente não se baseia apenas no 
diagnóstico correto, mas também na terapêutica adequada. 
Todavia, isso não é suficiente, quando analisamos o corpo 
humano como um sistema complexo, formado por uma infinidade
 de substâncias que fatalmente sofrerão reações com os fármacos
 ingeridos. Dessa maneira, é natural supor que a utilização de
 fármacos com propósitos terapêuticos ou não, considerando
 mais de uma substância, resultará na atuação concomitante 
entre os compostos. Na prática clínica, muitas das interações 
medicamentosas têm importância relativa, com pequeno 
potencial lesivo para os pacientes. Porém, há interações 
com efeitos colaterais graves que podem levar o paciente 
a óbito, o que ressalta a importância do conhecimento 
das interações e da identificação precoce dos pacientes
 em risco (Oga e Basile, 1994). O conceito de interação 
medicamentosa não é recente, pois termos como antídoto, 
potencialização, adição, somação e antagonismo eram 
empregados para justificar interações entre fármacos, 
mesmo quando utilizados de maneira empírica.
 Potencialização É o termo reservado para casos em que, 
na associação de dois ou mais fármacos, o efeito final 
é maior do que a soma algébrica dos efeitos desses 
agentes; por exemplo: a ingestão de bebida alcoólica 
durante a vigência da ação de um barbitúrico ou de um
 ansiolítico pode causar depressão do sistema nervoso 
central maior do que a esperada (Storpirtis et al., 2008).
Definição: May (1997) e Tatro (1996) definem interações 
medicamentosas como a modulação da atividade
 farmacológica de um determinado medicamento 
pela administração prévia ou concomitante de outro 
medicamento. Devido às informações acerca das 
combinações proteicas que se processam no plasma,
 assim como o conhecimento da enzimologia metabólica,
 o estudo das interações medicamentosas passou a ter
 respaldo científico, cada vez com maior importância prática.
Quando dois fármacos interagem, a resposta farmacológica 
final poderá resultar em: Aumento de efeitos de um 
dos fármacos, aparecimento de efeitos novos 
(diferente dos observados com quaisquer dos fármacos 
utilizados isoladamente), inibição dos efeitos de um
 fármaco por outro, ou poderá não ocorrer nenhuma 
modificação no efeito final, apesar da cinética e do 
metabolismo de um ou ambos os fármacos terem sido
 substancialmente alterados (Kawano et al., 2006). 
Os fatores ligados à administração medicamentosa 
também devem ser considerados: seqüência de 
administração, via de administração, tempo de 
administração, duração do tratamento, dose dos 
medicamentos e forma farmacêutica.
Adição É o fenômeno decorrente da associação de 
dois fármacos que promovem efeitos semelhantes 
por mecanismos de ação também semelhantes;
 como exemplo a associação de analgésicos inibidores 
da ciclo oxigenase (Storpirtis et al., 2008). Somação 
É aquela em que dois fármacos atuam promovendo 
mesmo efeito, porém por mecanismos diferentes; 
por exemplo: codeína e ácido acetilsalicílico 
(administrados simultaneamente) apresentam 
propriedade analgésica, todavia por mecanismos 
de ação diferentes. O antagonismo é observado
 entre fármacos de ações contrárias, sendo o 
fenômeno oposto ao de potencialização; como 
exemplo: ansiolíticos são fármacos que produzem 
efeitos opostos às anfetaminas no sistema nervoso central.
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Vantagens na 
ocorrência de interações medicamentosas:
• Aumento de eficácia terapêutica. 
• Redução de efeitos tóxicos.
 • Obtenção de maior duração de efeito (pelo impedimento
 de excreção do fármaco). 
• Impedimento ou retardo de surgimento de resistência 
bacteriana (esquema tríplice de antituberculosos).
 • Impedimento ou retardo de emergência de células malignas.
 • Aumento de adesão ao tratamento por facilitação 
do esquema terapêutico. Desvantagens na ocorrência de interações medicamentosas:
• Soma de efeitos indesejáveis quando os fármacos
 associados têm o mesmo perfil toxicológico. 
• Interferência na fase farmacêutica, farmacocinética 
e farmacodinâmica, reduzindo ou aumentando a 
resposta farmacológica.
 • Alteração da terapêutica, levando a não 
aderência ao tratamento.
 • Aumento nas recidivas das patologias e piora 
do quadro clínico.
Esta aula trata sobre o papel do farmacêutico na 
identificação de interações medicamentosas, 
a partir da prática da Atenção Farmacêutica; 
conceitualmente definida neste tópico. Durante 
a identificação e a orientação das e sobre as 
medicamentosas, veremos algumas abordagens 
aplicadas ao paciente.
O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA IDENTIFICAÇÃO 
DE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS 

O farmacêutico é o profissional capacitado para implantar uma correta assistência farmacêutica. 

Para a prática e a possibilidade de identificação de interações 
medicamentosas, diante da análise de prescrições
 medicamentosas, torna se importante o desenvolvimento
 da Atenção Farmacêutica. De acordo com a Organização 
Panamericana de Saúde (OPAS), a Atenção Farmacêutica 
é definida da seguinte forma: Ele tem formação 
especializada em fármacos, é o profissional mais 
acessível à população, relaciona se direta e continuamente
 com um elevado número de pessoas, é muito procurado 
para dar aconselhamento, pode ser facilmente ouvido e
 compreendido nas instruções que transmite, além de 
ser o último profissional em contato com o paciente 
antes que ele decida por iniciar ou não um tratamento 
(Witzel, 2002 citado por Storpirtis et al., 2008).Um modelo
 de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da 
Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes, 
valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos 
e co responsabilidades na prevenção de doenças, promoção 
e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. 
É a interação direta do farmacêutico com o usuário, 
visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de
 resultados definidos e mensuráveis, voltados para a 
melhoria da qualidade de vida. Essa interação também
 deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas 
as suas especificidades biopsico sociais, sob a ótica da 
integralidade das ações de saúde.

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS 

Neste contexto, a farmácia torna se 
um serviço de saúde, no qual o farmacêutico desempenha
 as seguintes atividades: 
• Prepara e dispensa medicamentos. 
• Estabelece o perfil medicamentoso dos pacientes. 
• Mantém fichas farmacoterapêuticas. 
• Controla possíveis erros de dosagem e reações 
adversas a medicamentos, riscos de interações medicamentosas e contraindicações. 
• Controla o cumprimento dos tratamentos. 
• Distribui informação a médicos e pacientes. 
• Controla e orienta na automedicação (Adaptado 
de recomendações da Organização Mundial de Saúde). 
Dentro dessas funções desempenhadas pelo farmacêutico,
 há execução da anamnese farmacológica, em que o 
farmacêutico estabelece uma relação para orientação 
medicamentosa junto ao paciente, com algumas 
perguntas sugeridas e relacionadas a seguir: 
• Quais efeitos ruins o médico disse para cuidar? 
• O que você deve fazer se tiver um efeito colateral? 
• Que efeitos bons você pode esperar? 
• Como você pode saber se o medicamento 
está fazendo efeito? 
• O que você deve fazer se o medicamento não estiver fazendo efeito? 
• Que cuidados você deve ter quando estiver tomando
 o medicamento? No estabelecimento prático da relação
farmacêutico paciente, com o propósito de garantir a 
adesão ao tratamento, alguns aspectos operacionais 
devem ser considerados no aconselhamento ao paciente como: 
• Favorecer um relacionamento agradável e tranquilo. 
• Verificar o que o paciente já sabe a respeito. 
• Usar linguagem acessível ao paciente. 
• Evitar relacionamento impessoal. 
• Estabelecer o diálogo: ouvir o que o paciente quer dizer,
 o que não quer dizer, ou não consegue dizer.
• Não agir com superioridade. 
Não demonstrar sentimento de piedade, nem envolver
 se emocionalmente. 
• Evitar orientações demasiadamente simplistas ou 
demasiadamente rebuscadas ou científicas. 
• Controlar o tempo da entrevista, mas sem apressar o paciente. 
• Enfatizar os pontos principais. Desse modo,
 pelo contato no decorrer de um acompanhamento
 farmacoterapêutico, por meio da Atenção Farmacêutica, 
baseada na relação farmacêutico paciente, com 
a realização da anamnese farmacológica, o profissional
 pode obter informações que possibilitem suspeitar 
de interações medicamentosas e assim garantir a adesão ao tratamento.
Nesta aula serão apresentadas as classificações 
interações medicamentosas, a saber: farmacêuticas,
 farmacocinéticas e farmacodinâmicas. Nosso foco 
será em farmacocinética, destacando todas as 
etapas desse processo, especialmente os conceitos
 de indução e inibição enzimática. Além disso, 
esta aula tratará sobre a classificação de 
previsibilidade das interações medicamentosas. 
CLASSIFICAÇÃO DE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
As interações medicamentosas são classificadas em: 
farmacêuticas (ou físico químicas), farmacocinéticas e 
farmacodinâmicas. No quadro a seguir, segue cada definição, 
e adiante veremos com mais detalhes sobre cada uma. 
• Farmacêuticas: Quando um fármaco é físico ou 
quimicamente incompatível com outro.
 • Farmacocinéticas: Quando um fármaco interfere na 
absorção, distribuição, biotransformação ou na excreção 
de outro fármaco. 
• Farmacodinâmicas: Quando um fármaco modifica 
a atividade de um segundo fármaco, atuando em 
diferente ou igual local de ação. Interações Farmacêuticas
As interações farmacêuticas são interações físico 
químicas de um fármaco com uma solução de infusão 
intravenosa ou de dois fármacos na mesma solução,
 resultando em perda da atividade do fármaco envolvido.
 As interações consideradas farmacêuticas podem ser
 evitadas se alguns princípios forem seguidos, como: 
• Administrar fármacos intravenosos na forma de injeção 
de bolo, ou por meio de bureta de infusão.
• Não acrescentar fármacos a soluções de infusão,
 a não ser glicose ou solução salina. Mesmo nessas soluções,
 alguns fármacos são instáveis, enquanto outros são 
fotossensíveis e devem ser protegidos da luz para evitar 
a rápida perda de sua atividade. 
• Evitar misturar fármacos na mesma solução de 
, a não ser que a mistura seja comprovadamente segura. 
• Ler as instruções do fabricante e as advertências 
específicas, verificando se o fármaco é apropriado
 para administração intravenosa. 
• Misturar o fármaco por completo na solução 
de infusão e verificar, posteriormente, durante a i
nfusão se ocorreu alteração visível (turvação,
 precipitação ou mudança de cor). Todavia, 
a ausência dessas alterações não garante 
a ausência de uma interação. 
• Preparar soluções apenas quando elas 
forem necessárias.
 • Escrever claramente, no rótulo de todas as 
garrafas de infusão, o nome e a dose do fármaco
 adicionado e as horas de início e término de infusão.
 • Utilizar dois locais separados para infusão, se 
houver necessidade de infusão simultânea de dois 
fármacos; a não ser que tenha a definição e a certeza 
de que não haverá interação (Grahame Smith e 
Aronson, 2002). Diante dessa relação de princípios 
na infusão intravenosa, percebemos a importância 
do profissional farmacêutico, que deve ser consultado
 se houver qualquer dúvida.
Interações Farmacocinéticas Fatores que contribuem 
com interações medicamentosas na farmacocinética:
Absorção 
• Interações físico químicas no trato digestório. 
• Motilidade gastrointestinal 
• Flora bacteriana. 
• Função da mucosa.
Distribuição 
• Fluxo sanguíneo. 
• Ligação tecidual. 
• Ligação às proteínas plasmáticas. Metabolismo 
• Indução enzimática. 
• Inibição enzimática. Excreção 
• Filtração glomerular.
 • Reabsorção tubular. 
• Secreção tubular. (Adaptado de: Greghi, 2002.)
Um exemplo clássico de interação físico química na absorção
 é a quelação do cálcio, magnésio e sais de ferro ocasionada
pelas tetraciclinas. Na absorção, a redução da motilidade 
gastrointestinal diminui a taxa de absorção de fármacos,
 porém não afeta a extensão de sua absorção. Na distribuição,
 o deslocamento de um fármaco por outro, de seus sítios de
 ligação às proteínas plasmáticas, provoca um aumento na 
concentração circulante do fármaco não ligado, com 
consequente potencial de efeito aumentado do fármaco
 deslocado (Grahame Smith e Aronson, 2002). Na atualidade,
 considerando os conceitos de interações medicamentosas
 na farmacocinética, há um foco na biotransformação 
(conforme será abordado na aula 5), especialmente 
nas definições de: indução e inibição enzimática 
(resumidamente colocadas a seguir). Indução enzimática
• Aumenta a velocidade de biotransformação hepática do fármaco.
 • Aumenta a velocidade de produção dos metabólitos. 
• Aumenta a depuração hepática.
 • Diminui a meia vida sérica do fármaco. 
• Diminui as concentrações séricas do fármaco.
 • Diminui os efeitos farmacológicos se os metabólitos forem inativos. 
Inibição enzimática
• Diminui a velocidade de biotransformação hepática do fármaco. 
• Diminui a velocidade de produção de metabólitos.
 • Diminui a depuração total.
 • Aumenta a meia vida do fármaco. 
• Aumenta as concentrações séricas do fármaco. Por fim,
 na excreção, destaca se a competição pela secreção 
tubular renal, constituindo um importante mecanismo
 nas interações que alteram a excreção, como exemplo:
 o fármaco probenecida inibe a secreção tubular da penicilina,
 aumentando a sua concentração sanguínea e prolongando
seus efeitos terapêuticos (considerada uma interação benéfica). 

Interações Farmacodinâmicas
As interações farmacodinâmicas são as que ocorrem entre 
dois ou mais fármacos, por meio de seus próprios mecanismos 
de ação, ou competindo junto aos receptores específicos 
ou independentemente de receptores (Oga, 2003 citado 
por Storpirtis et al., 2008). Previsibilidade de Interações
Como forma de divulgar as interações existentes e 
conhecidas, pode se adotar uma sigla para designar 
a previsibilidade, conforme segue no quadro a seguir:
Interações medicamentosas com a classificação de 
previsibilidade AP: Altamente previsível. Ocorre interação
 em quase todos os pacientes aos quais se administra
 a combinação de fármacos que interagem. P: Previsível.
 Ocorre interação na maioria dos pacientes que recebe 
a combinação. NP: Não previsível. A interação só é 
observada em alguns pacientes aos quais se administra
 a combinação. NE: Não estabelecida. Dispõe se de
dados insuficientes para avaliar a previsibilidade.

Os anti inflamatórios não esteróides (AINEs) inibem a síntese de prostaglandinas e tromboxanos e, dessa forma, possíveis interações podem ocorrer com medicamentos que dependem de níveis séricos desses mediadores químicos. Outro fator relevante é o alto grau de ligação protéica desse grupo de fármacos, a qual pode predispô los a interações com outras drogas que também apresentam essa mesma característica (Haas, 1999 citado por Bergamaschi, 2007). Os AINES estão associados à nefrotoxicidade, particularmente quando o uso é crônico ou quando é utilizado em combinação com outro AINE. Interações com fármacos anti hipertensivos
As classes mais comuns de anti hipertensivos são os IECA (inibidores da enzima conversora de angiotensina), tais como captopril, enalapril, fosinopril e lisinopril; os diuréticos, tais como furosemida, ácido etacrínico e hidroclorotiazida; e os beta bloqueadores, tais como propranolol, nadolol, metoprolol e atenolol. Esses medicamentos necessitam das prostaglandinas (PGs) renais para exercerem o seu mecanismo de ação (Houston, 1991 citado por Bergamaschi, 2007). As PGs renais modulam a vasodilatação, a filtração glomerular, a secreção tubular de sódio/água e o sistema renina angiotensina aldosterona, os quais são fatores essenciais no controle da pressão arterial. As PGs são ainda mais importantes em pacientes hipertensos, os quais possuem baixa produção de renina (Dowd et al., 2001 citado por Bergamaschi, 2007). Assim, os AINEs são considerados uma classe terapêutica importante, uma vez que são muito prescritos, e, além disso, são utilizados como automedicação; o que destaca o papel do farmacêutico, especialmente na identificação de interações medicamentosas. Nas interações com anti hipertensivos, AINEs podem diminuir a ação desses fármacos, pois inibem a síntese de prostaglandinas renais. Os beta bloquedores reduzem a pressão por diversos mecanismos, incluindo o aumento de prostaglandinas circulantes. Seu efeito pode também ser inibido pelos AINEs, devido à inibição da síntese dessas prostaglandinas circulantes. Os AINEs podem também interferir com a ação dos diuréticos, pois reduzem a eficácia na secreção de sódio, podendo provocar um aumento na pressão arterial e afetar a atividade da renina plasmática, a qual controla o sistema renina angiotensina aldosterona (Haas, 1999 citado por Bergamaschi, 2007). AINEs + Lítio
Foi sugerido que os AINEs poderiam aumentar a concentração plasmática do lítio através da redução da taxa de filtração glomerular, devido à inibição da síntese de prostaglandinas (Wilting et al., 2005 citado por Bergamaschi, 2007). Com esse relato de interação medicamentosa, constatamos a necessidade de monitoramento, pois o lítio exibe toxicidade, comprometendo o funcionamento hepático e renal. Em indivíduos com a função renal comprometida e/ou volume intravascular diminuído, a administração concomitante de rofecoxibe e lítio pode ocasionar uma intoxicação. Interações com antimicrobianos
Conforme será destacado na próxima aula, os principais mecanismos de interação que ocorrem com esse grupo de fármacos estão relacionados com a competitividade desses fármacos pela ligação às proteínas plasmáticas (sendo os fármacos que apresentam alto grau de ligação os mais afetados) e a capacidade de alguns fármacos de inibir as enzimas do citocromo P450. Ambos os mecanismos apresentam como consequência o aumento dos níveis plasmáticos desses fármacos (Moore et al., 1999 citado por Bergamaschi, 2007).
Todavia, um estudo realizado com voluntários sadios verificou que a administração de 100mg de diclofenaco sódico por via oral reduziu a biodisponibilidade oral de 2g de amoxicilina, devido à redução na absorção e aumentou em 18% a excreção renal da amoxicilina (Bergamaschi et al., 2007). Outro estudo demonstrou que a administração de piroxicam 20mg por dia, associada à azitromicina 500mg por dia, durante sete dias, ocasionou redução na distribuição de piroxicam na gengiva e no osso alveolar (Malizia et al., 2001 citado por Bergamaschi et al., 2007). A documentação de interações medicamentosas de AINEs com antimicrobianos se faz necessária, podendo ocorrer por meio da farmacovigilância e atenção farmacêutica, até porque são duas classes terapêuticas amplamente utilizadas e o agravante relaciona se com a resistência bacteriana e/ou ineficácia terapêutica. A tabela a seguir, resume as interações medicamentosas com anti inflamatórios não esteróides (AINEs) destacadas nesta aula.
Anti hipertensivos: IECAs, beta bloqueadores AINEs diminuem a ação dos anti hipertensivos, pois inibem a síntese de prostaglandinas renais. Diuréticos AINEs reduzem a eficácia na secreção de sódio, podendo provocar um aumento na pressão arterial e afetar a atividade da renina plasmática. Lítio AINEs poderiam aumentar a concentração plasmática do lítio por meio da redução da taxa de filtração glomerular. Antimicrobianos Ocorre competição por ligação às proteínas plasmáticas e/ou inibição enzimática, aumentando os níveis plasmáticos dos antimicrobianos. Redução da absorção e aumento de excreção (com as penicilinas). Interações com anti inflamatórios esteróides (AIEs)
De acordo com o potencial de significância clínica, foram selecionadas, com base na literatura, as seguintes interações medicamentosas com fármacos anti inflamatórios esteróides (AIEs): antiácidos, agentes antidiabéticos (oral ou insulina), glicosídeos digitálicos e diuréticos. Nessas interações relatadas, não há um destaque quanto à explicação dos prováveis efeitos e mecanismos envolvidos, porque na literatura não há relatos detalhados. Há também, interações com fármacos que induzem as enzimas microssomais hepáticas (também destacado no quadro que segue), tais como: barbitúricos, fenitoína e rifampicina que são considerados clássicos indutores enzimáticos. Além desses, há também interações relatadas
(com esse mesmo mecanismo, na metabolização) como: suplementos de potássio, ritodrina, fármacos ou alimentos contendo sódio, somatropina, vacinas de vírus vivos ou outras imunizações. A tabela a seguir, destaca interações com AIEs que ocorrem na metabolização, com a aplicação de dois conceitos já apresentados na aula 3.
Indução enzimática Inibição enzimática Os fármacos que induzem as enzimas hepáticas, tais como: fenobarbital, fenitoína e rifampicina, podem aumentar o clearance dos corticosteróides e podem requerer aumento da dose de corticosteróide para atingir a resposta desejada. Fármacos como: troleandomicina e cetoconazol podem inibir o metabolismo dos corticosteróides e consequentemente diminuir o seu clearance Portanto, a dose de corticosteróide deve ser adequada para evitar toxicidade esteróide. Convulsões foram relatadas durante o uso concomitante de metilprednisolona e ciclosporina. Visto que o uso concomitante desses agentes resulta em inibição mútua do metabolismo. É possível que os efeitos adversos associados ao uso isolado de cada medicamento sejam mais propensos a ocorrerem.
AIEs e coagulação Pode ocorrer aumento do risco de toxicidade com salicilatos na interrupção da corticoterapia. Pacientes portadores de hipoprotrombinemia devem ter cautela quando utilizarem concomitante: aspirina e corticosteróides. Já com os corticosteróides e os anticoagulantes orais, o efeito é variável. Foram observados tanto aumento, como diminuição dos efeitos dos anticoagulantes, quando administrados concomitantemente com os corticosteróides. Portanto, os índices de coagulação devem ser monitorados para manter o efeito anticoagulante desejado. AIEs + estrogênio O uso concomitante de estrogênios pode diminuir o metabolismo dos corticosteróides, incluindo a hidrocortisona. A necessidade de corticosteróide pode ser reduzida em pacientes que utilizam estrogênios (por exemplo: medicamentos contraceptivos) (Bulário Eletrônico da ANVISA).
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS De modo complementar, os cuidados na utilização dos contraceptivos deve sempre existir, pois o comprometimento da eficácia destes fármacos pode levar à gravidez não planejada.
Esta aula tem o propósito de destacar as interações medicamentosas com antimicrobianos, mais especificamente com os antibióticos, considerando as mais relatadas pela literatura disponível sobre o assunto. Além disso, serão apresentados prováveis mecanismos farmacocinéticos, bem como exemplos de associações medicamentosas entre antimicrobianos, utilizadas na prática clínica.
AULA 08 • INTERAÇÕES COM ANTIMICROBIANOS Prováveis mecanismos farmacocinéticos de interação medicamentosa
Ambos os mecanismos apresentam como consequência o aumento dos níveis plasmáticos desses fármacos. Para essas interações, especial atenção deve ser dada aos fármacos que apresentam baixo índice terapêutico, uma vez que pequenos aumentos na sua concentração plasmática podem causar sérios prejuízos ao indivíduo (Moore et al., 1999 citado por Bergamaschi, 2007). Temos como exemplo: lítio, digoxina, digitoxina, varfarina e dicumarol, podem apresentar toxicidade relevante, quando associados aos inúmeros antimicrobianos, devido à elevação das suas concentrações plasmáticas. Quando falamos de interações medicamentosas na farmacocinética, mais especificamente na distribuição e biotransformação, devemos relembrar os fatores que interferem nessas etapas (assunto abordado nas aulas iniciais), pois além das interações documentadas e considerações sobre fármacos que exibem toxicidade, há suscetibilidades ditas individuais, como exemplo: polimorfismo, idade e comorbidades. Somando a esses fatos, o profissional deve conhecer bem os mecanismos de ação dos antimicrobianos, bem como os princípios da antibioticoterapia, para direcionar a análise das interações medicamentosas e garantir adesão ao tratamento. Os principais mecanismos de interação que ocorrem com esse grupo de fármacos estão relacionados com a competitividade desses pela ligação às proteínas plasmáticas (sendo os fármacos que apresentam alto grau de ligação os mais afetados) e a capacidade de alguns fármacos de inibir as enzimas do citocromo P450.
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Exemplos de associações medicamentosas utilizadas na prática clínica
Sulfametoxazol + Trimetropim Essa é considerada uma associação medicamentosa bastante utilizada na prática clínica, com relação à antibioticoterapia, pois o fármaco sulfametoxazol (SMT) é um antibiótico do grupo das sulfonamidas (conhecido como sulfas), que atua no metabolismo da bactéria inibindo a enzima diidropteroato sintase, responsável pela catálise do ácido paraminobenzóico (PABA) em ácido diidrofólico, a fim de garantir um efeito bacteriostático. Tal efeito, todavia, terá a adição do fármaco trimetropim (TMP) devido à inibição da enzima diidrofolato redutase, responsável pela catálise de ácido diidrofólico em ácido tetraidrofólico. Ambos os fármacos, isoladamente garantem um efeito bacteriostático; porém, associados ocasionam um efeito bactericida (efeito capaz de matar a bactéria). Essas terminologias: bacteriostático e bactericida serão tratadas mais adiante. O esquema a seguir, ilustra os mecanismos de ação associados, explicados no texto acima.
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Rifampicina + Isoniazida + Pirazinamida
Esses três são fármacos tuberculostáticos, ou seja, antibióticos empregados com farmacoterapia de primeira escolha para combater o agente etiológico da tuberculose. A associação dos três fármacos é considerada vantajosa uma vez que há maior probabilidade do desenvolvimento de resistência bacteriana quando o paciente é tratado com apenas um antibiótico. E essa probabilidade diminui quando há associação entre tuberculostáticos, claro, sempre avaliando se o paciente já utilizou ou não os referidos fármacos e se apresenta quadro de tuberculose como recidiva (piora da doença) por ineficácia terapêutica, podendo ser atribuída ao mecanismo de resistência bacteriana. Interação medicamentosa com contraceptivos orais
Estudos clínicos demonstraram que a rifampicina diminui os níveis sanguíneos de etinilestradiol e progesterona. A rifampicina é um potente indutor das enzimas do citocromo P450 presentes no fígado, o que ocasiona em aumento do metabolismo de alguns fármacos, como os anticoncepcionais (Shenfield, 1993 citado por Bergamaschi, 2007). Dados da literatura demonstraram que os níveis plasmáticos de contraceptivos orais esteróides não são modificados com a administração concomitante dos antibióticos, como: ampicilina, ciprofloxacina, claritromicina, doxiciclina, metronidazol, ofloxacina, roxitromicina e tetraciclina (Archer e Archer, 2002 citados por Bergamaschi, 2007). Alguns autores, no entanto, alertam que tetraciclina, metronidazol, ampicilina e eritromicina podem reduzir a eficácia do contraceptivo oral, aumentando o risco de gravidez (Meechan, 2002; Hersh, 1999 citados por Bergamaschi, 2007). Conforme já destacado em aulas anteriores, esse é um assunto de relevância clínica, pois a ineficácia contraceptiva leva à concepção não planejada.
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Algumas interações relatadas com antibióticos e outras classes terapêuticas
Antiácidos Quinolonas: (AP) Diminuição absorção gastrointestinal de ciprofloxacina, norfloxacina, ofloxacina, enoxacina. Tetraciclinas: (AP) Diminuição absorção gastrointestinal. Anticoagulantes Aumento do efeito anticoagulante: • Ciprofloxacina (NE). • Cloranfenicol (NE). • Eritromicina (NE). • Metronidazol (P). • Miconazol (NE). • Sulfonamidas (NE). • Trimetropim Sulfametoxazol (P). Diminuição do efeito anticoagulante: Rifampicina (P): indução enzimática. Bloqueadores de Canais de Cálcio Rifampicina (P): Aumento do metabolismo dos bloqueadores de canais de cálcio.
Bloqueadores Beta Adrenérgicos Diminuição do efeito beta bloqueador: • Indutor enzimático (P): Rifampicina Aumenta metabolismo dos beta bloqueadores.
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Glicosídios Digitálicos Aumentam o efeito digitálico: • Eritromicina (NP). • Penicilina (NE). • Rifampicina (NE). Conforme apresentado na aula 3, as siglas NP, P e NE significam, respectivamente: não previsível, previsível e não estabelecida.
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